sexta-feira, 29 de julho de 2011

Anjo de Vidro

Quero fazer um poema pra você,
Falar sobre o significado do seu nome:
Pequenina, Delicada.
És pequenina e delicada, mas firme como Jó!
Uma joaninha enamorada.
Você inspira poesias de flor,
Inspira os sentimentos mais galantes e elegantes
Que possa existir no mundo.

Meu anjo de vidro
Sofro a delicadeza dos meus sentimentos
Com uma atenção desdenhosa.
Sua delicadeza revive em mim uma coisa morta
Que viverá enquanto você viver,
E os poemas que escrevo viverão
Em seus olhos pela eternidade.

O que posso escrever neste poema
Que já não seja teu?
Tudo te pertence, basta apenas que você
Tome posse.
Eu falei com você e pude ver o seu sorriso
Enquanto você brincava com a maçaneta
Do vidro da porta da entrada principal.

Quero fazer pra você um poema em noite de lua cheia.
Os sentimentos mais lindos estão escritos no seu olhar.
Seu olhar é macio. Seu sorriso me dá abrigo.
A pureza está em suas mãos.
A lindeza está em teu corpo, morena
Da cor de jambo, que ganha os meus olhos.
Fico a admirar esse teu bronzeado
Cor de cacau pisado, com jambo misturado.

Talvez eu revele ao mundo neste meu verso
O seu poder encantado de tudo transformar.
O que não tem valor passa a reluzir em ouro
Com apenas um toque do seu olhar.
Visto-me de azul e ponho perfume de jasmim
E peço: por favor, toque em mim!

Parei as águas do meu sonho
Para que teu rosto eu possa mirar.
Para que a história que se passa
No velho Oeste possa se completar.
E eu possa entender esse estranho poder
Que me roubou a atenção.

Eu conheço de cor o seu sorriso e seu olhar,
Eles vêem de uma pequenina, delicada, morena jambo.
Só me resta supor e esperar com os pés na água quente.

Você me fala também com o teu silêncio,
Claro como uma lâmpada,
Simples como um anel.
Fale também no meu ouvido
Com a voz mais macia e mais grossa do mundo.

Quero te escrever um poema
Mas talvez eu não diga nada
Talvez eu apenas deixe meu silêncio
Gritando na noite rubra do seu olhar.
Noite igual por dentro ao silêncio, noite...
E peço que você deixe só uma luz acessa
E outra luz e mais outra...
E peço que você despretensiosa me apanhe do meu solo,
Meu mal-me-quer esquecido...
Peço que você esteja onde arde ao rubro
Tudo o que talvez seja o futuro.
Que sem conhecer eu adoro!

Por: Silvon Alves Guimarães
http://www.silvonguimaraes.blogspot.com/

terça-feira, 26 de julho de 2011

A IDENTIDADE DOS EXCLUÍDOS. RESENHA SOBRE O DOCUMENTÁRIO: FALCÃO – MENINOS DO TRÁFICO.

Athayde, Celso e Mv Bill; Falcão – Meninos do Tráfico.


Um monstro não merece piedade nem compaixão. Quando este monstro conhece o seu fim por qualquer meio que seja, normalmente o que se tem é o suspiro de alivio das “pessoas boas”, que se vêem hostilizadas e cerceadas na sua liberdade por esse ser monstro medonho, desalmado e sem traço de humanidade. Mas o que fazer se descobrimos que esse monstro tem um coração, que nesse coração mora uma criança, e que essa criança só quer uma coisa: o seu carinho, um pouquinho do seu afeto, ocupar um cantinho que seja no seu olhar periférico e receber seu calor para vencer o frio do desprezo, e da exclusão?

Esta foi à situação que o rapper MV Bill trouxe à tona pela exibição do documentário: Falcão – Meninos do Tráfico. Este documentário foi produzido juntamente com o empresário de MV Bill, Celso Atahyde, e pelo centro de audiovisual da CUFA, Central Única das Favelas, que retrata a vida de jovens de favelas brasileiras que trabalham no tráfico de drogas.

O nome “Falcão” é um termo usado nas favelas, que designa aquele cuja tarefa é vigiar a comunidade e informar quando a policia ou algum grupo inimigo se aproxima. O “Falcão” geralmente atua no tráfico noturno. Ele não dorme esta sempre alerta, e para manter essa vigilância, na maioria das vezes, recorre ao uso de drogas, que o manterá acordado.

O documentário nos ajuda a ver a formação de uma identidade excluída, tanto no particular, como na relação do individuo com o mundo a sua volta. Para esses meninos o mundo se torna um monstro enorme que não os aceita em seu meio e que os deixou em um lugar de reclusão: a favela. Como sobreviver a esse monstro poderoso e cruel? É preciso se tornar um monstro maior, mais poderoso e mais cruel. Então esses meninos que querem carinho, que precisam de atenção e estão perdidos sem um rumo a seguir, se revestem de uma roupa encouraçada, que é capaz de esconder o sentimento de frustração, dos olhos que nunca desejarão ver a quem esta por trás do monstro do tráfico.

A identidade desses excluídos começa a se formar desde a infância, nas brincadeiras que reproduzem o mundo do tráfico . Surge também a presença do “Fiel”, termo atribuído aos bandidos que tomam a frente do tráfico, e que solicitam a assistência destes jovens, na compra de produtos, no “asfalto”, o mundo fora das favelas, onde esses bandidos não têm acesso, e que esses jovens menores podem freqüentar livremente. Eles recebem por esses assistencialismos, tanto dinheiro, quanto a atenção dos mesmos, o que contribui para formar a idéia de que estes bandidos, na verdade sejam protetores em meio a um mundo “onde a bala come, e a lei é a do cão. O “Fiel” se torna mais importante do que os outros amigos, mais importante do que os pais, formando assim uma nova estrutura de autoridade para estas crianças.

Ao reconhecerem na figura destes bandidos, alguém a quem admirar cujo estilo de vida é sempre empolgante, os meninos passam também a desejarem portar uma arma, pois está lhe dará poder, proteção, respeito e sedução. Querer uma arma para si, ou mesmo uma “motinha” é querer se igualar ou ao menos chegar perto do fascínio que os bandidos causam na comunidade em que vivem. O processo da formação da identidade se dá, portanto na relação das diferenças e semelhanças, no suprimento de uma “dignidade”, mesmo que falsa, que os bandidos fornecem a essas crianças que são carentes em sentido material e emocional.

Muitas vezes o caminho do crime se dá pelo fato familiar: uma mãe desamparada; e os meninos encontram no mundo do crime um modo de trazer a ela uma “vida melhor”. Normalmente a figura do pai é ausente destas famílias. Segundo alguns relatos do documentário, muitos destes meninos tem mesmo uma revolta com a figura paterna. Quando eles formam suas famílias irão reproduzirem o que viveu, tornando-se pais ausentes, que produzirão filhos revoltados que também serão pais faltosos, num ciclo infindável de repetição de identidade de exclusão.

Esses meninos passam a não acreditarem que vivem em sociedade, pois esta sociedade, lá de fora, os considera como nada, ela os excluiu das suas afeições, e literalmente do seu mundo. Na favela eles podem participar de uma comunidade , mesmo que essa não tenha os elementos da sociedade de fora que os rejeitou. Ali na favela e participando da vida do crime, eles têm a oportunidade de vir a ser, o que não pode ser lá fora, no “mundo do asfalto”. Desta forma se completa a identidade dos meninos do tráfico, identidade essa que aos olhos da sociedade do “asfalto”, os torna alvos de uma rejeição maior.

A palavra que podemos citar como sendo o elo de união entre todos na favela é: sobrevivência. Os que preparam as drogas, os que a vendem, os que vigiam o morro, os que soltam os fogos, todos estão unidos pela necessidade de sobreviver em meio a um mundo capitalista sem piedade e monstruoso.

Neste ponto, podemos nos lembrar da idéia de “amor fati”, discutida por Nietzsche. Ele acreditava que o “amor aos fatos” é uma formula do amor a vida como ela é. Esse “amor fati” envolve viver. Viver sem transformar os adjetivos, os estigmas, criados por uma minoria governante e excludente, em deuses ou coisas parecidas. Para Nietzsche a vida não pode ser transformada em apenas uma questão de sobrevivência, pois agir assim seria caminhar de quatro junto a alguma ética, buscando um cardápio moral que deveria despencar de alguma mesa dos governantes com suas idéias de exclusão e de superioridade.

Entendo que esses meninos do tráfico, perderam suas batalhas pela vida, quando se deixaram moldar pelos adjetivos das minorias dominantes. Quando eles deixam de viver para poderem sobreviver, então fazem de sua existência um fardo pesado, que os obriga a entrarem nesta roupa encouraçada, a prova de sentimentos e imune ao sofrimento, mas que aos olhos dos outros, os faz verdadeiros monstros, sem alma. E muitos destes passam a não ligar para mais nada, a não se importar com nada, nem com sua vida e muito menos com a do seu próximo.

A pergunta que persiste, porém é: o que faremos, agora que descobrimos que o monstro tem coração, tem sentimentos, é apenas uma criança, e uma criança que quer nosso afeto, nosso carinho e nossa atenção? Não dá para transformá-los novamente em monstros, pois as roupas encouraçadas foram destruídas. Perdemos a inocência através deste documentário. Insistir em manter esses meninos neste espaço de exclusão seria revelar que afinal nós também temos uma roupa encouraçada, que nos torna MONSTROS desalmados e cruéis.


quinta-feira, 7 de julho de 2011

Saudades da Infância

Quem dera poder voltar ao tempo de infância.
Quem dera poder estar na casinha simples
E acolhedora da fazenda.
Quem dera subir no meu pé-de-manga coração-de-boi,
Que se erguia imponente entre as outras arvores até
Tocar em um pedacinho do céu.

Quem dera correr pelo chiqueiro entre os porcos,
Que não se preocupavam com nada,
Que viviam sua vidinha perene e medíocre.

_ Vamos pegar goiaba!?
_ Oba! Oba! Eu quero da vermelha!
_ Ah, eu vou querer da branca, é bem mais docinha!

Quem dera colocar meus pés nas águas do córrego
Que passava no fundo do quintal. As suas águas
Corriam sempre tão suaves, e paravam por um instante
Debaixo da figueira, para se refrescarem.

_ Vamos brincar de Tarzan!?
_ Vamos, vamos, vou cortar um cipó, pra atravessarmos
voando pro outro lado.
_ Cuidado! Não pegue cipó seco, viu?
_ Pode deixar, achei um bom!

_ mãeee, tem formigas aqui! Me proteja mãe!
São muitas formigas, mãe! Não deixa elas me picarem!

Elas passam, correição, como uma enxurrada
Que corre depois de uma chuva de verão. Pronto!
Se foram! Já passou. Agora tá tudo bem!

_ Hoje eu quero ir ao grupo, estudar!
_ Hoje tem merenda! É galinhada, huuuummm que delícia!
_ Vamos logo! Os meninos já estão esperando pra gente
Brincar de pique-pega.

O tempo passou tão depressa!
Já é hora de ir embora?
Posso voltar amanhã?
Será que já é muito tarde?
Onde estão os meninos
Pra brincarmos de pique-pega?
Cadê meu pé-de-manga Coração-de-boi?

O córrego continua lá, suas águas são as mesmas,
Suaves, serenas, tranqüilas. Mas cadê a figueira?
Assim como as águas, eu procuro e não encontro a
Graciosa figueira. E agora? Onde o córrego refrescará
Suas águas?

Lentamente, como que com um nó na garganta,
O córrego segue tristemente seu caminho.
Igualmente, minha alma segue seu caminho
Sem dizer uma palavra. Apenas abaixo a cabeça
E sinto uma mornidão por dentro, por não ter onde
Refrescar meu espírito.
Uma mornidão, provocada pela saudade causticante
De um tempo que não volta mais.

_ Mãe, me coloca pra dormir!? Mas não apague a lamparina,
Por favor! Tenho medo do escuro!

Por: Silvon Alves Guimarães
http://www.silvonguimaraes.blogspot.com.br/ 

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Vermelho Ardente

Você surgiu de repente,
Veio com ar autoritário,
Chegou quebrando todas as vidraças.
Não pediu licença,
Não perguntou se podia entrar,
Não se importou com a placa: Afaste-se.
Jogou-me na cama e fechou a porta
Atrás de nós com o pé.

Seu sangue Ibérico
Prevaleceu nessa hora insana.
Não precisou de castanhola
Para que o sapateado se completasse.
Tentei resistir, gritar, me livrar,
Mas já era tarde demais pra mim... Cedi!

Deixei que você se apossasse do meu peito,
Se apossasse de meu coração,
Se apossasse de minha alma.
Suas mãos grandes, suaves e quentes
Cortavam o meu corpo
Como uma lâmina chamejante que desliza
Sobre o objeto do desejo.

Movido pelo intenso desejo, eu arranco seu lençol
E rastejo a língua por suas costas,
E você torce para que a luz do dia nunca mais volte.
Puxo-te para mais perto, mais perto, perto,
Até que não exista mais divisão entre você e eu.
Nossos corpos se misturam
Formando uma perfeita união entre o
Côncavo e o convexo.

Você quis se libertar, quis gritar,
Quis fugir dos meus braços,
Mas só conseguiu soltar um gemido
Ao morder minha orelha,
E toda sem pudor dizia que queria mais,
Que precisava de mais.

Então você se entregou aos meus beijos,
Entregou-se ao meu desejo.
Você quis flutuar comigo nas nuvens
E quis fazer do meu peito o seu lugar
De descanso.

Ficamos nós, eu e você,
Perdidos na imensidão desse amor,
Que não conhece limites, que se
Alimenta das imaginações ardentes,
Vermelhas e perversas, imaginando
Doidas loucuras pra fazer um ao outro,
Porque a paixão nos diz com voz altiplana,
Que nos pertencemos,
E que eu te amo como se o mundo
Fosse acabar.

Por: Silvon Alves Guimarães
http://www.silvonguimaraes.blogspot.com/

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Coração me desculpe!

Coração
Me desculpe esse meu jeito.
Perdoe-me por ser sempre
Tão racional.
Perdoe-me por não achar
Que o céu seja azul.
Perdoe-me por não conseguir
Ver as flores do jardim.
Me desculpe esse meu jeito
Coração.

Coração
Me desculpe esse meu jeito.
Perdoe-me por querer
Ficar sempre no chão.
Perdoe-me por não ter
Coragem de viver.
Perdoe-me por não ter
O mesmo querer que você.
Me desculpe esse meu jeito
Coração.

Coração
Me desculpe esse meu jeito.
Perdoe-me por ter tanto
Medo de sofrer.
Perdoe-me por não deixar
Você sangrar.
Perdoe-me por não ter
Quem você quer ter.
Me desculpe esse meu jeito
Coração.

Coração
Me desculpe esse meu jeito.
Perdoe-me por esse amor
Prevenido.
Perdoe-me por esse amor
Vacinado.
Perdoe-me por negar
A quem você disse sim.
Me desculpe esse meu jeito
Coração.

Coração
Me desculpe esse meu jeito.
Perdoe-me por eu não achar
Que o mundo seja perfeito.
Perdoe o meu jeito sério
E às vezes bobo.
Perdoe esse meu jeito desolado
Perdido nas lembranças.
Me desculpe esse meu jeito
Coração.

Por: Silvon Alves Guimarães
http://www.silvonguimaraes.blogspot.com/

O SIGNO LINGUÍSTICO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E DE SIGNIFICAÇÃO DA IMAGEM DO POEMA – UMA ANÁLISE DA POESIA DE GUIMARÃES FILHO - Parte 4

 4 DA LUZ À ESCURIDÃO E DE NOVO À LUZ – OS CAMINHOS DO POEMA EM “A ROSA ABSOLUTA” DO POETA GUIMARÃES FILHO Um poema começa [...]           ...