Na 9ª carta, Critilo, passa a contar as desordens
que Minésio, "o Fanfarrão", apronta em relação as tropas militares. Essas tropas
deveriam servir para resguardar a lei e a ordem, assegurando aos cidadãos de
bem, sossego e tranquilidade. Porém, o mau uso do poder militar, tem gerado o
terror entre as pessoas que são humildes e cumpridoras das leis.
Meu caro Doroteu, o nosso chefe
É muito compassivo sim: bem podeOprimir os paisanos inocentes,
Com pesadas cadeias, pode ainda
Ver o sangue esguichar das rotas costas
À força dos zorragues; mas não pode
Consentir que se dê nos seus soldados
Por maiores insultos, que cometam,
A pena inda mais leve: assim praticam
Os famosos guerreiros, que nasceram
Para obrarem no mundo empresas grandes. (p.133)
As
tropas garantiam o reinado de corrupção do mau governador. Qualquer um que
ousasse sequer questionar as ações de Minésio era lançado na prisão e dali só
sairia se pagasse alta fiança. Quem eram estes militares que se curvavam a tais
ações brutais impostas por Fanfarrão?
Morreu um capitão, e subiu logo
Ao posto devoluto um bom tenente.Porque foi, Doroteu? Seria acaso
Por ser tenente antigo? Ou porque tinha
Com honra militado? Não, amigo,
Foi só porque largou três mil cruzados! (p.134)
Os
militares que alcançavam o posto de autoridade: capitão, coronel, tenente eram
os que pagavam por este posto militar. Por terem comprado sua patente, esses
militares, estavam integrados ao grupo de lacaios de fanfarrão, que podia
requisitar seus serviços para manter as suas falcatruas e consequentemente
punir aqueles que não pagassem a pesada carga tributária. Critilo escreve que o
contingente militar era composto “De tropa auxiliar uns treze corpos” (p.136),
ou seja, tinham mais tropas do que o necessário. Isto se dava para que mais
pessoas pudessem alcançar o cargo de autoridade, o que representaria um ganho a
mais para Fanfarrão, na venda de patentes.
Os zelosos juízes punir querem
A injúria da Justiça; formam autos,Procedem às devassas, pronunciam,
E mandam que esses nomes se descrevam
Nos róis dos mais culpados. Mas, amigo,
De que serve fazer-se o que as leis mandam
Na terra, que governa um bruto chefe,
Que não tem outra lei mais que a vontade? (p.142)
De nada servia todas as leis, que eram lidas em praças públicas, pois
Minésio não considerava nenhuma, mas agia sempre de acordo com sua vontade.