quinta-feira, 7 de junho de 2012

Chrônicas Jathayenses de um jornalzinho do início do século XX

O povo de jataí sempre teve um veio artístico muito refinado, há vários cantores, compositores, escritores, poetas, humoristas, etc. No início do século XX, mais especificamente no ano de 1922, um grupo de empresários e amigos lançaram um jornalzinho com o nome de “O Picapau”, na definição que eles mesmo fizeram sobre o jornal: “O Picapau é hebdomadário, litterario, comercial, noticioso e humorístico”. Eu chamo atenção para a última definição, “humorístico”, pois no meu ver esse é o forte do jornaleco. O Jornal é cheio de provocações entre os amigos, se fala sobre os ternos, sobre as “cavações”, o famoso “pegar” de hoje, as paixões dos amigos, o tamanho do nariz, as bebedeiras e coisas do cotidiano festivo do grupo e da sociedade, que parece todos se conhecem.
            Nesta postagem trago a nota de abertura do jornal. Notem o grau de desconcentração que foi colocado logo na abertura deste periódico, que já indicava o seu teor para os próximos números. A escrita é reproduzida na integra, utilizarei as mesmas palavras que foram escritas.

O Picapau
Sua Fundação
Em vista de haver morrido, aliás sem as pragmaticas do estylo, o periódico “A Cidade de Jathay” que com tanta galhardia vinha mantendo bem alto o nome desta terra onde não canta o sabiá, mas folacha a sanphona, abençoada companheira a quem o sertanejo, sentimental por índole, conta as suas queixas e lhe chora no ouvido os lamentos de su’ alma eternamente magoada, um grupo de enthusiastas verdadeiros e sinceros das letras pátrias, reconhecendo as necessidades de uma folha de letra de fôrma, resolveu virar pelo avesso cada um o seu respectivo bolso não furado e fundar uma espécie de sociedade anonyma para o que foi marcada para o dia tal de Oitembro do anno de mil novecentos e coisa uma reunião no sala nobre do olho da rua e lá compareceram o Toti, o Osorio Calado, o Cutia, o Siuca, o Raul do Moysés, o Véinho, o Maestro Anestori... e quando o salão estava cheio que a gente não via ninguém, o Toti com sua pose melenta, subiu na mesa e, tomando a presidência, declarou aberta a sessão, convidando depois para seu secretário o Siuca, que tomou o logar competente, em baixo da mesa; em seguida foi dada a palavra ao Osorio Calado que, na qualidade official da meléca, entrou mudo e saiu cabisbundo   e meditabaixo na mudez elocuente de seu discurso escronio, explicando que o fim daquelle povão todo ali (não é mesmo?) era a afundação de um jornal cujo fim seria divertir, todos os domingos depois da missa, a moçada guapa, desconsolando muitas vezes os namoriscados deante de alguma bicada de cum força; logo em seguida, isto é, depois que o Osorio Calado acabou a sua discurseira e (não precisa dizer) depois de vivamente applaudido, por proposta do presidente Toti, foi procedida a inleição para apuração da começão directora que ficou assim constituída: - director: Siuca; secretario: Raul do Moysés; thesoureiro: Osorio Calado; ficando os mais a chupar o dedo e procurar a cama que é logar quente pra chorar; concluídos os trabalhos da apuração (não se trata aqui de apuros por enquanto mente) foi posto a votos qual deveria ser o nome do pimpolho, nome que o presidente indicara fosse o de “Pica Pau” por ser o nome da mãe, que foi acceito unanimemente; não havendo mais nada importante a tratar, o presidente falou aos povos (porque não haviam povas) e mandou evacuar as massas, depois de agradecer com uma espécie de descompostura de sogra a todos que compareceram com o seu (delles) corpo de presença.
            Não convém fazer constar aqui que não se fecharam depois as portas do tal salão nobre, porque não as havia, e nem tampouco se apagou a luz porque esta foi aproveitada da porta da pharmacia “Brazil”.
            E para terminar, gente, os afundadores do “Pica-Pau” mandam dizer que não se responsabilisam pelas criticas assignadas e mais que alguma carga de paus muito pesada elles não agüentam.
(Trecho Extraído do Periódico "O Picapau", 15 junho de 1922)

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