sexta-feira, 15 de junho de 2012

Nietzsche e o Perspectivismo


“Para o forte, o conhecimento, o dizer sim à realidade é uma necessidade tal como para o fraco, sob a inspiração da fraqueza, também é uma necessidade a cobardia e a fuga perante a realidade” — o ‘ideal’...

Nietzsche não aceita a idéia de verdade absoluta. Tudo é perspectiva, tudo é uma interpretação pessoal do complexo texto do mundo. Então, não há verdadeiramente fatos e a verdade que se pretende absoluta ou objetiva é uma mentira.

Interpretação pessoal, como assim? Para Nietzsche, o intérprete atribui significado a algo, a partir da perspectiva, da vivência, e até, porque não, das necessidades pessoais. Então o mundo é cheio de mundos, ou seja, cada pessoa, cada individuo, à base das suas próprias interpretações vai criando o seu mundo particular e pessoal. É claro que alguns procuram moldar os mundos particulares de acordo com a sua perspectiva, e no caso dos que possuem poder de convencimento, conseguem com que outros indivíduos não tenham suas interpretações pessoais do mundo, mas sigam o que lhes é determinado.

Seguindo esse raciocínio, Nietzsche diz que o platonismo e o cristianismo, são exemplos de interpretações da vida e do mundo, são formas de avaliação das perspectivas e tanto o Platonismo como o cristianismo, são agentes determinantes de interpretações particulares que sobrepõem às interpretações individuais.

Todas as interpretações, toda a perspectiva pessoal, gira em torno de um sentido fundamental imanente em tudo que existe, a Vontade de Poder. Nietzsche, nos fala sobre como essa “vontade de poder” faz com que se criam recursos como – o juízo de valor – que dá sentido e um valor à vida e se torna a pulsão que move as vontades humanas. Todas as formas culturais criadas pelo homem são expressões da sua “vontade de poder”.

Quando Nietzsche fala sobre a vontade de poder, não fala de uma vontade específica, não necessariamente esta vontade tem de se manifestar de uma só forma, por não ser unívoca, esta vontade pode assumir diversas formas. Assim, Nietzsche fala de vontade de poder fraca ou negativa (que se vira contra a própria vida) e de vontade de poder forte ou afirmativa (que diz sim à vida).

O homem é, para Nietzsche, o ser que avalia, que produz valores. Enquanto manifestação da vontade de poder, os valores são sintomas ou de uma vontade débil ou de uma vontade forte, em suma, de certo tipo de vitalidade. O perspectivismo, ao transformar todos os nossos valores, ideias ou doutrinas em simples interpretações, em perspectivas, em relações, saudáveis ou doentias, com a vida, abre o caminho ao método genealógico.

A análise genealógica consiste em remontar à origem dos nossos valores ou ideias, em desocultar a sua raiz profunda, em revelar a sua gênese partindo do suposto de que as produções culturais do homem são o sintoma ou a tradução de determinados instintos, de uma vontade que nega ou afirma a vida. Em suma, são interpretações que manifestam o tipo de vitalidade do intérprete, a sua relação com a vida, os seus desejos ou instintos mais profundos.

Entendendo os valores e as ideias não como realidades objetivas — como algo existente em si — o método genealógico traçará a gênese dos produtos culturais do Ocidente (a moral, a filosofia, a religião, etc.) considerando-os como interpretações que manifestam uma vontade débil, incapaz de enfrentar a vida na sua desconcertante complexidade e odiando o mundo e a vida por causa dessa impotência, dessa debilidade.

Nietzsche não é capaz de aceitar as determinações que são impostas pelo platonismo e pelo cristianismo, por considerá-los como interpretações particulares que sufocam a visão pessoal de mundo que cada individuo pode desenvolver. Ao pregar a verdade absoluta, o cristianismo, difunde uma mentira e tenta dar lugar a vontade de poder, vontade essa que conduz os seres humanos a odiarem a vida e o mundo, mantendo apenas a uma perspectiva de recompensa no futuro, tendo que por outro lado não usufruir essa vida atual, mas odiá-la e desprezá-la. 

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