Fichamento Citação
VEIGA,
Ilma Passos Alencastro. Projeto
político-pedagógico da escola: uma construção possível. IN: Coleção
Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1995.
“O projeto político-pedagógico tem sido objeto de
estudos para professores, pesquisadores e instituições educacionais em nível
nacional, estadual e municipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino.”
(p.11).
“No sentido etimológico,
o termo projeto vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere,
que significa lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa, empreendimento.
Redação provisória de lei. Plano geral de edificação (Ferreira 1975, p.
1.144).” (P.12).
“O projeto busca um rumo,
uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explícito, com um compromisso
definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também,
um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso
sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população majoritária. É
político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de
sociedade”. (P.13).
“O projeto
político-pedagógico, ao se constituir em processo democrático de decisões,
preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que
supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e
autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado da
burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos
fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os
poderes de decisão”. (pp.13-14).
“A principal
possibilidade de construção do projeto político-pedagógico passa pela relativa
autonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto
significa resgatar a escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo,
fundado na reflexão coletiva”. (p.14).
“Para que a construção do
projeto político-pedagógico seja possível não é necessário convencer os professores,
a equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma
espontânea, mas propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a
realizar o fazer pedagógico de forma coerente”. [...] “Do exposto, o projeto
político-pedagógico não visa simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas
a uma qualidade em todo o processo vivido”. (p.15).
“A escola de qualidade
tem obrigação de evitar de todas as maneiras possíveis a repetência e a evasão.
Tem que garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos. Qualidade
para todos, portanto, vai além da meta quantitativa de acesso global, no
sentido de que as crianças, em idade escolar, entrem na escola. É preciso
garantir a permanência dos que nela ingressarem. Em síntese, qualidade "implica
consciência crítica e capacidade de ação, saber e mudar" (Demo 1994, p.
19)”. [...] “O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que exige dos
educadores, funcionários, alunos e pais a definição clara do tipo de escola que
intentam, requer a definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo de
sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar”. (p.17).
“[...] A socialização do
poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo;
da reciprocidade, que elimina a exploração; da solidariedade, que supera a
opressão; da autonomia, que anula a dependência de órgãos intermediários que
elaboram políticas educacionais das quais a escola é mera executora”. (p.18).
“A formação continuada é
um direito de todos os profissionais que trabalham na escola, uma vez que não
só ela possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na qualificação
e na competência dos profissionais, mas também propicia, fundamentalmente, o
desenvolvimento profissional dos professores articulado com as escolas e seus
projetos”. (p.20).
“Veiga e Carvalho afirmam
que: O grande desafio da escola, ao construir sua autonomia, deixando de lado seu
papel de mera "repetidora" de programas de "treinamento", é
ousar assumir o papel predominante na formação dos profissionais”. (1994, p.
50). (p.21).
“O que pretendemos
enfatizar é que devemos analisar e compreender a organização do trabalho pedagógico,
no sentido de se gestar uma nova organização que reduza os efeitos de sua
divisão do trabalho, de sua fragmentação e do controle hierárquico”. (p.22).
“A escola persegue
finalidades. É importante ressaltar que os educadores precisam ter clareza das finalidades
de sua escola. Para tanto, há necessidade de se refletir sobre a ação educativa
que a escola desenvolve com base nas finalidades e nos objetivos que ela define”.
(p.23).
“A análise da estrutura
organizacional da escola visa identificar quais estruturas são valorizadas e
por quem, verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar claro
que a escola é uma organização orientada por finalidades, controlada e permeada
pelas questões do poder”. (p.25).
“O conhecimento escolar é
dinâmico e não uma mera simplificação do conhecimento científico, que se adequaria
à faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí, a necessidade de se promover,
na escola, uma reflexão aprofundada sobre o processo de produção do
conhecimento escolar, uma vez que ele é, ao mesmo tempo, processo e produto”.
(p.27).
“O primeiro é o de que o
currículo não é um instrumento neutro”. [...] “O segundo ponto é o de que o
currículo não pode ser separado do contexto social, uma vez que ele é historicamente
situado e culturalmente determinado”. [...] “O terceiro ponto diz respeito ao
tipo de organização curricular que a escola deve adotar”. [...] “O quarto ponto
refere-se à questão do controle social, já que o currículo formal (conteúdos curriculares,
metodologia e recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica
controle.”. (p.27-28).
“A organização do tempo
do conhecimento escolar é marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo
é, consequentemente, organizado em períodos fixos de tempo para disciplinas
supostamente separadas. O controle hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes
é desperdiçado e controlado pela administração e pelo Professor”. (p.29).
“É preciso tempo para que
os educadores aprofundem seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o projeto
político-pedagógico em ação. É preciso tempo para os estudantes se organizarem
e criarem seus espaços para além da sala de aula”. (p.30).
“O processo de avaliação
envolve três momentos: a descrição e a problematização da realidade escolar, a
compreensão crítica da realidade descrita e problematizada é a proposição de
alternativas de ação, momento de criação coletiva. A avaliação, do ponto de
vista crítico, não pode ser instrumento de exclusão dos alunos provenientes das
classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer o
desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de conhecimentos científicos,
sociais e tecnológicos produzidos historicamente e deve ser resultante de um
processo coletivo de avaliação diagnóstica”. (p.32).
Resenha:
Apresentação
do autor
Ilma Passos Alencastro
Veiga Possui Bacharelado e Licenciatura em Pedagogia pela faculdade de
Filosofia Ciências e Letras de Goiás (1961), Licenciatura em Educação Física
pela Escola Superior de Educação Física de Goiás (1967), mestrado em Educação
pela Universidade Federal de Santa Maria (1973), doutorado e pós-doutorado em
Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1988). É professora titular
aposentada e pesquisadora associada sênior da Universidade de Brasília. É
professora do Centro Universitário de Brasília. Tem experiência na área de
Educação, atuando principalmente nos seguintes campos: formação de professor,
didática, educação superior, docência universitária e projeto
político-pedagógico.
Principais obras:
- “Quem sabe faz a hora de construir o projeto político pedagógico”.
- “Projeto Político-Pedagógico da Escola”. (Editora Papirus)
- “Prática Pedagógica do Professor de Didática”. (Editora Papirus)
-“Técnicas de Ensino: Por que não?”. (Editora Papirus)
-“Repensando a didática”. (Editora Papirus)
-“A Escola mudou. Que mude a formação dos Professores”. (Editora
Papirus)
-“A Aventura de formar Professores”. (Editora Papirus)
-“Aula: Gênese, Dimensões, Princípios e Práticas”. (Editora Papirus)
-“Profissão Docente – Novos sentidos, Novas perspectivas”. (Editora
Papirus)
-“Técnicas de Ensino: Novos tempos, Novas configurações”. (Editora
Papirus)
-“Lições de Didática”. (Editora Papirus)
-“Didática: O ensino e suas relações”. (Editora Papirus)
-“Educação Básica e Educação Superior: Projeto Político-Pedagógico”.
-“Caminhos da Profissionalização do Magistério”. (Editora Papirus)
-“docentes Universitários Aposentados: Ativos ou Inativos?”. (Editora Junnqueira)
Conteúdo
do artigo
O artigo da Profª Ilma
Passos Alencastro Veiga pretende oferecer bases para reflexão em torno da
elaboração de um projeto político pedagógico que se coloque a serviço das
finalidades da instituição educacional. Nele são tratados aspectos relativos a
nova LDB, a questão da autonomia (administrativa, financeira, jurídica e
pedagógica) na escola, bem como os pressupostos norteadores e a construção do
projeto político-pedagógico.
Veiga chama a atenção
para o conhecimento, por parte dos atores que participam do processo de
elaboração do projeto político-pedagógico, de todos os processos e relações que
perpassam o contexto educacional. Conhecer a escola significa observar
profundamente a dinâmica das relações e interações que constituem seu
dia-a-dia.
A elaboração de um
projeto político pedagógico envolve a compreensão, por parte dos profissionais
da educação, de como ocorre no interior da escola e das salas de aula as relações
pedagógicas, como é concebido, executado e avaliado o currículo escolar, quais
atitudes, valores e crenças são perseguidos, quais as formas de organização do
trabalho pedagógico. Essa compreensão possibilita a clarificação de questões
prioritárias e proposição de alternativas de solução.
Deste modo, a
compreensão do contexto escolar deve ter por base uma análise interna, acima
apontada, e uma externa. A análise do contexto externo engloba o estudo do meio
no qual a escola está inserida e suas interações com a comunidade. Para efetuar
essa análise é imprescindível a identificação dos principais participantes que
interagem com a escola e a análise das influências que são exercidas pelas
dimensões geográficas, políticas, econômicas e culturais.
A construção de um projeto político-pedagógico
de qualidade é caracterizada por dois momentos interligados e entremeados pela
avaliação, a saber, o momento da concepção e o da execução. Conforme Veiga a
concepção de um projeto político pedagógico deve apresentar o seguinte:
participação de decisões; instauração de uma organização de trabalho que
exponha conflitos e contradições; explicitar princípios com base na autonomia,
solidariedade e estímulo à participação escolar; direcionar o projeto para a
busca de solução dos problemas; comprometer-se com a formação do cidadão.
No que toca à execução,
um projeto de qualidade deve: nascer da própria realidade; ser exequível e
prever as condições necessárias ao desenvolvimento e à avaliação; implicar a
ação articulada dos envolvidos; ser permanentemente construído.
Destarte, não basta
apenas elaborar um projeto político-pedagógico, pois ele deve ser adequado à
realizada do contexto escolar no qual foi desenvolvido, caso contrário sua
execução torna-se inviável. Além disso, o projeto político-pedagógico não é
algo pronto, mas um projeto em aberto para novas interações e uma construção
contínua.
Conclusão
Veiga nos mostra que a escola, para se desvencilhar da divisão do
trabalho, de sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa criar
condições para gerar outra forma de organização do trabalho pedagógico. A
reorganização da escola deverá ser buscada de dentro para fora. O fulcro para a
realização dessa tarefa será o empenho coletivo na construção de um projeto
político-pedagógico e isso implica fazer rupturas com o já existente, para que
possa avançar.
É preciso
entender o projeto político-pedagógico da escola como uma reflexão de seu
cotidiano. Para tanto, ela precisa de um tempo razoável de reflexão e ação,
para se ter um mínimo necessário à consolidação de sua proposta. A construção
do projeto político-pedagógico requer continuidade das ações, descentralização,
democratização do processo de tomada de decisões e instalação de um processo
coletivo de avaliação de cunho emancipatório.
Finalmente, há que se pensar que o movimento de
luta e resistência dos educadores é indispensável para ampliar as
possibilidades e apressar as mudanças que se fazem necessárias dentro e fora
dos muros da escola.
Muito boa a resenha!
ResponderExcluirObrigado! Agradeço sua presença.
ExcluirVocê tem o PDF do livro dela?
ResponderExcluirInfelizmente não tenho a versão em PDF.
ExcluirVocê tem o PDF do livro dela?
ResponderExcluirValeu pela postagem! Um bom material para iniciar as discussões do PPP.
ResponderExcluirValeu pela postagem! Um bom material para iniciar as discussões do PPP.
ResponderExcluirObrigado, Rosita! O PPP é um instrumento espetacular para o direcionamento e gerência das ações na escola. Pena que alguns ainda o vejam como empecilho. Abraços.
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