segunda-feira, 12 de novembro de 2012

NIETSCHE E SUA VISÃO DIONISÍACA DA VIDA


“A afirmação do desvanecimento e da aniquilação, o elemento decisivo numa filosofia dionisíaca, o dizer sim à oposição e à guerra, ao devir, com a radical renúncia ao próprio conceito de 'ser' — eis o que em todas as circunstâncias devo reconhecer como a minha maior afinidade com o que até agora foi pensado.” (Nietzsche, Ecce Homo.)

A adesão firme de Nietzsche à visão dionisíaca da realidade determinará profundamente o seu pensamento e a sua crítica à cultura ocidental desde Sócrates até a época em que viveu. A sua fórmula será, então: “Preferir a vida a todo e qualquer outro valor, ser a sua máxima afirmação, santificá-la como totalidade em que bem e mal, dor e gozo, crueldade e alegria estão necessariamente enlaçados.”

A concepção dionisíaca da vida sacraliza os instintos fundamentais, afirma festivamente a unidade do homem com a natureza, colocando-se assim nos antípodas da moral cristã que, segundo Nietzsche, é profundamente antinatural. O representante supremo da religiosidade pagã — Diónisos — é a forma suprema de divinização da vida. “É aqui que eu colocaria o ideal dionisíaco dos Gregos: a afirmação religiosa da vida no seu todo, de que não se nega nada, de que nada se corta (notar que o acto sexual acompanha-se aí de profundidade, de mistério, de respeito).” (Nietzsche, A Vontade de Poder.)

A filosofia de Nietzsche pretende ser um sim sem reservas à vida, uma forma de aquiescência superior e exuberante que abraça e celebra a vida na sua totalidade, mesmo nos seus aspectos chocantes, problemáticos e enigmáticos.

Esta celebração da vida, para além do bem e do mal, do verdadeiro e do falso, encontra--se, segundo Nietzsche, nas tragédias gregas, mais propriamente em Esquilo e Sófocles. Essas obras apresentavam um tipo de homem que assumia o caráter trágico da vida, as suas contradições, os seus sofrimentos e caprichos, sem lhe opor valores pretensamente superiores que permitissem julgá-la e condená-la. Bem pelo contrário, os gregos da “Idade trágica” embora reconhecendo o caráter aterrador da vida — o terrível poder do destino — celebravam alegremente esta vida.

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