quinta-feira, 7 de julho de 2022

O SIGNO LINGUÍSTICO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E DE SIGNIFICAÇÃO DA IMAGEM DO POEMA – UMA ANÁLISE DA POESIA DE GUIMARÃES FILHO - Parte 4

 4 DA LUZ À ESCURIDÃO E DE NOVO À LUZ – OS CAMINHOS DO POEMA EM “A ROSA ABSOLUTA” DO POETA GUIMARÃES FILHO

Um poema começa [...]                                                                                                                                                                       com um nó na garganta,                                                                                                                                                                     uma sensação de algo errado,                                                                                                                                                            uma saudade, uma dor de amor [...]                                                                                                                                              encontra os pensamentos                                                                                                                                                                         e o pensamento encontra as palavras                                                                                                                                            (Robert Frost).

    A Rosa Absoluta, do poeta Guimarães Filho, por se tratar de um livro de poesias, não poderia começar de modo diferente do descrito por Robert Frost: “com um nó na garganta”. Por isso, logo no primeiro poema, “Do amor sem ódio” (p.11), é possível perceber que algo está errado. O poeta se depara com um amor morno, sem a explosão da paixão, um amor de um casal casado cuja rotina ofuscou o brilho dos eternos apaixonados.

    O ponto de partida está determinado, é o amor morno, que mesmo assim continua sendo amor. A partir desta visão, A Rosa Absoluta, possibilita uma viagem rumo à escuridão da solidão, passando, primeiro, pelas tardes cinzentas e frias para finalmente reencontrar-se com as cores, trazidas de volta, não pela luz vigorosa do sol, mas pela tranquila e serena luz do luar.

    O leitor dos poemas, se depara logo de princípio, com um personagem que busca compreender o “misterioso”, devorador e “assombroso destino” que parece perseguí-lo impiedosamente. “Longo é o caminho” que o poeta terá de percorrer, confrontando-se sempre com a “estranha” realidade da “solidão”.

    O silêncio passa a fazer parte da caminhada que se inicia em busca da compreensão do porquê da solidão. Alfredo Bosi (1977) diz que existe uma “maleabilidade infinita” com que o homem pode trabalhar a matéria fonética. Estabelecendo uma relação constante e congruente entre o som e o sentido, o poeta, arranca do silêncio, que parece puro vazio, ausência de som, um mar de significados, exprimindo seus sentimentos de angústia e desolação.

    O poeta se dedica ao trabalho da recordação que diferente da lembrança é uma construção do passado. No poema “A uma mulher” (p.15), há uma busca do além físico, em que, o apaixonado, considera os efeitos que o tempo, longe da pessoa amada, teve sobre seu entendimento da vida e consequentemente em sua forma de fazer poesia. Assim, o poeta, passa a recordar uma realidade já vivida (“memória do infinito”), que por ser uma recordação, já está no coração e, portanto, nem é mais uma realidade e sim uma invenção.

    O percurso da viagem, rumo a escuridão, vai sendo desenhado nas primeiras páginas do livro, para finalmente, nos poemas ‘Renúncia” (p.23) e “O dia entristecido” (p.24), dar-se o devido valor à escuridão, à angustia e até mesmo à própria morte. Contudo, antes deste clímax, houve primeiro um processo de sonorização do tema, enlaçando-se o jogo dos ecos e contrastes, ritmos, metro, andamento da frase e a entoação. Todo esse movimento de construção, parece autorizar o final da “tarde cinzenta” e o começo da “noite escura”, possibilitando um mergulho profundo nos “caminhos de sonhos” e o enclausuramento nas grades da “solidão interminável”.

    Como não poderia ser diferente, nos poemas “Intimidade” (p.18) e “O gesto amoroso” (p.19), o corpo é introduzido definitivamente no percurso que se trilha rumo a busca do amor sustentador. Porém, uma pergunta persiste: os movimentos, de que os fonemas resultam, não são, acaso, vibrações de um corpo em situação, expressões de um organismo que responde, com a palavra, a pressões que o afetam desde dentro? Assim sendo, chegamos a formulação de que o corpo, tanto o do poeta como o da amada, sempre esteve presente no percurso trilhado.

    O corpo humano e sua comunicação em ação é o centro de todas as coisas para nós. O conjunto de regras de organização e funcionamento das coisas está direcionado para o corpo com os seus sentidos, estabelecendo assim, o próprio sentido de nossa existência. A introdução do corpo no poema, portanto, é uma forma do poeta confirmar sua existência e, ao mesmo tempo, demonstrar pela imagem poética, que ele percebe as coisas do mundo, os outros objetos; o que significa dizer que, ao perceber o corpo, imediatamente percebe seu exterior, pois “toda percepção de meu corpo se explicita na linguagem da percepção exterior” (MERLEAU-PONTY, 2006, p.277).

    Nesta busca que o poeta faz do além físico, há, segundo Bosi (1977), uma “retração decidida da linguagem para si e em si própria”. Ele, o autor, atinge uma liberdade tal, na forma de colocação de seu poema, que se sente à vontade para mover o campo de aplicação do histórico e político para um espaço intratextual cujo referente é uma entidade metafísica, maiúscula (“medo da morte, noite, sombras, labirinto sem fim, assombroso destino, invisível silêncio dos corpos, noite devoradora, estranho destino”) ou a própria letra. O poeta, alcança, a partir deste momento, um grau muito alto de autonomia.

    O apaixonado poeta, procura nas aparências superficiais um efeito de grau de estruturação, que suponha a existência de forças heterogêneas e em equilíbrio, que justifiquem o amor sentido. Desta forma, no poema “As razões do meu amor” (p.28), são enumeradas dez razões que dão a chancela para que o apaixonado continue imerso neste romance unilateral: ela “leu o meu livro; não é calma; sabe todos os pratos; prefere o silêncio; não tem religião; tem mãos firmes, me viu nu; oferece abrigo; sabe quem sou; teve meu livro nas mãos”.

    A imagem sofre influências de forças óticas e psíquicas e, desta forma, o significante apresenta algumas das “qualidades simples” do significado. Percebemos aqui que o poema se diferencia do diagrama, pois neste, o significante apresenta apenas as relações entre as suas partes. Isto equivale a dizer que, imagens contidas em um quadro ou em uma fotografia apresentam, de forma direta e imediata, algumas qualidades do objeto, como cores ou formas. Já no caso de uma tabela ou de um mapa, enquanto diagramas, a semelhança entre o significante e o significado não é direta: “O significante apresenta com o significado uma analogia icônica no que concerne às relações entre suas partes” (JAKOBSON, 1995a, p.105). No livro em análise, notamos que o poeta, em seu percurso, tem uma pesada carga de tensão sentimental que parece confundir as figuras linguísticas com a matéria mesma do seu eu. Assim sendo, no poema “A um cão sem beleza” (p.32), a imagem do “cão ávido”, “sem sombra”, “estranho e solitário”, se confunde com o seu próprio ser, que sente, pela angústia, o “frio de uma espada na inquietude da minha carne”.

    A imagem poética direciona-se para a representação gráfica de pessoas ou objetos. A representação pode ser entendida como exposição escrita, que pode ser uma simples reprodução do pensamento ou ainda apenas a descrição da coisa que se quer representar (a figura abstrata de um cão vadio), ou pode se referir ao conteúdo – em sentido filosófico – do que foi apreendido pela imaginação ou pela memória (Veio dos arrabaldes, estranho e solitário).

    A palavra “poeta” vem do grego “poietes” que significa “aquele que faz”. Como a imaginação é a capacidade humana para inventar ou criar e, para ser vista, essa imaginação precisa ser representada na forma gráfica, ou seja, precisa receber a roupagem da palavra, pode-se dizer que o poeta é aquele que faz a linguagem. Portanto, ao representar a linguagem por sinais gráficos, segundo sua imaginação, o poeta concebe novas perspectivas do mundo por meio da linguagem, com a intenção de universalizar ou produzir novamente um sentimento (a minha humanidade está em reconhecer a beleza fugaz das coisas). A sensibilidade provocada com aquilo que se mostra à vista, o poema, atrai por seu movimento silencioso dos instantes que são delicadamente capturados e congelados.

    A teoria da forma, conceitua a imagem como estando propensa, para nós, ao estado de estrato, de quase matéria posta no espaço da percepção, idêntica a si mesma. Em seus devaneios, o apaixonado poeta, acredita fixar o imaginário de um quadro, de uma imagem, de um amor já vivido. No poema “A mulher amada” (p.20), o autor, pensa em sua musa inspiradora, em termos de uma constelação, ou melhor, de astros, que em seus movimentos harmônicos, ora estão distantes ora retornam ao ponto em que o enunciador dos versos está. Ou seja, como afirma Jakobson (1995), a imagem poética não está limitada à relação som/sentido, mas ela se constrói também a partir da combinação por equivalência entre todos os âmbitos gramaticais da linguagem, como a morfologia e a sintaxe, por exemplo.

    “A sombra da tarde esquadrinha teu fino queixo em busca de uma taciturna resposta” (A um retrato desconhecido, p.42). Nestes versos, o poeta, ressalta a importância dos sentidos em se estabelecer a realidade. Esta percepção nos faz lembrar o conceito formulado por Santo Agostinho de que:

O olho é o mais espiritual dos sentidos. E, por trás de Santo Agostinho, todo platonismo reporta a ideia à visão. Conhecendo por mimese, mas de longe, sem a absorção imediata da matéria, o olho capta o objeto sem tocá-lo, degustá-lo, cheirá-lo, deglutí-lo. Intui e compreende sinteticamente, constrói a imagem não por assimilação, mas por similitudes e analogias (BOSI, 1977, p.17). 

    Desta forma, compreendemos porque a imagem poética, criada pelo apaixonado, possui, um caráter de vacuidade, de intervalo, de oco, assustosamente presente na percepção que o poeta tem da mulher amada (“a sombra da tarde espera que a noite dissipe essa rigidez que carregas contigo nos olhos”).

    No poema “Ao triste” (p.36), o autor revela que tira o seu poema da realidade, e com aplicação dos gêneros poéticos, passa a uma nova realidade. Ele eterniza essa realidade transformando-a em palavras, entrando de uma vez no mundo da poética (“Envelhecemos não apenas no nome/ mas nos gestos e no rancor antigo/ no hábito que nos persegue como uma ferida/ de amarmos esta vida como amamos a morte”). Em sua utilização da imagem poética, o autor, deixa claro que o “signo será sempre ligado à ideia de um termo designado”, por isso mesmo é preciso utilizá-lo criteriosamente no poema, de forma “que a relação entre o signo e aquilo que ele designa seja posta em evidência do modo mais claro possível e não possa constituir-se em objeto de simplificações que a deformem” (HJELMSLEV, 2006, p.62).

    O percurso poético, em A Rosa Absoluta, é abruptamente interrompido com a introdução do poema “Do amor de Montale por Annalisa Cima” (p.46). Talvez, a intenção do autor, ao trazer o poeta italiano Eugênio Montale e o seu romance vivido com Annalisa Cima, tenha sido a de demonstrar que amores longínquos podem se tornar reais, ou quem sabe seja um desabafo como que a perguntar: porque tem que ser assim, ver o sonho se perder no ar? De qualquer forma, o autor, mostra que uma construção está em andamento e as estruturas precisam ser reforçadas para o que se seguirá.

    No poema “Fragmento” (p.48), encontramos o verso que diz: “devo a ti a confissão da minha estranheza: não sei mais o quarto em que habito, e como se eu habitasse um subúrbio, pergunto: que sentido há na luz que percorre o dia? ” Neste poema, parece que o signo linguístico está mais colado a coisa representada, o amor que se foi, mas que ainda permanece. Então acontece algo interessante, o poeta mobiliza como que uma operação expressiva organizada em resposta a experiência vivida (“estou deserto, virado para o crepúsculo como um jarro de flores”). Nesta operação, o som se torna um mediador entre a vontade de significar e o mundo a ser significado (“como quem caminha irreconhecível pela cidade, assim caminho para um obscuro destino”).

    No poema “louvação da noite” (p.49), o poeta, presume ter feito uma identificação da imagem que tanto o perturba: “É noite porque a vida assume memórias sofridas, absorve mistérios que estão ausentes, e o peito comprime uma lembrança, talvez, quem sabe a última”. Sobre este assunto, Bosi (1977, p.15), nos adverte do perigo do engano, mesmo que parcial, que a identificação pode supor. “A imagem não decalca o modo de ser do objeto”, não há reprodução exata do ser, ainda que de alguma forma essa identificação nos ajude a apreender o objeto. Assim, toda “estranheza” tenderá a permanecer, mesmo que em partes, como algo indecifrável.

    Esboçando uma mudança de condição ou uma tentativa de reconstrução, no poema “Juízo final” (p.50), o autor faz uso da linguagem mítica em conjunto com a linguagem silogística.

Tuas mãos inacessíveis dizem adeus,                                                                                                                                                  e enquanto os homens sonham,                                                                                                                                              enquanto para eles o esplendor mora nos teus hábitos,                                                                                                              predestinada como a sombra nas ramagens                                                                                                                          rompendo com a última presença de luz,                                                                                                                                esmagas a oprimida esperança que faz deles,                                                                                                                                sem piedade nem consolo, deuses solitários. 

    Ao usar a linguagem mítica, o poeta, evoca a mimese aristotélica, que se pauta na verossimilhança da Arte, que não é realidade pura e simples, mas algo semelhante a realidade. No uso da linguagem silogística, o autor, usa sentenças precisas, lógicas. Desta forma, abre-se espaço para a razão e também para o sensível.

    A movimentação dos caminhos do poema, segue um rumo inesperado, mas ao mesmo tempo um rumo que traz alívio. Por alguns instantes, o futuro do apaixonado, pareceu tenebroso e assustador, porém ocorre a “Reconciliação” (p.53). O poeta faz uso de palavras que alteram o ritmo do poema, possibilitando que o leitor o acompanhe e o apoie na mudança que se seguirá. Usando de sabedoria poética, o autor, usa tons irracionalistas, de palavras míticas carregadas de significado (Cego alimentando pombos, p.57). Fazendo assim, ele encontra um modo de enfrentar o tenso convívio entre palavra e realidade.

    Depois de uma frenética busca pela pessoa amada, vem a admissão de que ela está, pelo menos por hora, inalcançável. No poema “A que perdi” (p.61), o autor fala da amada, reconhecendo que a perdeu, porém, as palavras são suaves, livres de rancor. A sua situação, a do poeta, é comparada, nesta fase do percurso, não mais com o cinza, nem com a escuridão, mas com a paisagem, que se compõe de rios, gramas, pássaros e árvores. Desta forma, o poeta faz uma interação das palavras, formando uma imagem perceptível, que aparece ao olho como algo firme, consistente (“árvores paradas”).

    Enfim, o poeta e seus leitores, podem fazer o caminho do “Retorno” (p.65):

Sempre me comove essa lua nova                                                                                                                                                  que me espreita no caminho.                                                                                                                                                            Eu que tantas vezes mirei o sombrio poente, hoje olho com                                                                                                                                                                         [rancor os postes de luz                                                                                                              e penso, cada vez mais triste, que o mundo é um lugar vão                                                                                                            onde os sonhos nascem sem cumplicidade nem propósito,                                                                                                                e ligeiramente morrem sem esperança.                                                                                                                                              Aqui regresso a esta casa                                                                                                                                                                  eu que tantas vezes parti de uma sonhada urbe que havia em                                                                                                                                                                                                      [mim                                                                                                            e percorri ruas vazias ofegante pelo esforço vão,                                                                                                                            oprimido a cada manhã pela distância e pela ausência.                                                                                                                Aqui regresso. E em mim o rito sagrado da busca transborda                                                                                                                                                                                              [como luz.                                                                                                      Essa busca furtiva por homens justos, num tempo de medos e                                                                                                                                                                                             [incertezas.                                                                                                   Aqui regresso. E em mim essa lua nova,                                                                                                                                            implacável como o poente, há de ressurgir, clara e pura,                                                                                                            como a íntima sucessão de minha vida,                                                                                                                                            no sonho em que penso reconstruí-la.

    Entre os primeiros versos do livro e os últimos, o tempo passou, correu. Segundo Bosi (1977, p.32), “o tempo é que faz crescer a árvore, rebentar o botão, dourar o fruto. O retorno, a volta, não reconhece apenas o aspecto das coisas que voltam, ela abre também o caminho para sentir o seu ser”. A imagem recordada, pode assumir uma aura de mito, ao retornar, ao fazer a volta. A volta é um passo adiante na ordem da conotação, logo, também, na ordem do valor. Então, o que antes não tinha tanto sentido, passa a ter, o que antes tinha uma carga sentimental, passa a não ser diferenciado das coisas do cotidiano. Ou seja, o mesmo movimento que permite a agitação do início do percurso, pode possibilitar o sossego do retorno.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O que chamamos de princípio é quase sempre o fim.                                                                                                                        E alcançar o fim é alcançar um princípio.                                                                                                                                      Fim é o lugar de onde partimos.                                                                                                                                                       (T. S. Eliot). 

   Neste trabalho, procuramos fazer reflexão sobre o uso do signo linguístico na construção de uma imagem poética, buscamos apreender como este movimento, por meio da linguagem, atua na (re)produção de significados e sentimentos, promovendo o encontro com o sensível por vias e por formas originais e particulares de expressão. Vimos que, a palavra, tida como porto seguro; às vezes pode ser movediça, pantanosa, escorregadia, instável, mal compreendida e mal-usada. No entanto, a palavra é o eixo do fazer poético, é o modo vivo da poesia. Ela tem a capacidade de se corporificar enquanto poema, e assim, abraçar sensivelmente a sensibilidade do outro.

     A progressão do poema de Guimarães Filho, como também a obra de muitos outros poetas, se pauta no uso do signo poético para promover o trânsito entre linguagens, para inquietar o corpo, dar movimento ao pensamento e seduzir o leitor, trazendo-o de encontro com a dinâmica da atualidade. Isto ficou evidente na velocidade com que o poeta se conecta com seus leitores, na forma como posta seus sentimentos, fala de suas angústias, demonstra sua sensibilidade e aponta o roteiro que seguirá.

    Entre um verso e outro, entre uma página e outra, o poeta vai alcançando seu público, vai comunicando sua rota, vai também avisando sobre os efeitos que esse caminhar terá – pode-se encontrar tensão e angústia, mas também o alívio e a tranquilidade –, neste seu deslizar, o poeta segue sussurrando poesia para todos os cantos, produzindo seus sons nas superfícies planas, horizontais e verticais, e perseguindo seu objetivo que é falar sobre seus sentimentos referentes à mulher amada. Assim, ao passo que o poeta tem a liberdade para criar, para inventar, ele também tem um compromisso com as regras do jogo poético, com os itinerários determinados de antemão. Este pacto, que é seguido à risca, pelo destinador, é cumprido a partir da sensibilidade, da compreensão de que intuir é corresponder ao viver.

    Nosso trabalho se pautou na dinâmica que o poeta utiliza para significar o signo, trazendo para o campo do observável a noção de que o plano da existência se deve à potencialidade da ação e da forma originária de ser. Ao escolhermos a coletânea de poesias: A Rosa Absoluta, do poeta Guimarães Filho, fitamos a descrição da origem da sensibilidade humana que está presente nesta obra do artista. Reconhecemos, porém, que a análise que fizemos deste livro, atingiu o mínimo da complexidade do trabalho do poeta. Há muito ainda para ser desvendado nesta coletânea tão significativa. Contudo, referente ao nosso intento, ficamos satisfeitos com o resultado. Foi possível perceber a poesia por um prisma diferente, que ao decidir constituir-se como escrita, relevou alguns eixos temáticos, fiéis ao exercício do olhar e do sentir.

    O que apresentamos, então, é um corpo de escrita, que quer contribuir com sua parcela para a multiplicidade de perspectivas na leitura da poesia moderna. Esperamos que as discussões teóricas e práticas demonstradas, possam ajudar na construção e significação da imagem do poema. Conseguimos apreender nos atos poéticos e performáticos do poeta Guimarães Filho como a imagem poética, apesar de abstrata, promove uma combinação de realidades opostas. Pudemos ver também como o poeta segue um trajeto que marca o encontro perceptivo da pulsação da vida com a constatação da conformidade ao plano da existência. E ver, nesse caso, se relaciona tanto com o desejo de se debruçar sobre teorias que possam dar conta da descrição da percepção desse ato, quanto com a generosidade de recepcionar, do deixar se levar pela sensibilidade, do encontrar-se com a poesia, do deleitar-se com sua sonoridade. 

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