quarta-feira, 20 de outubro de 2010

HISTÓRIA & TEORIA Historicismo, Modernidade, Temporalidade e Verdade


Esta resenha tem como base o livro de José Carlos Reis, História & Teoria, alçado nos sub-capitulos com os temas: Modernidade e história-conhecimento, pags. 36 a 42; A pós-modernidade, pags. 42 a 53; e Pós-modernidade e história-conhecimento, pags. 53 a 62, da 1ª seção. Este livro foi publicado pela editora FGV do Rio de Janeiro, com edições em 2003, 2005, 2006 e finalmente a Reimpressão em 2007, que é a edição que estamos utilizando.
            Neste texto resenhado, José Carlos Reis, faz uma abordagem sobre os caminhos da historiografia no século XVIII, onde predominava a filosofia e a Razão histórica. Anda também no século XIX, onde a história quer se emancipar para Ciência histórica. Passando por último para o século XX, onde pode se destacar duas fases distintas da História: na primeira parte, uma História-ciência, que vigora na primeira metade do século, e, na segunda parte, a Anti-ciência na História, ou a Anti-história na ciência, que se passa no final do século.
            A obra de José Carlos Reis, História & Teoria, esta dividida em 21 capítulos, sob três seções. Na primeira seção, Reis, faz o que podemos chamar de histórico de a História da história, que se trata de uma analise sobre o desenvolvimento historiográfico no mundo ocidental. Na segunda seção o foco está na grande queda da História, passando de uma História global a uma micro-história, ou como Reis a chama, a “história em migalhas”. E na terceira seção a analise se concentra no estudo da Lógica e sua problemática e em tentar estabelecer como o conhecimento histórico tem sido discutido nos últimos anos.
Nos três capítulos, que baseamos esta resenha, José Carlos Reis, remonta ao século XIX, onde a história-conhecimento deixa de lado seu viés filosófico e torna-se “cientifica”. Esta mudança é resultado de pensadores radicais, que tinham consigo que as filosofias racionalistas e metafísicas, não revelaram nada da história, e consequentemente não servia como bem para a humanidade.
Com o estabelecimento da História-ciência deixou-se de discutir o sentido histórico e a história universal. No método científico, conforme mostra Reis, não se busca conhecimento de principio geral, mas sim o conhecimento das diferenças. Há um verdadeiro culto do “fato realmente acontecido”. A consciência histórica é finita, limitada. Como se trata de uma busca da realidade a História-ciência se organiza temporalmente sem se referir ao intemporal. As filosofias Hegelina e Iluminista são prontamente recusadas.
            A relação entre filosofia e história se inverte. Neste momento é a filosofia que se revela histórica. O historiador passa a ter uma nova atitude, positiva e critica. Abandona-se a ontologia e adota-se um proceder epistemológico. Passa-se a observar os fatos através de uma atitude realista. Acreditou-se que o conhecimento histórico tinha se estruturado em bases positivas ao encontrar um método seguro, objetivo, confiável, empírico.
            A seguir, José Carlos Reis, mostra como a história-ciência sofre uma poderosa derrota quando ocorre a 2ª guerra mundial. A história-cientifica que assumiu ares de salvadora da humanidade, agora é descartada como não servindo para o bem. Depois de 1945, com a Europa derrotada, com os dois novos vitoriosos a leste e oeste, que eram inimigos em uma “quentíssima Guerra Fria”, a historiografia européia tinha de se reconstruir para apoiar a Europa em sua reconstrução. A escola dos Annales era a historiografia adequada à “reconstrução da Europa”. Reis resume a importância da escola dos Annales por citar que ela foi tão revolucionária quanto à burguesia depois da Revolução Francesa, ou seja, inovava para se antecipar a mudança, mudava para não desaparecer, para permanecer.
            Por fim, Reis, passa a analisar o momento atual em que a história se encontra. Segundo ele, desde 1989, com o fim da Guerra Fria, a história mundial mudou a sua direção. A história da história se articula à história vivida. Hoje, predomina a chamada “história cultural” e as abordagens micro do social, que defendem teses como: “o sistema não existe”, “não há confrontos estruturais”, “o que os homens são é tal como se representam”, “o que o mundo social é depende das representações que os indivíduos e grupos fazem dele”, “os indivíduos se apropriam de linguagens dominantes para se integrarem à ordem” etc. A direção é: que cada um se adapte, que cada um se integre, que cada um negocie e crie estratégias para vencer, que crie novas identidades, que, se vencedoras, irão revigorar a ordem. Viva o presente e lute para fortalecer-se nele. Olhando ainda mais para os nossos dias, alguns historiadores têm formulado a existência de um pensamento pós-moderno, onde haveria uma ruptura com o projeto moderno. Esse pensamento pós-moderno substituiria a Razão e a metafísica. A história não salva e ninguém se nutre de sonhos utópicos. É real a existência desse pós-modernismo? Quais são suas reais bases? O que o futuro pode nos apontar? São reflexões feitas por José Carlos Reis e abordadas nestes capítulos que procuramos aqui resenhar.
            Vale dizer nesta resenha, que a analise feita por José Carlos Reis, demonstra de forma interessante o desenvolvimento e a queda da historiografia e consequentemente sua luta para não desaparecer, para se adaptar aos novos tempos. Ao citar filósofos de nome como: Weber, Nietzsche, Hegel, Foucault, Dilthey, Marx, P. Burke e outros; ele tenta mostrar como sua analise esta bem embasada e representa o pensamento filosófico em vigor.
            Por ter uma “vocação filosófica”, como ele mesmo refere a si, José Carlos Reis, defende em demasia o retorno da história-conhecimento, que foi utilizada amplamente no século XVIII, e que tem como meta a compreensão do mundo por meio do estudo da Razão, utilizando a filosofia como base das reflexões. Mas como diz Tzvetan Todorov: “A aquisição dos conhecimentos só faz aproximar da verdade quando se trata do conhecimento daquilo que se ama e em nenhum outro caso” (L’enracinement, p. 319). Ou seja, não se pode ter uma compreensão plena de algo se não estivermos vivendo esse algo, pois, sem a emoção, sem o sentimento da vivenciação, da experiência pessoal, tudo se degeneraria em escolástica, e assim traria satisfação apenas às instituições burocráticas, que adoram os dados quantitativos. Uma história feita em bases filosóficas, poderia se tornar rapidamente uma história empírica, o que foi amplamente criticado por Reis, quando utilizada pela história-ciência.
            Ao tecer duras criticas aos métodos científicos em que a história-ciência se alicerçou, Reis, deixou de analisar como esses métodos foram úteis em se criar uma “estrutura lógica”, fundamentada, para se fazer história. É claro que, os pensamentos de radicalistas históricos, que introduziram o pensamento científico e suprimiram a filosofia da história, cometeram um erro de falta de equilíbrio. Porém, Reis, cai em um erro similar ao defender a introdução da filosofia na história e a total supressão dos métodos científicos. É preciso ter um equilíbrio, utilizar o melhor dos dois mundos seria o mais sensato, é preciso evitar o radicalismo histórico.
            Eu considero a idéia do texto resenhado muito boa para a utilização nas faculdades, entre os iniciantes em graduação de história. Não é segredo que a história passou por várias mudanças e que atualmente a uma indefinição quanto ao momento em que se vive e quanto a que caminho seguir. Porém, a forma como Reis apresenta esse momento dá uma visão realista de três séculos de conflitos historiográficos. Os iniciantes de graduação em história poderão assim ter visão apurada do desenrolar histórico.
            O professor José Carlos Reis é um dos historiadores mais conhecidos no Brasil. Autor de algumas das melhores obras de teoria e historiografia (História & Teoria; A Escola dos Annales: a inovação em História; Identidades do Brasil I e II; Tempo; História e Evasão entre outros). Fez o curso de história na Fafich/UFMG (1978/81). Sua pós-graduação foi em departamentos de filosofia. Fez mestrado na UFMG, sob a orientação de Ivan Domingues, com a dissertação “Marx e a História”. Fez doutorado no instituto superior de Filosofia, da Universidade Católica de Louvain (Bélgica), sob a orientação de André Berten, com a tese “O tempo e o lugar epistemológico dos Annales”.


Silvon Alves Guimarães
“Acadêmico do curso de História da Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí”.

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