quinta-feira, 28 de abril de 2011

Levante contra a Prosápia

Katita querida,
Ainda choca ver como pode
Ter gente pequena, mesquinha
E simplesmente cruel né?

Querem que eu me ajuste ao sistema,
Mas como posso fazer isso
Se o sistema esta desajustado?

Acho que a aula passada ao papel
Fica sempre mesquinha.
Alguns há, porém, Teeteto, cujas almas
Não me parecem prenhes;
E por isso não podem suportar
Que a sinfonia estará perturbada
Porque faltou uma nota.

Vêem-me, Katita,
Como um deslocamento no sistema,
Que se manifesta em forma de doença.
Posso até ajustar esta imagem tão provocante
À conveniência,
Mas, terei certa dificuldade
Em ajustar-me há esses trajes sem horizontes.

Eu bailo em poemas multicoloridos! Palhaços!
Converso com um índio Jivaro,
Desses que sabem reduzir cabeças
E personalidades grandes e poderosas
Bem como gente mesquinha e malvada.

Será que tenho que suportar
As conversas mesquinhas
Dos que não me suportam?
Tenho que suportar os sorrisos
Misteriosos e estranhamente
Sarcásticos do meu homônimo?

Não podendo suportar minhas palavras
Tomam o partido da justiça e da verdade,
E se acham aptos para presidirem
Às nossas vidas. Criticam-nos,
Dão-nos ordens.
Considerando tudo com desdém.

Querem que eu me ajuste ao sistema, Katita!
Um sistema de ecos, de retomadas,
E uma mesquinhez prosaica do real.
Com uma força desrealizadora,
Logram alcançar o status
De construtores de outro sistema.

Lembrei-me das sementeiras de Magna Santa,
Sinto-me como tinta jogada em tela,
Ou como poesia intraduzida.
Não me moldem!

Ninguém suporta mais as crianças
Dos outros. E pouco a pouco
Não estão mais suportando
Nem ouvir falar de Paul McCartney.

Estamos na terra de mesquinhos com duros corações!
Eles têm revestimento interno que não suporta
A toxicidade nem a alta temperatura da fumaça
E começam a elaborar algumas suposições,
Iguais a enólogos amadores em conversa ocasional.

Você sabe que em tudo isso sou mais você, né?
Teus ombros suportam o mundo
E ele não pesa mais que a mão de uma criança.

Nesse período de declaração de ajuste
De imposto de renda, permanece um mal,
Disfarçado pela velha conversa da harmonia
Racial tão nossa com suas mesquinhas ações
Nos múltiplos mercados dos gestos
Inseridos no sistema por força de lobby.

Querem reduzir a vida ao seu sistema
Normativo de imitação de modelos.
Querem ajustar a fala coloquial
E dizem que não há sistema tão simples
E que menos repugne a inteligência.

Eu até poderia suportar, Katita,
Embora não sem dor,
Que tivessem essa conversa monetária
Que faz gelar a fala,
Podendo esvaziar a sala,
Mas só se eles concordarem em viver
Sem um sentido pequeno e tão lamacento.

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