tag:blogger.com,1999:blog-42463449089281747342024-03-13T16:50:28.955-03:00IDEIAS, PERSPECTIVAS, IMPRESSÕES E CIA.Neste blog deixo registrado o que penso, o que sinto e o que não gostaria de sentir. As vezes posso parecer complicado, então olhe mais de perto e você verá que sou igual a você. Se você se aceita, me aceite também.Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.comBlogger202125tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-67362214010798008402022-07-07T09:14:00.001-03:002022-07-07T09:14:19.987-03:00O SIGNO LINGUÍSTICO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E DE SIGNIFICAÇÃO DA IMAGEM DO POEMA – UMA ANÁLISE DA POESIA DE GUIMARÃES FILHO - Parte 4<p> 4 DA LUZ À ESCURIDÃO E DE NOVO À LUZ – OS CAMINHOS DO
POEMA EM “A ROSA ABSOLUTA” DO POETA GUIMARÃES FILHO</p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small; text-align: right;">Um poema começa [...] com um nó na
garganta, </span><span style="font-size: small; text-align: right;">uma sensação de algo errado, </span><span style="font-size: small; text-align: right;">uma
saudade, uma dor de amor [...] encontra os
pensamentos e o pensamento encontra as
palavras (Robert Frost).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: small; text-align: right;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A Rosa Absoluta, do poeta Guimarães Filho, por se tratar de um livro de
poesias, não poderia começar de modo diferente do descrito por Robert Frost: “com
um nó na garganta”. Por isso, logo no primeiro poema, “Do amor sem ódio” (p.11), é
possível perceber que algo está errado. O poeta se depara com um amor morno, sem
a explosão da paixão, um amor de um casal casado cuja rotina ofuscou o brilho dos
eternos apaixonados.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O ponto de partida está determinado, é o amor morno, que mesmo assim
continua sendo amor. A partir desta visão, A Rosa Absoluta, possibilita uma viagem
rumo à escuridão da solidão, passando, primeiro, pelas tardes cinzentas e frias para
finalmente reencontrar-se com as cores, trazidas de volta, não pela luz vigorosa do
sol, mas pela tranquila e serena luz do luar.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O leitor dos poemas, se depara logo de princípio, com um personagem que
busca compreender o “misterioso”, devorador e “assombroso destino” que parece
perseguí-lo impiedosamente. “Longo é o caminho” que o poeta terá de percorrer,
confrontando-se sempre com a “estranha” realidade da “solidão”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O silêncio passa a fazer parte da caminhada que se inicia em busca da
compreensão do porquê da solidão. Alfredo Bosi (1977) diz que existe uma
“maleabilidade infinita” com que o homem pode trabalhar a matéria fonética.
Estabelecendo uma relação constante e congruente entre o som e o sentido, o poeta,
arranca do silêncio, que parece puro vazio, ausência de som, um mar de significados,
exprimindo seus sentimentos de angústia e desolação.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O poeta se dedica ao trabalho da recordação que diferente da lembrança é uma
construção do passado. No poema “A uma mulher” (p.15), há uma busca do além
físico, em que, o apaixonado, considera os efeitos que o tempo, longe da pessoa
amada, teve sobre seu entendimento da vida e consequentemente em sua forma de
fazer poesia. Assim, o poeta, passa a recordar uma realidade já vivida (“memória do
infinito”), que por ser uma recordação, já está no coração e, portanto, nem é mais uma
realidade e sim uma invenção.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O percurso da viagem, rumo a escuridão, vai sendo desenhado nas primeiras
páginas do livro, para finalmente, nos poemas ‘Renúncia” (p.23) e “O dia entristecido”
(p.24), dar-se o devido valor à escuridão, à angustia e até mesmo à própria morte.
Contudo, antes deste clímax, houve primeiro um processo de sonorização do tema,
enlaçando-se o jogo dos ecos e contrastes, ritmos, metro, andamento da frase e a
entoação. Todo esse movimento de construção, parece autorizar o final da “tarde
cinzenta” e o começo da “noite escura”, possibilitando um mergulho profundo nos
“caminhos de sonhos” e o enclausuramento nas grades da “solidão interminável”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Como não poderia ser diferente, nos poemas “Intimidade” (p.18) e “O gesto
amoroso” (p.19), o corpo é introduzido definitivamente no percurso que se trilha rumo
a busca do amor sustentador. Porém, uma pergunta persiste: os movimentos, de que
os fonemas resultam, não são, acaso, vibrações de um corpo em situação, expressões de um organismo que responde, com a palavra, a pressões que o afetam
desde dentro? Assim sendo, chegamos a formulação de que o corpo, tanto o do poeta
como o da amada, sempre esteve presente no percurso trilhado.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O corpo humano e sua comunicação em ação é o centro de todas as coisas
para nós. O conjunto de regras de organização e funcionamento das coisas está
direcionado para o corpo com os seus sentidos, estabelecendo assim, o próprio
sentido de nossa existência. A introdução do corpo no poema, portanto, é uma forma
do poeta confirmar sua existência e, ao mesmo tempo, demonstrar pela imagem
poética, que ele percebe as coisas do mundo, os outros objetos; o que significa dizer
que, ao perceber o corpo, imediatamente percebe seu exterior, pois “toda percepção
de meu corpo se explicita na linguagem da percepção exterior” (MERLEAU-PONTY,
2006, p.277).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Nesta busca que o poeta faz do além físico, há, segundo Bosi (1977), uma
“retração decidida da linguagem para si e em si própria”. Ele, o autor, atinge uma
liberdade tal, na forma de colocação de seu poema, que se sente à vontade para
mover o campo de aplicação do histórico e político para um espaço intratextual cujo
referente é uma entidade metafísica, maiúscula (“medo da morte, noite, sombras,
labirinto sem fim, assombroso destino, invisível silêncio dos corpos, noite devoradora,
estranho destino”) ou a própria letra. O poeta, alcança, a partir deste momento, um
grau muito alto de autonomia.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O apaixonado poeta, procura nas aparências superficiais um efeito de grau de
estruturação, que suponha a existência de forças heterogêneas e em equilíbrio, que
justifiquem o amor sentido. Desta forma, no poema “As razões do meu amor” (p.28),
são enumeradas dez razões que dão a chancela para que o apaixonado continue
imerso neste romance unilateral: ela “leu o meu livro; não é calma; sabe todos os
pratos; prefere o silêncio; não tem religião; tem mãos firmes, me viu nu; oferece abrigo;
sabe quem sou; teve meu livro nas mãos”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A imagem sofre influências de forças óticas e psíquicas e, desta forma, o
significante apresenta algumas das “qualidades simples” do significado. Percebemos
aqui que o poema se diferencia do diagrama, pois neste, o significante apresenta
apenas as relações entre as suas partes. Isto equivale a dizer que, imagens contidas
em um quadro ou em uma fotografia apresentam, de forma direta e imediata, algumas
qualidades do objeto, como cores ou formas. Já no caso de uma tabela ou de um
mapa, enquanto diagramas, a semelhança entre o significante e o significado não é
direta: “O significante apresenta com o significado uma analogia icônica no que
concerne às relações entre suas partes” (JAKOBSON, 1995a, p.105). No livro em
análise, notamos que o poeta, em seu percurso, tem uma pesada carga de tensão
sentimental que parece confundir as figuras linguísticas com a matéria mesma do seu
eu. Assim sendo, no poema “A um cão sem beleza” (p.32), a imagem do “cão ávido”,
“sem sombra”, “estranho e solitário”, se confunde com o seu próprio ser, que sente,
pela angústia, o “frio de uma espada na inquietude da minha carne”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A imagem poética direciona-se para a representação gráfica de pessoas ou
objetos. A representação pode ser entendida como exposição escrita, que pode ser
uma simples reprodução do pensamento ou ainda apenas a descrição da coisa que
se quer representar (a figura abstrata de um cão vadio), ou pode se referir ao conteúdo
– em sentido filosófico – do que foi apreendido pela imaginação ou pela memória (Veio
dos arrabaldes, estranho e solitário).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A palavra “poeta” vem do grego “poietes” que significa “aquele que faz”. Como
a imaginação é a capacidade humana para inventar ou criar e, para ser vista, essa
imaginação precisa ser representada na forma gráfica, ou seja, precisa receber a
roupagem da palavra, pode-se dizer que o poeta é aquele que faz a linguagem.
Portanto, ao representar a linguagem por sinais gráficos, segundo sua imaginação, o
poeta concebe novas perspectivas do mundo por meio da linguagem, com a intenção
de universalizar ou produzir novamente um sentimento (a minha humanidade está em
reconhecer a beleza fugaz das coisas). A sensibilidade provocada com aquilo que se
mostra à vista, o poema, atrai por seu movimento silencioso dos instantes que são
delicadamente capturados e congelados.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A teoria da forma, conceitua a imagem como estando propensa, para nós, ao
estado de estrato, de quase matéria posta no espaço da percepção, idêntica a si
mesma. Em seus devaneios, o apaixonado poeta, acredita fixar o imaginário de um
quadro, de uma imagem, de um amor já vivido. No poema “A mulher amada” (p.20), o
autor, pensa em sua musa inspiradora, em termos de uma constelação, ou melhor, de
astros, que em seus movimentos harmônicos, ora estão distantes ora retornam ao
ponto em que o enunciador dos versos está. Ou seja, como afirma Jakobson (1995),
a imagem poética não está limitada à relação som/sentido, mas ela se constrói
também a partir da combinação por equivalência entre todos os âmbitos gramaticais
da linguagem, como a morfologia e a sintaxe, por exemplo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">“A sombra da tarde esquadrinha teu fino queixo em busca de uma taciturna
resposta” (A um retrato desconhecido, p.42). Nestes versos, o poeta, ressalta a
importância dos sentidos em se estabelecer a realidade. Esta percepção nos faz
lembrar o conceito formulado por Santo Agostinho de que:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">O olho é o mais espiritual dos sentidos. E, por trás de Santo Agostinho,
todo platonismo reporta a ideia à visão. Conhecendo por mimese, mas
de longe, sem a absorção imediata da matéria, o olho capta o objeto
sem tocá-lo, degustá-lo, cheirá-lo, deglutí-lo. Intui e compreende
sinteticamente, constrói a imagem não por assimilação, mas por
similitudes e analogias (BOSI, 1977, p.17).</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">Desta forma, compreendemos porque a imagem poética, criada pelo
apaixonado, possui, um caráter de vacuidade, de intervalo, de oco, assustosamente
presente na percepção que o poeta tem da mulher amada (“a sombra da tarde espera
que a noite dissipe essa rigidez que carregas contigo nos olhos”).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">No poema “Ao triste” (p.36), o autor revela que tira o seu poema da realidade,
e com aplicação dos gêneros poéticos, passa a uma nova realidade. Ele eterniza essa
realidade transformando-a em palavras, entrando de uma vez no mundo da poética
(“Envelhecemos não apenas no nome/ mas nos gestos e no rancor antigo/ no hábito
que nos persegue como uma ferida/ de amarmos esta vida como amamos a morte”).
Em sua utilização da imagem poética, o autor, deixa claro que o “signo será sempre
ligado à ideia de um termo designado”, por isso mesmo é preciso utilizá-lo
criteriosamente no poema, de forma “que a relação entre o signo e aquilo que ele
designa seja posta em evidência do modo mais claro possível e não possa constituir-se em objeto de simplificações que a deformem” (HJELMSLEV, 2006, p.62).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O percurso poético, em A Rosa Absoluta, é abruptamente interrompido com a
introdução do poema “Do amor de Montale por Annalisa Cima” (p.46). Talvez, a
intenção do autor, ao trazer o poeta italiano Eugênio Montale e o seu romance vivido
com Annalisa Cima, tenha sido a de demonstrar que amores longínquos podem se
tornar reais, ou quem sabe seja um desabafo como que a perguntar: porque tem que
ser assim, ver o sonho se perder no ar? De qualquer forma, o autor, mostra que uma
construção está em andamento e as estruturas precisam ser reforçadas para o que
se seguirá.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">No poema “Fragmento” (p.48), encontramos o verso que diz: “devo a ti a
confissão da minha estranheza: não sei mais o quarto em que habito, e como se eu
habitasse um subúrbio, pergunto: que sentido há na luz que percorre o dia? ” Neste
poema, parece que o signo linguístico está mais colado a coisa representada, o amor
que se foi, mas que ainda permanece. Então acontece algo interessante, o poeta
mobiliza como que uma operação expressiva organizada em resposta a experiência
vivida (“estou deserto, virado para o crepúsculo como um jarro de flores”). Nesta
operação, o som se torna um mediador entre a vontade de significar e o mundo a ser
significado (“como quem caminha irreconhecível pela cidade, assim caminho para um
obscuro destino”).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">No poema “louvação da noite” (p.49), o poeta, presume ter feito uma
identificação da imagem que tanto o perturba: “É noite porque a vida assume
memórias sofridas, absorve mistérios que estão ausentes, e o peito comprime uma
lembrança, talvez, quem sabe a última”. Sobre este assunto, Bosi (1977, p.15), nos
adverte do perigo do engano, mesmo que parcial, que a identificação pode supor. “A
imagem não decalca o modo de ser do objeto”, não há reprodução exata do ser, ainda
que de alguma forma essa identificação nos ajude a apreender o objeto. Assim, toda
“estranheza” tenderá a permanecer, mesmo que em partes, como algo indecifrável.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Esboçando uma mudança de condição ou uma tentativa de reconstrução, no
poema “Juízo final” (p.50), o autor faz uso da linguagem mítica em conjunto com a
linguagem silogística.</span></p><p style="text-align: left;"><span style="font-size: x-small;">Tuas mãos inacessíveis dizem adeus, e enquanto os homens sonham, enquanto para eles o esplendor mora nos teus hábitos, predestinada como a sombra nas ramagens rompendo com a última presença de luz, esmagas a oprimida esperança que faz deles, sem piedade nem consolo, deuses solitários.</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span>Ao usar a linguagem mítica, o poeta, evoca a mimese aristotélica, que se pauta
na verossimilhança da Arte, que não é realidade pura e simples, mas algo semelhante
a realidade. No uso da linguagem silogística, o autor, usa sentenças precisas, lógicas.
Desta forma, abre-se espaço para a razão e também para o sensível.</p><p style="text-align: left;"><span> </span>A movimentação dos caminhos do poema, segue um rumo inesperado, mas ao
mesmo tempo um rumo que traz alívio. Por alguns instantes, o futuro do apaixonado,
pareceu tenebroso e assustador, porém ocorre a “Reconciliação” (p.53). O poeta faz
uso de palavras que alteram o ritmo do poema, possibilitando que o leitor o
acompanhe e o apoie na mudança que se seguirá. Usando de sabedoria poética, o
autor, usa tons irracionalistas, de palavras míticas carregadas de significado (Cego
alimentando pombos, p.57). Fazendo assim, ele encontra um modo de enfrentar o
tenso convívio entre palavra e realidade.</p><p style="text-align: justify;"><span> </span>Depois de uma frenética busca pela pessoa amada, vem a admissão de que
ela está, pelo menos por hora, inalcançável. No poema “A que perdi” (p.61), o autor
fala da amada, reconhecendo que a perdeu, porém, as palavras são suaves, livres de
rancor. A sua situação, a do poeta, é comparada, nesta fase do percurso, não mais
com o cinza, nem com a escuridão, mas com a paisagem, que se compõe de rios,
gramas, pássaros e árvores. Desta forma, o poeta faz uma interação das palavras,
formando uma imagem perceptível, que aparece ao olho como algo firme, consistente
(“árvores paradas”).</p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">Enfim, o poeta e seus leitores, podem fazer o caminho do “Retorno” (p.65):</span></p><p style="text-align: left;"><span style="font-size: x-small;">Sempre me comove essa lua nova que me espreita no caminho. Eu que tantas vezes mirei o sombrio poente, hoje olho com [rancor os postes de luz e penso, cada vez mais triste, que o mundo é um lugar vão onde os sonhos nascem sem cumplicidade nem propósito, e ligeiramente morrem sem esperança. Aqui regresso a esta casa eu que tantas vezes parti de uma sonhada urbe que havia em [mim e percorri ruas vazias ofegante pelo esforço vão, oprimido a cada manhã pela distância e pela ausência. Aqui regresso. E em mim o rito sagrado da busca transborda [como luz. Essa busca furtiva por homens justos, num tempo de medos e [incertezas. Aqui regresso. E em mim essa lua nova, implacável como o poente, há de ressurgir, clara e pura, como a íntima sucessão de minha vida, no sonho em que penso reconstruí-la.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><span> </span></span>Entre os primeiros versos do livro e os últimos, o tempo passou, correu.
Segundo Bosi (1977, p.32), “o tempo é que faz crescer a árvore, rebentar o botão,
dourar o fruto. O retorno, a volta, não reconhece apenas o aspecto das coisas que
voltam, ela abre também o caminho para sentir o seu ser”. A imagem recordada, pode
assumir uma aura de mito, ao retornar, ao fazer a volta. A volta é um passo adiante
na ordem da conotação, logo, também, na ordem do valor. Então, o que antes não
tinha tanto sentido, passa a ter, o que antes tinha uma carga sentimental, passa a não
ser diferenciado das coisas do cotidiano. Ou seja, o mesmo movimento que permite a
agitação do início do percurso, pode possibilitar o sossego do retorno.</p><p style="text-align: left;">5 CONSIDERAÇÕES FINAIS </p><p style="text-align: left;"><span style="font-size: x-small;">O que chamamos de princípio é quase sempre
o fim. E alcançar o fim é alcançar um princípio. Fim é o lugar de onde partimos. (T. S. Eliot).</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span>Neste trabalho, procuramos fazer reflexão sobre o uso do signo linguístico na
construção de uma imagem poética, buscamos apreender como este movimento, por
meio da linguagem, atua na (re)produção de significados e sentimentos, promovendo
o encontro com o sensível por vias e por formas originais e particulares de expressão.
Vimos que, a palavra, tida como porto seguro; às vezes pode ser movediça,
pantanosa, escorregadia, instável, mal compreendida e mal-usada. No entanto, a
palavra é o eixo do fazer poético, é o modo vivo da poesia. Ela tem a capacidade de
se corporificar enquanto poema, e assim, abraçar sensivelmente a sensibilidade do
outro.</p><p style="text-align: justify;"><span> <span> </span></span>A progressão do poema de Guimarães Filho, como também a obra de muitos
outros poetas, se pauta no uso do signo poético para promover o trânsito entre
linguagens, para inquietar o corpo, dar movimento ao pensamento e seduzir o leitor,
trazendo-o de encontro com a dinâmica da atualidade. Isto ficou evidente na
velocidade com que o poeta se conecta com seus leitores, na forma como posta seus
sentimentos, fala de suas angústias, demonstra sua sensibilidade e aponta o roteiro
que seguirá.</p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">Entre um verso e outro, entre uma página e outra, o poeta vai alcançando seu
público, vai comunicando sua rota, vai também avisando sobre os efeitos que esse
caminhar terá – pode-se encontrar tensão e angústia, mas também o alívio e a
tranquilidade –, neste seu deslizar, o poeta segue sussurrando poesia para todos os
cantos, produzindo seus sons nas superfícies planas, horizontais e verticais, e
perseguindo seu objetivo que é falar sobre seus sentimentos referentes à mulher
amada. Assim, ao passo que o poeta tem a liberdade para criar, para inventar, ele
também tem um compromisso com as regras do jogo poético, com os itinerários
determinados de antemão. Este pacto, que é seguido à risca, pelo destinador, é
cumprido a partir da sensibilidade, da compreensão de que intuir é corresponder ao
viver.</span></p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">Nosso trabalho se pautou na dinâmica que o poeta utiliza para significar o signo,
trazendo para o campo do observável a noção de que o plano da existência se deve
à potencialidade da ação e da forma originária de ser. Ao escolhermos a coletânea
de poesias: A Rosa Absoluta, do poeta Guimarães Filho, fitamos a descrição da
origem da sensibilidade humana que está presente nesta obra do artista.
Reconhecemos, porém, que a análise que fizemos deste livro, atingiu o mínimo da
complexidade do trabalho do poeta. Há muito ainda para ser desvendado nesta
coletânea tão significativa. Contudo, referente ao nosso intento, ficamos satisfeitos
com o resultado. Foi possível perceber a poesia por um prisma diferente, que ao
decidir constituir-se como escrita, relevou alguns eixos temáticos, fiéis ao exercício do
olhar e do sentir.</span></p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">O que apresentamos, então, é um corpo de escrita, que quer contribuir com
sua parcela para a multiplicidade de perspectivas na leitura da poesia moderna.
Esperamos que as discussões teóricas e práticas demonstradas, possam ajudar na
construção e significação da imagem do poema. Conseguimos apreender nos atos
poéticos e performáticos do poeta Guimarães Filho como a imagem poética, apesar
de abstrata, promove uma combinação de realidades opostas. Pudemos ver também
como o poeta segue um trajeto que marca o encontro perceptivo da pulsação da vida
com a constatação da conformidade ao plano da existência. E ver, nesse caso, se
relaciona tanto com o desejo de se debruçar sobre teorias que possam dar conta da
descrição da percepção desse ato, quanto com a generosidade de recepcionar, do
deixar se levar pela sensibilidade, do encontrar-se com a poesia, do deleitar-se com
sua sonoridade.</span> </p>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-20739328615760244702022-07-06T09:22:00.001-03:002022-07-06T09:22:22.407-03:00O SIGNO LINGUÍSTICO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E DE SIGNIFICAÇÃO DA IMAGEM DO POEMA – UMA ANÁLISE DA POESIA DE GUIMARÃES FILHO - Parte 3<p> 3 O SIGNO LINGUÍSTICO E A ABORDAGEM DO TEXTO POÉTICO – A
CONTEMPLAÇÃO DO “ESPETÁCULO”.</p><p style="text-align: justify;">Siempre que he hojeado libros de estética, he tenido la incómoda sensacion de estar leyendo obras de astrónomos que jamás hubieran mirado a las estrelas. Quiero decir que sus autores escribían sobre poesía como se la poesía fuera um deber, y no lo que es em realidad: una pasión y um placer. (Jorge Luiz Borges. In: “El enigma de la poesía)</p><p style="text-align: justify;"><span> </span>O uso de metalinguagem tem sido bem comum nas análises de obras poéticas,
especialmente nas obras concretas e modernas. Este procedimento se deve, em
grande parte, ao surgimento da linguística estrutural e a consolidação da semiótica
textual. Porém, quando essas metalinguagens, são aplicadas, tendo como foco o
movimento de teorias previamente designadas, o que se tem é uma complexa cadeia
autorreferencial, em que a própria literatura é colocada em último plano. Ou seja, mira se especialmente na análise das frases que, como citou Luiz Tatíf (2003) “embora [...]
façam parte do texto, a análise minuciosa de cada uma delas em nada contribui para
a nossa compreensão do texto global” (TATÍF,2003, p.187).</p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">A literatura possui um caráter polissêmico, ou seja, ela adquire um novo sentido
conforme o contexto em que é expressa ou lida. Desta forma, um jovem adolescente
com certeza apreenderá um significado diferente de um idoso ou de uma pessoa de
meia idade. Este fato tem sido por muitas vezes o óbice sobre as análises literárias,
que se tornaram lugar de complexas elaborações linguísticas, sócio-históricas ou
filosóficas, que pouco ou nada dizem sobre a propensão contraditória da literatura.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Ao procedermos a leitura de um poema é preciso trabalhar a linguagem que se
define por ser um texto. O texto por sua vez, é considerado como uma sintagmática
que se projeta em todas as direções e em todos os sentidos. Já “uma língua pode ser
definida como uma paradigmática cujos paradigmas se manifestam por todos os
sentidos” (HJELMSLEV, 2006, p.115), é um sistema de signos, adequada para formar
novos signos. Ela se ordena com uma porção de figuras – unidades menores do
sistema – e de signos – unidades do texto. A língua é concebida como uma
combinatória, é interdependência entre termos, quer dizer, não se tem um sem os
outros. É nesse sentido que Hjelmslev (2006) considera a língua como texto infinito,
cuja estrutura precisa ser definida; ela é uma rede de funções semióticas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Toda essa complexidade, se torna mais abafadiça, quando se trata da leitura
de textos poéticos, em que se impõe uma tendência analítica racional que faz do
poema um instrumento para afirmações conceituais que não poucas vezes aparecem
fora do lugar. Apesar disso, podemos utilizar a visão metafórica, para identificar a
existência de um possível denominador comum entre as noções de frase e texto, de
mundo sonhado e mundo real. Tais possibilidades se tornam observáveis quando
contempladas na figuração do “espetáculo” poético.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Portanto, embora seja preciso deixar de lado a tendência analítica racional, que
pode limitar a imagem poética, reconhecemos que a função semiótica é imprescindível
na produção de significação. Se, na análise de um texto poético, a função semiótica,
for deixada de lado o analista se verá com sérios problemas, pois, como explicou
Hjelmslev (2006):</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[...] não se poderia delimitar os signos, e não se poderia de modo
algum proceder a uma descrição exaustiva do texto – e, por
conseguinte, tampouco uma descrição empírica no sentido que aqui
lhe atribuímos – respeitando as funções que o estabelecem. Em suma,
não teríamos um critério objetivo que pudesse ser utilizado como base
para a análise (HJELMSLEV, 2006, pp.54,55)</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">A seguir, faremos uma tentativa de contemplação deste “espetáculo” poético,
tendo como base a observação do signo linguístico conforme sua aparição no texto.
Por se tratar de uma visão particular, reconhecemos que outras apreensões são
possíveis, desde que se parta de outras perspectivas. O poema em questão é “A Rosa
Absoluta” do poeta Guimarães Filho (2017).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">Penso na tua imortalidade, rosa. </span><span style="font-size: x-small;">E um longo silêncio recorda-me com exatidão o dia e a hora em que nasceste. Penso em ti nos subúrbios, modesta e sem luz, perfumada como os caminhos não percorridos. Penso em ti e me sinto confusamente assombrado pelo teu destino incerto. Esta é a hora em que a riqueza de tuas pétalas confunde-se com as cores do crepúsculo. Depois de ti outras virão. Mas tu levarás contigo o meu primeiro assombro. Já sinto a aproximação da noite. A hora fecha-se. Já me sinto íntimo de ti que estás, como eu, austera, calada, diante dos homens como diante de Deus. Não tenho mais temores. O firmamento está em ti como a eternidade. E de ti brotam mil segredos como sonhos. Em ti as vozes se levantam para depois curvarem-se. Por que és, rosa, a face adorada de Deus estranha aos olhos do mundo. (GUIMARÃES FILHO, 2017, p.13)</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">No Formalismo russo, o poema é concebido como um texto que apresenta
linguagem elaborada. Como tal, ele traz uma série de figuras e procedimentos que
podem ser identificados. Os formalistas afirmam que há uma diferença entre a língua
cotidiana – lábarizada – e a língua poética – antipadronizada. É exatamente sobre
este último conceito que se firma a base para a construção da chamada
“literaturiedade”, ou seja, os aspectos que fazem de uma mensagem particular um
texto literário; e “estranhamento”, processo em que ocorre a singularização do objeto
ou da realidade por meio do uso não convencional da linguagem. Roman Jakobson
(1995), um dos principais componentes do formalismo russo, igualmente condenava
o tipo de estudo literário que se ocupa apenas dos “traços secundários” da literatura
– que são as questões sociológicas, psicológicas, filosóficas e biográficas –, deixando
de lado aquilo que possui de mais central e específico: a linguagem verbal.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Para Saussure e os linguistas da escola de Praga, o signo é visto pelas suas
funções externas, alguns destes carregam uma significação, formam a imagem
poética e mental, enquanto outros signos desempenham o papel de serem relacionais,
representando então, o plano das ideias mais o plano dos sons. Nesse sentido, para
Hjelmslev (2006), o signo é visto como dois funtivos: conteúdo e expressão. Enquanto
a expressão é parte inerente do sistema linguístico; o conteúdo é inserido como parte
do processo da linguagem. O sentido porém, não possui uma forma determinada e
pode ser conformado de maneiras diversas e diferentes. O que determina a sua forma
são as funções da língua.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Roman Jakobson (1995), defendeu a tese de que a poesia tem uma
especificidade linguística que é de combinar as semelhanças existentes entre o som
e o sentido. Ao aplicar os ideais saussurianos, Jakobson (1995), redefine a linguagem
poética como sendo aquela que “projeta o princípio de equivalência do eixo de seleção
sobre o eixo de combinação” (JAKOBSON, 1995b, p.130). Mais tarde, essa
proposição é redefinida à luz da teoria da comunicação como sendo aquela em que a
mensagem se dirige a própria mensagem. Finalmente, devido a influência de Peirce
e a semiótica, Jakobson (1995), afirma que, para a linguagem poética, a
“correspondência diagramática [ou seja, icônica] entre significante e significado é
patente e obrigatória” (JAKOBSON, 1995a, p.112).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Ao utilizar a função poética, o autor cimenta a perspectiva na qual o poema é
um enunciado autorreferencial, desautomatizado e plurissignificativo, o que equivale
dizer que o poeta faz uso da linguagem de uma forma particular, diferenciada da
norma padrão e com uma intenção estética evidente na forma de relacionar os eixos
da seleção e da combinação para produzir significados não unívocos. Ou seja, o poeta
dá destaque à “valores diferentes numa ordem diferente, coloca o centro de gravidade
diferentemente e dá aos centros de gravidade um destaque diferente” (HJELMSLEV,
2006, p.57). De acordo com Tatif (2003), a produção dos significados passa por três
etapas, que são: manipulação, ação e julgamento.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">As noções de manipulação são empregadas pelo poeta sempre que houver a
necessidade de uma comunicação persuasiva que envolva dois sujeitos. O autor,
passa a estabelecer, como que um contrato entre as funções sintáxicas, de modos a
levar o destinatário da mensagem, a ter plena confiança no destinador. Tatif (2003)
cita que “no caso de um processo de manipulação bem-sucedido, o destinador
praticamente suprime a liberdade de escolha do destinatário”, levando-o a não ter
opção que não seja cumprir o contrato unilateral estabelecido pelo destinador (TATIF,
2003, p.193). É, portanto, nessa manifestação que emerge o que conhecemos como
autor, falante, artista, poeta e outros termos empregados. Contrapondo-se a essa
categoria está o interlocutor/destinatário que passa a se manifestar como leitor e
fruidor de maneira geral. Segundo Tatíf (2003),</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">Para fazer com que o enunciatário creia em seu texto, o enunciador
parte de um simulacro de tudo o que poderia constituir a instância do
seu actante complementar: suas crenças, seus conhecimentos, seus
afetos e seus valores. Tal simulacro, embora não passe de uma
construção imaginária (um conjunto de hipóteses sobre o mundo do
outro), baseia-se em consensos culturais, em acordos e decisões
sobre o que deve ser considerado verdadeiro e confiável num
determinado universo de discurso da comunidade (TATÍF, 2003,
p.213,214).</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span>Deste modo, no trecho “Penso na tua imortalidade, rosa / E um longo silêncio
recorda-me com exatidão o dia e a hora em que nasceste”, reproduz com clareza as
intenções contidas num processo de manipulação. Para despertar confiança no
destinatário, o destinador utiliza-se da boa qualificação, ou seja, refere-se a seu
interlocutor como sendo alguém de presença marcante e terna, uma rosa imortal. Note
que o emissor da mensagem afirma conhecer o alocutário desde o dia e a hora em
que este veio a existência. Em outras palavras, o destinador tenta mostrar que ele é
alguém de confiança, ele sempre admirou e sempre zelou pelo bem estar do
destinatário. Todas essas estratégias têm como objetivo fazer com que as coisas ditas
pareçam, de acordo com o contexto poético, verdadeiras e sinceras.</p><p style="text-align: justify;"> <span> </span><span style="text-align: left;">José Luiz Fiorin (1995), menciona que para exprimir seus pensamentos, o
interlocutor, utiliza-se de uma combinatória de elementos linguísticos, que levam os
receptores à reflexão e consequentemente à ação sobre o mundo. Fiorin (1995),
entende o discurso como organizado e regular, e diz que para torna-lo objeto de
análise, é preciso partir da estrutura de sintaxe e semântica do discurso. Como parte
da sintaxe do discurso estão os processos de estruturação que organizam as
estratégias argumentativas utilizadas pelo destinador para criar “efeitos de verdade” e
persuadir seus enunciatários. Portanto, o destinador, de forma consciente, utiliza os
elementos linguísticos com o objetivo de persuadir o receptor da mensagem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Nessa linha de pensamento, podemos concluir que o destinador apela até
mesmo para a competência interpretativa do destinatário. O poeta espera que sua
amada seja capaz de perceber o seu bem querer e sinta-se comovida por tão nobre
atitude. Como o critério de confiabilidade e de verdade será construído dentro do
poema, um espaço limitado, o autor terá que escolher minuciosamente como irá
construir seu texto. Assim, pela seleção cuidadosa de palavras, o destinador, vai
formando ideias e conceitos, elaborados estrategicamente para atingir sua finalidade.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O poeta procura com suas palavras ternas e de admiração, estimular a
sensibilidade e afetividade de seu interlocutor. Porém, no nível narrativo, esse sujeito
que tenta a manipulação, pode acabar se frustrando, pois suas expectativas talvez
não sejam correspondidas. Como observou Tatif (2003):</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">O não cumprimento dos acordos que normalmente nem sequer estão
explícitos - estabelecidos entre os actantes é a principal razão dos
sentimentos de decepção e mágoa que levam, muitas vezes a
retaliações contundentes. Em outras palavras, para Greimas, a espera
fiduciária (baseada na confiança) é o conceito por excelência que está
na base das operações intersubjetivas que regulam o universo
passional do sujeito (TATIF, 2003, p.196).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">No poema em análise, não é explicitado, a princípio, uma crise contundente,
nada que determine um estorvo substancial no relacionamento entre os actantes.
Porém, é possível sentir “a aproximação da noite”, a hora está se fechando para os
atores – para o destinador a angústia tende a aumentar; o destinatário não tem destino
certo. Toda essa movimentação é claramente visível nas direções eufóricas e
disfóricas assumidas pelo enfoque narrativo. Tatif (2003) apresenta esses conceitos
da seguinte forma:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">A euforia opera a passagem das relações tensivas, caracterizadas por
rupturas, às relações relaxadas, as que restabelecem os elos
contínuos entre os elementos. Contrariamente, a disforia compreende
a passagem das continuidades às descontinuidades que geram as
tensões. Desse modo, a integração traduz o maior relaxamento
possível (algo que seria expresso pela aceitação passiva e plena da
manipulação inicial), imediatamente negado pela forma pontual da
disforia: a contenção (expressa pela rejeição do contrato narrativo)
(TATÍF, 2003, p.205).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Nos termos da ação do poema, observa-se uma rápida precipitação rumo ao
poente, em breve os últimos raios de luz irão desaparecer e a escuridão tomará todo
o ambiente. É justamente neste momento, que o narrador, que dá voz ao “eu”-
destinador, mostra-se ciente da trajetória que o interlocutor irá adotar (Depois de ti
outras virão / Mas tu levarás contigo o meu primeiro assombro). Fica claro, neste
trecho que o poeta aceita, ou pelo menos já demonstra conformação, com o fato de
seu interlocutor não cumprir com o contrato estabelecido (Não tenho mais temores).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Notamos, no entanto, que apesar da ênfase, do destinador, em relação a
aceitação da perda de sua amada, ele não completa esse desapego, ao contrário, ele
se reintegra ao ponto de partida, em que há a tentativa de manipular o destinatário,
convencendo-o a permanecer junto ao destinador. O sentimento de destemor do
abandono é um disfarce, pouco convincente por sinal, pois logo o poeta confessa: “O
firmamento está em ti como a eternidade”. Longe da amada a sustentação do poeta
está comprometida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Toda essa movimentação, não deixa de ser inquietante, pois se algo
caracteriza o percurso poético é a suposta renúncia ao seu amor, porém logo vem a
admissão: “E de ti brotam mil segredos como sonhos / Em ti as vozes se levantam
para depois curvarem-se. A poesia é integrada por elementos emotivos e sensíveis,
não seguindo caminhos racionais como a lógica, a abstração e o conceitual. Portanto,
a linguagem poética, tende a fundar um novo sentido, não intelectual, não esboçado
de antemão, mas com uma significação dependente da experiência do leitor.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A ideia da palavra poética como palavra concreta e originária é fundamental em
nossa intenção de ler o poema por fora dos enfoques instrumentais. Não há nada no
significante que nos remeta ao significado e talvez, por isto, diga-se que o signo é
arbitrário. Mas, na poesia, o que temos é uma relação motivada, não arbitrária, entre
o significante e o significado.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Jakobson (1995), em suas pesquisas sobre a linguagem poética, discordava
do que ele chamou de “dogma saussuriano do arbitrário” (JAKOBSON, 1995a, p.115).
O autor, em artigo escrito no ano de 1965, explicou que a disputa entre o caráter
arbitrário ou convencional da linguagem remonta ao diálogo “Crátilo”, de Platão, em
que Sócrates, apesar de preferir a representação por semelhança (physei-iconismo),
defendida por Crátilo, admite a convencionalidade (thései), defendida por
Hermógenes, como um fator complementar da linguagem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Desta forma, quando o poeta diz: “Por que és, rosa, a face adorada de Deus”,
ele não está somente fazendo um jogo verbal ou assumindo uma posição social; está
como que cultivando, regando e até podando a rosa. Esse trecho do poema apresenta
uma ênfase no fonético sintático, não só como procedimento formal, mas
principalmente como uma finalidade desesperada por restabelecer, recuperar a
relação que existia entre destinador e destinatário e está prestes a ter um fim.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A sanção imposta no texto é um tanto sutil, mas ela está presente e assume
uma força narrativa na finalização do poema. No trecho “Por que és, rosa, a face
adorada de Deus estranha aos olhos do mundo”, o poeta apresenta sua amada
como alguém inacessível e angelical, mas ao mesmo tempo como alguém que não se
comporta de acordo com os padrões de moral impostos pelo mundo, tornando-a um
objeto estranho ao qual faz-se bem evitar.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A imagem que se apresenta, neste trecho do poema, assume dupla
significação. Por um lado, pode-se entender que a estranheza, produzida pela musa
do poeta, seja pelo fato de ela possuir uma ternura além de compreensão. Por outro
lado, a estranheza pode ser pelo fato de ela ser ingrata e frívola, que aparenta um ar
de inocência, mas é condenada pelos moldes do mundo. Ou seja:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">O signo é uma grandeza de duas faces, uma cabeça de Janus com
perspectiva dos dois lados, com efeito nas duas direções: “para o
exterior”, na direção da substância da expressão, “para o interior”, na
direção da substância do conteúdo (HJELMSLEV, 2006, p.62).</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">Para Jakobson (1995), aparentemente, a função poética reduz o significado da
mensagem, pois promove a “reiteração regular de unidades equivalentes”
(JAKOBSON, 1995b, p.131). Esse fenômeno ocorre porque, em sua concepção, a
construção da mensagem poética é regida por processos de “equivalência”, ou seja,
por relações de semelhanças, o que faz com que repita estruturas semelhantes,
através do som, da sintaxe, da morfologia, entre outras. No entanto, apesar da
aparente falta de nexo, a repetição da função poética, não diminui, mas aumenta o
significado da mensagem do poema. Isto se dá porque:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">A superposição de um princípio de equivalência à sequência de
palavras ou, em outros termos, a montagem da forma métrica sobre a
forma usual do discurso, comunica necessariamente a sensação de
uma configuração dupla, ambígua, a quem quer que esteja
familiarizado com a língua e com o verso em questão (JAKOBSON,
1995b, p.143).</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">Em outras palavras, na poesia, a cada repetição, mantêm-se uma unidade de
essência: porém, quando essa unidade é colocada em um novo contexto, a mesma
estrutura adquire outros significados, dependendo da nova situação de interpretação.
Por isso, quando o poeta, apresenta a amada como “estranha aos olhos do mundo”,
esse termo poético assume um sentido duplo a depender do pesquisador e sua
experiência de vida.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A trajetória do poema, portanto, consegue passar nitidamente pelas três fases
descritas por Tatif (2003) como sendo necessárias para que uma narrativa se
complete: manipulação, ação e sanção. Entretanto, as formas como cada um desses
trajetos são atingidos é que completa o espetáculo poético. A manipulação não é bem
sucedida, apesar das encantadoras palavras e do redundante apelo. A ação adotada
pelo destinatário não se desenvolve na orientação simulada pelo
destinador/manipulador e, finalmente, a sanção não se processa nos moldes
canônicos – o interlocutor que recebe toda atenção, a quem são dispensados todos
os cuidados, mostra desconsideração, indo embora. No entanto, não é de vilã a
imagem final que temos da ingrata amada, mas de alguém que transborda meiguice
e ternura.</span></p>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-21821443112873176022022-07-05T09:06:00.002-03:002022-07-05T09:06:58.309-03:00O SIGNO LINGUÍSTICO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E DE SIGNIFICAÇÃO DA IMAGEM DO POEMA – UMA ANÁLISE DA POESIA DE GUIMARÃES FILHO - Parte 2<p> 2 O SIGNIFICADO ABSTRATO DA IMAGEM POÉTICA CONJUGANDO
REALIDADES OPOSTAS </p><p style="text-align: right;"> Todos estão loucos, neste mundo? Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há
e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem que
necessitar de aumentar a cabeça para o total. (João Guimarães Rosa) </p><p style="text-align: justify;"><span> </span>Os limites da construção poética são inatingíveis. Como exemplo, basta
estudarmos os caminhos que a poesia seguiu até chegar a poesia concreta praticada
na modernidade. Tantas mudanças, tantos modelos superados, tantos temas
abrangidos e mesmo assim ainda há campo para novas abordagens. No século XXI,
a separação entre as linguagens se tornou pouco espessa. A tecnologia digital e o
universo das imagens nos passam a sensação de um mundo infinito em seus limites,
mas único em sua existência, não sendo possível – fora dessa dinâmica – o
estabelecimento de outros movimentos. Não há como esquivar-se desse trajeto
contínuo de sobreposição entre a cultura e a arte.</p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">A produção de significados diferentes a partir dos mesmos signos é comparada,
por Hjelmslev (2006), como sendo semelhante ao que ocorre quando alguém pega
um punhado de areia e o lança sobre uma mesa. Apesar dos grãos de areia terem
sido arremessados pela mesma mão, eles podem formar desenhos diferentes. Outra
comparação feita por Hjelmslev (2006) foi com os desenhos diferentes que uma
mesma nuvem pode produzir, dependo do seu movimento e da posição do
observador.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">Assim como os mesmos grãos de areia podem formar desenhos
dessemelhantes e a mesma nuvem pode assumir constantemente
formas novas, do mesmo modo é o mesmo sentido que se forma ou
se estrutura diferentemente em diferentes línguas. São apenas as
funções da língua, a função semiótica e aquelas que dela decorrem,
que determinam sua forma. O sentido se torna, a cada vez, substância
de uma nova forma e não tem outra existência possível além da de ser
substância de uma forma qualquer (HJELMSLEV, 2006, p.57).</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">Fiorin (1995), em seu livro “Linguagem e Ideologia”, pondera que existe várias
formas de dizer a mesma coisa, utilizando o sentido figurativo, as metáforas, entre
outras. Para entender essas formas de linguagem o leitor precisa entrar no submundo
das palavras e relacioná-las a um contexto. Muitas vezes é preciso que se possua
uma bagagem teórica ou cultural para que se possa compreender o que está escrito
naquelas linhas. “Temos que entender, no entanto, que nem sempre essa distinção é
fácil de ser feita, pois concreto e abstrato são dois polos de uma escala que comporta
toda espécie de gradação” (FIORIN, 1995, p.24).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O leitor de uma poesia, portanto, precisa preencher alguns requisitos antes de
apreender o sentido da imagem poética. Em primeiro lugar, todo leitor de poesia, deve
ter como direção o trajeto do signo na sua arquitextura, que é o ambiente em que o
sentido se constrói. Em segundo lugar, para se inserir no universo da poesia é preciso
reconhecer que as linguagens caminham no mundo modelando-se e iluminando umas
as outras. Não há um sentido fixo e estanque ao qual a poesia esteja ancorada.
Portanto, não é possível que se atinja a plenitude da significação poética, pois a poesia
constrói-se como um enigma e cada leitura revela-se impotente diante do pensamento
abstrato que abriga os sentidos da imagem poética.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Sobre esse assunto as palavras de Noam Chomsky mostram-se sábias:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">Na prática, o linguista trata sempre do estudo tanto da gramática
universal quanto da particular. Quando constrói uma gramática
descritiva, particular de uma maneira e não de outra, tendo por base
os dados de que dispõe, é guiado, conscientemente ou não, por certas
suposições relativas à forma da gramática, e estas suposições
pertencem à teoria da gramática universal (CHOMSKY, 1977, p.44).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Desta forma, os cuidados que se deve ter ao lermos uma poesia, têm como
objetivo, que o leitor não caia na armadilha das análises conteudistas dos letrados e
nem se veja envolto nas discussões sobre temáticas acadêmicas que procuram
determinar as influencias que afetam as incidências de palavras categorizadas no
texto do autor. Por outro lado, ao adotarmos uma concepção de arte como expressão
do impacto, expressão que se revela e se constrói pela e na linguagem, evita-se fugir
do caráter central e essencial de que se nutre a arte.</span></p><p style="text-align: justify;"><span> </span>A poesia para existir deve permitir sentir a linguagem percorrer as
possibilidades imagéticas do signo. Como menciona Hjelmslev (2006, p.61), “o fato
de que um signo é signo de alguma coisa significa, portanto, que a forma do conteúdo
de um signo pode compreender essa alguma coisa como substancia do conteúdo”.
Desse modo, todos os detalhes são fatores que contribuem para o entendimento da
imagem poética. Os descaminhos semânticos, a divisão sintática, a conjugação de
campos opostos da semântica, o uso de pontuações que marcam os elementos
linguísticos, todos esses recursos, quando são aplicados na poesia, promovem um
deslocamento do texto, ampliando as possibilidades do discurso, tanto no dizer como
no entender.</p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">O fenômeno de produção de significados diferentes por um mesmo signo, foi
designado por Jakobson como “ambiguidade” e “auto-reflexividade”. Umberto Eco
(1997), nos seus estudos sobre a Semiótica, incorpora a tese jakobsoniana. Ele
defende que diante de uma mensagem estética, o recebedor é movido, pelo sensível,
“não somente a individuar para cada significante um significado, mas a demorar-se
sobre o conjunto dos significantes (nesta fase elementar: degusta-los enquanto fatos
sonoros, intenciona-los enquanto ‘matéria agradável’)” (ECO, 1997, p. 79). Nesse
movimento de construção da imagem poética, os significantes passam a remeter a si
mesmos e, por isso, a mensagem do poema torna-se “ambígua” e “auto-reflexiva”.
Eco (1997), defende assim, que a ambiguidade da mensagem estética deve ser
definida, a partir da teoria dos códigos, simplesmente como uma violação das regras
do código, que irá gerar um excesso de significados possíveis, tanto no nível da
expressão quanto no do conteúdo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A leitura da poesia, no primeiro instante, utiliza-se do traço material, de forma
analógica, em um movimento de reconhecimento do referente do mundo e seus traços
essenciais, para enfim transformá-lo em linguagem. Ou seja, como concluiu Eco
(1997), a mensagem estética do poema, se apresenta com as mesmas características
da língua, se bem que de forma reduzida. Quando o autor concentra seu foco no
gráfico e no visual da letra, ele gera uma significação na imagem poética, atribuindo-lhe um sentido diferente do já rotineiro.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Demonstrando como podemos colocar em prática esses passos descritos até
aqui, vamos fazer, como exercício de apreensão da imagem poética, uma análise do
poema “O dia entristecido”, do poeta Guimarães Filho (2017).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">O pôr do sol ao longo da tarde há de erguer entre a noite e [eu um céu coroado de estrelas. Falsa noite. Tão longa como o horizonte, povoada de sonhos [e tristezas. As distâncias erguem-se como barreiras e minhas mãos [buscam as tuas mãos numa plenitude inatingível. Tenho saudades de um tempo em que as pedras e as [árvores eram teu repouso absoluto. Depois te afastaste, e as sombras vieram após o dia e cobriram a poeira do caminho de uma solidão [interminável. Já não te sinto aqui, rosa noturna, aurora vermelha </span><span style="font-size: small;"> fugindo entre meus dedos como a íntima luz. Nem sei o que sinto, tão triste estou nesta noite morna cercado de uma angústia que me vela. (GUIMARÃES FILHO, 2017, p.24)</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: small;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Neste poema, as regras pelas quais se combinam as unidades significativas
em frases, estão dispostas como plano-sequência, alinhavadas pela superfície do
verso, fazendo sentir a linguagem tal qual o movimento do sol que busca o poente,
rastreando as letras que estão dispostas em uma sucessão de camadas, que
produzem um dizer significativo.</span></p><p style="text-align: justify;">Saussure define este fenômeno de significação linguística como sendo a união
do sentido com a imagem acústica. O sentido equivale, na visão saussuriana, a
conceito ou ideia – representação mental de um objeto ou da realidade social –, já por
imagem acústica temos o equivalente ao significante, ou seja, a parte sensível. Com
esta definição entendemos que:</p><p style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito
e uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente
física, mas a impressão (empreinte) psíquica desse som, a
representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos; tal
imagem é sensorial e, se chegamos a chama-la “material”, é somente
neste sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o
conceito, geralmente mais abstrato (SAUSSURE, 1970a, p.80).</span> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">A imagem poética é trazida à tona pelo movimento do dizer que se traça pela
semântica das palavras (plano do conteúdo) e pela grafia das letras que repetem e se
alternam no espaço (plano da expressão), perfazendo, assim, o roteiro da linguagem
poética num entre espaços. O signo rastreado, então, se desdobra em ícone e se
apresenta como qualidade de dizer que ascende para o aspecto de sua presença
visual no poema.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O que a leitura dos signos desse trajeto poético impõe ao olho e à mente dos
que caminham por entre esses versos? Que percurso sedutor disputa a atenção do
leitor e leva o olho a buscar o sentido no espaço temporal do poema?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Ao iniciar a leitura de “O dia entristecido”, o leitor se depara com uma cena
cotidiana, o pôr do sol, que cede rapidamente lugar à noite com seu manto de
escuridão. Logo há a tentativa da mente de reconhecer e construir um sentido de
poesia da natureza, porém, essa tentativa se frustra quando o leitor percebe se tratar
de uma “falsa noite”, ou seja, a escuridão não é tão abrangente e não se concretiza
fora da cabeça do poeta. O olho, então, permanece atento à camada visual que se
segue, afim de estabelecer um sentido para os signos linguísticos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O olho guiado pela mente, ávido de encontrar um sentido, se depara com “um
céu coroado de estrelas”, que vem logo após o “sol” e logo antes da “falsa noite”.
Então, faz-se um movimento de retorno, de revisão do trajeto para enfim haver o
avanço. O olhar persiste a fazer recortes, escolher sentidos, traçar trajetos e reúne
em planos aquilo que se avizinha de seu horizonte.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Na trajetória do olhar, a angustia do movimento de escurecer vai fazendo
desaparecer aos poucos a luz da esperança, cedendo lugar à tristeza e a solidão.
Visualmente, o poema se desenvolve em versos que isolam os pontos altos,
estabelecendo barreiras para a penetração da luz, tornando inatingível as mãos
pretendidas, afastando a amada do lugar de descanso e por fim determinando uma
“solidão interminável”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Durante a trajetória do olhar, a imagem poética vai se revelando, tornando
manifesto o motivo do escurecer do sol (As distâncias erguem-se como barreiras e
minhas mãos / [buscam as tuas mãos / numa plenitude inatingível). Neste movimento
poético de criação de barreiras, percebe-se que a causa da ausência de luz, segue
uma trajetória de fora para dentro, ou seja, o abandono da mulher amada – que é luz
– traz uma escuridão ao sujeito abandonado.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O olhar percebe a imagem da palavra e passa a demarcar o prazer das formas,
perpassando as camadas, adentrando os poros dos versos, rastreando o sentido, que
se desdobra em imagem novamente (Tenho saudades de um tempo em que as pedras
e as / [árvores / eram o teu repouso absoluto). O que está fixado no poema é uma
lembrança que descontrói o referente, pois este, como passado, carrega apenas o
estigma de sua presença limosa (Depois te afastaste, / e as sombras vieram após o
dia / e cobriram a poeira do caminho de uma solidão / [interminável). A partir deste
ponto, o olhar caminha, então, para outro movimento, saindo de dentro do poeta e
transbordando no externo, na palavra, no signo linguístico, para o sentido da imagem
poética, imagem que se torna esclarecedora e expressiva (Já não te sinto aqui, rosa
noturna, aurora vermelha / fugindo entre meus dedos como a íntima luz).</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O poema nos leva a experimentar a nossa memória imagética transformada em
linguagem. A imagem poética se revela nessa percepção. Portanto, o que o olho e a
mente experimentam na leitura de um poema é um caminhar, primeiro por entre as
dobras das letras, por entre as porosidades das palavras, cujo espectro ultrapassa o
mero conteúdo, propiciando significação à mensagem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A regularidade dos versos, seu crescente, sua simetria gera um ritmo
ondulatório da ligação que o olho faz com o mundo conhecido, produzindo uma
imagem poética, que é responsável pela produção dos sentidos e significados
apreendidos nos poemas. Portanto, esse caminho do olhar traça o roteiro da produção
da imagem do poema.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O que torna um poema singular quando ele de fato utiliza-se de signos do
cotidiano? O que está escondido por detrás dos signos? Ao promover um
deslocamento, uma desreferêncialização dos signos, o poeta, revivifica o seu poder
de nomear e torna a poesia singular.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">O poder de dizer as coisas de modo singular está implícito na relação
perceptiva da linguagem que usa como força o sentimento único (Tenho saudades....
Já não te sinto.... Nem sei o que sinto). O poder de dizer está no complemento da
frase, no encontro dos signos linguísticos lançados no espaço de uma temporalidade
que eterniza um devir das coisas, um sentimento, uma frustração. É de sentimento,
de frustração que nos fala o poema. A linguagem deslocada empresta à imagem
poética, que se formou, um movimento singular que se retira das interpretações
automáticas dos esquemas discursivos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Os sentimentos do poeta, se tornam o aspecto singular do trajeto no poema,
revelando a renomeação dos signos que dão significado à imagem poética. Desse
modo, ao falar sobre a “falsa noite” que está “povoada de antigos sonhos e [tristezas”,
somos remetidos aos sentimentos que se reacendem na mente e no coração do poeta.
Depois de um tempo de relativa paz e tranquilidade, ao lado da mulher amada, que
era sua luz, o autor, se vê novamente com a insegurança da solidão, que escurece
sua perspectiva de um futuro feliz.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">As palavras, ao longo do poema, são percebidas por nosso olhar, levando-nos
a reconhecer um esquema progressivo de construção sintagmática que estabelecem
um sentido particular à imagem poética que se forma. Os cortes inseridos no poema,
suspendem o movimento para seduzir o olhar para uma reflexão mais atenta sobre os
signos e sugerem um movimento progressivo da luz à escuridão. Na leitura do poema,
os signos rastejam e rastreiam algo renomeado, que surge simultaneamente ao plano
visual, gráfico do poema, construindo um outro plano, o das imagens que emergem
por força do conflito gerado pelo dizer dos sentimentos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">No plano visual, a sequência progressiva das palavras, os cortes, que ditam a
dinâmica da leitura, a sinuosidade dos signos, compõem o cenário imagético do
movimento que o leitor fará, do trajeto que deverá ser percorrido. Essa ação adotada,
não busca apenas identificar e reconhecer os signos como palavras da língua
portuguesa e detectar sentido neles, mas busca também, mesmo que sem
consciência disto, a presença de uma imagem que esclareça o porquê do dia, que
estava tão radiante, tão brilhante, ter sido entristecido.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">No plano imagético, abstrato do poema, a linguagem centra-se nela mesma e
se rastreia tornando-se sol, pôr do sol, escurecer, lua e estrelas, estabelecendo um
trajeto a ser seguido para o desvendar do enigma. O roteiro que o poema oferece ao
leitor é um caminho que o prende à letra, à palavra, ao verso que sinuosamente o faz
retornar ao princípio do trajeto, ao princípio do poema. Trata-se de uma construção
filosófico-poética sobre os sentimentos, sobre os sonhos e as angustias que afloram
na mente do poeta solitário. O poema nos revela dúbia presença de sentimentos que
se mesclam por sonhos sonhados e tristezas presentes. Um sonho que se torna cinza,
mas que nem por isso perde a propriedade do que é belo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A poesia, como vimos, trabalha uma relação de sentido diferente entre os
signos da língua. Isso equivale dizer que não é possível lê-la seguindo um esquema
pré-determinado, pois a poesia é linguagem e como tal ela se realiza em outro nível.
Portanto, o que a poesia oferece, no lugar de um esquema facilitado de leitura, é
roteiro que tem início em lugares diferentes, a depender de quem irá empreender o
percurso. O que o poema oferece é um caminho que não foi percorrido, o caminho do
signo.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A poesia de “O dia entristecido” está na construção sintática que promove o
movimento, o caminhar em direção ao cinza, ao escuro, mas com possibilidades de
ainda contemplar um pouco de luz, seja pelos últimos raios de sol ou pela luz das
estrelas e do luar. Desta forma, o poeta impõe o dado visual ao poema, promovendo
o particular no declamado, na lógica do discurso de que se nutrem muitos outros
poemas. A poesia acontece por meio de uma razão crítica que permeia a percepção
do sujeito poético que lê o mundo como imagem.</span></p>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-70220717588395922892022-07-04T16:59:00.001-03:002022-07-04T16:59:20.763-03:00O SIGNO LINGUÍSTICO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E DE SIGNIFICAÇÃO DA IMAGEM DO POEMA – UMA ANÁLISE DA POESIA DE GUIMARÃES FILHO <p> Silvon Alves Guimarães1</p><p style="text-align: justify;">RESUMO
A linguagem, na conclusão de Alfredo Bosi, é um repositório de mitos, de fábulas, uma
espécie de “expressão do espírito” vinculada, de maneira dominante, à imagem
poética. Neste trabalho buscamos realizar uma análise linguística, com especial foco,
na manifestação do signo como fator de construção e significação de sentido na obra
poética de Guimarães Filho: “A Rosa Absoluta”. O nosso desafio, nesta pesquisa,
está no fato do signo linguístico estar assentado na arbitrariedade, o que traz
complicações. Portanto, procuramos compreender como a carga expressiva, que
invade os limites do signo, quando sua presença se afasta do contexto meramente
comunicativo, geram uma perturbação, tornando-o como ícone, como pura sensação,
no contexto artístico da linguagem. De natureza qualitativa, este trabalho, se
fundamenta nas teorias de Saussure, Chomsky, Jakobson, Hjelmslev entre outros.
Investigamos também, o valor da poesia como evidenciação dos sentimentos. Com
isso, pretendemos contribuir para a cultura, que muitas vezes não é valorizada por
inteira, pelo fato de ser produzida por membros da comunidade local. </p><p> Palavras-Chave: Signo Linguístico. Imagem Poética. Linguagem.</p><p>1 INTRODUÇÃO</p><p style="text-align: justify;"><span> </span>A palavra, esse signo misterioso, denota tantos sentidos às coisas que, por
vezes, torna incompreensíveis as mais simples expressões. O signo passa a ser um
desafio maior quando se trata da leitura de poesias, pois neste ambiente, ele transfaz-se em um obstáculo na trajetória do verso, pois a palavra, protegida do mundo,
carrega em sua condição de (re)nomear, um verdadeiro desafio para o poeta. </p><p style="text-align: justify;"><span> </span>Notadamente, quando não se estuda linguística, todos esses fenômenos,
relacionados à linguagem, passam sem perturbação, de forma passiva. Por exemplo,
podemos citar a noção de “Arbitrariedade do signo linguístico” que, para alguém que nunca parou para pensar nos eventos linguísticos, pode parecer um tanto absurda.
Isso se dá pelo fato de que os falantes envoltos no uso da palavra não param para
fazer uma reflexão profunda sobre a ‘nossa linguagem’. E isso é totalmente normal,
pois, somos usuários e não filósofos da estilística. </p><p style="text-align: justify;"><span> </span>Alfredo Bosi (1977), que desenvolveu pesquisas na área de Filosofia e Estética,
considera importante que não haja uma separação entre o sensível e o inteligente.
Apoderando-se do trabalho de Vico, o professor Bosi, conclui que a linguagem é um
repositório de mitos, de fábulas, uma espécie de “expressão do espírito” vinculada, de
modo preponderante, à imagem poética. O reconhecimento do sensível e da
inteligência, possibilita uma hierarquização do saber, ou seja, “o luminoso e o cego, o
racional e o sensível, o lógico e o empírico”. Portanto, os modos de dizer e de pensar
unem o significante e o significado, e o lado sensível do ser humano adquire maior
liberdade.</p><p style="text-align: justify;"><span> </span>A linguagem carrega, como ponderou José Luiz Fiorin (1995), não só
significados, mas também os signos, e com eles toda uma carga cultural e de
costumes. Justamente por este fator, a linguagem tende a ser flexível ao uso de
determinadas pessoas ou segmentos sociais. Desta forma, mesmo quando uma
comunidade linguística se afasta da norma padronizada da linguagem, essa prática
não pode ser considerada errada, pois ela cumpre o objetivo inicial da língua que é o
de transmitir pensamentos. </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">Antes de mais nada precisamos nos lembrar de que o signo e a poesia estão
fortemente ligados à imagem. Portanto, para compreendermos o signo e a poesia,
necessariamente teremos que deixar de lado qualquer traço de interpretação que nos
leve para o âmbito das referências, para o lugar do caráter simbólico no sentido da
convenção do signo linguístico. Todas as indicações e interpretações que apontem
para um espaço convencional, além da imagem poética, tornaria nossa leitura de uma
poesia uma falácia, com uma visão superficial e distorcida, que propiciaria uma leitura
automatizada do signo poético.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Portanto, buscar apreender a imagem poética do signo não é como fazer uma
investigação policial, em que o foco está na identificação do autor e na verificação de
suas reais intenções no texto. Para se chegar à imagem poética é preciso identificar
a ideologia por trás das palavras, ou seja, ver o que o autor-narrador quis passar com
o texto e não o autor-pessoa. Outro ponto a ser lembrado é o de que não existe
conhecimento neutro, portanto, um texto ou um discurso é sempre a expressão de um
ponto de vista a respeito da realidade. Fiorin (1995), descreve esse movimento da
seguinte maneira:</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span style="font-size: x-small;">O discurso são as combinações de elementos linguísticos (frases ou
conjuntos constituídos de muitas frases), usadas pelos falantes com o
propósito de exprimir seus pensamentos, de falar do mundo exterior
ou de seu mundo interior, de agir sobre o mundo. A fala é a
exteriorização psico-físico-fisiológica do discurso. Ela é rigorosamente
individual, pois é sempre um eu quem toma a palavra e realiza o ato
de exteriorizar o discurso (FIORIN, 1995, p.11).</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">A imagem que se forma na poesia, portanto, é diferente de quando se aplica os
princípios da economia, como no uso das metáforas, em que, com o uso de poucas
palavras, expressa-se conceitos complexos. Como citou Victor Chkloski (1976, p.50),
o objetivo da imagem poética é “criar uma percepção particular do objeto, criar uma
visão e não o seu reconhecimento”. Desta forma, não se pode esperar que a imagem
torne mais próxima de nossa compreensão a significação do objeto. A imagem poética
surge como percepção única, singular das coisas.</span></p><p style="text-align: justify;"><span> </span>Portanto, para que nosso trabalho seja possível, em virtude da natureza
pessoal da imagem poética, faz-se necessário que trabalhemos sobre as palavras.
Compreendemos, no entanto, que as palavras não poderão recobrir com exatidão o
sentido das unidades linguística, mas como citou Saussure (1970b, p.132), “dão dela
uma ideia pelo menos aproximada, que tem a vantagem de ser concreta”,
possibilitando o seu uso como “termos reais de um sistema sincrônico’. </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span style="text-align: left;">A teoria de Engels de que não existe pensamento sem linguagem, é trazida por
Fiorin (1995), no intuito de refletirmos sobre a concretização dos pensamentos. Se é
verdade que os pensamentos dependem da existência dos signos, também é verdade
que várias vezes pensamos em algo e não sabemos que palavras usar para expressar
aquele pensamento. Ou seja, pensamos independente dos signos, porém apenas
conseguimos concretizar esses pensamentos com a linguagem, com o pensamento
verbal.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Fiorin (1995), cita também Bakthin, para confirmar que o fato socioideológico
da consciência é formado pelo conjunto de discursos absorvidos pelo individuo ao
longo dos anos. Isto quer dizer que nossa consciência foi formada ao longo do tempo.
Cada discurso que nos agradou, cada citação que nos pareceu lógica foi formando
nossa consciência, e assim reproduzimos aquele discurso como se fosse de nossa
autoria, como se fossem pensamentos inéditos. Porém, o que de fato acontece, é que
repetimos pensamentos previamente absorvidos.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">No entanto, a ideia de consciência social coletiva, não leva por água abaixo o
conceito de individualidade e singularidade da pessoa. Isto se dá pelo fato de que ao
montarmos um discurso, nós usamos filtros para selecionar os vários pensamentos e
conceitos que estocamos, por assim dizer, em nossa mente. Deste modo,
individualmente, selecionamos os discursos que serão aproveitados e com os quais
serão misturados. Além do mais, o discurso é a reação linguística dos acontecimentos,
apenas um reflexo do pensamento de uma pessoa, portanto, o discurso é uma
reprodução.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Então, a pergunta que fazemos neste momento é: Como desestruturar a
camada simbólica da imagem poética e torna-la um signo mais próximo daquilo que
nossos sentidos percebem do mundo? Como traduzir no mero signo a imagem
presente nas coisas? Como alçar nesse signo a condição abstrata e concreta do
mundo simultaneamente?</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Para fundamentarmos o nosso trabalho, recorremos aos teóricos Ferdinand de
Saussure (1970), Noam Chomsky (1977), Roman Jakobson (1995), Louis Hjelmslev
(2006), José Luiz Fiorin (1995), dentre outros. Essas obras nos ajudaram a
compreender a relação entre o signo linguístico e a imagem poética na geração da
linguagem como modalidade de comunicação.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Ao confrontarmos as teorias linguísticas com as poesias de Guimarães Filho,
percebemos a manifestação artística do sentimento humano, que apresenta o lado
frágil e ao mesmo tempo esperançoso de superação. Ao se deparar com a solidão da
perda da mulher amada o poeta deixa transparecer toda sua angustia e aflição,
gerados pela incerteza do futuro solitário. Mas, como uma Fênix que ressurge das
cinzas, o apaixonado encontra um solo firme para ancorar seus pés.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Neste trabalho, pretendemos compreender os sentidos do signo como
expressões de ideias e como a imagem poética apresenta a visão de mundo particular,
mas que ao mesmo tempo não deixa de ser coletiva. O nosso desafio, portanto,
consiste no fato de que o signo linguístico está assentado na arbitrariedade, o que
torna tudo mais difícil. Portanto, buscaremos compreender como a carga expressiva,
que invade os limites do signo, quando sua presença se afasta do contexto meramente
comunicativo, geram uma perturbação, tornando-o como ícone, como pura sensação,
no contexto artístico da linguagem.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;"><span> </span></span><span style="text-align: left;">Organizamos nossa pesquisa em três capítulos: no primeiro, abordaremos
como os sentidos abstratos do poema extrapolam os limites da compreensão e podem
aproximar realidades opostas. No segundo capítulo, analisamos o signo linguístico
dentro do texto, e como essa contemplação do “espetáculo”, possibilita a
compreensão dos sentidos particulares da poesia. No terceiro capítulo, buscamos
estabelecer a trajetória criada na coletânea de poesias “A Rosa absoluta” do poeta
Guimarães Filho.</span></p>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-17889546952203133522022-06-07T15:08:00.001-03:002022-06-08T09:03:12.773-03:00Livro de Poesias: "Poesias Diárias".<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-AxGfUYICBnScrWYxyKdVKXNojW7zqku00liHFOhcUImRDXxRUrOflvARQpK2TnWzlIMmA0ajZIR8zsnvQJSB-WhVpsKrM9nhJZOlgpxLUje9Ce3fORHhr3wue1XIiTvGlNwe-8_3OvGujxwl_-IdM0moxSuenC9VmHd2a_03ocYp4gYY05KRXUIj/s955/WhatsApp%20Image%202022-05-26%20at%2009.15.19.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="955" data-original-width="621" height="391" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-AxGfUYICBnScrWYxyKdVKXNojW7zqku00liHFOhcUImRDXxRUrOflvARQpK2TnWzlIMmA0ajZIR8zsnvQJSB-WhVpsKrM9nhJZOlgpxLUje9Ce3fORHhr3wue1XIiTvGlNwe-8_3OvGujxwl_-IdM0moxSuenC9VmHd2a_03ocYp4gYY05KRXUIj/w302-h391/WhatsApp%20Image%202022-05-26%20at%2009.15.19.jpeg" width="302" /></a></div><br /><p></p><p style="text-align: center;"><span style="font-family: arial;"><i><b><span style="font-size: large;">Poeme-se!</span></b></i><span style="font-size: medium;"> </span></span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Esta é a proposta que eu, juntamente com minha irmã, temos lançado para nosso público. Esse convite é dirigido especialmente as pessoas sensíveis para com a natureza, para com as palavras, mas que ao mesmo tempo ainda não aprenderam as técnicas de uma leitura poética. Portanto, nosso modesto livro traz um apelo visual por meio de fotos, amadoras, da natureza, conjugadas com expressões espontâneas. As fotos são as mesmas que você poderia e pode fazer, porém, pode ser que seu olhar ainda não tenha se apercebido de como captar as belezas que estão presentes nas coisas mais simples da natureza. os poemas que acompanham essas fotos, são poesias que nascem do coração contemplativo e, da mesma forma, podem ser as mesmas poesias que você escreveria se estivesse imbuído dos sentimentos corretos.</span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb_JzU7RQTLfaEiY7pM3xLh7vf7aETJROkKU5QAbjiUzrc1KR2mhHUbybrHcqbmFgaZpMqXZ1_nosMLFUXEZ0OJgFy3xvExgme4lLeaJuip_PlxcsN5i9rfUwCKo2qTchCAPTGzzgthFcqFv1phcZciIK84OiF6l7I18z1sPmq0hyW51Ef_ZM7r3Op/s5787/Poesias%20Di%C3%A1rias-A.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2716" data-original-width="5787" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb_JzU7RQTLfaEiY7pM3xLh7vf7aETJROkKU5QAbjiUzrc1KR2mhHUbybrHcqbmFgaZpMqXZ1_nosMLFUXEZ0OJgFy3xvExgme4lLeaJuip_PlxcsN5i9rfUwCKo2qTchCAPTGzzgthFcqFv1phcZciIK84OiF6l7I18z1sPmq0hyW51Ef_ZM7r3Op/w567-h295/Poesias%20Di%C3%A1rias-A.jpg" width="567" /></a></span></div><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></span></p><span style="font-family: arial; font-size: medium;">Sou professor de História, formado pela Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí; me formei também em Letras Português, pela Universidade Estácio de Sá e tenho Mestrado em Educação, pelo Instituto Federal de Goiás - IFG - Jataí - Goiás. Minha irmã, Suze, é formada em Física, pela Universidade Federal de Goiás e tem Mestrado e Doutorado em Geofísica pelo Observatório Nacional do Rio de Janeiro. Apesar de nossas diferentes áreas de formação, estamos unidos pela vida, compartilhamos do mesmo amor pela natureza. Amor este, em grande parte, sob influência de nossa querida mamãe, já falecida, que sempre foi muito ligada à natureza e nos ensinou, com sua humildade, a amarmos o que esta tem de belo.</span><p></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij2YIZsp5pFbwVoe0TeLdBJ1AfcP_1sSddJoR5IGW8Jk-IB_AY5YBzCRL-xLxAUI7qjLSN5Wm2tYYr4Ood-wfSRzibvtARt6ZZim8ZC6nN9XFIjVivvEDftleQO2HC8KK4FYkZ8b7OyBet5R7iUMPBp2u1ZDT96m9yE8Y11wURh8eCf_kX3MtJhPwq/s1040/WhatsApp%20Image%202022-06-07%20at%2012.07.56.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="780" data-original-width="1040" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij2YIZsp5pFbwVoe0TeLdBJ1AfcP_1sSddJoR5IGW8Jk-IB_AY5YBzCRL-xLxAUI7qjLSN5Wm2tYYr4Ood-wfSRzibvtARt6ZZim8ZC6nN9XFIjVivvEDftleQO2HC8KK4FYkZ8b7OyBet5R7iUMPBp2u1ZDT96m9yE8Y11wURh8eCf_kX3MtJhPwq/w453-h240/WhatsApp%20Image%202022-06-07%20at%2012.07.56.jpeg" width="453" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"> <div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWjZyMvPxtrrG87V3Y-UyI8ARvtDY0KPSfnwJ8kwiRYzStXt-VzwVnZ9JgQSJyuP5PjQgmdTfkKbkEp6ovl1nh8r7I6H2r3Opf3xwyvH9-aKAKFREVhRnhabPIQMkaqE1vMWNj5D9_i1vxRbIaAHc0wdCLDX0ctvFGroWQV-IV6JcRnzZMkYBAXI0l/s1040/WhatsApp%20Image%202022-06-07%20at%2012.07.45.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="780" data-original-width="1040" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWjZyMvPxtrrG87V3Y-UyI8ARvtDY0KPSfnwJ8kwiRYzStXt-VzwVnZ9JgQSJyuP5PjQgmdTfkKbkEp6ovl1nh8r7I6H2r3Opf3xwyvH9-aKAKFREVhRnhabPIQMkaqE1vMWNj5D9_i1vxRbIaAHc0wdCLDX0ctvFGroWQV-IV6JcRnzZMkYBAXI0l/w255-h218/WhatsApp%20Image%202022-06-07%20at%2012.07.45.jpeg" width="255" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnhzCgyiCzdfBNTFnVoFUNquRN-YXC2wwRakt9dtqQChpNzH0rBbqgWda7EJr0O5Y9CC6VBpuCATcSq3pWcllxGxESvwP9uTqK2MxfT-WoxhtXNvt_yBvl6kzzGIiBrJNc_NzzOADaPuTtmYjBZLlVd_hfletdCgrSAr8YsPafzxCqPLs7ip777wOz/s1040/WhatsApp%20Image%202022-06-07%20at%2012.07.40.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="780" data-original-width="1040" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnhzCgyiCzdfBNTFnVoFUNquRN-YXC2wwRakt9dtqQChpNzH0rBbqgWda7EJr0O5Y9CC6VBpuCATcSq3pWcllxGxESvwP9uTqK2MxfT-WoxhtXNvt_yBvl6kzzGIiBrJNc_NzzOADaPuTtmYjBZLlVd_hfletdCgrSAr8YsPafzxCqPLs7ip777wOz/w253-h220/WhatsApp%20Image%202022-06-07%20at%2012.07.40.jpeg" width="253" /></a></div> <br /></div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><b>Esperamos que você tenha a oportunidade de desfrutar desta suave leitura!</b></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><b>Se desejar obter o seu exemplar poderá nos enviar mensagem em nossos instagrans: @suzeguimaraes; @silvon.guimaraes</b></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><b><br /></b></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><b>Um abraço a todos!!!</b></span></div><br /></div><br /><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /></span><p></p><p><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><br /> </span></p>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-89568178354874639582020-07-22T09:46:00.000-03:002020-07-22T09:46:42.886-03:00OBSERVAÇÃO DE UMA AULA DE FILOSOFIA E ENTREVISTA COM UMA PROFESSORA<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
ENTREVISTA:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">a)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Qual a sua visão sobre a educação?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eu tenho uma visão
crítica sobre esse assunto, pois entendo que a finalidade do ensino, ou seja,
da educação, deveria ser cooperar para o crescimento de uma sociedade
solidificada e justa. Porém, a defasagem escolar e o descaso político de nosso país
deixam a desejar nas áreas que abrange a educação e com isso um suposto
conhecimento superficial e sem fundamento estão sendo disseminados como sendo
necessários à formação do sujeito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">b)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">De que maneira você aplica os conteúdos de
ensino?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Em sala, inicialmente eu pergunto aos meus
alunos (por sondagem) se eles tem noção do assunto que será estudado, para
verificar o nível de conhecimento da sala. É imprescindível conhecer os limites
de saber de cada um, até por uma questão de noção sobre o conteúdo que será
explicado. Após isso, divido com eles o material da aula, para analisarmos os
pontos que estão falhos, caso haja, ou prosseguir em assuntos novos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Utilizo o método
constitutivo. Fazendo perguntas que os induzam a pensar. Trabalho com materiais
didáticos, produção de texto, cartazes e alfabeto móvel. Na prática,
brincadeiras de caça-palavras, ou jogo do acerto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">c)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Você se baseia em algum teórico? Qual?
Como?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 18.0pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Parto do princípio de que
a educação deve ser transformadora, pois como diria Paulo Freire: “Se a educação
sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda”. Me
apoio na teoria de Paulo Freire, pois ele aborda uma pedagogia autônoma e
transformadora capaz de socializar o educador com o educando, priorizando seu
contexto de vida sem desprezar os conteúdos de forma recíproca, valorizando as
duas partes sem oprimir ou omitir fatos reais. Logo a mediação e os resultados
se tornam prazerosos e significativos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A AULA:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como atividade sugerida,
escolhi observar uma aula de Língua Portuguesa no 6º ano do Ensino Fundamental,
ministrada pela professora Kelly, no Colégio Estadual Emília Ferreira de
Carvalho, na cidade de Jataí - Goiás.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O objetivo da observação
foi conhecer, mesmo que superficialmente, as normas e regras de funcionamentos
que regem a aula, adequando ao contexto da qual serão postas em prática como: a
dinâmica, a comunicação, a interação entre o aluno e professor, para o
desenvolvimento do ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Observei, que a
professora Kelly, tem como base teórica o livro didático. Nesta aula de
observação ela trabalhou atividades relacionadas à leitura e a escrita, com o
tema: Linguagem formal e informal, e utilizou atividades impressas elaboradas
por ela com a finalidade de enriquecer o ensino-aprendizagem dos alunos. A
professora utiliza o quadro para dar instruções sobre o que está sendo ensinado
no livro didático e usa exercícios complementares em forma de testes
avaliativos seguidos da correção dos cadernos no final da aula.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A ANÁLISE:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A prática usual
desenvolvida, nesta aula de observação, foi a da aula denominada de <i>expositiva dialogada</i>, a qual
corresponde, em certa medida, à explicação do conteúdo por parte do professor
e, posteriormente, disponibilização de um tempo para a discussão sobre o que
foi exposto para que os alunos se manifestem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No curto momento que
estive com essa turma, observei que alguns alunos ainda apresentam certa
dificuldade relacionada a leitura e a escrita. Mas, achei relevante a atenção
da professora em relação a esses alunos com dificuldades, utilizando
estratégias diferenciadas como, conduzi-los à sala de leitura com o intuito de
motivá-los a ler diferentes livros como: literatura, contos e poesias.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Ficou constatado que
a professora está bem preparada, e que sabe trabalhar visando o entender, tanto
de seu lado, como do aprendizado dos alunos. Outro ponto positivo, que foi
observado nesta aula, foi referente a construção de exercícios psíquico-motores
e a exposição de uma linguagem atrativa. A professora sente prazer em
transmitir as informações sendo também educadora, procurando, desta forma,
capacitar os alunos para reconstruir significados atribuídos à realidade que
vivemos.</span>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-62160780237122685872020-07-13T10:40:00.000-03:002020-07-13T10:40:23.286-03:00RODA DE CONVERSA PEDAGÓGICA<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">INTRODUÇÃO:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Antecedendo
à entrevista com alguns professores e alunos, procurei fazer uma breve reflexão
sobre didática como elemento pedagógico e também sobre as discussões acerca da
necessidade de preparação ou planejamento, tanto da parte dos professores
quanto dos alunos, para um melhor aproveitamento da aula.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A
palavra Didática vem do grego <i>“techné di
daktiké”</i>, que pode ser corretamente traduzida como a arte ou técnica de
ensinar. Desta forma, entende-se esta disciplina como sendo a parte da
pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino destinados a colocar em
prática as diretrizes da teoria pedagógica. Metodologicamente, a Didática,
estuda os diferentes processos de ensino e aprendizagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> O
planejamento das atividades de aula e da rotina escolar que segue o modelo
construtivista e considera as subjetividades dos alunos e os contextos
histórico-temporais, voltados à sociedade, à comunidade e, acima de tudo, aos
acontecimentos significativos vinculados à identidade social e etária do grupo,
deve focar na flexibilidade educacional, para alcançar seus objetivos
pedagógicos e educacionais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> No ínterim, o professor consciente, deve estar
em consonância com o projeto pedagógico da escola e com a coordenação escolar, propor
e desenvolver projetos didáticos que se projetem como significativos vetores de
cooperação, cidadania, construção coletiva do conhecimento e de aprendizagem
significativa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">ENTREVISTA:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">a)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como vocês veem o planejamento das
atividades educacionais? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P1: O planejamento ajuda a atingir o meu
objetivo; que o aluno aprenda, ou seja, que ele absorva tudo que foi
apresentado em sala de aula.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P2: Com certeza, para mim também, a
aprendizagem é o alvo a ser atingido. Vejo na elaboração do planejamento de
aula, uma oportunidade de assumir o meu papel como educador e organizar minhas
intencionalidades.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P3: O planejamento para as atividades em
sala de aula, oferece a chance de mudarmos o nível de: “como e com o que fazer”
(conteúdos), para “o que fazer e para quê” (educação).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P4: Durante o planejamento de aulas, tenho
a oportunidade de considerar os aspectos sociais da comunidade, problemas e
necessidades locais e, por fim, a diversidade dentro da sala de aula.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">b)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quais as características que um bom
planejamento deve ter?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P1: Penso que um bom planejamento deve
focar na aprendizagem de todos, deve operacionalizar os conteúdos fundamentais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P2: São muitas características para se ter
um bom planejamento. Mas, acredito que um fator importante é que, no final, ele
seja o produto de uma discussão que envolva toda a comunidade escolar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P3: Sem dúvidas, depois de reunir todas as
características, já citadas pelos meus colegas, é preciso monitorar o
desempenho do planejamento escolar, dando sempre uma abertura para
redirecionamentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P4: O planejamento das aulas deve conter
princípios pedagógicos que correspondam ao contexto e à prática da sala de aula
dos professores. Além do mais, é preciso prever tempo para a formação docente e
para reuniões pedagógicas. O que tem sido um problema, devido à alta carga
horária que muitos de nós têm de cumprir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">c)<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Por favor, destaquem algumas estratégias
de ensino que, na visão de vocês, sejam relevantes?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P1: São várias estratégias importantes, e
às vezes eu utilizo mais de uma. Mas, vou destacar apenas duas: primeira, a
aula expositiva dialogada (muito utilizada), que consiste na apresentação oral
de um assunto de maneira lógica, com participação ativa dos estudantes.
Segunda, a estratégia “<i>Phillips 66</i>”,
que é uma variação da discussão de pequenos grupos. Os grupos são constituídos
por seis membros que discutem o assunto durante seis minutos, em seguida fazem
uma rápida apresentação para toda a turma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P2: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Também
utilizo de várias estratégias de ensino. Para não citar as mesmas que meu
colega, gosto de utilizar a chamada “<i>Brainstorming”</i>,
tempestade de ideias, ou tempestade Cerebral, que estimula o estudante a gerar
novas ideias de forma espontânea ou natural, deixando fruir a imaginação. E
também, usualmente utilizo os mapas conceituais, que consistem na construção de
um diagrama que indica a relação de conceitos de uma perspectiva bidimensional,
procurando mostrar as relações hierárquicas entre os conceitos pertinentes e
estrutura do conteúdo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P3: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Utilizo
como estratégia de ensino, trabalhos em grupo, pois a meu ver, esse tipo de
atividade facilita a construção coletiva do conhecimento; permite a troca de
ideias e opiniões; favorece o debate e a participação dos alunos; ajuda no
desenvolvimento de habilidades de síntese, coordenação, colaboração, análise,
aceitação de opiniões divergentes e autodisciplina; além de possibilitar a
prática da cooperação. Outra estratégia que costumo usar é o estudo de texto.
Exploramos as ideias de um autor a partir do estudo crítico de um texto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">P4: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A
solução de problemas é uma das estratégias que procuro utilizar. Apresento a
turma uma situação nova, que exija um pensamento reflexivo, crítico e criativo
a partir dos dados fornecidos na descrição do problema. Os alunos terão, então,
que aplicar princípios, leis que podem ou não ser expressas em fórmulas
matemáticas. Outra estratégia que tenho utilizado é a de júri simulado que,
como o próprio nome sugere, é a simulação de um júri em que, a partir de um
problema, são apresentados argumentos de defesa e de acusação. Essa estratégia,
pode levar o grupo à análise e avaliação de um fato proposto com objetividade e
realismo, à crítica construtiva de uma situação e à dinamização dos alunos para
estudar profundamente um tema real.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">ANÁLISE:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Em
nossa roda de conversa, percebemos que o ato de planejar é uma constante
necessidade em todas as áreas da vida e também, ou ainda mais, na educação.
Planejar é analisar uma realidade e tentar prever as formas alternativas de uma
ação que possibilite a superação das dificuldades que possam surgir ao longo do
caminho educacional.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> O
planejamento didático também é um processo que envolve operações mentais, como:
analisar, refletir, definir, selecionar, estruturar, distribuir ao longo do
tempo e prever formas de organizar e agir.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> Outro aspecto que ficou subentendido
em nossa conversa foi que o plano de aula é apenas um roteiro, um instrumento
de referência e, como tal, é abreviado, esquemático, aparentemente sem cor e
sem vida. O professor, ou os professores, pelos seus esforços em conjunto, é
que darão relevo, cor e vida ao planejamento escolar. Cabe ao educador
impregnar o plano didático com sua personalidade, seu entusiasmo, suas
expressividades e habilidades. </span>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-46865021385457798942020-07-06T10:07:00.001-03:002020-07-06T10:07:23.072-03:00OBSERVAÇÃO E ANÁLISE SOCIOLÓGICA REFLEXIVA DAS RELAÇÕES ENTRE A SOCIEDADE E O MEIO AMBIENTE.Introdução:<br />
<br />
Este trabalho tem como finalidade apresentar o desenrolar de um projeto de<br />
derrubada de cerca de 200 árvores (pinheiros) da área do Campus Avançado de Jataí –<br />
Universidade Federal de Goiás (CAJ-UFG) – e refletir sobre o impacto ambiental e<br />
emocional gerados na sociedade jataiense, que protestou de modo veemente contra o corte<br />
das árvores.<br />
<br />
O protesto:<br />
<br />
Os pinheiros foram plantados em área doada para a construção da Universidade<br />
Federal de Goiás, na década de 1980. A universidade ocupa uma grande quadra na área<br />
nobre da cidade, abrangendo as Ruas Marechal Rondon, Léo Lince, Tiradentes e<br />
Riachuelo. Muitos consideravam as árvores como motivo de orgulho e beleza para a<br />
paisagem urbana.<br />
A manifestação teve início na manhã de sexta-feira, 5 de março de 2010, logo após<br />
o corte das primeiras árvores. Segundo ambientalistas que participaram do protesto, a<br />
UFG teria informado que seriam feitos os trabalhos de poda com corte apenas das árvores<br />
que apresentassem um estado precário e que estivessem em risco de cair.<br />
Ambientalistas locais saíram em protesto pelas ruas da cidade, alertando a<br />
população para o risco do impacto ambiental que a derrubada dos pinheiros poderia gerar<br />
para a cidade. A população ficou ciente do protesto por meio de um carro de som e<br />
também através de entrevistas na rádio local.<br />
A população alertada se dirigiu para o local. Houve aglomeramento de populares<br />
em volta das árvores impedindo a continuidade do trabalho de corte. O protesto era contra<br />
a derrubada das árvores que proviam uma beleza cênica para a cidade e também contra a<br />
comercialização da madeira – visto se tratar de um patrimônio público -, que segundo<br />
alguns, seriam vendidas por cerca de R$ 5 mil reais, cada uma das 200 árvores, que<br />
mediam em torno de 30 a 40 metros de altura.<br />
A manifestação reuniu a imprensa, a polícia, políticos locais, populares e outros.<br />
Agentes da polícia federal, deslocaram-se da capital, Goiânia, até a cidade de Jataí, para<br />
garantirem o cumprimento da ordem judicial de corte, que fora emitida por juízes de<br />
Brasília e Goiânia. A polícia militar também foi acionada para dar proteção aos<br />
trabalhadores. O vereador, Gênio Eurípedes, na ocasião presidente da Câmara Municipal<br />
de Jataí, participou dos protestos contra a derrubada das árvores e até tentou obstruir o<br />
corte dos pinheiros se confrontando com uma moto serra.<br />
Uma das árvores cortadas caiu sobre o alambrado que cerca a universidade,<br />
atingindo um parquinho infantil, que fica na pista de lazer em volta da área que abrange<br />
a Rua Tiradentes. Este incidente fez com que os nervos se aflorassem ainda mais, gerando<br />
uma nova onda de protestos. Por fim, houve a paralisação do corte das árvores, em virtude<br />
do protesto e da Ação Popular que constituiu o Processo nº 5213-88.2011.4.01.3507 junto<br />
ao Poder Judiciário-Justiça Federal, Subseção Judiciária de Jataí – GO.<br />
<br />
Solução para as árvores já derrubadas:<br />
<br />
Com a paralisação do corte dos pinheiros, parou também a manutenção das<br />
árvores que já estavam no chão, bem como o conserto do alambrado e a desobstrução do<br />
parquinho infantil.<br />
No começo do mês de abril do ano de 2010, cerca de um mês após a derrubada de<br />
alguns pinheiros, aproveitando a visita do Reitor da UFG, alunos da associação estudantil,<br />
solicitaram que fosse providenciado reparo no alambrado, impedindo que a área da<br />
universidade fosse adentrada por indivíduos com más intenções.<br />
Em 5 de julho de 2011, a exatos um ano e três meses depois do corte das árvores,<br />
as mesmas ainda se encontravam no local. O vereador, Gênio Eurípedes, fez solicitação<br />
ao reitor da UFG e à administração municipal, segundo comunicado da Assessoria de<br />
Imprensa da Câmara Municipal de Jataí, para que fosse dada uma finalidade aos pinheiros<br />
derrubados no ano anterior, na área da Unidade Riachuelo do CAJ – UFG, pois segundo<br />
o vereador: “São verdadeiros cadáveres insepultos, deixando o local com um triste<br />
aspecto, parecendo terra sem dono. Uma tapera, uma feiura governamental no coração da<br />
cidade”, disse ele. “Com a queimada brusca que os pinheiros receberam, o lugar parece<br />
também uma carvoaria a céu aberto. Um contraste, pois, com a excelência educativa ali<br />
destinada”, asseverou o parlamentar. “Se de fato a UFG tem algo melhor para aquela área,<br />
sugerido fica mais uma vez que o projeto seja discutido também com a comunidade<br />
jataiense, num diálogo aberto e franco. Duvida-se que ambientalistas e afins vão atropelar<br />
a ideia douta e motriz do Campus de Jataí”, concluiu Gênio Eurípedes.<br />
<br />
Retomada dos cortes:<br />
<br />
O corte dos pinheiros gerou muita polêmica em Jataí. A maioria da população se<br />
mostrou contraria a derrubada das árvores, afirmando que estas árvores fazem parte da<br />
identidade da universidade e da própria cidade, além de proporcionarem sombra e<br />
embelezamento do local. Por outro lado, muitos já se declararam favoráveis ao corte,<br />
justificando que os pinheiros representam risco à comunidade por conta da idade e da<br />
altura dos mesmos. Foi criado inclusive um abaixo assinado pelos moradores residentes<br />
no entorno do Campus Riachuelo, direcionado ao diretor da UFG, solicitando<br />
providências quanto a estas árvores, já que as consideram frágeis e temem que elas<br />
possam cair e provocar acidentes. No abaixo assinado, os moradores citaram a queda de<br />
um pinheiro, ocorrida no dia 18/11/2015, em que uma casa foi atingiu sofrendo danos<br />
materiais. O assunto tem sido debatido também nas redes sociais. A UFG, até o momento,<br />
declarou-se favorável a retirada dos pinheiros.<br />
Por fim, depois de sete anos de polêmica, a UFG Regional Jataí, informou que no<br />
dia 18/03/2017, seriam reiniciados os cortes e retirada dos pinheiros localizados no<br />
Campus Riachuelo. O motivo da ação, segundo a universidade, foi por conta dos riscos<br />
que estas árvores representavam para toda a comunidade.<br />
Ainda, de acordo com a UFG, os pinheiros seriam substituídos por árvores nativas<br />
da região, as quais ajudariam a divulgar a diversidade florestal do cerrado. Os pinheiros<br />
foram plantados por volta dos anos 1980, no início das atividades da UFG em Jataí e por<br />
ocasião da retirada, os mesmos já estavam com quase 40 anos e mediam entre 30 a 40<br />
metros de altura, o que segundo, o professor Alessandro Martins, diretor regional da UFG<br />
Jataí, na ocasião, poderiam causar grandes prejuízos para os moradores. O diretor<br />
informou ainda sobre a existência de um “Projeto de Adequação e Revitalização da<br />
arborização da Unidade Riachuelo”, em que, serão plantadas três espécies nativas no<br />
lugar de cada árvore derrubada. O projeto prevê, também, a construção do Parque da<br />
Ciência no local.<br />
<br />
Após os cortes:<br />
<br />
Os pinheiros, enfim, foram cortados e retirados do local. Porém, dois meses depois<br />
ainda não tinham sido plantadas as árvores nativas, que faziam parte do projeto de<br />
arborização elaborado pela equipe da UFG. Políticos locais se mobilizaram e cobraram<br />
uma ação por parte da universidade. Por fim, ocorreu o plantio de árvores de espécies<br />
nativas. Mas, referente ao Parque da Ciência, houve um declínio do projeto e no local<br />
encontra-se apenas uma grande tenda que fora removida de outra localidade.<br />
<br />
Conclusão:<br />
<br />
Norbert Elias, um importante sociólogo Judeu-alemão, conhecido como o<br />
sociólogo do processo civilizador, concebe a sociedade como um tecido que liga os<br />
indivíduos numa teia de interdependência em permanente mudança e movimento. A cada<br />
ação numa direção, afirma Elias, todo o tecido se reorganiza. Mas, ao contrário do que<br />
pode parecer à primeira vista, a ideia desse tecido não se assemelha ao conceito de<br />
estrutura social, pois se trata de um processo sócio histórico constituído por seres que<br />
atuam de forma consciente, por meio de representações abstratas e simbólicas.<br />
A derrubada dos pinheiros que movimentou uma parte da comunidade, entre<br />
ambientalistas e populares, gerou polêmica, muitas discussões, mas por fim foi superada<br />
estrategicamente pela construção de uma simbologia que apontava para o progresso, para<br />
o avanço tecnológico, em contra partida ao atraso, gerado pelo intruso, no caso os<br />
pinheiros, oriundos de outras regiões das américas.<br />
Como se constatou, no desenrolar da polêmica do corte das árvores da<br />
universidade, imagens e barreiras são removidas por métodos de convencimento em que<br />
se utilizam a ciência como aquela que possui a chancela para autenticar ou destituir um<br />
projeto comunitário.<br />
<br />
Referências Bibliográficas:<br />
Câmara Municipal de Jataí. Assessoria de Imprensa. Julho de 2011.<br />
COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São<br />
Paulo: Moderna, 2005.<br />
Jataí News. Pinheiros da UFG. Março de 2017.<br />
Universidade Federal de Goiás. Parecer Técnico. Escola de Agronomia e Engenharia de<br />
Alimentos. 2013.Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-65161102495485312132020-06-30T14:21:00.000-03:002020-06-30T14:21:24.938-03:00COLOCAÇÃO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: PRESCRIÇÃO E USO<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Introdução:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Colocação
Pronominal é a parte da gramática que trata do uso correto, segundo as normas
para o Português, dos pronomes oblíquos átonos na frase. Embora na língua
falada a colocação dos pronomes não seja rigorosamente seguida, espera-se que
na escrita, certas regras sejam observadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Desta forma, a norma padrão, prescreve, para
os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, o(s), a(s), lhe(s), nos, vos), três
posições possíveis em relação ao verbo: <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">próclise</b>
(antes do verbo), <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">mesóclise</b> (entre o
verbo) e <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">ênclise</b> (após o verbo).
Para entender essa relação, vale lembrar que a frase, em português, pode ser
construída na ordem direta [sujeito+verbo+complemento (OD/OI) + adjunto
adverbial] ou na ordem indireta, em que a posição de alguns desses elementos é
alterada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
prática do falar:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Como
o nosso objetivo, nesta análise, não é aprofundar o tema, mas fazer uma breve
menção do assunto, selecionamos um trecho de uma música caipira de raiz,
gravada por Inezita Barroso, para ilustrar o uso da palavra falada na sua
variante mais distante da norma padrão:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Com a marvada
pinga é que eu <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>me</u></b> atrapaio<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Eu entro na venda
e já dou meu taio<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Pego no copo e
dali num saio<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Ali memo eu bebo,
ali memo eu caio<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Só pra carregá é
que dó trabaio, oi lai<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">(...)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">O marido <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>me</u></b> disse, ele <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>me</u></b> falô<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Largue de bebê,
peço por favô<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Prosa de home,
nunca dei valô<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Bebo com sór
quente pra esfriá o calô<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E
bebo de noite pra fazê suador, oi lai (...)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Existem
regras para a colocação do pronome antes do verbo. Na frase, deve haver a
presença dos chamados fatores de próclise – palavras que exercem atração, que
“puxam” o pronome para antes do verbo -, esses atrativos podem ser, entre
outros, uma palavra negativa, um advérbio, um pronome relativo etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Voltando
à “Moda da Pinga”, é o que acontece com os pronomes destacados: não há nenhum
fator de próclise, nada que atraia o pronome para antes do verbo. Portanto,
trata-se de uma variante não padrão em que a “musicalidade” do português do
Brasil levou o compositor a colocar os pronomes como próclise (LOBO, 1992).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Conclusão:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Em
nossa análise, abordamos apenas o aspecto do uso proclítico no português do
Brasil, pois percebemos que há uma preferência por esse uso em território
nacional, independente da prescrição normativa encontrada nas gramáticas
brasileiras de língua portuguesa. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Segundo
Valadares e Silva (2015), as pesquisas sobre os fatores condicionantes da
composição morfossintática da língua, indica que houve a adoção no português do
Brasil da próclise, mesmo que esse uso não seja o prescrito pela norma padrão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Referências
Bibliográficas:</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">LOBO,
T. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A colocação dos clíticos</b>: duas
sincronias em confronto. Lisboa: Universidade de Lisboa. Dissertação de
Mestrado, 1992.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">VALADARES,
Flávio Biasutti; SILVA, Clara Regina Gonçalves da. Português do Brasil: uma
abordagem do uso proclítico em textos jornalísticos brasileiros. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Revista Vozes dos Vales</b>. UFVJM, MG,
Brasil. N.07. Ano IV. 05/2015.</span></div>
Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-10390492426487231392020-06-22T10:11:00.003-03:002020-06-22T10:11:55.441-03:00AS LEITURAS POSSÍVEIS QUE O OLHAR CONTEMPORÂNEO PRODUZ SOBRE A MULHER, A PARTIR DA LEITURA DOS CONTOS: “PAI CONTRA MÃE” E “A CARTOMANTE” DE MACHADO DE ASSIS.<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Introdução<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao fazermos uma leitura
focada em perceber a visão produzida sobre a mulher em obras literárias como os
contos de Machado de Assis – “Pai contra mãe (1906)” e “A cartomante (1884)” –
poderemos, de forma parcelar, apreender a mulher enquanto objeto da visão de
outras personagens ou do narrador e a mulher enquanto sujeito dessa visão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Desta forma, apesar de fazermos
uma análise rasa, esperamos responder a questionamentos tais como: Nos contos
analisados, a mulher é entendida como sujeito de ação e de reflexão? Ou tem
papel pertinente apenas enquanto objeto de mediação dos respectivos narradores
e/ou personagens? E, será que houve uma evolução na visão da mulher, a partir
destas obras?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
escritor e suas obras<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Machado de Assis, como
escritor engajado, dirigiu sua crítica à sociedade burguesa buscando expor as
injustiças existentes em sua época. Ele, compreendeu o dilema vivido pelas
mulheres e entendeu que as suas limitações não eram inerentes ao gênero
feminino, mas às restrições que lhes eram impostas pela sociedade conservadora.
O escritor, portanto, adota um posicionamento feminista, no que tange a
compreensão e denúncia dos abusos perpetrados para com as mulheres.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Outro aspecto que chama a
atenção nos contos de Machado de Assis, em relação à sua visão sobre as
mulheres, é que ele encarou o sexo, não no seu aspecto fisiológico, segundo a
voga naturalista, mas na importância específica que pode assumir nas relações
entre as pessoas, e também como instrumento de opressão e poder.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A partir destas
informações sobre o escritor analisaremos os contos “Pai contra Mãe (1906)” e
“A Cartomante (1884)”, buscando fazer uma interpretação da obra machadiana como
“fruto da sociedade da segunda metade do século XIX, mas que também não pode
ser vista como seu reflexo puro e simples, sendo o contexto sócio-histórico seu
elemento estruturador (SILVA, 2008). Percorreremos, também, alguns textos
contemporâneos que refletem o olhar da sociedade sobre o papel desempenhado
pelas mulheres.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
mulheres na literatura</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No conto “Pai Contra
Mãe”, Machado de Assis apresenta a situação dos negros e da mulher que ainda
precisam lutar por igualdade. O autor aborda também a questão da doação de um
filho e a forma com que o ser humano lida com as decisões que toma, neste caso,
a atitude tomada por Cândido após ver as consequências de sua escolha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O título do conto, logo
de começo, traz à tona a tensão da disputa entre o “Pai”, Cândido (homem,
branco, livre), cujo nome significa “de grande alvura; muito branco, com
sentido figurado que apresenta pureza, inocência; que denota candura”, e a
“Mãe, Arminda (mulher, negra, escrava), cujo nome significa “mulher do exército
ou militar; a que possui armas”. Ele, pretende salvar o seu filho. Ela,
grávida, só deseja fugir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A grande ironia fica por
conta da situação em que é colocado o protagonista: para salvar a vida do
filho, Cândido tem que entregar a escrava fugida aos seus senhores que, na luta,
acaba abortando. No confronto entre os personagens temos as mesmas razões de
luta – a família, a prole – mas, para a satisfação de um dos lados, será
preciso que o outro sofra. Na verdade, o lado feminino e escravo, tem desde o
início seu destino selado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O conto machadiano,
permite que vislumbremos na narrativa, uma análise do comportamento humano:
para salvar uma criança, Cândido permite a morte de outra. Sua fala ao final do
conto é bastante expressiva: “Nem todas as crianças vingam”. É o ser humano
construindo as justificativas para os gestos mais baixos, para as atitudes mais
reprováveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No conto “A Cartomante”,
Machado de Assis, estabelece como núcleo temático o amor, o ciúme e o
adultério. O amor de Rita e Camilo constitui um adultério penalizado com o
assassinato de ambos. Vilela, o marido, age movido pelo ciúme. Porém, todos os
personagens apresentam complexidades que os dotam de contradições, com atitudes
ora boas ora más, ora generosas ora sórdidas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Rita, no alto dos seus
trinta anos, é apresentada como sendo uma “dama formosa e tonta”, “graciosa e
viva nos gestos”, tem “olhos cálidos” e “boca fina e interrogativa”, segundo o
narrador ela “era mulher e bonita” e, por fim, a atração recíproca entre ela e
Camilo se dá justamente pela compatibilidade de gênios, ela: “tonta”, que
significa “simplória, ingênua” e ele descrito como tendo na ingenuidade sua
principal característica. A personalidade de ambos, se contrapunha com a de
Vilela, descrito como homem de gravidade nos tratos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A história, de amizade,
amor e adultério termina em feminicídio seguido de homicídio. O assassino é um
“advogado e ex-magistrado”, um homem que foi a lei, conhece a lei, e acima de
tudo “age dentro da lei”. Segundo Fonseca (2012), o Código Criminal Brasileiro,
vigente na época do acontecimento narrado, estabelecia “no Livro V, tit.
XXXVIII: Achando o homem casado sua mulher em adultério, licitamente poderá
matar assim a ela, como o adúltero”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Machado de Assis, ao
criar esse desfecho, atribuindo o feminicídio a um personagem refletido, grave,
advogado e ex-magistrado, denuncia a sociedade de sua época como patriarcal e
machista, que considera a mulher como propriedade; e o Estado que sacramenta
esta atitude.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em continuidade à
temática da violência contra a mulher, Helena Martins, repórter da Agência
Brasil, publicou em 27/08/2017, um artigo que se intitulava: “Taxa de
feminicídios no Brasil é a quinta maior do mundo”. A autora apresenta dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS), que apontam para um aumento de 54% no
assassinato de mulheres, entre os anos de 2003 a 2013. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O citado periódico,
apresenta também, os esforços do governo brasileiro em atacar o problema da
violência contra o gênero feminino. Dentre as investidas está a criação, em 2006,
da Lei Maria da Penha, reconhecida mundialmente como uma das melhores
legislações para combater e desnaturalizar a violência contra a mulher.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Abordando o tema da
violência contra a mulher, Silva e Oliveira (2014), empreenderam uma
dispendiosa pesquisa nas publicações cientificas, que tratam da questão
feminina entre os anos 2009 e 2013. O
estudo identificou a violência física, sexual e psicológica como sendo as principais
causas de denúncias apresentadas pelas mulheres. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">A literatura
descreve diversos fatores associados à violência doméstica, que perpetuam esta
condição para as mulheres, tais como: os antecedentes familiares de atos
violentos, o uso de álcool pelo parceiro, o desemprego, a pobreza, o baixo
nível socioeconômico da vítima, o baixo suporte social ofertado à mulher e a
dependência emocional em relação ao agressor. (SILVA e OLIVEIRA, 2014, p. 2)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Segundo as autoras, para
combater a crescente violência é preciso promover uma postura de enfrentamento
que implica na desconstrução de ações aceitas culturalmente como o direito do
homem de dispor da companheira. Silva e Oliveira (2014), citam que é preciso
desconstruir as “normas sociais e padrões culturais, tanto de homens quanto de
mulheres, os quais confirmam, autorizam, naturalizam e banalizam a dominação
masculina sobre a mulher”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Conclusão:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As análises dos contos
machadianos permitiram percebermos como a violência da estrutura social
brasileira é representada pelo escritor, revelando seu posicionamento crítico à
sociedade de sua época. Relacionado, especificamente, à questão feminina,
constatamos que Machado de Assis critica os horrores do sistema patriarcal
machista, percebido em toda uma sociedade, que cria justificativas para a busca
de seus interesses pessoais, sendo, portanto, os responsáveis pela promoção da
violência social que se perpetua no ciclo vicioso infindável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Trazendo a discussão para
a atualidade, percebemos que o autoritarismo permanece, embora revestido de uma
aparência democrática nas nossas relações sociais e em nossas instituições
políticas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Desta forma, vimos em
nossa análise, que a questão da violência contra as mulheres, atualmente, é
vista como um problema social cuja relevância tem ganhado visibilidade devido a
serem veiculadas em jornais e revistas brasileiras. Há uma tendência crescente,
no reconhecimento das agressões contra o sexo feminino, como sendo um problema
de saúde pública, com a necessidade de intervenções por parte das autoridades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Apesar de ainda não
existirem elementos suficientes para lidar com a totalidade da complexidade do
fenômeno das questões femininas, esta temática está estreitamente vinculada aos
movimentos feministas e tem sido objeto de pesquisas. Por isso, esperamos que
tais movimentos despertem, de maneira crítica, a percepção da sociedade para a
desconstrução do espírito machista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Referências
Bibliográficas:</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">ASSIS,
Machado de. <b>A Cartomante</b>. Obra
completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1994. V. II.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">______.
<b>Pai Contra Mãe</b>. Texto proveniente
de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <span class="MsoHyperlink"><a href="http://www.bibvirt.futuro.usp.br/">http://www.bibvirt.futuro.usp.br</a></span>
Acesso em 07 de outubro de 2019.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">FONSECA,
Daniel Gomes da. <b>Não as matem!</b> A
figuração do uxoricídio em “A Cartomante” de Machado de Assis. Entreletras,
Araguaína – TO, v. 3, n. 1, p. 39-52, jan/jul. 2012.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">MARTINS,
Helena. Taxa de feminicídio no Brasil é a quinta maior do mundo. <b>Agência Brasil</b>. Brasília. Publicado em
27/08/2017.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">SILVA,
Eliane da Conceição. <b>Estudos da
violência</b>: uma análise sociológica dos contos de Machado de Assis.
Dissertação (Mestrado em Sociologia), Universidade Estadual Paulista, Faculdade
de Ciências e Letras, Campus de Araraquara. 2008, 195 f.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">SILVA, Lídia Ester
Lopes da; OLIVEIRA, Maria Liz Cunha de. <b>Violência
contra a mulher</b>: revisão sistemática da produção científica nacional no
período de 2009 a 2013. Dissertação (Mestrado Profissional em Ciência para a
saúde), Escola Superior de Ciências da Saúde, Brasília, DF. 2014.</span>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-66032608173576692592020-06-17T09:58:00.000-03:002020-06-17T09:58:31.682-03:00Relatório de Estágio em Língua Portuguesa - Colégio Emília Ferreira de Carvalho<br />
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 120%;">Metodologia e fundamentação teórica<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O estágio supervisionado
é entendido como um momento de prática docente e, ao mesmo tempo, de
aprendizagem. Nesse contexto, nos cursos de licenciatura, os estágios são
vinculados ao componente curricular Prática de Ensino, cujo objetivo é o
preparo do licenciando para o exercício do magistério em determinada área de
ensino ou disciplina (PICONEZ, 1991).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Diante do papel
pretendido, o estágio deve ter como foco desenvolver no acadêmico a capacidade
crítica de compreender sua prática de ensino enquanto mecanismo de
transformação social, uma vez que a escola se apresenta como formadora de
cidadãos. Nesse sentido, as atividades realizadas ao longo desse período devem
priorizar o desenvolvimento de metodologias de ensino, iniciando a construção
de sua própria didática.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O espaço do estágio,
segundo Piconez (1991, p. 22), é o lugar para se “articular a integração
teoria-prática entre os conteúdos da parte diversificada e do núcleo comum do
curso de formação de professores e o conhecimento da sala de aula da escola
pública”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Dentro deste contexto,
torna-se claro a importância do estágio supervisionado nos cursos de
licenciatura, considerando que este tem como finalidade colocar os acadêmicos
em contato com a prática docente, desenvolvendo atividades relacionadas a essa
prática, como: elaboração de plano de aula, busca de metodologias alternativas
no ensino, desenvolvimento das atividades em sala de aula e avaliação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nos cursos de Letras
Língua Portuguesa, os estágios e atividades complementares fazem parte da
necessidade histórica de articulação entre a teoria e a prática, e entre a
pesquisa básica e a aplicada, formando assim um profissional contextualizado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Portanto, dentro da
escola, a Língua Portuguesa é compreendida como uma disciplina de grande
importância na formação de indivíduos críticos frente a um mundo globalizado e
em constante transformação. Isso permite que o professor de Português busque
diferentes metodologias e técnicas de ensino que contribuam para a construção do
senso crítico nos alunos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O graduando, durante o
estágio, deve ter em mente a importância desta disciplina diante da sociedade.
Neste sentido, ao observar a rotina escolar e participar nas aulas, deve-se
levar em consideração as possibilidades e dificuldades dos estudantes, assim
como contextualizar o conteúdo com a realidade dos alunos, para que as aulas de
Português se tornem mais interessantes e significativas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Observação prática<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Durante
o estágio supervisionado, foi possível constatar diversos aspectos da postura
profissional de um educador, entre eles destacamos a relação professor/aluno, o
uso da matriz curricular, a metodologia de ensino e a relação com os colegas de
trabalho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Relação
professor/aluno – ao acompanhar as aulas da professora supervisora, pude
constatar que há um bom relacionamento entre ela e os alunos, apesar de serem
pré-adolescentes, sempre propensos a algazarras, barulhos e distrações – a
professora tem que chamar a atenção repetidas vezes –, é possível notar o
respeito e admiração existente. A leveza que a professora proporciona em suas
aulas mantêm os alunos motivados no processo de aprendizagem e este ambiente é
muito importante, especialmente por se tratar de turmas dos anos finais do
ensino fundamental.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Uso
da matriz curricular – nas observações sobre o uso do Currículo Referência de
Educação do Estado de Goiás, constatamos o comprometimento da professora em
atender os conteúdos de ensino-aprendizagem a serem ministrados no 3º e 4º
bimestre do ano letivo. As diretrizes do Currículo preveem que o objetivo do
ensino da Língua Portuguesa na Educação Básica, seja proporcionar aos alunos
experiências que ampliem suas ações de linguagem, contribuindo para o
desenvolvimento do letramento, entendido como uma condição que permite ler e
escrever em diversos gêneros discursivos presentes na sociedade. A professora
usa como método organizacional, para atender o Currículo Referência, o uso do
planejamento quinzenal, contendo expectativas de aprendizagem, eixo temático, conteúdo
e avaliação, desta forma ela atende ao Currículo e consegue administrar os
conteúdos que serão propostos aos alunos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Metodologia
de ensino – por se tratar de uma escola de tempo integral se torna mais fácil
para a professora manter uma dinâmica nas suas aulas, visto ser de dedicação
exclusiva, não tem a necessidade de trabalhar em outra escola para complementar
a sua renda. Assim, a professora consegue diversificar as aulas, alternando
entre aulas expositivas, resolução de Quiz de português, seminários, análises
literárias, análises de filmes, uso de Datashow, visita a exposições culturais,
produção de textos, etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
dinamismo imposto às aulas mantêm o entusiasmo dos alunos, que sentem as aulas
mais prazerosas. Ao saírem da rotina de aulas, com as atividades pedagógicas
lúdicas, é possível notar nos olhos dos educandos o quanto se sentem felizes
pela descoberta do novo aprendizado. Dessa forma, como menciona Karnal (2012):<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif;">O olhar dos alunos eles
dizem, com absoluta naturalidade, sobre o andamento de tudo. Aprenda a ler seus
olhos, os olhos dos seus alunos são espelho de branca de neve: dizem tudo o que
você perguntar. Não estamos entendendo, não tenho interesse, estou adorando,
você fala alto demais, não estou ouvindo (KARNAL, 2012, p.22).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>As
avaliações são feitas utilizando diversos critérios, tais como: atividades
avaliativas no caderno, apresentação de seminários, pesquisas teóricas,
atividades em grupo, participação do aluno durante as aulas, disciplina entre
outros. A professora assume, desta forma, o ensino como um processo de
mediação, em que o professor media a relação ativa do aluno com a matéria,
considerando os conhecimentos, a experiência e os significados que o aluno trás
para a sala de aula (LIBÂNEO, 1998, p.29).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Relação
com os colegas de trabalho – observamos que a professora mantém uma ótima
relação de convivência com seus colegas, compartilhando opiniões e ideias,
planejando aulas interdisciplinares e auxiliando em outras disciplinas. Como
exemplo podemos tomar as gincanas educativas, em que houve a participação da
professora de Português juntamente com a de Matemática e de Educação Física.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Em
suma, diante de todas as observações que foram feitas em sala e no planejamento
das aulas, junto a professora supervisora, nós concluímos que ela, apesar de
todas as dificuldades apresentadas, como falta de recursos para incrementar as
aulas, tem atuado como uma educadora que busca mediar o processo de
aprendizagem do aluno. Procura respeitar os alunos e seus saberes, não os
considerando como meros recipientes para depósito de conhecimento – como se
isso fosse possível – mas, estimula-os a participarem do processo de
(re)construção do conhecimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Análise dos materiais de suporte<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
Centro de Ensino em Período Integral (CEPI) Colégio Estadual Emília Ferreira de
Carvalho, situa-se no Bairro Jardim Rio Claro, em Jataí-Go. O mesmo possui
prédio próprio. A escola é mantida pelo Poder Público Estadual e Parcerias,
administrada pela Secretaria Estadual de Educação. São oferecidos cursos de Ensino
Fundamental de 6º ao 9º ano em período integral a partir do ano de 2018.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
escola começou a funcionar no dia 19 de março de 1970, e recebeu esse nome em
homenagem a educadora <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">EMÍLIA FERREIRA DE
CARVALHO</b>, professora que desenvolveu um trabalho relevante para a
Comunidade Jataiense. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Hoje
a Escola possui uma área construída de 4500 m², distribuídas entre 10 salas de
aulas com capacidade de 35 alunos, sala de professores, secretaria, sanitários
femininos e masculinos, cozinha e duas salas pequenas para armazenamento de
materiais. A quadra de esportes e a biblioteca estão em processo de adequação e
reforma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola pressupõe um espaço em
que a ação pedagógica é entendida como uma prática de vida, de todos e com
todos, na perspectiva de formar cidadãos que integrem e contribuam para sua
comunidade. Percebe-se que a educação, o ato e a prática de aprender e ensinar,
é considerado como sendo de responsabilidade de todos. O papel da família nesta
empreitada é bem definido. A Escola adota como principal finalidade o pleno
desenvolvimento das pessoas ligadas à comunidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Os
materiais de suporte para as aulas existem, são bem utilizados e têm sortido um
efeito positivo, possibilitando aulas dinâmicas e diferenciadas. Porém, ainda
há carência de recursos tecnológicos, fazendo com que os professores tenham que
estabelecer uma espécie de rodizio para o uso dos aparelhos tecnológicos,
justamente por serem poucos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
professora supervisora do estágio, por várias vezes, teve que recorrer ao velho
e bom quadro negro como alternativa para suas aulas. Mas, até nestes momentos
foi possível observar a boa disposição e adaptação para que as aulas se
tornassem instrutivas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Considerações finais<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Toda
experiência, tornada possível pelo estágio, contribuiu para, em partes,
desmitificar o mundo docente. A observação/participação apresenta uma realidade
diferente do mundo idealizado nas aulas da faculdade. Esse tempo em que estive
na escola do estágio pude contemplar alguns dos obstáculos que se apresentam na
jornada docente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
estágio se mostrou essencial para compreender os possíveis conflitos que surgem
na vida profissional docente. Todas essas contribuições podem fazer a diferença
entre ser um educador motivado ou frustrado, influenciando diretamente a vida
dos alunos para o bem ou mal. Portanto, é possível dizer que o estágio
supervisionado nos mostra a realidade social da educação e “partir desta
relação, começar a preparar o seu amanhã como profissional da educação, fazendo
realmente a diferença onde quer que se encontre” (SCALABRIN; MOLINARI, 2013,
p.3).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Essa
experiência nos permitiu testar na prática os nossos conhecimentos adquiridos
no decorrer do curso de Letras Língua Portuguesa, refletindo sobre como e em que
devemos melhorar nossa atuação profissional. O estágio foi uma porta para
procurar apreender um pouco da realidade do sistema educacional e seus
desafios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Apesar de todo aprendizado, essa experiência
não ensina a ninguém a ser professor, mas oferece componentes eloquentes que
enfatizam outros saberes e perguntas que podem ser o impulso na elaboração da
identidade profissional. A construção da identidade profissional não se dará
apenas com esse momento de estágio, mas sim, no exercício da profissão e por
meio de uma formação contínua. Comentando sobre as contribuições do estágio
para a formação profissional do educador, Pimenta (2004) diz:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif;">Através do exercício da
profissão o graduando terá oportunidade de trabalhar os conteúdos e as atividades
do estágio no campo de seu conhecimento específico, que é a Pedagogia-ciência
da educação – e a Didática – que estuda o ensino e a aprendizagem –, percebem
que os problemas e possibilidades de seu cotidiano serão debatidos, estudados e
analisados à luz de uma fundamentação teórica e, assim, fica aberta a
possibilidade de se sentirem coautores desse trabalho (PIMENTA, 2004, p.127).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>As
reflexões da autora, nos ajudam a perceber que na construção da identidade
profissional, as experiências adquiridas no estágio proporcionarão ao futuro
professor, adaptar-se às situações que serão vivenciadas durante sua carreira
profissional. Lembrando-se sempre que ensinar não é transferir conhecimentos,
mas criar oportunidades de aprendizado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Referências</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt;">KARNAL,
Leandro. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Conversas com um jovem
professor</b>. São Paulo: Contexto, 2012.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt;">LIBÂNEO,
José Carlos. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Adeus professor, adeus
professora?</b> novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo:
Cortez, 1998.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt;">PICONEZ,
Stela C. Bertholo. A prática de ensino e o estágio supervisionado: a
aproximação da realidade escolar e prática da reflexão. In: ______. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A prática de ensino e o estágio
supervisionado.</b> Campinas: Papirus, 1991.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt;">PIMENTA,
Selma Garrido. Estágio: diferentes concepções. In: PIMENTA, Selma garrido;
LUCENA, Maria Socorro. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Estágio e
docência</b>. São Paulo: Cortez, 2004.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="color: windowtext; font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 12.0pt;">SCALABRIN,
Izabel Cristina; MOLINARI, Adriana Maria Corder. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A importância da Prática do Estágio Supervisionado nas Licenciaturas</b>.
Revista Científica, Centro Universitário de Araras, UNAR. Araras, ISSN
1982-4920, vol.7, n 1, 2013.<o:p></o:p></span></div>
<br />Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-45767181686645880622020-06-03T10:10:00.002-03:002020-06-03T10:10:48.077-03:00A LITERATURA E A CIRCULAÇÃO DAS INFLUÊNCIAS<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Introdução:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> A
literatura moderna, assim como existe hoje, se desenvolveu a partir do processo
de urbanização, impulsionado pelo advento da modernidade (FREITAG, 2002). O
florescimento da vida urbana e o fortalecimento das instituições de ensino, são
os fatores que marcaram a produção do conhecimento. Sérgio Buarque de Holanda
(1995), em Raízes do Brasil, destaca que, enquanto os países latino-americanos,
que foram colonizados pela Espanha, tiveram em sua colonização, desde o
princípio, o transplante das instituições espanholas, que incluíam o traçado
urbanístico das cidades e as universidades; no modelo de colonização português,
implantado no Brasil, não houve o planejamento das cidades e as universidades,
escolas e até mesmo as prensas tipográficas – além de não serem implantadas –
foram banidas, sendo consideradas atividades contra a lei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Os
filhos da elite, que viviam no Brasil, tiveram que buscar conhecimento, ou nas
colônias hispânicas ou no continente europeu. Em qualquer um dos casos, fica
evidente a influência que essas elites intelectuais sofreram, por conta do
convívio com os intelectuais destes países e sua realidade. Porém, quando esses
brasileiros retornavam para sua pátria, a influência, os sentimentos e o
conhecimento que eles receberam, passava por um processo de adequação à
realidade brasileira, era como uma espécie de personificação intelectual e, por
sua vez, de influenciados, eles passavam a influenciar, quer seja aos vizinhos
da américa latina, aos próprios europeus e também aos países africanos,
especialmente os de língua portuguesa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Nosso
objetivo, neste trabalho, é discutir a circulação de sentimentos, canalizados
através dos fluxos de influência cultural recíproca entre os países de língua
portuguesa. O nosso recorte analítico tem como referência a questão da
valorização de pátria, relacionando-a ao sentimento nacionalista que aparece
nos poemas “<i>Canção do Exílio</i>” do
livro “<i>Poesias</i>” do poeta brasileiro Gonçalves
Dias, e “<i>A minha Terra</i>”, do livro “<i>Espontaneidades da minha alma: às senhoras angolanas</i>”
do poeta angolano José da Silva Maia Ferreira. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Os
poetas e suas obras:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Gonçalves
Dias foi um dos principais escritores da Primeira Geração do Movimento
Romântico, no Brasil. Este movimento se destacou pela grande ênfase dada ao
sentimento nacionalista, em que o amor à pátria e ao herói patriota,
representado pelo índio, eram fatores de exaltação e representatividade
brasileira. O Nacionalismo Romântico, ficou conhecido como “nacionalismo de
identidade ou orgânico”, em que seus praticantes, nutrem o sentimento de que
seu povo é único e criativo, que sabe expressar sua cultura através de várias
áreas como a língua, a religião, os costumes e assim por diante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Foi
neste contexto, que Gonçalves Dias, escreveu o poema “Canção do exílio”, em que
sua pátria, o Brasil, foi exaltada. Toda admiração que o poeta sente por sua
terra natal foi expressa através do sentimento romântico nacionalista. Vejamos
na integra os versos do poema:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Minha
terra tem palmeiras</span></i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
<i>Onde canta o Sabiá,</i><br />
<i>As aves, que aqui gorjeiam,</i><br />
<i>Não gorjeiam como lá.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nosso céu
tem mais estrelas,</span></i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
<i>Nossas várzeas têm mais flores,</i><br />
<i>Nossos bosques têm mais vida,</i><br />
<i>Nossa vida mais amores.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em
cismar, sozinho, à noite,</span></i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
<i>Mais prazer encontro eu lá;</i><br />
<i>Minha terra tem palmeiras,</i><br />
<i>Onde canta o Sabiá.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Minha
terra tem primores,</span></i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
<i>Que tais não encontro eu cá;</i><br />
<i>Em cismar – sozinho, à noite –</i><br />
<i>Mais prazer encontro eu lá;</i><br />
<i>Minha terra tem palmeiras,</i><br />
<i>Onde canta o Sabiá.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Não
permita Deus que eu morra,</span></i><i><span style="font-family: "Arial",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
Sem que eu volte para lá;<br />
Sem que desfrute os primores<br />
Que não encontro por cá;<br />
Sem qu’inda aviste as palmeiras,<br />
Onde canta o Sabiá. (DIAS, 1969,
p.11).<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> José da Silva Maia Ferreira, filho
de pais angolanos, embora tenha nascido em Luanda, desde os sete anos de idade,
vivia no Rio de Janeiro, devido ao exílio político de seu pai. Assim como os
brasileiros da elite, Maia Ferreira, buscou formação acadêmica em Portugal.
Anos mais tarde, retornou ao Brasil e aqui morreu. Nos versos do poema, que
destacaremos, o poeta, exalta grandiosamente Portugal, terra do colonizador, na
tentativa de compará-la com sua própria pátria. Nessa comparação infeliz, Maia
Ferreira, acaba inferiorizando sua terra natal diante de Portugal e até mesmo
do Brasil, ex-colônia portuguesa. Vejamos alguns trechos deste poema, para
percebermos como o sentimento nacionalista de Maia Ferreira o distanciou
afetivamente de sua nação, gerando uma afinidade maior com a pátria do
colonizador.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="color: #202122; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Minha terra não tem os cristaes<br />
Dessas fontes do só Portugal,<br />
Minha terra não tem salgueiraes,<br />
Só tem ondas de branco areal.<br />
<br />
Em seus campos não brota o jasmim,<br />
Não matisa de flôres seus prados,<br />
Não tem rosas de fino carmim,<br />
Só tem montes de barro escarpados.<br />
<br />
Não tem meigo trinar — mavioso<br />
Do fagueiro, gentil rouxinol,<br />
Tem o canto suave, saudoso<br />
Da Benguella no seu arrebol,<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--></span></i><i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">[...]<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Tem palmeiras de sombra copada <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Onde o soba de tribo selvagem, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Em c’ravana de gente cansada, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Adormece sequioso de aragem. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Empinado alcantil dos desertos <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Lá se aninha sedento Leão <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Em covis de espinhais entr’abertos, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Onde altivo repousa no chão.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Nesses montes percorre afanoso, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">A zagaia com força vibrando, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">O Africano guerreiro e famoso <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">A seus pés a pantera prostrando.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Não tem virgens com faces de neve <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Por que lanças enriste Donzel, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Tem donzelas de planta mui breve, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Mui
airosas, de peito fiel. (FERREIRA, 2002, p. 27).<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">[...]<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Não é pátria dos Vates da América <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Que em teus cantos, com maga harmonia, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Na Tijuca em seu cume sentado <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Decantaste em tão bela Poesia. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Não os tem; porque em terra africana <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Não há cisne em gentil Guanabara, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Mais mimosa, mais bela e mais rica <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Do que
o oiro do meu Uangara (FERREIRA, 2002, p. 29).<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">[...]<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Vi as belezas da terra, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Da tua terra sem igual, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Mirei muito do que encerra <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">O teu lindo Portugal, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">E se invejo a lindeza, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Da tua terra a beleza, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Também é bem portuguesa <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">A
minha terra natal (FERREIRA, 2002, p. 31).<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">[...]<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Também invejo o Brasil <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Sobre as águas a brilhar, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Nesses campos mil a mil, <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Nesses montes dalém-mar. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Invejo a formosura <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Desses
prados de verdura,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">Inspirando
com doçura <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt;">O
Poeta a decantar (FERREIRA, 2002, p. 31).</span></i><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A circulação das influências: análise:</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> Alfredo Bosi, em “<i>História
concisa da literatura brasileira</i>”, afirma que Gonçalves Dias “foi o
primeiro poeta autêntico a emergir em nosso Romantismo” (BOSI, 2006, p.104).
Quanto a Maia Ferreira, embora sua obra seja a primeira a ser publicada em
língua portuguesa por um autor africano, e seus poemas datem de 1849 – três anos
após o lançamento dos poemas de Gonçalves Dias – ela, sua obra, só foi devidamente
reconhecida no ano de 1967.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> No poema “<i>Canção do exílio</i>”,
Gonçalves Dias, manifesta a intenção de apresentar um país sem igual. Afastado
de sua terra natal, devido aos estudos, o eu lírico, passa a exaltar sua
pátria, em comparação à terra estrangeira. A natureza exuberante é destacada
pelo poeta como sendo essencial para que se encontre os amores e os prazeres
que podem proporcionar a verdadeira satisfação na vida. Esse é o aspecto
principal da pátria, sua beleza natural incomparável. Valendo-se da oposição
dos advérbios “cá” – referindo-se a Portugal – e “lá” – em referência ao Brasil
–, Gonçalves Dias, constrói ritmadas redondilhas que denotam a comparação. As
marcas do romantismo, ficam evidentes no poema, especialmente pelo evasionismo
do eu-lírico, que se refugia em sua terra natal ao “cismar – sozinho, à noite”.
A religiosidade, também está presente no poema, na estrofe final que traz um
tom de oração: “Não permita Deus que eu morra”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> O sentimento nacionalista do poeta não
pode ser colocado em dúvidas. Pelo contrário, seus sentimentos ficam tão
evidentes, que até mesmo, dois versos deste poema (<i>Nosso céu tem mais
estrelas</i> [...]/ <i>Nossas várzeas têm mais flores</i>), passaram a compor o
hino nacional brasileiro – o símbolo maior de patriotismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> Dessemelhante do poeta brasileiro,
Maia Ferreira inicia seu poema com um tom de humildade. As belezas que merecem
ser afamadas, não são as de sua terra natal, mas sim as da bela Portugal.
Comentando sobre essa atitude, Corrado (2010), diz que o poema “resume
perfeitamente o dilema dos assimilados, cuja formação cultural estritamente
euro-brasileira tinha que ser adaptada à nova exigência de afirmar um
sentimento de identificação com a terra natal africana” (CORRADO, 2010). A
relação com Gonçalves Dias neste trecho está, portanto, no fato de haver uma
comparação, mas o tom de enaltecimento da terra natal, se encontra apenas no
poeta brasileiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> Ao passo que Gonçalves Dias usa
termos que exaltam sua terra natal, o Brasil, Maia Ferreira, utiliza o termo “<i>só</i>”,
inferiorizando seu país de origem, em comparação com as terras lusitanas: “<i>Minha
terra não tem os cristaes/ dessas fontes do só Portugal</i>” e ainda
acrescenta: “<i>Em seus campos não brota o jasmim, / Não matiza de flores seus
prados/ Não tem rosas de fino carmim, / Só tem montes de barro escarpados</i>”
(FERREIRA, 2002, p.26). Para Bosi (1992), historicamente, ocorre, com os povos
colonizados, o que ele chamou de “<i>Dialética da colonização</i>”, em que o colonizado
se sente inferior diante da colônia, acreditando que dela vem o poder e em
todas as coisas ela é superior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: #FEFEFE; line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Conclusão:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Em
nossa análise comparativa entre as literaturas brasileira e angolana, por meio
dos poetas Gonçalves Dias e Maia Ferreira, percebemos que ambos têm por
objetivo a exaltação da terra, a qual consideram como sua. Desta forma,
enquanto que o sentimento nacionalista gera uma reação em Gonçalves Dias, ele
se diferencia em Maia Ferreira, provocando uma inversão, ou seja, um
distanciamento afetivo de sua terra de origem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> O
poeta brasileiro, aclama a superioridade de sua terra natal, dizendo que nela
há “<i>mais aves que gorjeiam, mais
estrelas, mais flores, mais palmeiras, mais amores, mais prazeres, mais
primores e mais sabiás</i>”, tornando essa terra superior até mesmo a Portugal,
a terra do colonizador. Já para o poeta angolano, sua terra natal é inferior
diante de Portugal, pois “<i>só</i> <i>tem ondas de branco areal, só tem montes de
barro escarpados, só tem raios de sol a queimar</i>”. Nesse só ter faltoso, a
pátria, “<i>não tem cristaes, não tem
salgueirais, não brota o jasmim, não tem meigo trinar-mavioso, não tem
brilhante primavera, não tem brisa lasciva</i>”. Por fim, finaliza o poeta: “<i>Nada tem minha terra natal / Que extasie e
revele primor, / Nada tem, a não ser dos desertos / A solidão que é tão grata
ao cantor</i>” (FERREIRA, 2002, p.31).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Em
conclusão, podemos dizer que a circulação de influências, embora seja real, nem
sempre provoca a reação esperada, pois a natureza aberta de uma obra,
possibilita diferentes leituras em diferentes contextos. Não estando, portanto,
condicionada a um horizonte cultural estável de estruturas de sentimentos que
integram um determinado tempo, espaço e sociedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Referências
Bibliográficas:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">BOSI,
Alfredo. <b>Dialética da colonização</b>.
São Paulo: Companhia das Letras, 1992.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">BOSI,
Alfredo. <b>História Concisa da Literatura
Brasileira</b>. São Paulo: Cultrix, 2006.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">CORRADO,
Jacopo. <b>À procura das influências
brasileiras na construção literária angolana</b>: o caso José da Silva Maia
Ferreira. Maringá: 4º CELLI – Colóquio de Estudos Linguísticos e Literários,
2010.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">DIAS,
Gonçalves. <b>Poesias</b>. Seleção de
Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: Agir, 1969. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">FERREIRA,
José da Silva Maia. <b>Espontaneidade da
minha alma</b>: às senhoras angolanas. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda,
2002.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">FREITAG,
Bárbara. <b>Cidade dos Homens. </b>Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">HOLANDA, Sérgio
Buarque. <b>Raízes do Brasil</b>. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995.</span>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-11592037879080829632020-01-13T10:46:00.002-03:002020-01-13T10:46:36.390-03:00O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E AS QUESTÕES AMBIENTAIS<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O desenvolvimento
sustentável está intimamente ligado às questões ambientais, na verdade, essa é
a sua grande preocupação: o meio ambiente, o futuro do planeta, etc. O conceito
de desenvolvimento sustentável se popularizou a partir de 1987, ano em que a
Organização das Nações Unidas (ONU), publicou o “Relatório Brundtland”. Neste
documento o desenvolvimento sustentável é concebido como: “O desenvolvimento
que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Ou seja, o
desenvolvimento econômico deveria caminhar lado a lado com as questões
ambientais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> Contudo, o deslumbramento dos avanços
tecnológicos, tem feito com que algumas questões ambientais fiquem em segundo
plano. Por exemplo, o crescimento das grandes indústrias gerou milhares de
empregos; a produção de centenas de carros, tornou os preços acessíveis a uma grande
parcela da população; a ampliação das usinas energéticas, possibilitou a
eletrificação de milhares de casas, tanto na cidade como no campo. Mas, essas
melhorias, não levam em conta a produção de gases que se misturam com o vapor
de água, existente na atmosfera, que ao se acumularem nas nuvens, se condensam
e voltam em forma de chuva, só que no caso: chuva ácida (quando a água tem ph
menor que 5,6, ela é considerada ácida).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O desenvolvimento
sustentável se encaixa exatamente neste dilema: usar os recursos naturais,
avançar tecnologicamente sem esquecer dos efeitos que esse “progresso” possa
ter sobre as gerações futuras. Quando o
desenvolvimento econômico deixa de lado as questões ambientais, ele deixa de
ser algo bom, desejável, e se torna uma fonte de dor de cabeça, se torna um
problema, talvez não para os que estão lucrando ou se beneficiando com esse
desenvolvimento, mas, em um curto período de tempo o reflexo das ações sem
responsabilidades vem à tona e cobram um preço altíssimo. O pior da situação é
que na maioria das vezes os danos são irreversíveis.<o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> Por meio da educação
ambiental, é possível incorporar as dimensões sociais, políticas, econômicas,
culturais, ecológicas e éticas, de modo a promover uma ação multidisciplinar em
prol da sustentabilidade. Portanto, não existe desenvolvimento sustentável sem
que haja conscientização por parte das pessoas e até mesmo das empresas. O
desenvolvimento sustentável não descarta as questões econômicas, muito pelo
contrário, a economia é um fator de extrema importância para espalhar a ideia
de um mundo sustentavelmente melhor.</span></div>
Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-55964560840573876722020-01-13T10:43:00.000-03:002020-01-13T10:47:07.212-03:00AS LEITURAS POSSÍVEIS QUE O OLHAR CONTEMPORÂNEO PRODUZ SOBRE A MULHER, A PARTIR DA LEITURA DOS CONTOS: “PAI CONTRA MÃE” E “A CARTOMANTE” DE MACHADO DE ASSIS.<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Introdução<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao fazermos uma leitura
focada em perceber a visão produzida sobre a mulher em obras literárias como os
contos de Machado de Assis – “Pai contra mãe (1906)” e “A cartomante (1884)” –
poderemos, de forma parcelar, apreender a mulher enquanto objeto da visão de
outras personagens ou do narrador e a mulher enquanto sujeito dessa visão. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Desta forma, apesar de fazermos
uma análise rasa, esperamos responder a questionamentos tais como: Nos contos
analisados, a mulher é entendida como sujeito de ação e de reflexão? Ou tem
papel pertinente apenas enquanto objeto de mediação dos respectivos narradores
e/ou personagens? E, será que houve uma evolução na visão da mulher, a partir
destas obras?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
escritor e suas obras<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Machado de Assis, como
escritor engajado, dirigiu sua crítica à sociedade burguesa buscando expor as
injustiças existentes em sua época. Ele, compreendeu o dilema vivido pelas
mulheres e entendeu que as suas limitações não eram inerentes ao gênero
feminino, mas às restrições que lhes eram impostas pela sociedade conservadora.
O escritor, portanto, adota um posicionamento feminista, no que tange a
compreensão e denúncia dos abusos perpetrados para com as mulheres.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Outro aspecto que chama a
atenção nos contos de Machado de Assis, em relação à sua visão sobre as
mulheres, é que ele encarou o sexo, não no seu aspecto fisiológico, segundo a
voga naturalista, mas na importância específica que pode assumir nas relações
entre as pessoas, e também como instrumento de opressão e poder.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A partir destas
informações sobre o escritor analisaremos os contos “Pai contra Mãe (1906)” e
“A Cartomante (1884)”, buscando fazer uma interpretação da obra machadiana como
“fruto da sociedade da segunda metade do século XIX, mas que também não pode
ser vista como seu reflexo puro e simples, sendo o contexto sócio-histórico seu
elemento estruturador (SILVA, 2008). Percorreremos, também, alguns textos
contemporâneos que refletem o olhar da sociedade sobre o papel desempenhado
pelas mulheres.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As
mulheres na literatura</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No conto “Pai Contra
Mãe”, Machado de Assis apresenta a situação dos negros e da mulher que ainda
precisam lutar por igualdade. O autor aborda também a questão da doação de um
filho e a forma com que o ser humano lida com as decisões que toma, neste caso,
a atitude tomada por Cândido após ver as consequências de sua escolha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O título do conto, logo
de começo, traz à tona a tensão da disputa entre o “Pai”, Cândido (homem,
branco, livre), cujo nome significa “de grande alvura; muito branco, com
sentido figurado que apresenta pureza, inocência; que denota candura”, e a
“Mãe, Arminda (mulher, negra, escrava), cujo nome significa “mulher do exército
ou militar; a que possui armas”. Ele, pretende salvar o seu filho. Ela,
grávida, só deseja fugir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A grande ironia fica por
conta da situação em que é colocado o protagonista: para salvar a vida do
filho, Cândido tem que entregar a escrava fugida aos seus senhores que, na luta,
acaba abortando. No confronto entre os personagens temos as mesmas razões de
luta – a família, a prole – mas, para a satisfação de um dos lados, será
preciso que o outro sofra. Na verdade, o lado feminino e escravo, tem desde o
início seu destino selado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O conto machadiano,
permite que vislumbremos na narrativa, uma análise do comportamento humano:
para salvar uma criança, Cândido permite a morte de outra. Sua fala ao final do
conto é bastante expressiva: “Nem todas as crianças vingam”. É o ser humano
construindo as justificativas para os gestos mais baixos, para as atitudes mais
reprováveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No conto “A Cartomante”,
Machado de Assis, estabelece como núcleo temático o amor, o ciúme e o
adultério. O amor de Rita e Camilo constitui um adultério penalizado com o
assassinato de ambos. Vilela, o marido, age movido pelo ciúme. Porém, todos os
personagens apresentam complexidades que os dotam de contradições, com atitudes
ora boas ora más, ora generosas ora sórdidas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Rita, no alto dos seus
trinta anos, é apresentada como sendo uma “dama formosa e tonta”, “graciosa e
viva nos gestos”, tem “olhos cálidos” e “boca fina e interrogativa”, segundo o
narrador ela “era mulher e bonita” e, por fim, a atração recíproca entre ela e
Camilo se dá justamente pela compatibilidade de gênios, ela: “tonta”, que
significa “simplória, ingênua” e ele descrito como tendo na ingenuidade sua
principal característica. A personalidade de ambos, se contrapunha com a de
Vilela, descrito como homem de gravidade nos tratos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A história, de amizade,
amor e adultério termina em feminicídio seguido de homicídio. O assassino é um
“advogado e ex-magistrado”, um homem que foi a lei, conhece a lei, e acima de
tudo “age dentro da lei”. Segundo Fonseca (2012), o Código Criminal Brasileiro,
vigente na época do acontecimento narrado, estabelecia “no Livro V, tit.
XXXVIII: Achando o homem casado sua mulher em adultério, licitamente poderá
matar assim a ela, como o adúltero”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Machado de Assis, ao
criar esse desfecho, atribuindo o feminicídio a um personagem refletido, grave,
advogado e ex-magistrado, denuncia a sociedade de sua época como patriarcal e
machista, que considera a mulher como propriedade; e o Estado que sacramenta
esta atitude.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em continuidade à
temática da violência contra a mulher, Helena Martins, repórter da Agência
Brasil, publicou em 27/08/2017, um artigo que se intitulava: “Taxa de
feminicídios no Brasil é a quinta maior do mundo”. A autora apresenta dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS), que apontam para um aumento de 54% no
assassinato de mulheres, entre os anos de 2003 a 2013. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O citado periódico,
apresenta também, os esforços do governo brasileiro em atacar o problema da
violência contra o gênero feminino. Dentre as investidas está a criação, em 2006,
da Lei Maria da Penha, reconhecida mundialmente como uma das melhores
legislações para combater e desnaturalizar a violência contra a mulher.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Abordando o tema da
violência contra a mulher, Silva e Oliveira (2014), empreenderam uma
dispendiosa pesquisa nas publicações cientificas, que tratam da questão
feminina entre os anos 2009 e 2013. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O
estudo identificou a violência física, sexual e psicológica como sendo as principais
causas de denúncias apresentadas pelas mulheres. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">A literatura
descreve diversos fatores associados à violência doméstica, que perpetuam esta
condição para as mulheres, tais como: os antecedentes familiares de atos
violentos, o uso de álcool pelo parceiro, o desemprego, a pobreza, o baixo
nível socioeconômico da vítima, o baixo suporte social ofertado à mulher e a
dependência emocional em relação ao agressor. (SILVA e OLIVEIRA, 2014, p. 2)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Segundo as autoras, para
combater a crescente violência é preciso promover uma postura de enfrentamento
que implica na desconstrução de ações aceitas culturalmente como o direito do
homem de dispor da companheira. Silva e Oliveira (2014), citam que é preciso
desconstruir as “normas sociais e padrões culturais, tanto de homens quanto de
mulheres, os quais confirmam, autorizam, naturalizam e banalizam a dominação
masculina sobre a mulher”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Conclusão:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As análises dos contos
machadianos permitiram percebermos como a violência da estrutura social
brasileira é representada pelo escritor, revelando seu posicionamento crítico à
sociedade de sua época. Relacionado, especificamente, à questão feminina,
constatamos que Machado de Assis critica os horrores do sistema patriarcal
machista, percebido em toda uma sociedade, que cria justificativas para a busca
de seus interesses pessoais, sendo, portanto, os responsáveis pela promoção da
violência social que se perpetua no ciclo vicioso infindável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Trazendo a discussão para
a atualidade, percebemos que o autoritarismo permanece, embora revestido de uma
aparência democrática nas nossas relações sociais e em nossas instituições
políticas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Desta forma, vimos em
nossa análise, que a questão da violência contra as mulheres, atualmente, é
vista como um problema social cuja relevância tem ganhado visibilidade devido a
serem veiculadas em jornais e revistas brasileiras. Há uma tendência crescente,
no reconhecimento das agressões contra o sexo feminino, como sendo um problema
de saúde pública, com a necessidade de intervenções por parte das autoridades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Apesar de ainda não
existirem elementos suficientes para lidar com a totalidade da complexidade do
fenômeno das questões femininas, esta temática está estreitamente vinculada aos
movimentos feministas e tem sido objeto de pesquisas. Por isso, esperamos que
tais movimentos despertem, de maneira crítica, a percepção da sociedade para a
desconstrução do espírito machista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Referências
Bibliográficas:</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">ASSIS,
Machado de. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A Cartomante</b>. Obra
completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1994. V. II.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">______.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Pai Contra Mãe</b>. Texto proveniente
de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <span class="MsoHyperlink"><a href="http://www.bibvirt.futuro.usp.br/">http://www.bibvirt.futuro.usp.br</a></span>
Acesso em 07 de outubro de 2019.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">FONSECA,
Daniel Gomes da. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Não as matem!</b> A
figuração do uxoricídio em “A Cartomante” de Machado de Assis. Entreletras,
Araguaína – TO, v. 3, n. 1, p. 39-52, jan/jul. 2012.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">MARTINS,
Helena. Taxa de feminicídio no Brasil é a quinta maior do mundo. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Agência Brasil</b>. Brasília. Publicado em
27/08/2017.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">SILVA,
Eliane da Conceição. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Estudos da
violência</b>: uma análise sociológica dos contos de Machado de Assis.
Dissertação (Mestrado em Sociologia), Universidade Estadual Paulista, Faculdade
de Ciências e Letras, Campus de Araraquara. 2008, 195 f.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">SILVA,
Lídia Ester Lopes da; OLIVEIRA, Maria Liz Cunha de. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Violência contra a mulher</b>: revisão sistemática da produção
científica nacional no período de 2009 a 2013. Dissertação (Mestrado
Profissional em Ciência para a saúde), Escola Superior de Ciências da Saúde, Brasília,
DF. 2014. <o:p></o:p></span></div>
<br />Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-46997325069691542672018-11-17T11:08:00.000-02:002019-11-22T14:34:28.646-03:00Reinhart Koselleck - Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos - resenha<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">KOSELLECK,
Reinhart. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Futuro passado</b>: contribuição
à semântica dos tempos históricos; tradução do original alemão Wilma Patrícia
Maas, Carlos Almeida Pereira; revisão da tradução César Benjamin. Rio de
Janeiro, RJ: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Apresentação:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Historie</span></i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">, termo alemão
para História, era usado, até a metade do século XVII, para descrever os
eventos isolados que poderiam servir como guia ou modelo para situações atuais.
Como exemplo, podemos citar a história de Florença, a história da Igreja, a
história das Guerras e assim por diante. Até essa época, entendia-se que a
experiência humana do passado estava fundamentada em um saber ético do
presente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
O termo, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">historie</i>, sofreu uma mudança, de acordo com as transformações da
sociedade humana, durante o Iluminismo, referentes às relações do homem com o
tempo, em especial a relação passado-presente. Desta forma, em vez de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">historie</i>, o termo que passou a ser
empregado foi <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>, que
basicamente designa uma sequência unificada de acontecimentos ou eventos que
constituem a marcha da humanidade.<o:p></o:p></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
As mudanças semânticas dos
conceitos e as transformações proporcionadas pela linguagem atualizada, são os
elementos centrais dos estudos desenvolvidos por Reinhart Koselleck, reunidos
no livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Futuro Passado</i>. Koselleck,
retoma assim, o projeto de Dilthey, que segue uma tradição hermenêutica
orientada a reconstruir os significados que se sedimentam nas objetivações
empíricas do sentido. Koselleck, segue também os passos de um de seus mestres,
Hans-George Gadamer, que entendia a linguagem como sendo “a primeira
interpretação global do mundo” que, por sua vez “é sempre um mundo interpretado
na linguagem”.<o:p></o:p></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
Adepto da escola da “história dos
conceitos”, Koselleck, juntamente como Otto Brunner e Werner Conze, seus
mestres, organizaram, na década de 1960, o monumental dicionário histórico dos
conceitos político-sociais fundamentais da língua alemã, cujo objetivo era
conhecer “a dissolução do mundo antigo e o surgimento do moderno por meio de
sua apreensão conceitual.<o:p></o:p></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
Em sua obra, Koselleck, argumenta
que a modernidade é caraterizada por sua nova percepção do tempo. Assim, em
termos gerais, os seus ensaios, abrangem a questão do tempo histórico, com sua
apreensão e definição. <o:p></o:p></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
A história dos conceitos, segundo
Koselleck, faz uma análise das transformações históricas de longa duração,
especialmente no período entre 1750 e 1850, que marcam a “emergência da
modernidade”. O autor abrange também a relação existente entre a história dos
conceitos e a história social.<o:p></o:p></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Do ponto de vista historiográfico, a especialização na
história dos conceitos teve não pouca influência sobre as investigações
conduzidas pela história social. [...] ao longo da investigação da história de
um conceito, tornou-se possível investigar também o espaço da experiência e o
horizonte de expectativa associados a um determinado período, ao mesmo tempo em
que se investigava também a função política e social desse mesmo conceito. Em
uma palavra, a precisão metodológica da história dos conceitos foi uma
decorrência direta da possibilidade de se tratar conjuntamente espaço e tempo,
com a perspectiva sincrônica de análise (KOSELLECK, 2006, p.104).<o:p></o:p></span></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
Portanto, Koselleck, afirma que a
história dos conceitos não só contribui para a história social, como, esta
disciplina, não poderia ser praticada sem aquela, pelo menos no que se refere
ao recorte cronológico analisados em sua obra.<o:p></o:p></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
Nascido na Alemanha, em Gorlitz, no
ano de 1923, Koselleck, passou pela dura experiência de combater na frente de
guerra como soldado do exército de Hitler. Derrotado, foi feito prisioneiro em
um campo de concentração russo. Na década de 1950, iniciou-se na carreira acadêmica.
Alguns estudiosos, dizem que a obra de Koselleck, devem ser entendidas como uma
tentativa de compreender os fundamentos da modernidade, sem, contudo, declinar
da necessidade de enfrentar as experiências vividas na segunda guerra mundial.<o:p></o:p></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
O livro, de Koselleck, divide-se em
três partes: 1) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sobre a relação entre
passado e futuro na história moderna</i>; 2) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sobre a teoria e o método da determinação do tempo histórico</i>; 3) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sobre a semântica histórica da experiência</i>.
Nos quatorze ensaios que compõem essa obra, o autor, mantem uma questão em
comum: o tempo histórico. Porém, para se chegar a esse tema central, Koselleck,
faz uma profunda investigação sobre vários aspectos da teoria da história.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O futuro passado
dos tempos modernos:</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Na
primeira parte, o autor, situa o surgimento da modernidade, como estando
atrelado ao desenvolvimento das ideias iluministas que, a seu ver, foi uma
política austera, “capaz de eliminar lentamente, do campo da formação e da
decisão da vontade política, as renitentes esperanças religiosas para o futuro,
que então grassavam, depois da desagregação da igreja” (KOSELLECK, 2006, p.29).
Segundo o autor, apesar das predições cristãs para fim completo do mundo, o
curso das coisas humanas não foi prejudicado, ao contrário, “um tempo diferente
e novo foi inaugurado” (KOSELLECK, 2006, p.31). Desta forma,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">A partir de então se tornara
possível referir-se ao passado como uma idade média. Os próprios conceitos – a
tríade Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna – já se encontravam disponíveis
desde o Humanismo, mas foram gradativamente disseminados para a história [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Historie</i>] apenas a partir da segunda
metade do século XVII. Desde então, o homem passou a viver na modernidade,
estando ao mesmo tempo consciente de estar vivendo nela (KOSELLECK, 2006,
p.31).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Koselleck
entende que, “com o advento da filosofia da história” um “incipiente da
modernidade desligou-se de seu próprio passado, inaugurando, por meio de um
futuro inédito, a nossa modernidade” (KOSELLECK, 2006, p.35). Com essa
descrição, O autor, nos fornece, as duas ideias centrais da nossa modernidade:
um futuro inédito e um tempo passível de aceleração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">O tempo que assim se acelera a si
mesmo rouba ao presente a possibilidade de se experimentar como presente,
perdendo-se em um futuro no qual o presente, tornado impossível de se
vivenciar, tem que ser recuperado por meio da filosofia da história. Em outras
palavras, a aceleração do tempo, antes uma categoria escatológica, torna-se, no
século XVIII, uma tarefa do planejamento temporal, antes ainda que a técnica
assegurasse à aceleração um campo de experiência que lhe fosse totalmente
adequado (KOSELLECK, 2006, p.37).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Desta
forma, segundo Koselleck, a modernidade define uma nova forma de relacionamento
dos homens com o tempo e, de alguma forma, com a história.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">História Magistra
Vitae – Sobre a dissolução dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">topos</i>
na história moderna em movimento:</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Ao
estudar sobre as transformações conceituais por que passaram os termos
“história” e “revolução”, Koselleck, entende melhor a emancipação do futuro em
relação ao passado. O autor aponta que, no campo da língua alemã, o termo
estrangeiro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Historie</i>” que
significava, prevalecentemente, o relato, a narrativa de algo acontecido, foi
sendo substituído pela palavra alemã “Geschichte”, significando<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">[...] originalmente o acontecimento
em si ou, respectivamente, uma série de ações cometidas ou sofridas. A
expressão alude antes ao acontecimento [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschehen</i>]
em si do que seu relato. No entanto, já há muito tempo “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>” vem designando também o relato, assim como “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Historie</i>” designa também o
acontecimento. Um empresta seu colorido ao outro. Porém, [...] o termo “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>” fortaleceu-se, ao passo que
“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Historie</i>” foi excluído do uso geral.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Ao
passo que “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Historie</i>” caia em desuso,
outros sentidos, como o de acontecimento [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ereignis</i>]
e de representação afluíam ao termo “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>”,
reforçando o seu significado na modernidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Outro
exemplo, analisado por Koselleck, que ilustra a transformação dos termos com o
passar do tempo é o que aconteceu com o conceito de “revolução”. Na época de
Aristóteles, este conceito significava, grosso modo, um movimento cíclico ou um
retorno. Porém, a partir da Revolução Francesa, de 1789, o entendimento deste
termo foi profundamente alterado. Desde então, este termo, representa todas as
revoluções, mas tendo como base a Revolução Francesa. Uma evolução, segundo o
autor, para a forma de “coletivo singular”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Esta
transformação dos termos citados e de outros, estariam atrelados, de acordo com
o autor, à mudança estrutural temporal da história passada. “Cícero,
referindo-se a modelos helenísticos, cunhou o emprego da expressão <i style="mso-bidi-font-style: normal;">historia magistra vitae</i>”. Esta expressão
permaneceu ilesa por cerca de dois mil anos. Por ser uma expressão do contexto
da oratória, esta carregava em si o potencial de ser explicativa da vida. “O
orador é capaz de emprestar um sentido de imortalidade à história como
instrução para a vida, de modo a tornar perene o seu valioso conteúdo de
experiência” (KOSELLECK, 2006, p.43). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
partir do século XVIII, a velha e potente história [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Historie</i>], passou por transformações radicais, e não somente as
mudanças impostas pelos iluministas, mas, de acordo com Koselleck, “isso
aconteceu na esteira de um movimento que organizou de maneira nova a relação
entre passado e futuro. Foi finalmente “a história em si” [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">die Geschichte selbst</i>] que começou a abrir um novo espaço de
experiência” (KOSELLECK, 2006, p.47). Durante estes acontecimentos a nova história
[<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>] passa a ter o seu
próprio espaço temporal. No lugar do exemplo, premissa da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Historia Magistra Vitae</i>, surgem diferentes tempos e períodos de
experiência, que são passíveis de alternância. Esta mudança se tornou possível,
segundo Koselleck, a partir de uma frase de Tocqueville que caracterizou<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">[...] o advento de um novo tempo
que se inicia. Tocqueville, que em toda sua obra mantém-se atento à experiência
do surgimento da modernidade como uma ruptura com a temporalidade anterior,
disse: “desde que o passado deixou de lançar luz sobre o futuro, o espírito
humano erra nas trevas. ” A formulação de Tocqueville refere-se a uma censura
da experiência da tradição. Atrás dela oculta-se um processo bastante complexo,
que seguia sua trajetória ora de uma maneira invisível, lenta e sorrateira, ora
repentina e abruptamente, e que por fim foi acelerado conscientemente
(KOSELLECK, 2006, p.47-48).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
predominação da nova história [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>]
foi, ao mesmo tempo criticada e ressaltada, justamente por que ela se
distanciou do caráter científico da repetição e se aproximou ou até mesmo
podemos dizer que se transpôs para as fronteiras da poética. Koselleck diz que
“passou-se progressivamente a exigir unidade épica também da narrativa
histórica” (KOSELLECK, 2006, p.50).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Apesar
de ainda ser um exemplo de moral, a nova história [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>], mudou sua “ênfase nos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">res factae</i> em direção aos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">res
fictiae</i>”. Esta nova realidade histórica pode ser comprovada, segundo o
autor, pelo “fato de que também contos, novelas e romances passaram a ser
editados com o subtítulo “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">histoire
véritable</i>” [história verdadeira]”. Desta forma, tanto a ficção, quanto “a
história real”, compartilham “de uma elevada exigência de verdade, de um
conteúdo de verdade do qual a história [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>]
vinha sendo privada desde Aristóteles até Lessing” (KOSELLECK, 2006, p.51).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Critérios
históricos do conceito moderno de revolução:</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
substituição, dos termos referentes a história, sofridas no seio da língua
alemã, acusa uma superação, das noções tradicionais de história, que a dotavam
da capacidade pedagógica e exemplar: a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Historia
Magistra Vitae</i>. Já o conceito de “revolução”, que designava, originalmente,
um movimento circular, passa a apontar – a partir da Revolução Francesa – para
um estado de organização que não mais retornará à sua origem. Abre-se ao
desconhecido, inaugura um novo horizonte de expectativa que não mais está desenhado
no campo da experiência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Que
características definem o campo semântico do termo “revolução” depois de 1789?
Koselleck, passa a citar oito características que possibilitaram essa nova
consciência referente a esse termo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Em
primeiro lugar, Koselleck, cita que se deve “registrar como inédito o fato de
que a “revolução” se transformou, a partir de 1789, em um “coletivo singular”.
Essa mudança é comparada pelo autor com a transformação sofrida pela história,
“que abriga, como “história em si” [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte
schlechthin</i>], as possibilidades de todas as histórias singulares, a
revolução cristaliza-se em um coletivo singular”, que também possibilita todas
as revoluções particulares. Desta forma, a revolução adquire um caráter <i style="mso-bidi-font-style: normal;">meta-histórico</i>, se distanciando por completo
do seu sentido original. Ou seja, “o conceito adquire um sentido
transcendental, tornando-se um princípio regulador tanto para o conhecimento
quanto para a ação de todos os homens envolvidos na revolução” (KOSELLECK,
2006, p.69).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Em
segundo lugar, é preciso levar-se em conta “a experiência de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">aceleração do tempo</i>”. O autor cita que
“quando Robespierre conclamou seus concidadãos a apressar a revolução para
trazer a liberdade à força, pode-se enxergar por trás disso um processo
inconsciente de secularização das expectativas apocalípticas de salvação”
(KOSELLECK, 2006, p.69). Hoje, devido à explosão demográfica e à capacidade
técnica, esta é uma experiência política quotidiana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Em
terceiro lugar, “deve-se reconhecer que todos os prognósticos lançados a partir
de 1789 caracterizam-se pelo fato de que contém um coeficiente dinâmico ao qual
se atribui um caráter “revolucionário”, seja qual for sua origem” (KOSELLECK,
2006, p.70). Houve, portanto, uma disseminação da tendência revolucionária.
Todos os movimentos políticos passam a ter o caráter de revolução.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Em
quarto lugar, Koselleck, destaca que o contínuo adiamento das perspectivas
futuras, adiou também a perspectiva em direção ao passado. “Abriu-se um novo
espaço de experiência cujos pontos de fuga remetiam a diferentes fases da
Revolução de 1789” (KOSELLECK, 2006, p.70). Cada observador, podia, a partir
desse pressuposto, tomar, não a revolução como um todo, mas a parte que mais
lhe interessa e, partindo desse ponto tirar conclusões aplicáveis ao futuro. “A
revolução, desde então, transformou-se para todos em um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">conceito perspectivista dentro da história da filosofia</i>, que
apontava para uma direção irreversível” (KOSELLECK, 2006, p.71).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Em
quinto lugar, na modernidade o conceito de revolução se diferencia quanto ao
trajeto, “a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">passagem da revolução
política à revolução social</i>”. Apesar de todos os movimentos políticos terem
em si desordens sociais, Koselleck, destaca que a revolução pós 1789 é
diferente quanto “a ideia de que o objetivo de uma revolução política seja a
emancipação de todos os homens e a transformação da estrutura social”
(KOSELLECK, 2006, p.71). O princípio que tornava esse tipo de concepção
possível, de acordo com o autor, se pauta na formula cunhada pelo jovem Marx:
“toda revolução desfaz a velha sociedade; nesse sentido, ela é social; toda
revolução derruba o velho poder; nesse sentido, ela é política” (KOSELLECK,
2006, p.72).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Em
sexto lugar, o termo “revolução”, na sua formulação moderna, pretende, “do
ponto de vista geográfico, uma<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> revolução
universal</i> e, do ponto de vista temporal, uma revolução <i style="mso-bidi-font-style: normal;">permanente</i>, até que seus objetivos fossem cumpridos” (KOSELLECK,
2006, p.72). Ora, se é uma revolução que afeta toda a terra, ela terá que durar,
pelo menos até que toda a terra seja afetada pelo ideário propagado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Em
sétimo lugar, deve-se levar em conta o entendimento da revolução na modernidade
como meta-histórica, a partir dessa compreensão é preciso entendé-la como uma
“reivindicação consciente de dominação por parte daqueles que se viram
iniciados nas leis de progressividade de uma revolução entendida como tal.
Emerge então o termo revolucionamento [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Revolutionierung</i>]
e o verbo dele derivado, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">revolucionar</i>”
(KOSELLECK, 2006, p.75).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Em
oitavo lugar, Koselleck, destaca a “combinação do que uma revolução em curso
realiza e do que ela deve realizar”, produzindo o que ele chamou de “a
legitimação da revolução”. Stahl, em 1948, criou o termo “revolução absoluta”
(KOSELLECK, 2006, p.75), com o objetivo de localizar no próprio movimento
revolucionário a legitimação de suas ações. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Ao passo que a legitimidade da
Restauração permanecia atada à noção de tradição, a legitimidade revolucionária
tornava-se um coeficiente dinâmico, que direcionava a história a partir de determinadas
perspectivas do futuro. Ranke afirmava, ainda em 1841, que a “desgraça da
revolução é que ela não é ao mesmo tempo legítima”. Já Metternich reconheceu
esse estado de coisas de maneira mais precisa, quando observa, em tom
sarcástico, que os próprios legitimistas tornaram legítima a revolução
(KOSELLECK, 2006, p.75-76).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Portanto,
Koselleck, mostra até o momento que é possível deduzir que, da disputa
linguística surge uma nova consciência do tempo por partes dos agentes
históricos. Chegamos, então, a entender a abordagem de Koselleck quanto ao
tempo histórico. O autor nos mostra que ele, o tempo histórico, é uma criação
histórica e, portanto, está sujeito a modificações ao longo da própria
história. Ademais, como diz Koselleck, “a história dos conceitos, mesmo quando ideologicamente
comprometida, nos lembra que a relação entre as palavras e seu uso é mais
importante para a política do que qualquer outra arma” (KOSELLECK, 2006, p.77).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">História dos conceitos
e história social:</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Na
segunda parte de sua obra, Koselleck, traz um ensaio interessante em que ele
empreende uma busca pela possibilidade de determinação temporal, propondo
também o estabelecimento de uma relação muito mais complexa entre a história
social e a história dos conceitos. Ilustrando a importância de se compreender
esse relacionamento difícil, o autor cita as palavras de Epiteto: “não são os
fatos que abalam os homens, mas sim o que se escreve sobre eles”. Essa sentença
nos lembra “a força peculiar às palavras, sem as quais o fazer e o sofrer
humanos não se experimentam nem tampouco se transmitem” (KOSELLECK, 2006,
p.97).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
relação entre a história social e a história dos conceitos, na visão do autor,
de princípio pode parecer um pouco lasso, pois, enquanto a história dos
conceitos “se ocupa, predominantemente, dos textos e vocábulos”, a história
social, “se serve dos textos apenas para deduzir, a partir deles, a existência
de fatos e dinâmicas que não estão presentes nos próprios textos” (KOSELLECK,
2006, p.97). No entanto, a análise seguinte mostra que a história social, para
ser precisa em suas pesquisas, não pode abrir mão das perspectivas teóricas da
história dos conceitos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Por
outro lado, apesar da história dos conceitos, ter certa autonomia metodológica,
tendo por base os métodos “da história da terminologia filosófica, da gramática
e filologia históricas, da semasiologia e da onomasiologia” (KOSELLECK, 2006,
p.97), ela não se constitui um fim em si mesma ao passo que as investigações do
campo semântico dos principais conceitos de uma sociedade específica, aponta
para um resultado polêmico, que se orienta para o presente, assim como para um
planejamento futuro. Portanto, a história dos conceitos e a história social,
têm em comum, o fato de precisarem determinar quando um conceito específico
passou a ser empregado de forma abrangente, possibilitando uma transformação
social e política de profundidade histórica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">O método da história dos conceitos
é uma condição <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sine qua non</i> para as
questões da história social exatamente porque os termos que mantiveram
significado estável não são, por si mesmos, um indício suficiente da manutenção
do mesmo estado de coisas do ponto de vista da história dos fatos; por outro
lado, fatos cuja alteração se dá lentamente, a longo prazo, podem ser
compreendidos por meio de expressões bastante variadas (KOSELLECK, 2006,
p.114).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
disciplina histórica emergente, segundo Koselleck, transformou o passado em
história, conhecido de forma neutra, por meio de um método especializado.
Agora, um pesquisador agencia os fatos do passado em sucessão e lhes oferece um
sentido. Esta história abstrata é, portanto, de responsabilidade do homem, é
uma criação, que por sua vez, tem um rumo conhecido. Por isso, Koselleck, diz
que ocorreu uma fusão da diacronia e da sincronia. A história continua sendo
vista de forma estática, não é entendida como dinâmica, como causadora de
novidade no futuro. Assim sendo, “a história social que queira proceder de
maneira precisa não pode abrir mão da história dos conceitos, cujas premissas
teóricas exigem proposições de caráter estrutural” (KOSELLECK, 2006, p.118).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">História,
histórias e estruturas temporais formais:</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
distinção entre palavra e conceito, está intimamente ligada à problemática da
singularidade do conceito, como diz Koselleck. O conceito ultrapassa a
utilização da língua, está relacionado àquilo que se deseja saber, conhecer, ou
seja o seu contexto. O autor, relembra a ideia desenvolvida no terceiro livro
das leis de Platão, em que ele, “investigou a história do nascimento da
diversidade constitucional daquela época”. A conclusão desta análise é de que o
sentido de uma palavra pode ser determinado pelo seu uso. “Platão trabalhou,
hoje poderíamos dizer, com hipóteses temporais, de modo a deduzir uma gradação
temporal e histórica da história das constituições a partir desta última”
(KOSELLECK, 2006, p.124). Portanto, uma palavra se torna um conceito se a
totalidade das circunstâncias político-sociais e empíricas, nas quais e para as
quais essa palavra é usada, se agrega a ela. Segundo Koselleck, conceitos são
vocábulos nos quais se concentram uma multiplicidade de significados. “Tais
formas estão sujeitas a condicionamentos, tal como Aristóteles as tinha
analisado na política, tendo criado, a fim de transpô-las, um espaço
“histórico” em parceria com seu próprio tempo” (KOSELLECK, 2006, p.125).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
significado e o significante, para Koselleck, coincidem na mesma medida em que
a multiplicidade da realidade e da experiência histórica se agrega à capacidade
de plurissignificação de uma palavra, de forma que seu significado só possa ser
conservado e compreendido por meio dessa mesma palavra. Ao passo que, em uma
palavra temos a possibilidade de significado, em um conceito se encontra uma
totalidade de diferentes sentidos. Portanto, o conceito, apesar de ser claro, é
sempre polissêmico, possibilitando vários entendimentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Nosso moderno conceito de história
contribuiu para a consolidação das determinações especificamente
histórico-temporais de progresso e de regressão, de aceleração e de
retardamento. Por meio do conceito “história em si e para si” o moderno campo
de experiência foi apreendido assim, como moderno, sob diferentes pontos de
vista. O conceito se articula como um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">plurale
tantun</i> [só plural], um coletivo singular que apreende ao mesmo tempo a
interdependência dos eventos e a intersubjetividade dos decursos das ações”
(KOSELLECK, 2006, p.131).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Quanto
à representação, o autor faz um questionamento “de maneira inversa: em virtude
de quais categorias a história, em seu sentido moderno, pode ser diferenciada
daquelas regularidades identificadas em processos passíveis de repetição? ”
(KOSELLECK, 2006, p.131). A questão que se apresenta é: enquanto narração e
descrição, o problema é direcionado para várias dimensões temporais. No
entanto, os tempos históricos, nos níveis de extensões temporais não se
interpenetram, isto equivale a dizer que, os eventos só podem ser narrados ao
passo que estruturas são descritas, apesar de ambos não serem analisados ou
dispostos em total distância um do outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Representação,
evento e estrutura:</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Koselleck
usa o termo “história estrutural” (KOSELLECK, 2006, p.135), para se referir à
estrutura na história social. Essas estruturas, são capazes de ultrapassar o
campo das experiências cronologicamente registradas e por serem abrangentes,
estas, podem integrar também as experiências de eventos cotidianos. Portanto,
no campo da experiência do movimento histórico, estrutura e evento adquirem
diferentes extensões temporais. Ao passo que a estrutura se aproxima dos campos
da descrição, evento e narração, ocorre uma espécie de articulação, que faz com
que o evento preceda a estrutura. Por outro lado, a longo prazo, as estruturas,
quando objeto de análise, se torna objeto de narrativa. Sobre este ponto
Koselleck diz que:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">existem também estruturas que são
tão duradouras que permanecem guardadas no inconsciente ou na não consciência
daqueles que a viveram, ou cujas alterações se dão a tão longo prazo que
escapam ao conhecimento empírico dos atingidos. Aqui, somente a sociologia ou a
história como ciência do passado podem dar notícia que conduza para além dos
campos de experiência das gerações contemporâneas de então (KOSELLECK, 2006,
p.137).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Para
o autor, “a representação de estruturas aproxima-se mais da descrição, por
exemplo, na antiga estatística do absolutismo esclarecido; já a representação
dos eventos aproxima-se mais da narração, de forma semelhante à história
pragmática do século XVIII” (KOSELLECK, 2006, p.137). Desta forma, os planos
temporais nunca se fundem por mais que se relacionem reciprocamente; dependendo
da investigação um evento pode ter significado estrutural e “duração” e,
portanto, se tornar um evento. Destacando a importância da utilização das
estruturas, Koselleck, diz que sem a utilização de tais, ou seja, se valendo
apenas da narração, haveria uma diminuição da história. Por outro lado, evento
e estrutura, dependendo do nível estrutural a que se encontram, se tornam
abstratos ou concretos e não podem ser narrados. Desta forma, o autor raciocina
que, somente a partir da aproximação dos conceitos de evento, estrutura e história
como ciência é que se pode fazer uma representação histórica que permita
compreender e conceitualizar o passado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Nenhum evento pode ser relatado,
nenhuma estrutura representada, nenhum processo descrito sem que sejam
empregados conceitos históricos que permitam “compreender” e “conceitualizar”
[“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">begreifen</i>”] o passado. Ora, toda
conceitualização [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">begrifflichkeit</i>]
tem alcance mais vasto do que o evento singular que ela ajuda a compreender. As
categorias empregadas na narração de um evento singular, por meio da linguagem,
não possuem a mesma unicidade temporal que pode ser atribuída ao próprio
evento. À primeira vista, essa afirmação é trivial. Entretanto, ela deve ser
lembrada para elucidar a exigência estrutural que decorre do emprego não usual
de conceitos históricos (KOSELLECK, 2006, p.142).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
história busca transmitir a verdade, para alcança-la é preciso defender algum
ponto de vista – algo dos tempos modernos. A história toma algum ponto de
vista, mas ela precisa, além de fazer afirmações verdadeiras, admiti-las e
relativizá-las. A história busca se defender apresentando êxitos com seus novos
métodos (diversidade de fontes) e criticando o subjetivismo e o relativismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O acaso como
resíduo de motivação na historiografia:</span></b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Koselleck
analisa o acaso como resíduo de motivação na historiografia e as modificações
sofridas por esse termo, tanto no que diz respeito ao seu uso no texto quanto a
apropriação feita pelo historiador. Esse conceito, acaso, segundo o autor,
aparece em várias obras historiográficas e pode ser “avaliado a partir de um
modelo fundamentado na regularidade das ciências naturais, o acaso parece
constituir essência de toda história, mas o caráter datado dessas fórmulas
salta aos olhos” (KOSELLECK, 2006, p.147).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
acaso, portanto, é, segundo Koselleck, uma categoria a-histórica, que se
encontra prioritariamente no presente. Sua utilização na historiografia marca
uma inconsistência de dados, a enunciação de algo hipotético ou uma avaliação
pessoal sobre um evento. O autor compara ainda, acaso com fortuna ou sorte,
colocando os dois termos dentro do campo mítico, desde o estabelecimento da
história moderna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif;">La
Fortune et le hasard sont des mots vides de sens</span></i><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> [A Fortuna e o acaso são palavras
vazias de sentido], constatou o jovem Frederico; brotaram da cabeça dos poetas
e se originaram na mais profunda ignorância de um mundo que deu nomes
imprecisos [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">des noms vagues</i>] a
efeitos de causas desconhecidas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Ponto de vista,
perspectiva e temporalidade – Contribuição à apresentação historiográfica da
história:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
tempo histórico, pode ser entendido, como cita Koselleck, porém, para que se
possa ter um dimensionamento histórico desse tempo é preciso considerar a
assimetria existente entre futuro e passado, paralelamente à noção de progresso
e de modernidade – como tempo ou momento histórico – fazendo crescer assim, o
hiato entre as duas dimensões, formando a hipótese teórica central de que é
possível organizar a vastidão de dados dos materiais de pesquisa e produzir um
sentido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Koselleck
faz uso das metáforas do espelho, do reflexo ou da verdade nua, referindo-se à
visão de contemporaneidade, que está baseada no fundamento da experiência
pessoal vivida no tempo presente, o qual, em sua concepção historiográfica,
valia-se do recurso das testemunhas oculares.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Um indício inequívoco desse
realismo ingênuo, que acredita poder fazer com que a verdade das histórias se
manifeste intacta, é a metáfora do espelho. A imagem que o historiador,
semelhante ao espelho, deve refletir não deve ser deturpada, empalidecida ou
deformada. [...] Uma variante igualmente comum da despreocupação com o ponto de
vista epistemológico está a alegoria da “verdade nua e crua”. Neste ponto, não
se deve subestimar o impulso, de caráter duradouro, que se expressa a partir
dessa metáfora, ou seja, o de permitir que a verdade de uma história fale por
si mesma, se quisermos que essa verdade seja de fato conhecida e surta seus
devidos efeitos (KOSELLECK, 2006, p.164).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
partir destes conceitos, o historiador foi obrigado a interrogar, em primeira
instância, testemunhas oculares, e, em seguida, testemunhas auditivas
sobreviventes, de modo a poder investigar fatos e atos verdadeiros. Com o uso
da retórica, da poética, dentre outras, o historiador se torna uma espécie de artista,
colocado na posição de receptor e condutor de interrogatórios; ao mesmo tempo
mantendo-se imparcial e distante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
Koselleck aponta uma dualidade para
o historiador: a teoria da história e a realidade das fontes. A ciência
histórica leva indagações às suas fontes capazes de permitir a articulação de
uma série de eventos que se situam além do que está posto do documento. Sua
exegese se dá quando o historiador passa a observar processos e estruturas de
longo prazo. Decidir sobre a interpretação de uma história sob o ponto de vista
teológico ou econômico não é tarefa relacionada à pesquisa de fontes, é uma
questão de premissas teóricas. A partir do estabelecimento dessas premissas é
que as fontes começam a falar. <o:p></o:p></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="Default" style="margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 11.0pt;">Uma fonte não pode nos dizer nada daquilo que cabe a
nós dizer. No entanto, ela nos impede de fazer afirmações que não poderíamos
fazer. As fontes têm poder de veto. Elas nos proíbem de arriscar ou de admitir
interpretações as quais, sob a perspectiva da investigação de fontes, podem ser
consideradas simplesmente falsas ou inadmissíveis. Datas e cifras erradas,
falsas justificativas, análises de consciência equivocadas: tudo isso pode ser
descoberto por meio da crítica de fontes. As fontes nos impedem de cometer
erros, mas não nos revelam o que devemos dizer (KOSELLECK, 2006, p.188).<o:p></o:p></span></div>
<div class="Default" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Sobre a semântica
histórica da experiência:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Nesta
última parte de sua obra, Koselleck, passa a analisar alguns pares de conceitos
antitéticos e assimétricos, como: helenos e bárbaros; cristãos e pagãos; homem
e não-homem. Uma interessante abordagem feita pelo autor está relacionada com
os conceitos de experiência e expectativa. Para Koselleck, tanto a expectativa
quanto a experiência, são categorias capazes de entrecruzar o futuro e o
passado. Desta forma, são utilizadas por ele, como instrumentos para lidar e
tematizar aquilo que ele chama de tempo histórico, “pois, enriquecidas em seu
conteúdo, elas dirigem as ações concretas no movimento social político”
(KOSELLECK, 2006, p.308).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Os argumentos,
apresentados pelo autor, nestes ensaios finais, reforçam a tese de que a
história somente se tornou disponível ao homem quando, do ponto de vista
histórico-linguístico, as várias histórias (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Historie</i>),
se transformaram em uma única história (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschitchte</i>),
o que indicaria um novo espaço de experiência e um novo horizonte de
expectativa.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em outras palavras, isto
equivale a dizer que a “história em si” este “singular coletivo” (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>), reunia, a partir de agora,
a soma de todas as histórias individuais dentro de uma história universal. Esse
conceito possibilita, de prontidão, um maior grau de abstração, uma vez que se
reuniu num único conceito uma realidade universal, com uma reflexão totalitária
sobre essa realidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A construção da
história, se dá, a partir do confronto com os vestígios, que carregam traços
que podem ser remontados pelo historiador por meio do uso de interpretação dos
conceitos. O pesquisador, como que mergulha no passado, ultrapassando suas
próprias vivências e recordações, conduzido por perguntas, desejos, esperanças
e inquietudes para transformar os vestígios em fontes que dão testemunho da
história que ele deseja apreender. Neste ponto, Koselleck, diz que a linguagem
das fontes passa a dar o acesso heurístico para a compreensão da realidade
passada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Na gênese da
história singular coletiva (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geschichte</i>)
todas as histórias foram constituídas pelas experiências vividas e pelas
expectativas das que atuam ou que sofrem. Como menciona Koselleck: “a
expectativa se realiza no hoje, é futuro presente, voltado para o ainda-não,
para o não experimentado, para o que apenas pode ser previsto” (KOSELLECK,
2006, p.310). Portanto, experiência e expectativa constituem-se em formas
diferentes, não se coincidindo ao ponto de serem previstas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Isto
pode ser explicado por uma frase do conde Reinhard, que em 1820, depois do
inesperado retorno da revolução na Espanha, escreveu a Goethe: “Tendes toda
razão, meu caro amigo, no que dizeis a respeito da experiência. Para os
indivíduos ela sempre chega tarde demais, para os governos e para o povo ela
nunca está disponível” (KOSELLECK, 2006, p.310).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Koselleck, acusa a
visão iluminista de mundo, pois ao enxergar o homem fora de suas experiências,
toda a Europa foi levada ao pesadelo do Holocausto. Na opinião do autor, a
história não é capaz de fornecer exemplos para a vida. Ao contrário, ela pode
revelar experiências traumáticas e desastrosas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Conclusão:<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
relação futuro passado, na visão do autor, parece ter se acentuado no contexto
da revolução francesa. Nesta ocasião, a experiência do novo, o imprevisto e o
tempo histórico sofreram uma mudança de orientação e, por este motivo,
Koselleck, faz uma análise mais demorada deste período, observando como esta
nova consciência teria se manifestado, pela linguagem, na criação de conceitos
de movimentos que pareciam emancipados do passado: ruptura radical, que marca
ainda hoje nossa relação com o passado e com o futuro. Ou como dito pelo autor:
com o tempo histórico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Utilizando-se
de uma terminologia antropológica, Koselleck, conclui que “entre experiência e
expectativa, constitui-se algo como um ‘tempo histórico’” (KOSELLECK, 2006,
p.16). Isto é, na forma como cada geração lidou com o seu passado (formando seu
campo de experiência) e com seu futuro (construindo um horizonte de
expectativa) surgiu uma relação com o tempo que permite que o caracterizemos
como tempo histórico. Contudo, a modernidade, diz Koselleck, caracteriza-se
pelo progressivo afastamento entre experiência e expectativa:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Passado e futuro jamais chegam a
coincidir, assim como uma expectativa jamais pode ser deduzida totalmente da
experiência. Uma experiência, uma vez feita, está completa na medida em que
suas causas são passadas, ao passo que a experiência futura, antecipada como
expectativa, se decompõe em uma infinidade de momentos temporais (KOSELLECK,
2006, p.310).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
tempo, neste novo entendimento, passa a ser não apenas histórico, mas
historicizado, uma vez que a forma como cada geração trata desta relação entre
futuro passado, irá alterar a realidade a ser vivida. Assim, à medida que o
homem experimenta o tempo como uma expectativa, um sempre inédito, um tempo
moderno, o futuro se torna irreconhecivelmente desafiador.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Sem prejuízo do chiste político,
também aqui se pode mostrar que o que se espera para o futuro está claramente
limitado de uma forma diferente do que foi experimentado no passado. As expectativas
podem ser revistas, as experiências feitas são recolhidas. Das experiências se
pode esperar hoje que elas se repitam e sejam confirmadas no futuro. Mas uma
expectativa não pode ser experimentada de igual forma. É claro que nossa
expectativa do futuro, quer seja portadora de esperança ou de angústia, quer
preveja ou planeje, pode refletir-se na consciência. [...] Sempre as coisas
podem acontecer diferentemente do que se espera: esta é apenas uma formulação
subjetiva daquele resultado objetivo, de que o futuro histórico nunca é o
resultado puro e simples do passado histórico (KOSELLECK, 2006, p.311,312).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Em
uma visão geral, podemos concluir que o autor está revestido de um certo grau
de pessimismo. Talvez, este sentimento tenha sido aflorado, em Koselleck, devido
a atmosfera que pairava sobre a Europa, nos anos 1960 e 1970, fortemente
marcados pelo movimento de “contracultura” e pelo descrédito da razão
iluminista, levando o historiador a empreender um movimento de frenagem do progresso
técnico-mecanicista, que tinha seu suporte político no liberalismo e era
conduzido por um futuro nada certo.<o:p></o:p></span></div>
<br />Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-67779078741874362972018-04-05T11:08:00.001-03:002019-11-22T14:45:42.434-03:00VIGIAR E PUNIR. MICHEL FOUCAULT. RESENHA<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Michel Foucault<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Vigiar e punir –
Nascimento da prisão<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">FOUCAULT,
Michel. <b>Vigiar e punir</b>: nascimento
da prisão; tradução Raquel Ramalhete. 40. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">“Meu
Deus, tende piedade de mim! Jesus, socorrei-me! ” <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Um
apelo assim certamente procede de um ser que se encontra em extremo desespero.
De fato, os gritos aterrorizados, vinham de Robert-François Damiens, condenado
por parricídio, no ano 1757. Damiens vivia em Paris, na época dos suplícios,
que eram castigos infligidos a quem cometesse algum delito. A sentença de
Robert-François foi: ter a carne dos mamilos, dos braços, das coxas e da
barriga das pernas arrancada com tenazes; a mão direita (segurando a faca que
serviu como arma do crime) queimada com fogo de enxofre; as feridas cobertas
com chumbo derretido, óleo fervente, piche, cera quente e enxofre; o corpo
puxado e desmembrado por quatro cavalos; o cadáver reduzido a cinzas e elas
espalhadas aos quatro ventos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Certamente
essa punição não era para ser vista por quem tivesse estômago fraco. Mas, a
execução, na prática, teve seus revezes, e o sofrimento de Damiens foi
grandemente aumentado. As tenazes, afiadas com certeza, não foram suficientes
para arrancar a carne com facilidade, sendo necessário que o carrasco desse
repetidos puxões antes de conseguir arrancá-las. Os cavalos não puderam,
sozinhos, desmembrar o criminoso. O carrasco precisou ajudar. Com uma faca,
cortou as ligações dos braços e das pernas até quase o osso, para que
finalmente, com mais alguns puxões, os braços e pernas fossem arrancados. O
relato de testemunhas diz que ele ainda estava vivo quando o tronco foi jogado
na fogueira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Esse
cruel relato fora retirado, por Michel Foucault, da “Gazette d’Amsterdam” e
apresentado como introdução de seu livro Vigiar e Punir – História da Violência
nas Prisões, ilustrando assim, o primeiro capítulo, “O corpo dos condenados”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O corpo dos
condenados<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Os
suplícios eram considerados como rituais políticos, uma função
jurídico-política, parte integrante das cerimônias de manifestação do poder.
Desta forma, a execução pública, com seus requintes de crueldade, era mais uma
manifestação de força, por parte do governante, do que de fato, um ato de
justiça. Era sobretudo, uma afirmação da correlação de forças que dava poder à
lei. Portanto a cerimônia deveria ser aterrorizante. O que estava por detrás
não era a economia do exemplo, mas a política do medo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Os
suplícios eram, desta forma, dirigidos ao povo. Ao aplicar os castigos, tendo o
povo como plateia, pretendia-se que estes adotassem, talvez movidos pelo medo,
uma postura de submissão às leis do soberano. Porém, não foram raras as vezes
em que o tiro saiu pela culatra. O povo assumia, por vezes, uma atitude
ambígua, invertendo os papeis, apoiando os criminosos e os transformando em
heróis e ridicularizando os poderes da justiça. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Essas
ações de revolta e inversão dos papeis no suplício, ocorria especialmente,
motivados pela agitação dos mais pobres, que não tinham a possibilidade de
serem ouvidos na justiça, podendo em breve serem executados da mesma forma,
mesmo que injustamente. Todo esse movimento levou, os reformadores dos séculos
XVIII e XIX, a exigirem a suspensão dos suplícios. Segundo Foucault, o que
levara ao abandono da liturgia dos suplícios foi, portanto, o medo político dos
efeitos desses rituais e não algum sentimento de humanidade para com os
condenados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A ostentação dos
suplícios<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
justiça era utilizada para regulamentar os suplícios. Segundo Foucault, os
suplícios não eram aplicados de forma despreparada, mas envolviam uma técnica
de punição direcionada ao corpo. Portanto, era uma arte quantitativa do
tormento, que exigia dos executores um cálculo, não exato, mas que mostrasse
certo grau de sofrimento sem que o criminoso morresse antes do término do
procedimento supliciante. Portanto, o suplício não é simplesmente a privação do
direito de viver, mas aplicação graduada e calculada de sofrimentos. Estes
sofrimentos podem ir desde a decapitação – redução do sofrimento em um só gesto
-, que seria o grau zero do suplício, até o esquartejamento que eleva o
sofrimento quase ao infinito. Além disso, poderia ser infligido ao criminoso o
suplício por meio do enforcamento, da fogueira ou da roda, na qual se agoniza
muito tempo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
Lema da justiça, na época dos suplícios era: “Temos o Dever de Trazer à Luz a
Verdade do Crime”. Desta forma, Foucault, diz que a pena era calculada
detalhadamente seguindo regras que envolviam o número dos golpes desferidos, o
tempo que o condenado deveria ficar na fogueira ou na roda e se o “paciente”
deveria ser estrangulado após a tortura e antes que viesse a óbito e que parte
deveria ser mutilada, condicente com cada delito cometido. Todo esse
preparativo visava garantir que o suplício fosse marcante, que desonrasse o
supliciado. Desta forma, cumpriria a função de banir o crime junto com o
criminoso, produzindo uma memória, nos espectadores, de que o crime não
compensa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
processo criminal, o qual o criminoso era condenado, produzia “verdades” que
eram escritas, tornando-se documentos inescusáveis. Porém, tais verdades eram
obtidas de forma secreta, tanto para o público quanto para o acusado –que por
muitas vezes desconheciam o motivo de sua acusação, até o momento em que, os
investigadores, juntavam provas suficientes para condena-lo. Nos
interrogatórios eram utilizadas várias formas de tortura, chamadas de suplícios
da verdade, que visavam a confissão do crime. Portanto, o próprio acusado
participava da produção da verdade penal, que era sua condenação final. No
entanto, mesmo que o acusado resistisse a tortura e não confessasse o crime, os
documentos escritos, obtidos pelos investigadores de modo secreto, já seriam suficientes
para a condenação do indivíduo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
corpo interrogado no suplício era, ao mesmo tempo, o alvo em que seria aplicado
o castigo e do qual se tiraria, por meio da extorsão, a verdade. O cálculo da
pena procurava reparar os prejuízos sofridos pelo Estado, pela sociedade e
também a vingança contra o desordeiro que afrontava a soberania e a ordem.
Desta forma, o suplício como função jurídico-política, ocorria para a
reconstrução da soberania lesada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A punição
generalizada<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Foucault,
relata neste capítulo, a forma com que a justiça do soberano era aplicada ao
povo. As ilegalidades cometidas, em especial pelo povo, deveriam ser reprimidas
com rigorosidade. A conservação do poder estava em jogo, de modo que, não se
poderia deixar impunes os crimes, pois estes poderiam vir a constituir em
rebelião contra os poderes estabelecidos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
povo, a quem se destinavam os suplícios, por um longo tempo, pareceu aceitar
estes como revelador de verdades e agente de poder. No suplício, ocorria uma
integração do crime com o castigo, sendo aplicado diretamente no corpo
supliciado. Comparando esta citação com os discursos dos reformadores, chegamos
à conclusão de que as estratégias para controle e manutenção do poder se
coincidem. Durante os governos absolutistas, bem como no desenvolvimento da
sociedade capitalista, uma necessidade era premente: punir com segurança as
infrações, assim como controlar e codificar todas as práticas ilícitas, com o
roubo, assumindo a dianteira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Os
reformadores viram a necessidade de substituírem os suplícios dos corpos,
expostos a violência de grau superior à violência por eles cometida, pelo
suplício penal, que não corresponde a qualquer punição corporal, mas sim, é uma
produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para marcação das
vítimas e manifestação do poder que pune. Os novos tempos exigiam uma justiça
que pune os crimes cometidos, e não uma justiça que se vingue dos crimes
praticados. O que frearia as ações ilícitas, a partir de agora, seria a certeza
de ser punido e não mais o abominável teatro da punição do corpo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A mitigação das
penas<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
suavização das penas, segundo Foucault, faz parte de uma metodologia moderna de
punição em que os administradores das penalidades estariam de acordo com uma mecânica
natural. A punição, no novo sistema penal, deveria levar o criminoso a
reconhecer que um delito não compensa, tornando-o sem atração, antes ou após a
aplicação do castigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Foucault
descreve os sinais-obstáculos que “devem constituir o novo arsenal das penas”.
Para que esses sinais-obstáculos funcionem será preciso que eles sejam pouco
arbitrários e correspondam à mecânica das forças. Estes sinais-obstáculos
seriam pouco arbitrários no sentido de promoverem uma sanção penal ideal, ou
seja, adotar-se-ia uma pena proporcional ao crime cometido. Portanto, haveria a
necessidade de conformidade entre a pena e o crime. “Assim, para quem a
contempla, ela será infalivelmente o sinal do crime que castiga; e para quem
sonha com o crime, a simples ideia do delito despertará o sinal punitivo”. Os
sinais-obstáculos corresponderiam à mecânica das forças, porque adviriam dos
fatos sociais e ao mesmo tempo se fundamentariam na natureza das coisas. Deste
modo, ocorreria a diminuição da atração pelo desejo de cometer um crime,
aumentando o medo da pena, tornando-o mais temível, tornando maiores as
desvantagens do crime em relação com as vantagens da ilegalidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Um
avanço no método adotado nas prisões ocorreu com o “Código de 1791” que previa
a morte para os traidores e os assassinos e para os outros crimes penas de no
máximo 20 anos. Criou-se assim, penas regressivas, nas quais o preso
inicialmente fica em uma cela totalmente escura e solitária, acorrentado nos
pés e nas mãos e alimentando-se de pão e água. Durante essa primeira fase ele
terá trabalhará dois e posteriormente três dias na semana. Na segunda fase, a
cela recebe iluminação, o preso é acorrentado somente na cintura e trabalhará
todos os dias da semana, além de ser remunerado. Na terceira fase, o preso poderá
optar por trabalhar junto com outros presos e sua comida será proporcional às
suas atividades. A quarta fase, tem como objetivo produzir no condenado
interesse pelo castigo, fazendo-o ver a vantagem deste, considerando-o natural.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">No
novo método penal, segundo Foucault, o condenado é visto como uma espécie de
propriedade rentável, um escravo posto a servidão de todos. Ilustrando este
ponto, Foucault cita o caso em que ladrões que criaram obstáculos nas estradas
para praticar um delito terão que concertá-las como punição. Assim, estes
seriam mais úteis servindo ao Estado em uma espécie de escravidão proporcional
a gravidade de seu delito do que ter seu corpo supliciado e gerar mais custos
ao Estado, gerando, deste modo, pontos positivos à economia pública.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
mudança e o afastamento dos rituais do Antigo Regime ocorreram por meio de
representações que passaram, aos poucos, a permear na mentalidade dos adultos
que aprenderam a lição que devia ser ensinada aos filhos, eliminando, devagar,
e ideia de penas supliciantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Nos
Estados Unidos e na Europa, a partir da segunda metade do século XVIII e início
do século XIX, começou-se a repensar o castigo e tudo que o envolvia. Inúmeros
projetos de reforma penal foram criados. Surgiu uma nova teoria da lei e do crime;
nova justificação moral ou política do direito de punir; aboliu-se as antigas
ordenanças; houve a supressão dos costumes e redigiu-se novos códigos.
Despontou-se assim, uma nova era para a justiça penal, com grandes
transformações institucionais; códigos explícitos e gerais; regras unificadas
de procedimento; existência de júris e penas com um caráter essencialmente
corretivo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Esta
tendência acentuou-se depois do século XIX. Segundo Foucault, as punições se
tornaram cada vez menos físicas e se tornam mais administrativas. Desta forma,
em pouco mais de dois séculos desapareceu o corpo supliciado, esquartejado,
amputado, marcado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto,
dado como espetáculo. O corpo não mais é o alvo da repressão penal. A justiça
não pode mais ter ligação com o exercício da violência. Os novos métodos penais
são pautados na vergonha de punir, pois, matar ou ferir já não é mais a força
desejável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
liberdade passa, a partir do século XIX, a ser considerada ao mesmo tempo como
um bem e um direito. Portanto, as penas judiciais não se pautam mais na relação
castigo-corpo, mas o corpo era colocado num sistema de coação e de privação, de
obrigações e de interdições, e os castigos aplicados são a prisão, a reclusão,
a deportação ou os trabalhos forçados. Esse método penal visava atingir algo
que não propriamente o corpo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
anulação da dor pode ser observada nos rituais de execução capital para crimes
hediondos. Por exemplo, a partir de 1792, passa-se a utilizar a guilhotina como
máquina adequada aos novos métodos de punição capital. Anteriormente utilizada
para a execução das penas dos nobres, a decapitação na guilhotina, provia uma
morte que dura apenas um instante, sem o furor dos suplícios. Uma morte que,
embora visível, é limitada a um instante. No entanto, a grande mudança, estava
em que a lei não era aplicada a um corpo real e susceptível à dor, mas um
sujeito jurídico detentor, dentre outros direitos, do de existir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
aparato da justiça punitiva tem que se ater a uma nova realidade, uma realidade
incorpórea, que atue sobre o coração, o intelecto, a vontade e as disposições.
Desta forma, muda-se o objeto da punição, do corpo para a alma do indivíduo. Foucault
diz que esse “afrouxamento” da severidade penal era visto como um fenômeno
quantitativo: menos crueldade, menos sofrimento, mais suavidade, mais respeito,
mais humanidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Os corpos dóceis<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Michel
Foucault, aborda nesta terceira parte de seu livro, o ressurgimento do
interesse pelo corpo em uma perspectiva de utilidade e inteligibilidade. Na
época clássica esse interesse pode ser observado na publicação do livro
“Homem-máquina”, que aborda a submissão e utilização do corpo, pelo registro
anátomo-metafísico, e o funcionamento deste corpo pelo registro
técnico-político. Foram criados mecanismos para adestramento do corpo e
esquemas para os deixarem dóceis. Os laboratórios para tais experimentos eram
os conventos, as escolas, os exércitos e as oficinas, que, pelo uso, deixaram
esses métodos mais refinados, sob a forma de disciplinas, que surgem no momento
em que nasce uma arte do corpo humano e mecanismos para o tornar mais obediente
e útil. “A disciplina fabrica, assim, corpos submissos e exercitados, corpos
dóceis” (Foucault, 2012, p. 133). Para Foucault, essas técnicas minuciosas e
íntimas, dão origem a uma nova microfísica do poder.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Regredindo
o uso dos suplícios, impõe-se as técnicas disciplinares, como a minúcia, o
olhar esmiuçante, o controle das mínimas parcelas da vida e do corpo, o ínfimo,
o infinito. Essas técnicas permeiam a pedagogia, a medicina, a tática militar e
a economia, transformando definitivamente o regime punitivo na época
contemporânea e criando o homem do humanismo moderno. Ocorre, a partir deste
ponto, uma aceleração das técnicas disciplinares, organizada num corpo de
processos e saberes, de descrições, de receitas e de dados. Mas, para se
aplicar todo esse conjunto disciplinar, era preciso a distribuição dos
indivíduos em espaços definidos: o encarceramento, mantinha juntos os
vagabundos e miseráveis; os colégios com internato, segundo o modelo do
convento, mantinha as crianças e os adolescentes no mesmo espaço; os quartéis,
que fixavam o exército, aglomerava o seu plantel, evitado deserções e conflitos
com as populações e autoridades civis; e os hospitais, onde todos estes
mecanismos tiveram início, possibilitava o controle e vigilância médica das
doenças e perigos de contágios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Com
o surgimento das oficinas, das manufaturas e das fábricas, a distribuição
disciplinar do espaço se reveste de um caráter puramente utilitarista. Na
segunda metade do século XVII, segundo Foucault, já se via a necessidade de
haver uma ligação da distribuição dos corpos com a arrumação espacial do
aparelho de produção e as diversas atividades exercidas nestes espaços. Surge
assim, o princípio da economia dos espaços, da localização imediata, que
Foucault chama de “quadriculamento”. “Cada indivíduo no seu lugar; e em cada
lugar, um indivíduo” (Foucault, 2012, p. 138), dispostos em filas, em posições
hierarquizadas, segundo a sua habilidade e rapidez, de forma que, percorrendo o
corredor central da oficina, seja possível realizar uma vigilância ao mesmo tempo
individual e geral.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
repartição do espaço disciplinar da força de trabalho deu origem a divisão do
processo de produção e tornou possível o nascimento da grande indústria. A
escola buscava também organizar e disciplinar a grande heterogeneidade ali presente.
Era preciso fazer com que o espaço escolar funcionasse como uma máquina de
ensinar, organizando uma nova economia do tempo de aprendizagem. Neste ponto,
os colégios dos jesuítas foram pioneiros, avançando para uma disposição
espacial inspirada na hierarquia e na vigilância piramidal. Desta forma,
nota-se que, organizar o heterogêneo, o múltiplo, percorrê-lo e dominá-lo,
impor-lhe uma ordem é, ao mesmo tempo, uma técnica de poder e um processo de
saber.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
tempo e o seu uso, é outro aspecto importante da disciplina e da docilidade dos
corpos, de acordo com Foucault. Os antigos esquemas disciplinares das
comunidades monásticas, contribuíram em muito para a imposição e a sujeição a
horários rígidos. Por exemplo, no século XIX, as congregações religiosas, já
haviam dado uma preciosa ajuda quando foi necessário utilizar populações rurais
na indústria e acostumá-las ao trabalho em oficinas, nas chamadas
fábricas-conventos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Nas
escolas a divisão do tempo também foi sendo fragmentada, as atividades mais
foram sendo subjugadas a ordens que exigem uma resposta imediata:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">No começo do século XIX, serão
propostos para a escola mútua horários como o seguinte: 8,45 entrada do
monitor; 8,52 chamada do monitor; 8,56 entrada das crianças e oração; 9 horas
entrada nos bancos; 9,04 primeira lousa; 9,08 fim do ditado; 9,12 segunda
lousa, etc. (Foucault, 2012, p.145)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Mas,
engana-se quem pensa que se trata apenas de cumprir horários. Os novos métodos
disciplinares tinham também que melhorar a qualidade do tempo utilizado, e isto
seria garantido, através de um controle ininterrupto e da eliminação de tudo
que pudesse perturbar e distrair. Um tempo de boa qualidade seria um tempo
integralmente útil, sem impurezas nem defeito. A exatidão, a aplicação e a
regularidade eram as virtudes fundamentais do tempo disciplinar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
ato, portanto, seria um aspecto muito importante da disciplina. Assim, a partir
da segunda metade do século XVIII, começa-se a dar uma particular atenção ao grau
de precisão dos movimentos, a decomposição dos gestos e a maneira de se ajustar
o corpo a imperativos temporais. Foucault, chama a esta programação de
anátomo-cronológico do comportamento, que é imposta do exterior, porém,
controlada do interior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
melhor relação entre um gesto e a atitude global do corpo contribuiria para a
eficácia e rapidez da ação adotada. “Um corpo disciplinado é a base de um gesto
eficiente” (Foucault, 2012, p.147) na escola, no desenho da caligrafia, nos
quartéis, na marcha militar, na fábrica e na produção. Por isso, através de
prescrições explícitas e coercivas, o poder vai sendo introduzido e amarrando o
corpo ao objeto. A disciplina corporal cria, desta forma, uma nova economia do
tempo, e o tempo disciplinar começa a impor-se na prática pedagógica, na
organização militar e nas oficinas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
“progresso das sociedades” e a “gênese dos indivíduos” são, segundo Foucault,
“correlatas das novas técnicas de poder e, mais precisamente, de uma nova
maneira de gerir o tempo e torna-lo útil, por recorte segmentar, por seriação,
por síntese e totalização” (Foucault, 2012, p.154). Neste novo modelo
disciplinar, dá-se atenção especial a relação entre o indivíduo e o coletivo,
entre a parte e o todo. Para que fosse mais rentável, mais eficiente, mais
útil, mais produtivo, o todo teria de ter um efeito superior à soma das forças
elementares que o compunham, o que implicava combinação e cooperação. Nasce,
assim, a força do trabalho social, até hoje compreendida desta forma no
ocidente. “O corpo singular torna-se um elemento que se pode colocar, mover,
articular com outros [...] O corpo se constitui como peça de uma máquina
multissegmentar” (Foucault, 2012, p.158). Portanto, Foucault, atribui à
disciplina quatro características: celular, orgânica, genética e combinatória.
E exerce funções tais como: construir quadros, prescrever manobras, impor
exercícios e organizar táticas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O exame<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
novo método disciplinar teve seu esteio, segundo Foucault, na utilização do
“exame”. Este conceito, porém, é muito mais abrangente do que um mero jogo de
perguntas e respostas e um sistema de notas ou classificações, “o exame combina
as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que normaliza” (Foucault,
2012, p.177). Todas as ciências humanas, desde a psiquiatria até a pedagogia e
os procedimentos como diagnóstico clínico e a simples contratação de mão de
obra, utilizam o exame. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Michel
Foucault, considera tão importante o exame que atribui a ele “uma das condições
essenciais para a liberação epistemológica da medicina no fim do século XVIII”
(Foucault, 2012, p.178). A organização do hospital como aparelho de examinar possibilitou
a mudança de inspeções e visitas médicas irregulares, rápidas e descontínuas
para uma observação regular, que punha o doente em situação de exame quase que
permanente. Esta nova situação modifica a ideia de hospital como sendo o local
de assistência, passando, por força do exame, a um local de formação e
aperfeiçoamento científico, de constituição de um saber, de afirmação da
disciplina médica. Essa é uma mudança
que também ocorre no espaço escolar, que se torna uma espécie de aparelho de
exame ininterrupto que, para além de medir, classificar e sancionar, promove
uma comparação permanente de cada um com todos. A escola se torna a
representação da troca de saberes e conhecimentos do mestre para os alunos,
sendo elaborada ali os princípios da pedagogia como ciência humana. No
exército, em função das constantes inspeções e de manobras indefinidamente
repetidas, desenvolveu-se um imenso saber tático.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
exame apresenta como consequência relevante, de acordo com Foucault, o controle
no nível da individualidade do indivíduo. Técnicas e inovações foram
desenvolvidas, nos hospitais, escolas e exército, que possibilitaram
identificar, descrever, acompanhar a evolução dos corpos e das mentes, ligadas
a uma série de códigos homogeneizantes: código físico, código médico, código
escolar e código militar. Todo esse aparato marca o momento da formalização do
individual dentro das relações do poder, “o momento em que se efetua o que se
poderia chamar a troca do eixo político da individualização” (Foucault, 2012,
p.184).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">As
inovações do campo disciplinar possibilitaram o nascimento das ciências
humanas, cuja origem se pauta no “jogo moderno das coerções sobre os corpos, os
gestos e os comportamentos” (Foucault, 2012, p.181). Todo conjunto disciplinar
com suas anotações, registros, organização de campos comparativos,
classificação, categorização, estabelecimento de médias, fixação de normas,
executados nas escolas e nos hospitais, permite a “constituição do indivíduo
como objeto descritivo e analisável” (Foucault, 2012, p.182), bem como também
“a libertação epistemológica das ciências do indivíduo” (Ibid.).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
exame, acompanhado de todo seus mecanismos documentais e organizacionais,
apresenta uma novidade surpreendente: cada indivíduo passa a ser um caso. Um caso
deixa de ser visto como um conjunto de circunstâncias, como era o entendimento
na casuística e na jurisprudência, mas passa a ser um indivíduo tal como pode
ser descrito, mensurado, medido e comparado a outros na sua própria
individualidade. O indivíduo é aquele que tem de ser (re)treinado,
classificado, normalizado, ou mesmo, excluído. Cada um passa a ter seu próprio <i>status</i>, sua própria individualidade, e
quanto mais estrito for o seu enquadramento disciplinar, mais estudado e
descrito será. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Não
é surpresa, portanto, que neste “sistema de disciplina, a criança é mais
individualizada que o adulto, o doente o é antes do homem são, o louco e
delinquente mais que o normal e o não delinquente” (Foucault, 2012, p.184). As
várias ciências existentes, com suas análises psicológicas, foram fundadas a
partir dessa troca histórica dos processos de individualização. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">“O momento em que passamos de
mecanismos histórico-rituais de formação da individualidade a mecanismos
científico-disciplinares, em que o normal tomou o lugar do ancestral, e a
medida o lugar do <i>status</i>,
substituindo assim a individualidade do homem memorável pela do homem
calculável, esse momento em que as ciências do homem se tornaram possíveis, é
aquele em que foram postas em funcionamento uma nova tecnologia do poder e uma
anatomia política do corpo” (Foucault, 2012, p.184-185).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O panoptismo<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
século XVIII foi uma época de grandes reformas das instituições médicas. O
controle da peste e da lepra movimentaram os espaços destinados a conter o flagelo.
“Se é verdade que a lepra suscitou modelos de exclusão que deram até um certo
ponto o modelo e como que a forma geral do grande fechamento, já a peste
suscitou esquemas disciplinares” (Foucault, 2012, p.188). Deste modo, fica
evidente que a arquitetura começa a especializar-se, a articular-se com os
problemas da população, da saúde, do urbanismo, e os médicos tiveram nisso uma
participação social considerável, junto com os militares, organizando e
administrando os espaços. Em meio a este cenário, Foucault diz:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">O <i>Panóptico</i> de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. O
princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma
torre: esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do
anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a
espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior,
correspondendo às janelas da torre; outra, que da para o exterior, permite que
a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia central, e
em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um
escolar (Foucault, 2012, p.190).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
Panóptico foi escolhido por Michel Foucault como elemento de estudo e principal
instrumento de análise, porém, ele, intenciona fazer uma história dos espaços
que seja ao mesmo tempo uma história dos poderes, abrangendo desde as grandes
estratégias da geopolítica até as pequenas táticas do <i>habitat</i>, da arquitetura institucional, da sala de aula, da
organização hospitalar, da organização penitenciária, da oficina, da caserna e
das prisões. Portanto, Foucault, parte do princípio de que o problema dos
espaços é sobretudo um problema histórico-político, e a fixação espacial uma
forma econômico-política.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
Panoptismo, para Foucault, não é simplesmente uma nova imagem de um novo
sistema prisional, mas ele é o paradigma do esquema geral de funcionamento do
poder no mundo moderno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Para isso, é ao mesmo tempo
excessivo e muito pouco que o prisioneiro seja observado sem cessar por um vigia:
muito pouco, pois o essencial é que ele se saiba vigiado; excessivo, porque ele
não tem necessidade de sê-lo efetivamente. Por isso, Bentham colocou o
princípio de que o poder devia ser visível e inverificável. Visível: sem cessar
o detento terá diante dos olhos a alta silhueta da torre central de onde é
espionado. Inverificável: o detento nunca deve saber se está sendo observado;
mas deve ter certeza de que sempre pode sê-lo (Foucault, 2012, p.191).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">No
projeto arquitetônico do Panóptico os elementos fundamentais que constituem
esse poder são: a centralização, a moralização, a eficácia e acima de tudo a
individualização. Esta é, de fato, a estrutura unilateral e monolítica do poder
em nossos dias: centralizado, anônimo, disseminado e altamente eficaz. Foucault
considerou a invenção do Panóptico como um acontecimento na história do
espírito humano, e um tipo “de ovo de Colombo na ordem da política” (Foucault,
2012, p.195). Bentham, com sua invenção, deu aos médicos, penalistas,
industrias e educadores, o que eles procuravam: um poder contínuo e de custo
irrisório, que não necessitava de armas, de violência física ou de coações
materiais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
análise feita por Foucault, até este momento, nos leva a concluir que uma das
ideias principais de Vigiar e Punir é, sem dúvida, a de que as sociedades
modernas possam ser definidas como sociedades disciplinares, sem, contudo,
identificar essa disciplina com uma instituição ou com um aparelho. Esta
disciplina, seria uma espécie de poder que a tudo atravessa, não está filiada a
nenhum aparelho nem instituição, mas tem o poder de ligar uns aos outros, os
prolongar, fazer convergir, obrigando-os a se exercerem de um modo novo. Isto,
ainda que se trate de peças ou de engrenagens que pertençam ao Estado de uma
forma tão evidente como a polícia e a prisão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">No
século XIX, o século das ciências, o pensamento que permeava a sociedade, era
de que o modo de vida disciplinado, organizado pelas ciências e pelos
cientistas, levariam a humanidade a alcançar uma liberdade plena, porém, a
experiência, segundo Foucault, mostrou que, ao se desenvolverem, as disciplinas
científicas, conduziram rapidamente ao desaparecimento do homem. As sociedades
se tornaram funcionalistas e simultaneamente produto e instrumento da ação do
biopoder, que intervêm sobre os corpos, por meio de seus processos de
individualização sofisticados, acutilantes e penetrantes, da mesma forma que
são elas, as ciências disciplinares, que disponibilizam as imensas técnicas de
pesquisa e de registro de dados sobre os indivíduos, os seus corpos, as suas
vidas e suas paixões.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
domínio da biopolítica, a sociedade disciplinar, o panoptismo generalizado, são
faces diferentes dos mesmos dispositivos escolhidos por um poder que mobiliza e
põe em prática novos instrumentos científicos de cálculo, estatística, medida,
generalização e abstração, que se destinam ao conhecimento dos corpos humanos,
permitindo que o controle e a dominação se tornem cada dia mais eficazes. “Uma
sujeição real nasce mecanicamente de uma relação fictícia. De modo que não é
necessário recorrer à força para obrigar o condenado ao bom comportamento, o
louco à calma, o operário ao trabalho, o escolar à aplicação, o doente à
observância das receitas” (Foucault, 2012, p.192).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
processo civilizacional, possibilitado pelas disciplinas, tem seu ápice nas
organizações voltadas à dominação, que têm o poder de controlar e de regular
inteiramente a vida social. Neste ponto, o Panóptico tem<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">... um papel de amplificação;
organiza-se o poder, não é pelo próprio poder, nem pela salvação imediata de
uma sociedade ameaçada: o que importa é tornar mais fortes as forças sociais –
aumentar a produção, desenvolver a economia, espalhar a instrução, elevar o
nível da moral pública; fazer crescer e multiplicar (Foucault, 2012, p.197).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Para
Foucault, portanto, a estabilidade das sociedades altamente desenvolvidas não é
senão o resultado de operações reguladoras, conduzidas por organizações de uma
grande perfeição administrativa, que se manifestam por meio do exercício da
disciplina e do controle, por meio da domesticação, no espaço de vida de cada
indivíduo, para fazer dele um colaborador social dócil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Assim,
e devido à sua concepção de dominação, talvez possamos dizer que, para
Foucault, as sociedades modernas são também, um pouco, sociedades totalitárias.
Encerrando essa terceira parte, o autor, deixa algumas perguntas que dão o que
pensar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Acaso devemos nos admirar que a
prisão celular, com suas cronologias marcadas, seu trabalho obrigatório, suas
instâncias de vigilância e de notação, com seus mestres de normalidade, que
retomam e multiplicam as funções do juiz, tenha-se tornado o instrumento
moderno da penalidade? Devemos ainda nos admirar que a prisão se pareça com as
fábricas, com as escolas, com os quartéis, com os hospitais, e todos se pareçam
com as prisões? (Foucault, 2012, p.214).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Instituições
completas e austeras<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Retomando
a temática da prisão, Michel Foucault, diz que “a prisão é menos recente do que
se diz quando se faz datar seu nascimento dos novos códigos” (Foucault, 2012,
p.217). De fato, para o autor, antes do nascimento dos códigos penais, já
estava em funcionamento um modelo ou modelos de detenção penal. “A forma geral
de uma aparelhagem para tornar os indivíduos dóceis e úteis, por meio de um
trabalho preciso sobre seu corpo, criou a instituição-prisão, antes que a lei a
definisse como a pena por excelência” (Foucault. 2012, p.217). Então, que
novidade representou o surgimento da prisão? Provavelmente, a do sentido de
humanidade, de justiça social. Além disso, a prisão proporciona, segundo
Foucault,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">[...] também um momento importante
na história desses mecanismos disciplinares que o novo poder de classe estava
desenvolvendo: o momento em que aqueles colonizam a instituição judiciária. Na
passagem dos dois séculos, uma nova legislação define o poder de punir como uma
função geral da sociedade que é exercida da mesma maneira sobre todos os seus
membros, e na qual cada um deles é igualmente representado (FOUCAULT, 2012,
p.217).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O
surgimento da prisão, no século XIX, tornou-se uma coisa tão óbvia que se
sobrepôs às punições que faziam parte dos ideais da reforma ocorrida no século
XVIII. A prisão era óbvia no sentido de aplicar um castigo igualitário, que
correspondia a uma clareza jurídica. A privação da liberdade tinha a função de
reparação econômico-moral, já que quantificava exatamente a pena segundo a
variável do tempo. A aceitação da prisão se deu no sentido de aparelho
transformador dos indivíduos, pois passa a utilizar os mesmos mecanismos
existentes no quartel, na escola, na oficina e no hospital. Também, a prisão,
parecia ser a forma mais imediata e mais civilizada de todas as penas. Porém,
em poucos anos, ficou óbvio “todos os inconvenientes da prisão, e sabe-se que é
perigosa, quando não inútil. E, entretanto, não vemos o que pôr em seu lugar.
Ela é a detestável solução, de que não se pode abrir mão” (</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;">FOUCAULT</span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">, 2012, p.218).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Um
aparente problema, gerado pelas instituições penais, foi relativo a divisão de
controle que se fez necessário, entre juízes e os diretores da prisão e seus
vigias, bem como eventualmente com fiscais, sacerdotes e professores. Esses
agentes de execução das penas, passam a reivindicar para si uma parte da
soberania punitiva. Naturalmente, esta divisão de poder não aconteceu de forma
pacífica. Na visão de Foucault, os juízes nunca aceitaram de bom grado a
apropriação do controle desse suplemento penitenciário que lhes retirava poderes
sobre o detido e o sistema. No entanto, essa contenda ocorreu devido a
introdução de relações de saber na justiça criminal. Introduziu-se um saber
clínico sobre os condenados, que poderia proporcionar o tratamento das doenças
morais. Pois a exigência quanto à prisão era que houvesse uma regeneração do
detido. Portanto, o sistema penitenciário receberia das mãos da justiça um
condenado e deveria devolver à sociedade um cidadão útil. Surge, então, um novo
personagem: o delinquente. Este substitui o infrator e mobiliza todo um estudo
individualizado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">O delinquente se distingue do
infrator pelo fato de não ser tanto seu ato quanto sua vida o que mais o
caracteriza. A operação penitenciária, para ser uma verdadeira reeducação, deve
totalizar a existência do delinquente, tornar a prisão uma espécie de teatro
artificial e coercitivo onde é preciso refazê-la totalmente. O castigo legal se
refere a um ato; a técnica punitiva a uma vida; cabe-lhe, por conseguinte, reconstituir
o ínfimo e o pior na forma do saber; cabe-lhe modificar seus efeitos ou
preencher suas lacunas, através de uma prática coercitiva (FOUCAULT, 2012,
p.238).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Segundo
as palavras de Michel Foucault (2012), um novo conceito foi formado para esse
novo personagem: o delinquente. A justiça não se interessa mais, apenas pelas
causas do crime, ela busca encontrar a história da vida do delinquente, para
possa ministrar a sua reeducação. Neste novo conceito, o criminoso existe antes
do crime e até mesmo fora dele. Surge, a partir deste momento, segundo Foucault
(2012), um novo saber científico, a criminologia, que visa encontrar o
indivíduo enquanto delinquente e o delinquente enquanto indivíduo. Nesse
labirinto criminológico, a delinquência é considerada uma síndrome mórbida, um
desvio patológico da espécie humana. Três tipologias são então apresentadas. O
delinquente pode ser: 1) Indivíduo dotado de inteligência e recursos
intelectuais superiores à média, que nesse caso, se torna malfeitor por
predisposição inata ou por questões morais e sociais externas; 2) sujeitos
viciosos, limitados, estúpidos, apático, que se deixam levar por más
associações; 3) inaptos ou incapazes, levados ao crime pelos seus instintos
pessoais e incapacidades próprias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Ao
passo que a justiça penal se ocupa do infrator, a penitenciária se ocupa de
outra pessoa, o delinquente. Uma outra pessoa dentro daquela primeira, que é
considerada uma unidade biográfica, núcleo de periculosidade e representante de
um tipo de anomalia. Assim, a técnica penitenciária e o delinquente são indissociáveis
e impuseram-se aso tribunais e às leis. De acordo com Foucault: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Onde desapareceu o corpo marcado,
recortado, queimado, aniquilado do supliciado, apareceu o corpo do prisioneiro,
acompanhado pela individualidade do “delinquente”, pela pequena alma do
criminoso, que o próprio aparelho do castigo fabricou como ponto de aplicação
do poder de punir e como objeto do que ainda hoje se chama a ciência
penitenciária (FOUCAULT, 2012, p.241).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Concluindo
esse capítulo, Foucault, cita que “a delinquência é a vingança da prisão contra
a justiça. Revanche tão temível que pode fazer calar o juiz. É então que os
criminologistas se impõem” (2012, p.242). O autor passa, então, a elencar uma
série de críticas que foram feitas, ao sistema prisional, desde sua
implantação, e que se repetem atualmente: as prisões não diminuem a taxa de
criminalidade, funcionam mesmo como quartéis do crime; a detenção provoca a
reincidência e, como tal, fabrica delinquentes; vigora uma administração
arbitrária, a corrupção, o medo e a incapacidade dos guardas; assiste-se à
exploração do trabalho penal, sem caráter educativo. A prisão é, nas palavras
de Foucault, um duplo erro econômico: diretamente, pelo custo intrínseco da sua
organização; indiretamente, pelo custo da delinquência que ela não reprime. Erros
que foram apontados no passado, mas que se mostram atuais, quando examinados à
luz dos acontecimentos de hoje.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">O carcerário<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Ao
final de <i>Vigiar e Punir</i>, Foucault,
faz uma espécie de síntese, trazendo de volta os temas da disciplina, do
adestramento, da docilidade dos corpos, bem como a sua relação com os cinco
modelos de referência: família, exército, oficina, escola e poder judiciário.
Como novidade, o autor cita o surgimento de Mettray, a colônia penal para
jovens, como o paradigma da técnica disciplinar. Sobre esta instituição
Foucault diz:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">Os chefes e subchefes em Mettray
não devem ser exatamente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem
suboficiais, nem “pais”, mas um pouco de tudo isso e num modo de intervenção
que é específico. São de certo modo técnicos do comportamento: engenheiros da
conduta, ortopedistas da individualidade (FOUCAULT, 2012, p.279).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Para
Foucault, é aqui, na Mettray, que nasce uma nova categoria de vigilância. O
adestramento dos corpos já não é conseguido somente pela observação, mas também
pela avaliação contínua do comportamento, utilizando todo um aparato de
técnicas organizadas em um saber científico chancelado pela medicina, educação
e igreja. Um conhecimento adquirido em escolas especializadas na arte do poder
e na técnica de disciplinamento. Portanto, Foucault, considera que a abertura
oficial de Mettray, em 1840, é o marco da formação do sistema carcerário que se
desenvolveu até o modelo atual e, mais importante do isso, essa data, marca o
nascimento da psicologia científica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">Juntamente
com a psicologia científica, que abastece de legibilidade o sistema carcerário,
Foucault, menciona que houve um encarecimento de “uma nova forma de ‘lei’: um
misto de legalidade e natureza, de prescrição e constituição, a norma”
(FOUCAULT, 2012, p. 287). Esse controle da normalidade é prontamente exercido
pelos profissionais da disciplina, da normalidade e da sujeição, enquadrados
pela medicina ou pela psiquiatria, o que lhes dá a chancela cientifica e o
apoio do aparelho judiciário. Portanto, se torna um exercício legal do direito
de punir. A técnica de controle das
normas, que busca a docilidade dos corpos desviados, tem expandida sua atuação,
abrangendo os hospitais, as escolas, as repartições públicas e as empresas
privadas. Objetivo é simples: naturalizar o poder da normalização, difundir as
técnicas penitenciárias. Essa naturalização, deveria abarcar as disciplinas
mais inocentes, montar uma rede carcerária além muros penitenciários, com
instituições e com procedimentos parcelares e difusos, reunidos em um só espaço
legislativo, disseminados pela sociedade e espalhados, por tanto, a todo corpo
social. Esta nova economia de poder arrasta, de acordo com Foucault, “um desejo
furioso de parte dos juízes de medir, avaliar, diagnosticar, reconhecer o
normal e o anormal; e a honra reivindicada de curar ou readaptar (FOUCAULT,
2012, p.287).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt;">A
difusão e multiplicação do poder normalizador lançou novos sujeitos do
controle, os juízes da normalidade, que estão operando em todas as esferas da
sociedade. Hoje, nos deparamos com o professor-juiz, o médico-juiz,
educador-juiz, o assistente social-juiz, o funcionário público-juiz, todos
fazendo reinar a universalidade do normativo e do poder normalizador na
sociedade moderna. Para Foucault, este é o funcionamento, atual, do poder de
vigilância Panóptico. O aparelho de punição, está ativo outra vez, mas agora de
acordo com a nova economia do poder. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
Se entrarmos, depois da
era da justiça “inquisitória”, na da justiça “examinatória”, se, de uma maneira
ainda mais geral, o procedimento do exame pôde estender-se tão amplamente à
sociedade toda, e dar lugar às ciências do homem, um dos grandes instrumentos
disso foi a multiplicidade e o entrecruzamento preciso dos diversos mecanismos
de encarceramento. Não quer dizer que da prisão saíram as ciências humanas. Mas
se elas puderam se formar e provocar no <i>êpistemê</i>
todos os efeitos de profunda alteração que conhecemos, é porque foram levadas
por uma modalidade específica e nova do poder: uma certa política do corpo, uma
certa maneira de tornar dócil e útil a acumulação dos homens. Esta exigia a
implicação de correlações definidas de saber nas relações de poder: reclamava
uma técnica para entrecruzar a sujeição e a objetivação: incluía novos
procedimentos de individualização. A rede carcerária constitui uma das
armaduras desse poder-saber que tornou historicamente possíveis as ciências
humanas (FOUCAULT, 2012, p.288).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Concluindo, Foucault, faz uma série de interrogações, a si mesmo e a
nós, sobre se o desafio político atual estará na alternativa-prisão ou em algo
diferente. E descrevendo seu ponto de vista, diz que a prisão, tal como
funciona, num regime Panóptico e numa sociedade como a nossa, não só deve ser
modificada, deve ser dispensada.</span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> </span>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-50539200473187463112018-01-11T10:19:00.002-02:002018-01-11T10:29:39.511-02:00 Cartas Chilenas - Carta 13ª FINAL<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Um mundo
estranho e cheio de injustiças! Com este pensamento, Critilo chega ao final de
seus relatos sobre as peripécias do famigerado Governador de Chile Fanfarrão
Minésio. Esta décima terceira carta, que ficara incompleta, faz uma denúncia do
uso da religião e da religiosidade do povo para meios corruptos.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">[...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">A</span></i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">inda, caro amigo, ainda existem<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Os
vestígios dos templos suntuosos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Que a
mão religiosa do bom Numa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Ergueu a
Marte e levantou a Jano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Ainda,
ainda lemos que elegera,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Para
essas divindades sacerdotes,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">E que
muitas donzelas consagrara,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">A fim de
conservar-se aceso o fogo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Em o
templo de Vesta, sobre as aras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Também,
também sabemos que esse sábio,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Para ter
mais conceito entre o seu povo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Fingiu
que a ninfa Egéria, sendo noite,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Vinha
falar com ele, e que benigna<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">A forma
do governo lhe inspirava (p.185).<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Critilo usa
personagens da antiga Roma para ilustrar o que estava acontecendo em seus dias.
Mais precisamente, o autor, faz uso da mitologia grega, usada pelos romanos, para denunciar os abusos de poder que eram justificados como orientações e conselhos divinos.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Desta forma,
Critilo, cita Numa Pompílio (753 a.C.-673 a.C.) que foi um sabino escolhido
como segundo rei de Roma. Sábio, pacifico e religioso, dedicou-se a elaboração
das primeiras leis de Roma, assim como dos primeiros ofícios religiosos da
cidade e do primeiro calendário.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Numa Pompílio
acrescentou dois meses ao calendário que passou a ter 354 dias. Esses novos
meses foram dedicados aos deuses. O primeiro mês criado foi janeiro em
homenagem a Jano, deus de duas faces, uma voltada para a frente e outra para
trás. Protetor das entradas e saídas, ele era considerado também deus dos
princípios e começos – como a primeira hora do dia e o primeiro mês do ano. O segundo
mês que foi instituído por Numa Pompílio foi março. Dedicado a Marte, deus da
guerra.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
A lenda afirma
que o projeto e reforma política e religiosa de Roma aplicado po Numa Pompílio
foi ditado a ele pela ninfa Egéria, com a qual, já viúvo, costumava passear no
bosque e que se apaixonou por ele ao ponto de fazê-lo seu esposo.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
O uso da
religião e religiosidade, no caso de Numa Pompílio, possibilitou ao povo
aceitar e apoiar as reformas que eram estabelecidas, pois eles acreditavam que
estas eram de fonte divina.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">O mesmo
fez Sertório, que dizia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Que nada
executava, que não fosse<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Ensinado
por uma branca cerva,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Que a
deusa caçadora lhe mandara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Mafoma,
o vil Mafoma, astuto segue<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Também
esse sistema. Ao seu ouvido<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Acostuma
a chegar-se a mansa pomba.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">A nação
ignorante se convence<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">De que
este seu profeta conhecia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Os
segredos do Céu por esse meio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Não há,
meu Doroteu, não há um chefe,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Bem que
perverso seja, que não finja<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Pela
religião, um justo zelo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">E quando
não o faça por virtude,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">Sempre
ao menos o mostra por sistema. (p.185)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10.0pt;">[...]<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Outro personagem
romano citado por Critilo foi Quinto Sertório. Ele era da cidade de Núrsia,
terra dos sabinos. Viveu, segundo o que se sabe, entre os anos 100 a.C.-50
a.C. Sertório era um homem corajoso e estrategista, por isso logo alcançou importantes
postos no exército romano, se tornando o comandante de um batalhão.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
No ano 73 a.C.,
na Espanha, um campônio chamado Espano, que vivia nos campos, encontrou um dia,
por acaso, uma cerva que havia há pouco dado cria e fora desencovada por caçadores.
Apoderando-se da mãe, ele tratou também de assenhorear-se da cria, uma pequena
cerva de pêlo totalmente branco. Uma raridade! Sabendo achar-se Sertório no
lugar, e que ele recebia com satisfação os presentinhos que lhe faziam de
frutas, macacos e caças, mostrando-se muito reconhecido aos seus doadores, e
remunerando-os devidamente, o campônio foi oferecer-lhe a pequenina cerva, que
muito o agradou.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Com o decorrer
do tempo ele tornou-a tão mansa e domesticada que ela o atendia ao chamado,
seguia-o por toda parte e não se assustava com a presença dos inúmeros soldados
armados, nem com o barulho e tumulto do acampamento. Aos poucos Sertório
transformou aquilo em milagre, fazendo crer aos bárbaros que aquilo fora uma
dádiva que Diana lhe fizera, para prognosticar-lhe as coisas futuras, pois sabia
serem os bárbaros crentes e supersticiosos por natureza e não relutarem em
receber semelhante crença. <o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Quando ele
recebia notícias secretas de que os inimigos iriam atacar alguns lugares dos
países e províncias que lhe estavam subordinados, ou que, de surpresa ou por
valor, lhe haviam tomado algum de tais lugares, ele declarava-lhes que, à
noite, durante o sono, a cerva o prevenira, aconselhando-o a conservar sua
gente a postos e em armas. Ao receber aviso de que algum dos seus tenentes
havia ganho um combate ou levava vantagem sobre os inimigos, ele escondia o
mensageiro, e levava sua cerva a público, coroada e coberta de ramalhetes de
flores, declarando que alguma boa notícia devia estar a chegar-lhe. Exortava a
todos a ter esperança e a se alegrar, e pedia-lhes que fizessem sacrifícios aos
deuses, rendendo-lhes graças pela boa nova que não tardaria a receber.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Desta forma,
Critilo, faz denuncia de como o vil governante utiliza a religião e a
religiosidade do povo para justificar suas travessuras e atos de corrupção,
fazendo-os crer que ele, Minésio, faz o que faz por orientação divina.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Apesar de todas as cartas serem escritas em
tom de denúncia, não há nada nelas que corresponda a um sentimento de
nacionalismo e rebeldia contra o domínio português ou contra o sistema de poder.
Sua crítica dirige-se à violação da justiça constituída, ao abuso de poder, à
corrupção palaciana e aos desmandos apoiados na militarização do governo
("Não há, não há distúrbio nesta terra / De que a mão militar não seja
autora"). As críticas contidas nelas ultrapassam as circunstâncias de um
determinado governo para desnudar as bases do autoritarismo colonial, com seu
sistema de privilégios e sua mão militar.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<b>FIM<o:p></o:p></b></div>
Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-78939366942431054272018-01-10T09:35:00.001-02:002018-01-10T09:35:56.903-02:00Cartas Chilenas - Carta 12ª<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Iniciando sua
penúltima carta, Critilo, descreve os eventos desavergonhados que acontecem na
casa do bruxo. Os rituais noturnos que se prologam madrugada afora, dão
testemunho eloquente da devassidão de vida do libertino chefe e seus lacaios.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Assim, assim também o teu Critilo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Não cansa de escrever-te, enquanto encontra<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Do tolo Fanfarrão, do indigno chefe,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Estranhas bandalhices, que te conte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Ah! Sofre, amigo, que te gaste o tempo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Pois conter-se não pode, bem que queria,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Que a força da paixão assopra a chama,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">A chama ativa do picante gênio (p.174).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 12pt;">Além de todo o mal
que Fanfarrão e sua corja tem causado, Critilo denúncia que os gastos têm sido
às custas do povo. Minésio têm a capacidade de enviar seu secretário, Robério,
para esmolar, pedindo em nome de algum santo. Porém, todo dinheiro arrecadado
serve para bancar suas festas devastas e suas orgias desavergonhadas. Assim,
eles gozam dessas bentas esmolas. Essa situação faz lembrar as palavras de
Machado de Assis: “Todos os galos na testa acham lá milho e afeição; lá vive
tudo o que resta da burra de Balaão. [...] a besta do apocalipse, que ali seu
abrigo tem. E o cisne de Leda, e um bode expiatório, e o cavalo de Troia,
escapar não pode; mas a outros que inda calo”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Ah! Nota, Doroteu, que ação tão feia!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Aquele bruto chefe que não paga,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Às pessoas mais nobres o cortejo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Sequer por um criado, agora manda<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Que o seu próprio Robério, o seu bom aio,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Ande de porta em porta qual mendigo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Pedindo para um bode a benta esmola! (p.176)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Neste estranho abuso referido
nesta 12</span><span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">ª carta, em
que Robério é descrito percorrendo os camarotes do teatro em busca de donativos
para um dos protegidos do Governador, diz-se, com alusão ao homem que assim se
rebaixava naquela pedinchice ignóbil: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Ah! Doce amigo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Quem bandalho nasceu, ainda que suba<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Ao posto de major, morreu bandalho,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Que o tronco, se dá fruto azedo, ou doce,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Procede da semente e qualidade<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT;">Da negra terra, em que foi gerado. (p.177)</span><span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 15.0pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
Ao que se parece, a promoção recebida por Robério, nada tem a ver com seus dotes valorosos. Mas
sim, com o fato de que este se presta a realizar trabalhos corruptos, ou seja,
está disposto a sujar as mãos, pelo seu Governador.<o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Maldita
sejas tu, pouca vergonha,<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10.0pt;">Que tanto influxo tens sobre este leso. (180)<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">Com este</span><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 11.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;"> bordão, Critilo denuncia o influxo que Cunha
Meneses, o “Fanfarrão Minésio”, exerce sobre aqueles que o cercam. Estas palavras
que muito significativamente aparece no estribilho desta carta, documentam o
período de grandes e graves turbulências, vividos em vila Rica a partir de
1783.</span></div>
Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-22457988733632345192017-06-19T17:14:00.002-03:002017-06-19T17:14:41.445-03:00Cartas Chilenas - Carta 11ª<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Uma
pessoa que diz brejeirices pode ser alguém que tenha uma origem simples e um
linguajar comum. Contudo, ao iniciar a décima primeira carta, Critilo, narra as
brejeirices de Minésio, não no sentido de um indivíduo brincalhão, engraçado,
simples. Mas, sim, no sentido de uma pessoa desonesta nas palavras e nas ações,
um homem que não possui honradez; um sujeito biltre; um patife.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Aqui,
aqui de tudo se murmura:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Só
se livra da língua venenosa,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O
que contrata em vendas de despachos,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">E
quem se alegra ao ver que a sua moça<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Ajunta
pela prenda um par de oitavas:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Que
os membros do Congresso são prudentes<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;"> Não querem que alguns dos companheiros<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Tomem
essa conversa em ar de chasco. (p.159)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">A
corja desprezível de lacaios de Fanfarrão se junta para caçoar das pessoas de
bem e para se gabarem de suas peraltices, que nada mais são do que maldades
contra o povo simples e comum. Critilo denuncia que, a maioria dos servidores
de Minésio pessoas sem caráter, sem nenhuma nobreza, apenas ostentam uma
aparência. Já no caso do governante impiedoso, apesar de sua origem casta, seus
feitos não se tornam admiráveis, ao contrário são desprezíveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">[...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Por
isso, às vezes, nascem os mochilas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Com
brios de fidalgos; outras vezes<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Os
nobres com espíritos humildes,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Só
dignos de animarem vis lacaios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">O
nosso Fanfarrão, prezado amigo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Vos
dá mui boa prova: não se nega<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Que
tenha ilustre sangue; mas não dizem<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Com
seu ilustre sangue as suas obras. (p.160)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Com
o mal exemplo de Minésio, prevalecia em toda Chile a exploração nos diversos
níveis da vida. O autor, Gonzaga, queixa-se da ganância da prostituta Olaia: “Maldita
sejas tu, Harpia Olaia, que enquanto não abria a minha bolsa, não mostrava
também alegre os dentes!” (p.164). AS Harpias, que significa arrebatadoras,
eram criaturas representadas ora como formosas e sedutoras mulheres com longas
unhas, ora como terríveis monstros com corpo de ave de rapina, rosto de mulher
e seios. Elas raptavam o corpo dos mortos para usufruir de se amor, por isso
eram representadas nos túmulos como se estivessem à espera do morto, sobretudo
dos jovens para arrebata-los. Eram cruéis e violentas, sendo relacionadas aos
ventos destruidores, aos ciclones e às tormentas. Por onde passavam, as Harpias
causavam a fome arrebatando a comida das mesas e espalhando um cheiro
pestilento que ninguém conseguia retornar por onde elas tivessem passado. Difundiam
a sujeira e a doença; era inútil afugentá-las pois elas voltavam sempre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Critilo,
por fim, completa sua denúncia contra Minésio, o Fanfarão:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">[...]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Agora
inquirirás, prezado amigo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Se
é este sábio bispo aquele mesmo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Que
o bruto Fanfarrão um certo dia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Meteu
na sua sege do lado esquerdo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">É
este, sim, senhor, o mesmo bispo,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">A
quem o nosso chefe desalmado,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Enquanto
governou a nossa Chile,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Já
dentro de palácio, e já na rua<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt;">Tratou
como quem trata um vil podengo (p.167).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por dizer que o bispo fora tratado como um vil
podengo, Critilo, se referia à forma como se trata um cachorro. Um podengo, era
uma espécie de cachorro que caça coelhos, uma espécie pequena de cachorro.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-weight: bold; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Portanto, como se vê,
o governador de Chile, com seus desacatos formais, de ordem externa, demonstra
uma consciente mentalidade anticlerical, concebida e desenvolvida pela leitura
dos corifeus da incredulidade, principalmente os enciclopedistas, como parece
acontecer com esse desabusado “libertino”, que se mostrou ser, Minésio. Um chefe
cruel que não demonstra respeito nem aos homens, nem aos céus.</span>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-91825302685150260032017-02-24T16:11:00.002-03:002017-03-03T10:26:50.449-03:00Cartas Chilenas - Carta 10ª<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">“Para
onde quer que me volte, só vejo a morte”. Estas palavras desesperançosas de
Ovídio, célebre poeta latino (43 a.C. – 18 d.C.), ilustram muito bem os
sentimentos de Critilo derramados na sua 10ª carta a Doroteu.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Critilo
inicia sua nova lista das peripécias de Minésio, o Fanfarrão, fazendo alusão às
elegias, que são poemas de cunho melancólicos, eróticos ou de exaltação de
personagens ilustres.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Quis, amigo, compor sentidos versos<o:p></o:p></span></i></div>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">A uma longa ausência e, para encher-me<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">De ternas expressões, de imagens tristes,<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">À banca fui sentar-me com projeto<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">De ler primeiramente algumas obras<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">No meu já roto, destroncado Ovídio.<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Abri-o nas saudosas elegias; (p.146)</span></i><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 15pt;"><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">O
temível governador de Chile, se vale de relatos, encomendados, que visam enaltecê-lo
com uma glória que a ele não pertence. Pois, como pode um falastrão que não tem
temor dos céus receber honrarias de homem abnegado e misericordioso?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Em vez
de compará-lo aos personagens santos, citados nas Santas Escrituras, Critilo,
compara, os feitos do poderoso chefe, aos feitos dos personagens das obras de
Ovídio.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">E quando me embebia na leitura<o:p></o:p></span></i></div>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Dos casos lastimosos, que ele pinta<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Na passagem que fez ao Ponto Euxínio,<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Encontro aqueles versos que descrevem<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">As ondas decúmanas: de repente<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Me sobe ao pensamento que estas eram<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Do nosso Fanfarrão imagem
viva. (p.146)</span></i><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Ovídio,
em seus poemas, usa seres imaginários parcialmente humanos, que nas suas ações
e comportamentos lendários, descreve o lado bestial da humanidade. Despidos da
razão e livres das convenções da sociedade humana, os seres mitológicos,
podem se entregar aos seus instintos e vontades.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Como
exemplo, podemos citar a descrição dos centauros, que compõem dois fragmentos
de “Metamorfoses”, de Ovídio, na parte que é conhecida como a batalha com os
Lápitas da Tessália na Grécia.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Pierre
Grimal (1992), descreve os centauros como seres monstruosos, meio homem, meio
cavalo. Têm busto de homem e às vezes, também as pernas, mas a parte posterior
do corpo, a partir do busto, é de cavalo e, pelo menos na época clássica, têm
quatro patas de cavalo e dois braços de homem. Vivem nas montanhas e nas
florestas, alimentam-se de carne crua e têm costumes extremamente brutais.
(GRIMAL, Dicionário da Mitologia, Difel, Lisboa, 1992).<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Ao
comparar Minésio a seres mitológicos, Critilo, faz uma denúncia do
comportamento bestial que o governante corrupto adota, não respeitando os
outros seres humanos, nem considerando as leis divinas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Finalizando
sua 10ª carta, Critilo prossegue com suas comparações:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Eu creio, Doroteu, que tu já leste<o:p></o:p></span></i></div>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Que um César dos romanos pretendera<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Vestir ao seu cavalo a nobre toga<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">Dos velhos senadores.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 10pt;">
(p.154)</span></i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">A
lembrança que surge na mente de Critilo, ao contemplar as ações exercidas por
Minésio, o Fanfarrão, é a da figura do César Romano, Caio Calígula, que aos 25
anos recebeu o título de Augusto César. O governo de Calígula foi marcado por
gastos exorbitantes, impostos altíssimos e a total falta de freios. Sua crueldade
com os presos e os escravos era tão grande quanto sua depravação na vida
sexual. Divertia-se fazendo torturar condenados na frente de seus familiares. Tomava
as posses de suas vítimas e não admitia ser contrariado em nada.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Calígula
nomeou senador seu cavalo, Incitatus, para quem construiu um palácio de
mármore. Antes disso, havia nomeado um cavalo como sacerdote e designado uma
guarda pretoriana para tomar conta de seu sono. Sua ideia era humilhar o Senado
romano e mostrar que se podia nomear um cavalo sacerdote e senador, podia fazer
qualquer coisa com a vida de qualquer pessoa. Calígula acreditava no terror
como arma de poder e gostava de ser odiado, dizia: “Oderint dum metuant! ” (Que
odeiem enquanto tremem de medo), referindo-se ao povo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Esta história<o:p></o:p></span></i></div>
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Pode servir de fábula, que mostre<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Que muitos homens mais que as feras brutos,<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Na verdade conseguem grandes honras.<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Mas ah! Prezado amigo, que ditosa<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Não fora a nossa Chile, se antes visse<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Adornado um cavalo com insígnias<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">De general supremo, do que ver-se<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Obrigada a dobrar os seus joelhos<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Na presença de um chefe, a quem os deuses<o:p></o:p></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;">Somente deram a figura de
homem!</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"> (p.154)</span></i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">O povo preferia agora ser governado por um
cavalo, ou seja, não ser governado, do que viver sob a tirania do chefe.</span>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-75698757191138237372016-01-04T11:16:00.002-02:002017-02-24T10:49:20.693-03:00Cartas Chilenas - Carta 9ª<br />
<div style="text-align: justify;">
Na 9ª carta, Critilo, passa a contar as desordens
que Minésio, "o Fanfarrão", apronta em relação as tropas militares. Essas tropas
deveriam servir para resguardar a lei e a ordem, assegurando aos cidadãos de
bem, sossego e tranquilidade. Porém, o mau uso do poder militar, tem gerado o
terror entre as pessoas que são humildes e cumpridoras das leis.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none;">
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Meu caro Doroteu, o nosso chefe<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">É muito compassivo sim: bem pode<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Oprimir os paisanos inocentes,<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Com pesadas cadeias, pode ainda<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Ver o sangue esguichar das rotas costas<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">À força dos zorragues; mas não pode<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Consentir que se dê nos seus soldados<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Por maiores insultos, que cometam,<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">A pena inda mais leve: assim praticam<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Os famosos guerreiros, que nasceram<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Para obrarem no mundo empresas grandes.</span><span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;"> (p.133)</span><span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 15pt;"><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT;">As
tropas garantiam o reinado de corrupção do mau governador. Qualquer um que
ousasse sequer questionar as ações de Minésio era lançado na prisão e dali só
sairia se pagasse alta fiança. Quem eram estes militares que se curvavam a tais
ações brutais impostas por Fanfarrão?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Morreu um capitão, e subiu logo<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Ao posto devoluto um bom tenente.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Porque foi, Doroteu? Seria acaso<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Por ser tenente antigo? Ou porque tinha<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Com honra militado? Não, amigo,<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Foi só porque largou três mil cruzados! (p.134)</span><span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 15pt;"><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "timesnewromanpsmt"; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT;">Os
militares que alcançavam o posto de autoridade: capitão, coronel, tenente eram
os que pagavam por este posto militar. Por terem comprado sua patente, esses
militares, estavam integrados ao grupo de lacaios de fanfarrão, que podia
requisitar seus serviços para manter as suas falcatruas e consequentemente
punir aqueles que não pagassem a pesada carga tributária. Critilo escreve que o
contingente militar era composto “De tropa auxiliar uns treze corpos” (p.136),
ou seja, tinham mais tropas do que o necessário. Isto se dava para que mais
pessoas pudessem alcançar o cargo de autoridade, o que representaria um ganho a
mais para Fanfarrão, na venda de patentes.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Os zelosos juízes punir querem<o:p></o:p></span></div>
<span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">A injúria da Justiça; formam autos,<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Procedem às devassas, pronunciam,<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">E mandam que esses nomes se descrevam<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Nos róis</span><span style="color: #0000ef; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;"> </span><span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">dos mais culpados. Mas, amigo,<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">De que serve fazer-se o que as leis
mandam<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Na terra, que governa um bruto chefe,<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 10pt;">Que não tem outra lei mais que a vontade?
(p.142)</span><span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 15pt;"><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "timesnewromanpsmt"; font-size: 11pt; line-height: 115%;">De nada servia todas as leis, que eram lidas em praças públicas, pois
Minésio não considerava nenhuma, mas agia sempre de acordo com sua vontade.</span></div>
Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-73025640666707839332015-12-28T10:33:00.001-02:002015-12-28T10:33:05.388-02:00Cartas Chilenas - Carta 8ª
Lamentando o triste fato de que “Fanfarão”
distorce as Leis que foram criadas para a proteção dos fracos, para impedir que
gananciosos e avarentos se aproveitem dos de menos posses, Critilo, na sua 8ª
carta, faz um desabafo a seu amigo Doroteu: Gostaria que Minésio, o Fanfarão,
tivesse recebido instrução, instrução escolar, enquanto criança, pois assim,
quem sabe, este poderia ter desenvolvido um pouco de justiça em sua pessoa.<o:p></o:p><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none;">
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Que não busque cobri-los com tal capa,</span><span style="color: #0000ef; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Que inda se persuada</span><span style="color: #0000ef; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span><span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">que os mais homens<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT;">Lhos ficam respeitando como acertos?</span><span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 15pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT;"><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">“Que não busque cobri-los com tal
capa, ” – que não os esconda com uma falsa aparência. Com essas palavras,
Critilo, relata que no governo de Minésio, tudo se faz uma farsa. Os atos de
corrupção de Minésio e dos seus lacaios, são como que cobertos por uma capa de
justiça e retidão.</span><span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Maldito, Doroteu, maldito seja<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">O pai de Fanfarrão, que deu ao mundo,<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Ao mundo literário tanta perda,<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Criando ao hábil filho numa corte,<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT;">Qual morgado, que habita em pobre aldeia!</span><span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT;"><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none;">
<span style="font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: PT-BR;">Critilo
acredita que se Minésio tivesse o conhecimento das palavras, poderia recorrer
aos altos das leis, em que vários pobres, foram beneficiados. Esses relatos, em
que se fez justiça aos de condição humilde, poderia mover Minésio a praticar,
pelo menos um pouco de justiça. Porém, Fanfarão, não recebera instrução
literária, mas fora criado nos meios políticos, em que se tem uma noção
totalmente desvirtuada do poder de um governante, atuando antes como um
poderoso imperador que busca seu próprio deleite e satisfação.</span></div>
Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-13948556974847588542015-12-23T12:31:00.001-02:002015-12-28T09:44:41.122-02:00Cartas Chilenas - Carta 7ªCritilo inicia a 7ª carta comparando a riqueza e
a boa vida que os nobres desfrutam em Portugal, aqui chamada de Espanha. Os
nobres são possuidores de fazendas com palácios e muitos servos. Porém, longe
do reino de nossa majestade, aproveitadores, como Minésio, desfrutam de
regalias destinadas aos nobres, contudo, ele e seus lacaios, se possuem
riquezas são as extorquidas das pessoas de bem e em geral dos mais pobres.<o:p></o:p><br />
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">Assim os generais da nossa Chile <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: 10pt;">Têm diversas fazendas: numas passam<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">As horas de descanso; as outras geram<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">Os milhos, os feijões e os úteis frutos<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">Que podem sustentar as grandes casas. (p.112) </span><o:p></o:p><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
“Que podem sustentar grandes casas”. – Em Vila
Rica há grandes proprietários que possuem pelo menos duas terras. Uma para
divertimento e outra que gera lucros tão altos que podem sustentar várias
famílias ou casas luxuosas.<o:p></o:p></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">Indigno, indigno chefe! Tu não buscas <o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: 10pt;">O público interesse. Tu só queres <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">Mostrar ao sábio Augusto um falso zelo; <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">Poupando ao mesmo tempo os devedores, <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">Os grossos devedores, que repartem <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">Contigo os cabedais, que são do Reino. (p. 120)<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
A política de Minésio é de pura exploração dos
pobres e favorecimento dos ricos, com interesses em propina, é claro. Desta
forma, os de poucos meios tem sido duramente penalizados e os cofres de nossa
majestade, o Rei de Portugal, tem sido esvaziados.<o:p></o:p></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">Amigo Doroteu, o nosso chefe<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: 10pt;">Patrocina aos velhacos, que lhe mandam, <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">Para que mais lhe mandem. Prende e vexa[549] <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">Aos justos, que entesouram[550] suas barras, <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 10pt;">Para ver, se oprimidos se resolvem <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">A
seguir os caminhos dos que largam. (p. 122)</span>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-28903451826288291072015-12-23T12:27:00.004-02:002015-12-23T12:27:50.015-02:00Cartas Chilenas - Carta 6ª
Na 6ª carta, Critilo, conta sobre os andamentos
da festa, em que os membros antigos e de prestígio da cidade são deixados de
lado, para que Minésio possa receber toda a atenção. Em meio a todo aqueles
acontecimentos que estão envoltos de corrupção e obscenidades, Critilo avista
no camarote de Minésio, sua doce amada Nise. Neste momento seu coração para,
ele não quer acreditar no que seus olhos lhe revelam. Como se não fosse
suficiente, ver sua amada entre aqueles abusadores do poder, Critilo, ainda vê
sua amada ser cortejada por um dos lacaios de Fanfarão. Neste instante, sua ira
é tanta que ele pega sua espada disposto a traspassa-la ao meio, por tamanho
afronte. Quão aliviado fica ao perceber que aquela cena fora apenas um sonho ou
melhor um pesadelo!<o:p></o:p><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none;">
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Soberbo e louco chefe, que proveito<o:p></o:p></span></div>
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Tiraste de gastar em frias festas<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Imenso cabedal, que o bom Senado<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Devia consumir em coisas santas?<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Suspiram pobres amas e padecem<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Crianças inocentes, e tu podes<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Com rosto enxuto</span><span style="color: #0000ef; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">[517] </span><span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">ver tamanhos males?<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Embora! Sacrifica ao próprio gosto<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">As fortunas dos povos que governas;<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Virá dia em que mão robusta e santa,<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Depois de castigar-nos, se condoa</span><span style="color: #0000ef; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">[518]</span><span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">,<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">E lance na fogueira as varas torpes.<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Então rirão aqueles que choraram;<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Então talvez que chores, mas debalde:<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">Que suspiros e prantos nada lucram <o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">A quem os guarda para muito tarde.<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: black; font-family: TimesNewRomanPSMT; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: TimesNewRomanPSMT; mso-fareast-language: PT-BR;">(Versos 516b-518)<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-layout-grid-align: none;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">Assim como Minésio age, se divertindo e provocando
o mal, ele há de ser tratado. Deus em sua misericórdia há de suscitar um
salvador que ponha fim a todos os abusos de Fanfarão e seus lacaios. </span></div>
Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4246344908928174734.post-65448244466727639832015-12-09T12:06:00.001-02:002015-12-09T12:06:30.801-02:00Cartas Chilenas - Carta 5ª
<br />
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://www.blogger.com/" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a>Na 5ª carta, Critilo, conta as desordens feitas
nas festas, caras festas, que são um claro desperdício de dinheiro público. Em tais
festas, todos os lacaios de Fanfarrão e pessoas ligadas ao poder público têm
participação. O desperdício de recursos com festas que além de onerosas, só
servem para satisfazer os desejos de Minésio, faz com que Critilo teça uma
interessante comparação entre o infame governante e o imperador Romano do
passado:<o:p></o:p></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">Quem pode, Doroteu, zombar, contente<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">Do César dos Romanos, que gastava<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">As horas, em caçar imundas moscas?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">Apenas isto lemos, o discurso<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">Se aflige, na certeza de que um César,<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">De espíritos tão baixos, não podia<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">Obrar um fato bom, no seu governo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div style="margin: 0cm 0cm 12pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">(Cartas Chilenas, p. 38)</span><o:p></o:p></div>
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">Um
César de espírito baixo, que gasta seu tempo a caçar moscas! Com essas palavras
Critilo deixa bem claro seu total desacordo com o estilo ostentoso de vida que
o governante leva. Além de tudo, existe o total desrespeito às tradições da
igreja. Minésio não respeita nem a autoridade do idoso bispo da cidade. Que
tempos são esses?! Esse clamor ecoa entre as vozes dos oprimidos.</span>Silvon Alves Guimaraeshttp://www.blogger.com/profile/03141438174233243216noreply@blogger.com2