ARANHA,
Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da
Educação. São Paulo: Moderna, 1996. pp. 14-76.
Capítulo 1
Cultura e humanização
“[...]
modo de pensar resulta da sociedade hierarquizada, que separa o trabalho humano
em atividades intelectuais e manuais, valorizando as primeiras em detrimento
das últimas... nas tribos não existe ainda a separação entre o pensar e o agir.
Trata-se de outra cultura [...] O contato do homem com a natureza,
com outros homens e consigo mesmo é intermediado pelos símbolos, isto é, signos
– arbitrários e convencionais -, por meio dos quais o homem representa o mundo” (p.14).
“Nesse
sentido pode-se dizer que a cultura é o conjunto de símbolos elaborados por um
povo em determinado tempo e lugar. Dada a infinita possibilidade de simbolizar,
as culturas são múltiplas e variadas. [...] A diferença do homem, o animal não
domina o tempo, porque seu ato se esgota no momento em que o executa. [...] Totalmente
diversa é a ação do homem sobre a natureza e sobre si mesmo. Ao reproduzir
técnicas usadas por outros homens e inventar outras, novas, a ação humana se
toma fonte de ideias e por isso uma experiência propriamente dita.” (p.15).
“A transformação que o homem faz
na natureza chama-se trabalho. O trabalho é a ação transformadora dirigida por
finalidades conscientes. [...] O mundo cultural é, dessa forma, um sistema de
significados já estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança
encontra um mundo de valores dados, onde ela se situa” (p.16).
“O autoproduzir-se humano se
completa em dois movimentos contraditórios e inseparáveis: por um lado, a
sociedade exerce sobre o indivíduo um efeito plasmador, a partir do qual é
construída uma determinada visão de mundo; por outro, cada um elabora e
interpreta a herança recebida na sua perspectiva pessoal” (p.17).
Capítulo 2
As relações de trabalho
“Para designar a
atividade própria do homem distinta da ação animal, costuma-se usar a palavra práxis, conceito que não se identifica
com a noção de prática propriamente dita, mas significa união dialética da teoria e da prática”. [...] “O trabalho é
condição de liberdade desde que o trabalhador não esteja submetido a
constrangimentos externos, tais como a exploração, situação em que deixa de
buscar a satisfação das suas necessidades para realizar aquelas que lhe foram impostas
por outros. Quando isso ocorre, o trabalho torna-se inadequado à humanização: trata-se do trabalho alienado”. (p.22).
“Desde o início da
civilização, no entanto, sempre que na sociedade são criadas relações
hierárquicas, dá-se a separação entre trabalho intelectual e trabalho manual.
Com isso, aqueles que se ocupam com o trabalho intelectual tendem a desprezar
as atividades manuais, enquanto os trabalhadores braçais, ao assumir essa
“inferioridade” imposta, deixam de ter clareza teórica suficiente a respeito de
sua prática, mantendo-se presos a atividade tão intensa e tão divida que a
reflexão se torna quase impossível”. [...] “Como o trabalhador não realiza ele
mesmo uma reflexão sobre o seu fazer, acolhe sem críticas as formas de pensar
vigentes na sociedade, elaboradas por sua vez pelos grupos que detêm o controle
das instituições e cujas atividades são predominantemente diretivas.” (p.23).
“[...] O resultado,
porém, é, muitas vezes a ilusão de
conhecimento, a atenção flutuante, o conhecer por fragmentos, sem que haja
um momento para a integração das partes e a reflexão sobre as informações
recebidas. Trata-se, enfim, de um desafio para o professor, cujo trabalho
teórico contraria o fluxo frenético e feito em partículas do vídeo-clip...”
(p.25).
Capítulo 3
As relações de poder
“Essa imagem da política
é, no entanto, típica das sociedades autoritárias, em que as pessoas estão
acostumadas a serem tuteladas e a não interferir de maneira eficaz nos rumos da
coletividade. Tanto isso é verdade que muitos consideram que apenas certas
pessoas estão investidas de poder”. [...] “é preciso partir da ideia de que a
educação para a cidadania dá destaque ao interesse público e à convivência em
grupo. Assim, o principal instrumento de disputa do cidadão passa a ser não
mais a violência, mas as palavras, o discurso fundado nas artes da persuasão,
buscando o contexto”. (p.29).
“[...] uma das formas
perversas de exercício do poder, que é a ideologia”. [...] “Em sentido amplo, é
o conjunto de ideias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a
discussão”. [...] “Há ainda outro sentido para ideologia, no qual se enfatiza o
aspecto pejorativo, isto é, a ideologia como conjunto de ideias e concepções
sem fundamento, mera análise ou discussão oca de ideias abstratas que não
correspondem a fatos reais”. (p.30).
Capítulo 4
As relações culturais
“Podemos também
considerar o conceito de cultura, em sentido
estrito, como a produção intelectual de um povo, expressa nas produções
filosóficas, cientificas, artísticas, literárias, religiosas, em resumo, nas
suas manifestações espirituais. [...] Geralmente é considerado inculto aquele
que não participa do saber da elite. Porém, se o homem se define na medida em
que é capaz de produzir cultura, não existe homem inculto. Acontece que, nas
sociedades em que predominam relações de dominação, as pessoas do povo são
impedidas de elaborar criticamente a sua própria produção cultural” (p. 39).
“A cultura erudita [...]
O que se pode criticar é um tipo de exclusão externa, que seleciona de antemão
os privilegiados que terão acesso a essa produção cultural, quando na verdade a
possibilidade de escolha deveria estar garantida a qualquer um, independente de
suas posses. (p. 40).
“A cultura popular [...]
O conceito de cultura popular é complexo [...] De maneira geral, consiste na
cultura anônima produzida pelo homem do campo, das cidades do interior ou pela
população suburbana das grandes cidades. [...] a cultura popular é identificada
ao folclore [...] O risco desse
enfoque está em tomar o folclore como realidade pronta e acabada, quando na
verdade toda cultura é dinâmica, estando em constante transformação. (p. 40).
“A cultura de massa
resulta dos meios de comunicação de massa, ou mass media. São considerados meios de comunicação de massa o cinema,
o rádio, a televisão, vídeo, a imprensa, as grandes revistas , que atingem
rapidamente um número enorme de pessoas pertencentes a todas as classes sociais
e de diferente formação cultural. [...] Essa cultura, distinta da erudita e da
popular,começa a surgir após a Revolução Industrial. [...] Ao contrário da
cultura popular, a cultura de massa é produzida “de cima para baixo”, impõe
padrões e homogeneíza o gosto por meio do poder de difusão de seus produtos.
(pp. 41-42).
Capítulo 5
Conceito de Educação
“A educação não é, porém,
a simples transmissão da herança dos antepassados, mas o processo pelo qual
também se torna possível a gestação do novo e a ruptura com o velho. [...] O
ato pedagógico pode, então, ser definido como uma atividade sistemática de interação
entre seres sociais, tanto no nível do intrapessoal como no nível da influência
do meio, interação essa que se configura numa ação exercida sobre sujeitos ou
grupos de sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes que os tornem
elementos ativos desta própria ação exercida”. (p. 50).
“Diz ainda o professor
Libâneo que o especificamente pedagógico está na imbricação entre a mensagem e
o educando, propiciada pelo agente. Como instância
mediadora, a ação pedagógica torna possível a relação de reciprocidade
entre indivíduo e sociedade. Conclui-se, então, que a educação não pode ser
compreendida fora de um contexto histórico-social concreto, sendo a prática
social o ponto de partida e o ponto de chegada da ação pedagógica”. (p. 51).
Capítulo 6
Educação informal
“São deliberadas quando transparece a intenção de formar um determinado
tipo de comportamento, por exemplo, quando o pai ensina o filho a respeitar as
pessoas. São acidentais quando a
aprendizagem de determinado comportamento não resulta de intenção explícita. É
o caso, por exemplo, de um pai que costuma conversar com seus filhos,
ensinando-lhes o valor da atenção e da amizade”. (p. 57).
“[...] A família é uma
instituição social e historicamente situada, sujeita a mudanças de acordo com
as diferentes relações estabelecidas entre os homens”. (p. 58).
“Ao se reduzir a extensão
da família, sobretudo com o advento da industrialização, suas obrigações vão
ficando cada vez mais restritas, cabendo-lhe quase que exclusivamente a
proteção e alguns aspectos ainda importantes da educação. [...] Hoje a
propriedade hereditária, que constituía motivo de obediência por parte dos
herdeiros, perdeu sua força de convencimento em um número cada vez maior de
famílias, nas quais o conceito de herança não tem o mesmo sentido. (p. 61).
Capítulo 7
A instituição escolar
“As críticas que vêm
sendo feitas à escola tradicional revelam a sua incapacidade de atender as
necessidades de um mundo em constante mutação, no qual a ciência e a tecnologia
tornam cada vez mais complexas a função do educador”. (p. 74).
“Segundo a tendência progressista, a solução não se encontra
em modismos e fórmulas mágicas, mas no esforço de levar a educação a todos,
sobretudo à população marginalizada, dando condições para o domínio de
conteúdos e conhecimentos valorizados pela sociedade, bem como disposição
crítica para avaliar a herança recebida”. (p.74).
Apresentação
do autor
Maria Lúcia de Arruda Aranha Nasceu em Três Lagoas, Mato
Grosso do Sul. Formada em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP). Lecionou para o Ensino Médio em escolas da rede pública e
particular, até se aposentar. Em parceria com Maria Helena Pires Martins, é
autora de "Filosofando - introdução à filosofia" e "Temas de
filosofia", publicados pela Editora Moderna. É autora também de Filosofia
da Educação e História da Educação e da Pedagogia - Geral e Brasil pela mesma
editora.
Obras
da autora:
-Qual
é a graça? O bom e o mau humor
-A
praça é do povo - Política e cidadania
-A
bússola e a balança
-Por
um mundo mais justo
-Filosofia
da educação
-História
da educação e da Pedagogia
-Entre
a espada e a palavra
-
Violência ou diálogo?
-Viver
em família
-
Reinventando os laços
-Maquiavel
- A
lógica da força
“Filosofia
da Educação” O Livro. Capítulos 1 a 7.
Neste
livro, além da problematização dos conceitos básicos, são explicitados os
fundamentos antropológicos, epistemológicos e axiológicos que se encontram
subjacentes a toda práxis, condição necessária para identificar a orientação
das construções teóricas e tornar intencional a prática educativa. Com a
seleção das principais teorias pedagógicas, desde as tradicionais até as mais
contemporâneas, é oferecida a oportunidade de se analisar como aqueles
conceitos têm sido aplicados de modo variado nas diversas tendências.
Nesta obra, percebemos menções a uma
variedade de correntes filosóficas: pragmatismo, racionalismo, idealismo,
existencialismo e positivismo. A autora procura ainda dar definições e apontar
não somente os iniciadores das correntes como também os principais difusores,
em uma linguagem de fácil acesso.
Os
capítulos analisados fazem parte da 2ª edição, em que ocorreu uma ampliação e
reestruturação, em relação a 1ª edição. A reformulação obedeceu a diferentes
critérios, dentre os quais sem dúvida o mais importante foi o destaque dado aos
fundamentos filosóficos da educação.
A estrutura dos capítulos analisados é a
seguinte:
Unidade I – Educação e sociedade
Nesta
unidade, constituída de quatro capítulos, é analisada a atuação humana na
sociedade, a fim de compreender as relações que os homens estabelecem entre si
para produzir sua existência (relações de trabalho, políticas e simbólicas) e
também o papel fundamental da educação no processo de socialização e
humanização.
Unidade II – O processo da educação
O
três capítulos desta unidade abordam a educação popular e a educação da mulher,
que representam dois segmentos tradicionalmente desprezados nas sociedades
divididas em classes e sexistas.
Conclusão
Diante do que a autora nos apresentou até o
momento, ou seja, nos sete capítulos analisados, foi possível reconhecer a
cultura como uma criação humana: ao tentar resolver seus problemas, o homem
produz os meios para a satisfação de suas necessidades e, com isso, transforma
o mundo natural e a si mesmo. Por meio do trabalho instaura relações sociais,
cria modelos de comportamento, instituições e saberes.
A educação é, portanto, fundamental para a
socialização do homem e sua humanização. Trata-se de um processo que dura a
vida toda e não se restringe à mera continuidade da tradição, pois supõe a
possibilidade de rupturas, pelas quais a cultura se renova e o homem faz a
história.
Se o homem não tem oportunidade de desenvolver e
enriquecer a linguagem, torna-se incapaz, não só de compreender o mundo que o
cerca, mas também de agir sobre ele. Assim, a autora nos mostra a importância
de nós, como futuros educadores, discutirmos com nossos alunos sobre o mundo e
seus problemas; sejam eles, ambientais, sociais, econômicos. Essas discussões,
longe de ser uma fuga da disciplina, é um meio de procurarmos formar cidadãos
que sejam críticos, conscientes de si e do mundo em que vivem.
Gostei!
ResponderExcluirQue bom! Volte sempre, Marlon Magno.
ExcluirEsse fichamento de citação está incievel
ResponderExcluirIncrível *
ExcluirObrigado, Neia Lima! As discussões que o tema Educação abrem, são sempre interessantes. Temos ótimos pensadores sobre a Educação.
ExcluirIsso é a biografia de Maria Lúcia De Arruda Aranha??
ResponderExcluirBom dia! Esse é apenas o fichamento da obra "Filosofia da Educação" da autora citada. Aliás, é uma das obras mais atualizadas em educação do momento. Abraço virtual.
ExcluirObrigada, ajudou-me imensamente.
ResponderExcluirPor nada, Mayara. A Educação tem muitos viesses que podem ser apreendidos ao observarmos os contextos culturais. Levar em conta os saberes cotidianos contribuem muito para que possamos, como educadores, ajudar os alunos desenvolverem a autonomia no aprendizado. Abraços.
ExcluirGratidão pela resenha do livro e parabéns pela iniciativa!
ResponderExcluirPara quem é concurseiro na área da educação (como eu), seu trabalho torna-se de extrema relevância. Já vou indicar para os colegas!
Obrigado por suas palavras gentis, Vanessa. Essa discussão, relacionada a educação, precisa ser propagada. Quanto mais estivermos pensando sobre a educação, melhores serão as possibilidades de avançarmos. Abraços!
ExcluirÉ da 3º edição o livro?
ResponderExcluirOlá! Sim o livro que eu li é a 3ª edição. Aliás, tenho a xerox do livro. Na graduação o professor da disciplina de Filosofia da Educação disponibilizou o livro na xerox da Faculdade e adquiri. Inclusive essa resenha foi como cumprimento da disciplina. Abraços!
Excluirolá, boa noite, você teria o livro em pdf (da segunda edição)? se sim poderia me enviar por e-mail? desde já, mito obrigado! allanamorim70@outlook.com
ResponderExcluirSim. Vou enviar no seu e-mail. Obrigado pelo contato. abraço.
ExcluirVocê pode me enviar a 3 edição por e-mail? Caso possa, segue: edildamasceno@gmail.com
ResponderExcluirBom dia! Tenho a 2a edição digitalizado. Vou tentar baixar a 3a edição. se conseguir te envio.
ResponderExcluirBoa tarde!
ResponderExcluirGostaria de aquidir a versão em PDF, poderia me enviar