segunda-feira, 26 de julho de 2010

Friedrich Nietzsche e a Grande Política da Linguagem.- Por: Viviane Mosé


Neste artigo apresento uma visão simplificada da filosofia de Friedrich Nietzsche, conforme apresentado por Viviane Mosé no seu livro mostrado ao lado. Friedrich Nietzsche viveu de 1844 a 1900. Embora tenha vivido no século XIX, antecipou algumas questões que marcaram as mentes de pessoas dos séculos XX e XXI. Filósofo extremamente erudito de uma época diferente da nossa, segue uma linha dura. Foi um forte critico da filosofia. viveu no século da Ciência onde havia um grande euforismo entre as pessoas. Foi neste presente que nasceu a idéia de futuro, as pessoas falavam mais sobre o que esperavam, falavam sobre o futuro dos seus filhos, queriam traçar uma linha que conduzisse a felicidade. Neste clima, Nietzsche estuda os Gregos pré-Socráticos, que seguiam a arte como uma maneira de explicar as coisas a volta. Para Nietzsche, esses são os verdadeiros filósofos. Nietzsche adota a idéia do "Devir". E se apega a três linhas de raciocínio para explicar sua filosofia: A arte, O pensamento e o Saber. Ele Tem uma visão critica e ácida do Cristianismo e da modernidade. Falando sobre si mesmo, Nietzsche disse: "Não Sou um Homem, Sou Uma Dinamite". Veja a seguir o que essa Dinamite pensava, na visão simples da filósofa Viviane Mosé.
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Viviane Mosé
A Grande Política da Linguagem
(Friendrich Nietzsche – 1844-1900)

Na sua proposta, Viviane Mosé, pretende usar o pensamento de Nietzsche, do final do século XIX, para pensar o presente. É preciso que se entenda que o que foi apresentado por Nietzsche, pode ter uma ampla aplicação em nossos dias, pois ele aborda a temática do pensamento e como somos influenciados por esses pensamentos que imaginamos ser a realidade, mas que não se concretizam no dia-a-dia. Nietzsche, aos olhos da filosofia, esclarece como na maioria das vezes usamos as palavras com o falso intuito de fugirmos de nossos conflitos internos.

Para avançarmos no nosso futuro, ou estabelecermos uma seqüência, um caminho que seja condutor a felicidade é preciso que repensemos a história da humanidade. Olhar como os homens com a sua história, ou tiveram êxito em alguns aspectos, e como podemos copiá-los; ou perceber suas desventuras e minimamente tentar entende-las, para que possamos evitar, ou nos preparar para lidar com a problemática da vida atual e da por vir.

Falando sobre a postura filosófica de Nietzsche, Viviane, mostra que acima de tudo ele foi um profundo critico da filosofia Platônica e Socrática. Nietzsche estudou o Grego Arcaico e com o conhecimento da língua se empenha em estudar os pré-socráticos, pois no seu modo de analise, o mundo foi influenciado por esse modelo filosófico criado por Platão e Sócrates, que lógico, como não era acessível a maioria das pessoas, fora assimilado pela religião cristã e popularizado. Hoje, então, temos o Cristianismo como expansor da filosofia Platônico-Socrática.

Mas, a idéia de Nietzsche é justamente, se desfazer desta filosofia, e por entender o pensamento dos pré-socráticos, e estabelecer como seria o mundo se tivéssemos seguido outro modelo filosófico.

Viviane escreveu no seu livro, “Friedrich Nietzsche e a Grande Política da linguagem”, uma analise de como os pensamentos de Nietzsche tem influência na vida das pessoas, mesmo no século atual. Nietzsche foi um pensador do final do século XIX. Ele tinha uma paixão pelo futuro. Com certeza, ele fora influenciado pelo seu século, o XIX. Que é conhecido como o século da Ciência, por justamente abandonar a religião como meio de salvação do homem e apontar para a Ciência como sendo o que promoverá o desenvolvimento humano. No final deste século, nasce também a psicanálise, que era apontada como o canal que ajudara a Ciência na resolução dos conflitos humanos. A filosofia defendida por Nietzsche, com base no modelo pré-socrático, é a transformação através da força do pensamento.

A crença no “Devir” é resgatada. Ela aponta para a mudança constante, o tempo todo. Segundo esse pensamento não se pode fazer planos para o futuro, para se atingir certos objetivos, pois o mundo está em constante mudança, portanto não se tem controle sobre os acontecimentos futuros.

Nietzsche é filho de pastor protestante. O modo de vida que ele levou sua formação, e os acontecimentos que acompanhou como a guerra da modernidade, o desenvolvimento do Cristianismo, os seus estudos do Grego arcaico, tudo isso exerceu uma influência muito grande sobre os seus pensamentos e sua maneira de ver o mundo.

Nietzsche percebe que os pensamentos que permearam a Grécia arcaica, ainda estão presentes no pensamento moderno, bastando que simplesmente possa ser orientado para que tal caminho se torne popular.

Antes de Platão, o relacionamento com a vida era baseado no desconhecimento. As pessoas não faziam planos para o futuro, não se pensava sobre os resultados que certo proceder poderia ter sobre as perspectivas futuras na vida do ser humano, porque se vivia no presente, era como se o futuro não existisse. A partir do século V, começa a haver uma mudança de pensamento, a filosofia de Platão começa a criar raízes, infiltrada no Cristianismo.

Nietzsche passa a criticar a Platão e sua filosofia pensante, que supervaloriza o ser humano. No modelo de filosofia Socrático-Platônico o pensamento é superior ao corpo. Portanto, por se exercitar os pensamentos a pessoa pode encontrar o caminho do equilíbrio e da felicidade.

Nietzsche, na sua filosofia, tira o antropocentrismo e coloca o homem como um ser totalmente fraco. Na visão de Viviane Mosé, o ser humano se constitui como ser pelos moldes da sociedade. Portanto, independente de sua origem, o lugar onde nasceu, as pessoas com que convive, a cultura que foi submetido, tudo isso irá agir diretamente sobre o individuo, o moldando a ser como os a sua volta. A caminhada do ser humano na sua busca frenética de construir os valores morais é que determinara a sua sobrevivência.

O ser humano diferente dos animais é um ser pensante. O que lhe traz certa distinção, mas ao mesmo tempo lhe é negativo, no sentido de que, com o pensar vem a angústia. Os animais nascem, tem uma existência pré-definida, guiada pelo instinto, livres da angústia de se pensar o futuro. Para o ser humano ficar livre das angustias que o cercam e dos conflitos a que é submetido, precisaria também de uma supressão do pensar, que de certo modo tiraria as perspectivas de sentir a felicidade. Os pensamentos irão, portanto, moldar nossa existência, nossa personalidade e nossos valores.

Nietzsche olha o século XIX, o hoje, e compara com o passado, fazendo esta comparação, ele chega à conclusão que não é preciso ser um super-homem. Aliás, o super-homem é um mito que não encontra sustentação no exame mais detido feito por Nietzsche. Então tal conceito cai por terra. O super-homem, na verdade, não é o ser poderoso das historias em quadrinhos, mas o homem que se supera.

Nietzsche diz que todos nós somos vitimas da interpretação Platônico-Socrâtico. O mundo através do Cristianismo seguiu esse modelo filosófico. É como em um leito cortado no solo que conduz a um caminho, e se o inicio deste leito fosse inundado, as águas iriam seguir o caminho já pré-estabelecido pelo leito, chegando a certo destino já imaginado. Que caminhos a humanidade poderia ter seguido se não caísse no leito do modelo Platônico-Socrático? Como seria a sociedade do atual século?

O homem da atualidade procura a razão, que é uma característica inata do ser humano. Portanto, é preciso desconstruir o conceito da razão, a idéia de verdade tem de ser vista de outra forma. Essa idéia de verdade insiste que por trás de tudo há a essência, que é a base estrutural de tudo. Este é um conceito que tem caído por terra. Hoje, não se procura mais a nossa essência.

Tendo a verdade como principio de tudo, vemos as pessoas absortas em seus empreendimentos, sempre na tentativa de encontrar tal verdade, que dará sentido a vida, que conduzirá ao caminho da felicidade. O modelo de Nietzsche é o caminho que encontra ou que nos guia a verdade. Mas, Nietzsche pergunta: Quem disse que existe verdade?

Na sua analise, Nietzsche, cita o exemplo de um poeta. O poeta sabe coisas que ninguém mais sabe. Pela sua maneira de ver o mundo, pela sua forma de analise dos conceitos. O poeta, forma perspectivas diferentes, vê o mundo de uma forma única. O que de certa maneira o torna impar, sabedor de uma coisa que ninguém sabe. De certa forma, isto explica o pensamento que muitos têm de que a arte é o caminho para a obtenção da verdade.

Mas novamente voltamos a pergunta de Nietzsche: “Quem disse que existe verdade?” Se a verdade existe, o que não é verdade deixa de existir. Com a criação da verdade, se criou também uma régua que separa o mundo em duas partes, o rico ficou assim separado do pobre, o preto do branco, o feio do bonito, o alto do baixo, o gordo do magro, a noite do dia, etc. Porque, se existe a verdade, ela é contundente, tão contundente que extingue o que não se encaixa no conceito sobre o que é verdade, tornando-os obsoleto e inexistente.

A necessidade de pensar é reforçada pela filosofia de Nietzsche. Porém, não se pode simplesmente pensar só por pensar, pois assim o objetivo de tal faculdade não se finalizaria. É preciso entender o sentido do pensamento. Pensar com um propósito é que aponta o caminho para o ser humano atingir o seu propósito, encontrar a verdade.

Heráclito, filósofo do primeiro século, racionaliza que a morte é um mal necessário. A morte torna a vida inédita. O fato de que todos irão morrer, os faz buscar o mais rápido possível a obtenção da felicidade, é preciso compreender o sentido da vida, saber o papel que cada um precisa desempenhar, para estar ajustado ao mundo, pois a vida é breve e a morte é certa. Heráclito diz que todos nós devemos realmente nos empenhar pela busca da felicidade, mesmo com a vida tão breve. Seria como as crianças que se dedicam a construir castelos de areia numa praia, mesmo sabendo que esses castelos serão destruídos por uma onda na maré cheia. E se por um acaso a maré não os atinge, eles mesmos, as crianças, vão lá e os destroem. Mas, nada tira deles a satisfação de fazer tais castelos. Portanto, mesmo que o resultado final de nossos empenhos sejam por fim anulados pela morte, os nossos empenhos devem ser os melhores, devemos aproveitar o momento que estamos vivos.

Parmene, filósofo do primeiro século, pensa que a vida só pode ser castigo de um deus cruel, pois não se pode encontrar um caminho que seja verdadeiramente satisfatório. Com a idéia do “Devir”, há uma desestruturação na estabilidade do ser humano. Tudo muda na matéria, mas segundo Parmene, se encontra na eternidade. Então por mais confusa que seja a existência humana, tudo se organizara na eternidade.

Platão diz que nós nos tornamos seres do Agun, em que o foco é no interior e não no exterior. O ser é o pensamento e sua essência. É como se existisse esse outro mundo, o do pensamento, e ele se sobreponha ao mundo exterior. Somente por se desenvolver este mundo do pensamento, é que o ser humano poderá encontrar o seu caminho na vida, em busca da felicidade.

A história da filosofia é a história da coragem. Pensadores que ousaram questionar o mundo a sua volta, que pensam conceitos diferentes dos tradicionais, que são tidos como os ideais para os homens, realmente são dignos de serem admirados como corajosos. Os filósofos estão questionando o porquê, eles querem ter certeza de que certos conceitos possam passar pelo teste da purificação no fogo do porvir. È comum, portanto, a divergência até mesmo entre os próprios filósofos. Por exemplo: Heráclito e Parmene têm conceitos diferentes sobre o “Devir”. Para Heráclito é maravilhoso que tudo esteja mudando, estas mudanças são o que provocaram a evolução da espécie humana. Parmene, simplesmente odeia a idéia do “Devir”. Para ele é um conceito retrógrado e contraproducente, pois leva o individuo a uma condição de acomodação, pois se tudo está mudando e não tenho controle sobre o meu futuro, então não há porque me esforçar numa busca da essência ou de um caminho que leve ao equilíbrio. Este caminho, se existir, virá ou não, sem o meu esforço pessoal. No entanto, é preciso dizer que esses filósofos, não querem estabelecer verdades absolutas. O objetivo deles é o questionamento, é o pensar para se chegar à essência. Eles querem, na verdade, que alguém os conteste que alguém tenha conceitos diferentes para que assim se possa ir o mais longe possível.

Viviane passa a citar sobre como a busca do ser humano em certa altura se torna um pouco afunilada. Por exemplo, alguns se perguntam sobre qual o sentido da vida. Ora, não se pode ter um só sentido na vida. Com tantas possibilidades, com tantos caminhos a seguir, buscar um só sentido, estaria tendo um efeito devastador sobre o homem. Imagine por exemplo uma pessoa que escolha defender o meio ambiente. É lógico que essa ação por si só é uma ação louvável. A pessoa que esta defendendo o meio ambiente, está a procura de uma qualidade de vida melhor para si e para a geração futura. Mas a grande questão é: Se o único sentido da pessoa for defender o meio ambiente, que efeito isso terá sobre a própria pessoa, sobre sua personalidade, suas perspectivas, a sua essência? Todo seu assunto irá se centralizar na questão ambiental.

Por exemplo, na época da copa do mundo, enquanto todos falam sobre os jogos, os lances, os craques, os que não jogaram bem, e assim por diante, o que tem seu objetivo em defender o meio ambiente estará frisando em como o grande ajuntamento de pessoas estará influenciando na produção de resíduos orgânicos e sintéticos que será responsável pela poluição e propagação de doenças em todo o planeta e como no futuro bem próximo uma queda de qualidade de vida das pessoas que residem em tal região se tornara enorme.

Em outras palavras, podemos dizer que essa pessoa com o objetivo de defender o meio ambiente se tornará um ser humano simplesmente insuportável. É preciso então, se ter vários objetivos na vida, para que assim a pessoa possa, como que preencher o seu interior, se tornando alguém de conteúdo. É importante até para que se tenha uma real noção da dimensão das coisas a sua volta, e assim, seguir um caminho que seja abalizado. Portanto, as pessoas escolhem sentido para sua vida, como flechas que são atiradas. Nem todas as flechas atingiram seus alvos, nem todos os sentidos que buscamos serão cobertos de êxito, por isso é importante que se busque mais de um sentido, para que se possa atingir pelo menos alguns.

Foucault segue Nietzsche nas suas idéias. Para ambos o conhecimento é o verdadeiro poder, é o que pode ajudar o ser humano a encontrar o caminho que traga a felicidade.

Mas será que se atingiu, hoje, o conhecimento que pode trazer a satisfação para o homem? A 30 ou 40 anos atrás as crianças estudavam até a 4ª série, e precisava fazer um vestibular para ingressarem na 5ª série. Hoje, não é assim, o jovem prossegue seus estudos até o terceiro ano, e depois é que tem de fazer vestibular para ingressar no chamado, ensino superior.

Significa isso que o conhecimento, hoje, está amplamente difundido? De modo algum! Esta idéia de que o conhecimento hoje é mais acessível, através das instituições de ensino e da internet, é completamente falsa. O conhecimento foi sucateado, reduzido, diluído em meio a informações que não acrescentam nada ao ser humano. Por esses meios, pode-se dizer que o conhecimento se tornou mais difícil de ser obtido hoje, pois se tornou confuso. Nesta profusão de desinformação, identificar o que é verdadeiro conhecimento que traz a essência humana é tarefa árdua.

O conhecimento é a relação do poder. Quem tem o verdadeiro conhecimento tem consigo o controle sobre o mundo, sobre as pessoas. É capaz de modificar o meio em que vive.

Porque surgiu a necessidade de se buscar a verdade? Que verdade é esta que os homens tanto procuram? Para Nietzsche, a verdade é produto do medo da morte. É uma tentativa de para no tempo, de manter a duração. O conceito de verdade, surgiu porque não somos capazes de viver a vida como ela é. Parece muito cruel, viver uma vida em conflitos, lutando para buscar o caminho da felicidade, e de repente quando se avista uma luz no final do túnel, pronto acabou-se a vida. Então a história do conhecimento, da verdade é a história para se manter, é a tentativa de para no tempo, para que se possa perpetuar o ser humano no seu espaço.

Apesar de todos os esforços para se encontrar a verdade, no final do século XIX, Nietzsche, previu que as verdades, o conceito de conhecimento, viria por terra. E de fato no século XX, esse conceito sobre a existência de uma verdade veio por terra.

No século da Ciência, alguns conceitos novos foram surgindo e tentando estabelecer novos caminhos. Como foi o caso do Niilismo. Neste conceito todos os valores perdem seu sentido. Não importa o que eu siga ou faça, no futuro tudo se encaminha para o lado certo. É como uma evolução constante que independe dos paradigmas que se siga na vida.

Nietzsche, diz que o cristianismo é um Platonismo para povo. Prega a um deus que no futuro trará a punição e a recompensa para todos. Se encontrarmos a nossa essência, se encontrarmos a verdade, seremos recompensados por isso.

No século XX, com a efervescência cientifica a uma reação ao cristianismo com seus conceitos platônicos. A morte de Deus, marca a existência da modernidade. Floresce o Niilismo reativo, que reage a Deus, que coloca a Ciência no lugar de Deus. A Ciência combate a idéia de futuro idealizado. Para a Ciência, a idéia de futuro tira o homem dos conflitos e do “Devir”, o que em parte é como se fosse uma fuga da realidade, é preciso encara os conflitos, pois estes é que dão sentido ao viver.

Em síntese, o Niilismo segue duas linhas de Raciocínio: em uma linha, há a vida idealizada, em que se imagina sempre o lado bom, sem problemas. E há a linha que segue o ideal sem transformações do tempo, em que o pensamento é a força motriz.

Para Nietzsche, o Niilismo, é uma cabeça obesa de pensamentos, mas um com um corpo raquítico de sensações. No Niilismo Se pensa muito, mas se evita a pratica. O sentir não tem lugar.

O primeiro momento do Niilismo foi quando se inventou a linguagem. A partir daí se cria uma relação especial com as palavras e para os Niilistas, as palavras determinam o resultado, independente dos sentimentos envolvidos.

Borges ilustra esta situação da seguinte forma: havia um povo que era mestre na Cartografia, eles se especializaram em mapas de toda espécie. Tiveram por fim, uma idéia inovadora de construir um mapa da província do tamanho dela. Não satisfeitos, resolveram fazer um mapa do estado que fosse do tamanho dele. Então, por fim culminaram na idéia de fazerem um mapa do mundo, que fosse do tamanho do mundo. Mas neste ponto se perguntaram: Se o mapa do mundo é do tamanho dele, pra que se precisa de mapa? Então jogaram o mapa no deserto e só os animais residem nele.

Da mesma forma, de que vale tantos pensamentos, tantas filosofias na vida, se não se coloca em pratica nada do que se pensa? A palavra não pode ser o final de tudo. Não é porque alguém disse que era assim ou assado, que está resolvido. No Niilismo, esta fase do sentimento fica anulada. È como se o homem até tivesse a capacidade de sentir, porém, não possui a capacidade de processar os sentimentos. O que em partes anula essa capacidade.

É por isso que foram criadas as palavras, para que o homem não precisasse processar os sentimentos, tudo se explica com as palavras. Nós temos com as palavras uma relação de vida. As palavras são a redução da vida que é muito intensa. E por não podermos lidar com essa intensidade dos sentimentos, usamos as palavras que explicam tudo, que colocam todo sentimento e ação num só patamar, num só plano.

Nós fizemos da seguinte forma: construímos um grande edifício de palavras e passamos a morar dentro dele. Então, tudo que nos perturba, tudo que não conseguimos explicar esta solucionado dentro deste edifício de palavras. Na verdade a construção deste edifício foi justamente pela nossa falta de capacidade de nos relacionarmos com a vida. É tão mais cômodo usarmos palavras retiradas de uma bolsa, colhidas com todo cuidado e usarmos como solução de tudo, do que de repente, termos que lidar com os sentimentos, com as sensações que muitas vezes não conseguimos explicar. Por exemplo, as vezes passamos por momentos de euforismo combinados com momentos de muita angustia. Como explicar esses dilemas do ser humano? Nós não conseguimos suportar a idéia de que os sentimentos sejam sempre tão intensos, tão sem explicação, e então usamos as palavras que nos serão de salvação, serão um subterfúgio da realidade, para que não precisemos explicar os nossos sentimentos.

Platão passou a criar o homem metafísico. Essa criação se deu justamente pela existência das palavras. O homem sempre foi metafísico. Mas com a existência das palavras podia-se definir este conceito e trazer a existência algo que sempre existiu. Platão criou então, o conceito do que é moral e imoral. Ele se tornou o pai da moralidade. Estabeleceu um conceito sobre o que é verdade. Fez uma separação com a sua régua da verdade. O que é certo fica então separado do que é errado.

Mas, o que esta por trás dos códigos de moral? Uma tentativa de eliminar o sofrimento humano. Os homens querem a todo custo terem a sensação de que tudo esta bem. E por se seguir um código escrito, uma série de regras que são chamadas de códigos de moral, estará assim nos livrando do sofrimento. Então, tudo se baliza na necessidade do ser humano de encontrar a felicidade, evitando o sofrimento.

Mas será que o sofrimento é tão ruim assim? Quem disse que no sofrimento não há felicidade? Na tragédia Grega, o sofrimento era o essencial. Porque com o sofrimento se buscava a causa. Então, os esforços eram concentrados não em se evitar o sofrimento, mas em achar a causa do sofrimento. Achar a ferida aberta para então poder curá-la.

Falando de experiência própria, Viviane, conta que em certa época ela percebeu que precisava de um pouco de sofrimento para poder até mesmo curtir uma música romântica. Ela se lembrou da época em que dirigia o seu carro, chorando por um amor. Ficava pro cantos, tristonha, e aquela sensação, agora ela percebia que era gostosa, que a ajudava a ver a beleza de outras partes da vida. O sofrimento é característica do ser humano, faz parte da vida, ajuda a estabelecer valores, a formar a personalidade.

A situação do homem começou a mudar a partir do momento em que ele começou a enterrar os seus mortos. Quando isso aconteceu ele começou a pensar que um dia também morreria. E se isso aconteceria, o que podia ele esperar para o futuro? Que perspectiva poderia ele ter? Neste momento, cria-se a idéia de intervalo. Este período da morte, na verdade, nada mais é do que um intervalo para se chegar a uma condição melhor. Tinha que ser assim, pois a idéia de não ter mais nada para frente era insuportável ao ser humano.

A mortalidade agora se tornou a motivação para o pensamento. O homem tenta explicar a morte, o porquê de existir a mortalidade. Usam-se então três linhas de raciocínio para se chegar a uma conclusão: A religião, a Ciência e a Arte. A religião passa a idéia de continuidade. O homem não morre apenas se transfere para outro plano de vida, que no geral é superior ao terrestre. A Ciência, tenta explicar tudo pela recriação. Na natureza nada se perde tudo se transforma. A arte por fim, não dá nenhuma explicação sobre esse assunto. A arte tenta dar um conforto, mostrando ou retratando o cotidiano através das obras artísticas. Tudo é belo e deve ser vivido sem questionamento, sem explicação.

O homem é um animal pensante e por isso ele sofre mais. Ao lidar com os conflitos humanos e tentar resolve-los, vem sobre ele toda uma carga de pressão em cima, o que acaba acarretando um grande estresse no homem. Por isso, existe a procura extenuante da verdade, que poderá de certo modo livra o homem do sofrimento e conduzi-lo a felicidade, ao equilíbrio. Por outro lado se a verdade não existe então o que nos resta a fazer é jogar tudo fora, e viver como se pode.

Com tantos pensamentos é inevitável que haja uma crise de valores. Mas, essa crise de valores é essencial, porque motiva uma troca, uma renovação desses valores. Nietzsche diz que recriar os mesmos valores é um erro. É preciso renovar, abandonar os velhos valores e colocar outros no lugar. Em síntese, o pensamento é uma sucessão de idéias, para um lado, para o outro, para o outro, e assim se chega a estabelecer a mudança necessária para o progresso da sociedade.

O conceito do super-homem tem de ser revisto. O super-homem é uma pessoa que lida com os conflitos e convive com eles. Saber dos seus limites, lidar com esses limites é a invenção de si. É se aceitar como ser pequeno, que não é capaz de ir ao limite das coisas.

O poder que se estabeleceu no mundo é o poder da fraqueza. É como numa guerra em que o general fica atrás das tropas. Com as palavras, há uma descrição das fraquezas dos homens e os torna totalmente desabilitados para lidarem com os seus conflitos internos.

É preciso que se mostre a sociedade humana, que se precisa estabelecer uma mobilidade dos valores, senão há o grande risco de se estar seguindo conceitos que estão ultrapassados. Por isso, Nietzsche começa uma guerra contra o Platonismo, contra o Cristianismo. Nós jamais mataremos a Deus enquanto acreditarmos na gramática, que se sustenta em sujeito e predicado.

A lógica gramatical exclui o mundo. Temos um lugar onde é espaço de exclusão. Foucault fala sobre a criação das favelas, das clinicas psiquiatras, das escolas, de creches, etc. que são na verdade lugares de exclusão. As escolas, por exemplo, são lugares para tirar, excluir crianças das ruas. É preciso que aprendamos a nos relacionar com as palavras de uma maneira diferente ou então apenas refaremos as coisas, sem trazer uma mudança real para o nosso meio. Ou mudamos a gramática ou continuaremos excluindo.

A verdade é uma arte que se envergonha de ser uma arte. O conhecimento é uma arte que tem vergonha de ser criação. A educação é um princípio da incerteza. Tudo pode mudar. Não se deve ser rígido no sentido de querer ter a verdade. Quando se coloca tudo na exclusão, sobram somente palavras. É preciso que tenhamos a coragem de inventar uma nova forma de falar, com uma nova perspectiva, para que consigamos lidar com os conflitos humanos, e encontremos por fim um caminho que seja a nossa verdade, que nos conduza a felicidade.

4 comentários:

  1. qual é o pensamento de nietzsche sobre a política ???

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  2. Nietsche viu a necessidade vital que o homem tem de sempre lançar-se compulsivamente sobre os demais objetos da natureza e sobre o resto da sociedade visando o seu domínio, e esta vontade estaria assentada na antiga premissa de que "cada um de nós deseja, no possível, ser o senhor de todos os homens, e preferivelmente deus". Isto conduziu a que Nietzsche aceitasse e enaltecesse qualquer política de domínio, acreditando-a inevitável. No Além do bem e do mal (Jenseits von Gut und Böse), concluída em 1886, e que é de certa forma, a complementação final em prosa do Zaratustra, afirma que "a vida mesma é essencialmente apropriação, ofensa, sujeição do estranho e mais fraco, opressão, dureza, imposição de formas próprias, incorporação e, no mínimo e mais comedido, exploração".

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  3. nietzsche desconstroe conceitos e ideologias e vê a verdade como um ídolo que deve ser desmistificado; desconstruido, repensado para realidade terrena de amor fati, ou seja, amor a vida. tal concepção é abordada em todos os seus escritos. Faço uma citação de zaratustra:"permanecei fieis a terra e não acrediteis nos que vos falam de esperanças supraterrenas". É um pouco difícel entede-lo porque ele escreve pensamentos aleatorios a iluminação que um farol faz em uma pequeníssima área do oceno que é a mente... boniex01@gmail.com

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  4. Realmente a visão de Nietzsche é um pouco difícil de ser entendida e mais difícil ainda de ser aceita, pois nos acostumamos aos conceitos platônicos. Alguns até acusam Nietzsche de não ter amor a vida, porém o amor fati é uma prova de que ele prezava a vida, não uma vida supraterrena, mas a vida na terra. Boas observações boniex!!!

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Por um momento estivemos juntos, ligados pelas ideias. Foi muito bom! Nos encontramos em breve! Tchau!

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