Iniciando sua
penúltima carta, Critilo, descreve os eventos desavergonhados que acontecem na
casa do bruxo. Os rituais noturnos que se prologam madrugada afora, dão
testemunho eloquente da devassidão de vida do libertino chefe e seus lacaios.
Assim, assim também o teu Critilo,
Não cansa de escrever-te, enquanto encontra
Do tolo Fanfarrão, do indigno chefe,
Estranhas bandalhices, que te conte.
Ah! Sofre, amigo, que te gaste o tempo,
Pois conter-se não pode, bem que queria,
Que a força da paixão assopra a chama,
A chama ativa do picante gênio (p.174).
Além de todo o mal
que Fanfarrão e sua corja tem causado, Critilo denúncia que os gastos têm sido
às custas do povo. Minésio têm a capacidade de enviar seu secretário, Robério,
para esmolar, pedindo em nome de algum santo. Porém, todo dinheiro arrecadado
serve para bancar suas festas devastas e suas orgias desavergonhadas. Assim,
eles gozam dessas bentas esmolas. Essa situação faz lembrar as palavras de
Machado de Assis: “Todos os galos na testa acham lá milho e afeição; lá vive
tudo o que resta da burra de Balaão. [...] a besta do apocalipse, que ali seu
abrigo tem. E o cisne de Leda, e um bode expiatório, e o cavalo de Troia,
escapar não pode; mas a outros que inda calo”.
Ah! Nota, Doroteu, que ação tão feia!
Aquele bruto chefe que não paga,
Às pessoas mais nobres o cortejo
Sequer por um criado, agora manda
Que o seu próprio Robério, o seu bom aio,
Ande de porta em porta qual mendigo,
Pedindo para um bode a benta esmola! (p.176)
Neste estranho abuso referido
nesta 12ª carta, em
que Robério é descrito percorrendo os camarotes do teatro em busca de donativos
para um dos protegidos do Governador, diz-se, com alusão ao homem que assim se
rebaixava naquela pedinchice ignóbil:
Ah! Doce amigo,
Quem bandalho nasceu, ainda que suba
Ao posto de major, morreu bandalho,
Que o tronco, se dá fruto azedo, ou doce,
Procede da semente e qualidade
Da negra terra, em que foi gerado. (p.177)
Ao que se parece, a promoção recebida por Robério, nada tem a ver com seus dotes valorosos. Mas
sim, com o fato de que este se presta a realizar trabalhos corruptos, ou seja,
está disposto a sujar as mãos, pelo seu Governador.
Maldita
sejas tu, pouca vergonha,
Que tanto influxo tens sobre este leso. (180)
Com este bordão, Critilo denuncia o influxo que Cunha
Meneses, o “Fanfarrão Minésio”, exerce sobre aqueles que o cercam. Estas palavras
que muito significativamente aparece no estribilho desta carta, documentam o
período de grandes e graves turbulências, vividos em vila Rica a partir de
1783.
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