sábado, 28 de abril de 2012

O Preço do “Progresso”: O Dilema da Água

...”Apostando no total White, a Cantão começou o desfile, na Fashion Rio, com looks inteiros brancos e mix de texturas. Apresentou também tricôs de linho e de seda rústica, shapes arredondados com pegada ecofriendly, com cores da natureza, como o verde floresta, o off White e o caramelo e por último mostrou sua Vibe grunge, com vestidos chemise, macacões no clássico tartan, aliados às botas e meias de lã”......

Eventos de moda como a citado acima são uma constante nos grandes centros. Não é incomum nestes desfiles de moda o uso de temas, palavras, expressões, chavões, que remetam a natureza e a preocupação com a sustentabilidade, palavra que esta muito na moda em nossos dias. “ecofriendly” dá a ideia de “amigo da natureza”. As cores nos lembram as cores da natureza. Quer dizer, eu uso esta marca sem culpa, eu sou defensor do meio ambiente! Será que é assim mesmo?

A indústria têxtil é uma das maiores consumidoras de água do setor produtivo. Para processar 1 kg de tecido, são necessários aproximadamente 80 l de água. Dependendo do processo, esse valor pode subir para até 300 l, dos quais cerca de 80% é descartado como efluente e pouco mais de 10% do total compõe as perdas por evaporação.

Além do grande volume, os efluentes da indústria têxtil são de difícil tratamento em função da carga orgânica, presença de corantes e variada composição química, incluindo amaciantes, agentes finalizadores, biocidas, pesticidas, benzenos halogenados, surfactantes, fenóis, tintas, metais pesados e sólidos dissolvidos. Nos processos úmidos como lavagens, branqueamento, tingimento, acabamento dos tecidos e lavagens de pisos e equipamentos, outros aditivos são utilizados. As substâncias químicas conferem não apenas cor ao corpo d’água, mas afetam significativamente a atividade de fotossíntese.

Do ponto de vista ambiental, a indústria têxtil sofre grandes pressões do poder público, da comunidade e de clientes. Como resposta, é preciso ter um posicionamento seguro com relação à carga poluidora gerada. Como não é possível eliminar a água da cadeia produtiva, uma solução cada vez mais adotada é o reuso.

A situação tende a se agravar com a expansão econômica do país. Segundo uma pesquisa da Abit – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, o setor cresceu em média 16,5% ao ano entre 2006 e 2010. O Brasil está na lista dos 10 principais mercados mundiais da indústria têxtil. É o segundo principal fornecedor de índigo e o terceiro de malha; está entre os cinco principais países produtores de confecção e é hoje um dos oito grandes mercados de fios, filamentos e tecidos.

As lavanderias não ficam atrás. O último levantamento da Anel – Associação Nacional das Empresas de Lavanderia, de 2009, mostrou faturamento anual de mais de R$ 2,5 bilhões e previsão de 25% de crescimento para os cinco anos seguintes. Somente melhorias no processo produtivo e redução de desperdícios poderão promover formas sustentáveis de impulsionar esse crescimento.

É claro que a solução não é parar de fabricar roupas, acabar com a indústria da moda, tornar adeptos do nudismo, ou algo assim. Uma parte da solução reside na palavra “responsabilidade”. É preciso que cada Mega Indústria da moda arque com sua produção de poluição. Assim, pra cada milhão ganho, e são muitos, a indústria deveria investir o equivalente na recuperação do meio ambiente. Radical? Muito pesado para as indústrias? Mas e para o meio ambiente, será que a contínua exploração, sem descanso, sem um mínimo de alívio, também não é pesado? Pra quê servirá todos milhões ganhos se não houver mais natureza, e consequentemente, nem mais seres humanos? Pra quem a Mega Indústria da Moda irá vender seus modelos?





O dilema existe, uma solução é possível. Mas para qualquer melhoria é preciso ação positiva. Responsabilidade é a resposta para o dilema da Água.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Prefiro Você

Oi!
Sabe esses dias em que
A gente se sente
Sozinho,
Esses dias em que o
Coração se resume a cacos,
Pedacinhos.
Alguns não agüentam e
Procuram consolo no
Vinho.
Mas eu prefiro continuar
Sangrando e esperando pelo seu
Carinho.

Olá!
Tem dias que
A gente se sente
Eufórico,
Fica cantando pro mundo,
Alegre com tudo,
Bucólico.
Alguns não se seguram, fazem o que
Não deviam e ficam depois
Melancólicos.
Mas eu prefiro me conter,
Prefiro ficar pensando em você,
Admirando toda essa arquitetura
Do Gótico.

Sozinho...
Pedacinhos...
Vinho...
Carinho...
Eufórico...
Bucólicos...
Melancólicos...
Gótico.

Gótico/sozinho...
Melancólicos/pedacinhos...
Bucólicos/vinho...
Eufórico/carinho...

Mas eu prefiro você,
Porque você sempre
Faz-me sentir sozinho,
Desfrutando de todo o seu carinho.
Faz-me sentir como se estivesse
Tomando um bom vinho.
Você tem o poder de
Juntar os meus pedacinhos.

Prefiro sempre você
Porque quando me sinto
Ultrapassado
Como se eu fosse construção
Do estilo Gótico,
Quando me sinto melancólico,
Vem você,
Com seu jeito bucólico,
E me faz sentir,
Assim,
Tão eufórico.

Por: Silvon Alves Guimarães


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Fui Mordido! Estou com Raiva da UFG/Jataí.

Mordida é sempre uma coisa inconveniente. Independente do tamanho, raça, sexo, (espécie!? Hum…se for um ser - humano, a coisa complica), existem sempre algumas medidas chatas que devem ser tomadas. Além disso, dá uma raiva danada, aproveitando o trocadilho, porque se você dá uns chutes no animal que te mordeu, te acusam de ser um monstro que não tem coração, que não defende os animais e blá, blá, blá...


Vejam o que me aconteceu. No último dia 18 de abril de 2012, numa quarta-feira, após a aula, eu estava indo para o estacionamento, era por volta de 22h00min, no campus Jatobá, em Jataí – Goiás. No caminho encontrei uns amigos e estávamos parados, conversando, quando veio um dos vigilantes noturnos, que provavelmente estava fazendo a sua ronda. Três cachorros o acompanhavam. Um deles ao passar por mim, simplesmente se virou e me mordeu na perna. Na hora, pensei que nem tinha perfurado, pois só senti um pequeno ardor. Quando cheguei em casa, verificando o estrago, eu realmente havia sido mordido, tenho o sinal de “Quatro dentes” daquele infeliz canino.

Qual a história destes cachorros? São originários da raça, Vira-lata, se chegaram ali na faculdade, alguns servidores deram comida, carinho e isso foi motivo mais que suficiente dos pobres ficarem por ali. Pessoalmente não tenho nada contra cachorros, em minha casa sempre tivemos cachorros. Mas cachorros que ficam soltos atacando os alunos desavisados, como eu, não acho um bom negocio.

A verdade é que alguns não querem que os cachorros sejam retirados do campus Jatobá. Mas também não querem assumir a responsabilidade por eles. Eles ficam soltos, são os donos do pedaço, e se alguém reclama é o errado... Não vai pro céu... Porque não mexe com alguém do seu tamanho, ou da sua raça...

Se você quiser ver se estou exagerando, vá lá à UFG, campus Jatobá, nas proximidades da Lanchonete (Cantina), o lugar preferido de eles ficarem, ali eles tem comida, onde eles ficam a vontade, se comportam como aqueles membros de gangues que saem atacando as pessoas. E não se admire se você for atacado por um “Perro” e olhando em volta ver pessoas rindo, se divertindo com sua desgraça. Isto é típico de um ambiente acadêmico onde as pessoas são superiores e, portanto não precisam seguir as normas, não precisam respeitar o próximo e muito menos cuidar do próximo.

Nietzsche dizia que “as convicções são piores inimigas da verdade do que as mentiras”,... “O convicto sempre pensa que sua bobeira é sabedoria”. Assim muitos se tornam fanáticos porque desrespeitam, desconsideram e se tornam tão ásperos que suas vontades e seus pensamentos são capazes de estraçalhar um ser humano. Às autoridades da UFG de Jataí, faço um apelo, que dêem prioridades aos seres humanos que estão em seu convívio. Àqueles que estão preocupados com os animais e tem dó dos cachorros da UFG, adote-os, leve-os pra sua casa, tenha ação, com certeza é tudo que esses cães raivosos querem.

Por: Silvon Alves Guimarães
http://silvonguimaraes.blogspot.com/

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cartas Chilenas - 4ª Carta

Carta 4ª


Critilo maldiz o seu coração de poeta, que não o deixa aproveitar a vida, que exige dele que complete logo a sua história. Para escrever outra carta para Doroteu, Critilo dispensa banquete na casa de Alceu. Na sua 4ª carta, Critilo continua discorrendo sobre a construção onerosa da cadeia pública, em que escravos e presos tem de trabalhar todos os dias sem nenhum descanso semanal.

Responde, louco chefe, se podes
Tais violências fazer. Não era menos
Lançares sobre os povos um tributo?
Os homens que tem carros e os que vivem
De víveres venderem são, acaso,
Aos mais inferiores nos direitos?
Esta cadeia é sua, porque deva
Sobre eles carregar tamanho peso?
(versos 230 a 237)

O grande chefe não cansa de suas peraltices. Manda confiscar o carro usado na construção de um templo religioso, mantido por esmolas dos devotos e dos que pela do Cristo foram atendidos. Como justificativa, Fanfarrão, diz que quando Cristo esteve na terra mandou que Pedro pagasse o imposto por ele, portanto, não devia a imagem do Cristo, também continuar do mesmo proceder do seu real?

Este texto terá continuação. No total são 13 cartas. À medida que eu for completando a leitura irei postando os resumos. Abraços!

domingo, 15 de abril de 2012

Cartas Chilenas - 3ª Carta

Carta 3ª

As injustiças e violências de Fanfarrão são por motivos de somenos importância. Critilo diz que Minésio tem tudo para ser um bom “chefe”, mas ele não tem nenhum “sistema”. Fanfarrão toma por empreitada a construção de uma suntuosa cadeia. Critilo chega até mesmo a comparar, a obra da cadeia com as grandes obras faraônicas. Tal obra custosa serve para prender os negros que devem e que não devem e na falta de negros outros quaisquer que se enquadrem nos termos de vadios, são logo lançados na prisão.
Prepara o branco lenço, pois não podes
Ouvir o resto, sem banhar o rosto
Com grossos rios de salgado pranto.
Nas levas, Doroteu, não vêm somente
Os culpados vadios; vem aquele
Que a dívida pediu o comandante;
Vem aquele, que pôs impuros olhos
Na sua mocetona e vem o pobre,
Que não quis lhe emprestar algum negrinho,
Para lhe ir trabalhar na roça e lavra.
Estes tristes, mal chegam, são julgados
Pelo benigno chefe a cem açoites.
(versos 229 a 240)

As injustiças que Fanfarrão comete, são prontamente copiadas pelos seguidores e lacaios, que querem se parecer com o chefe que a tudo pode. Assim a corrupção, a injustiça, os desmandos vão se tornando a ordem do dia. Esta situação, corta o coração dos que habitam Santiago (Vila Rica), alguns como Critilo, não dormem a noite, desejando encontrar uma solução para tanta opressão.

Este texto terá continuação. No total são 13 cartas. À medida que eu for completando a leitura irei postando os resumos. Abraços!

Cartas Chilenas - 2ª Carta

Carta 2ª

Fanfarrão finge uma piedade que não possui, mas a esta altura, Critilo, percebe que se trata de uma manobra de Minésio para chamar a si os negócios. Tamanha corrupção e descaramento roubam o sono de Critilo que não consegue descansar, para buscar sua inspiração de poeta. Fanfarrão ostenta uma piedade falsa, para que os seus graves delitos fiquem impunes.

Mal se põe nas igrejas, de joelhos,
Abre os braços em cruz, a terra beija,
Entorta o seu pescoço, fecha os olhos,
Faz que chora, suspira, fere o peito,
E executa muitas outras macaquices
Estando em partes onde o mundo as veja.
(versos 85 a 90)
Quem ousa falar contra Minésio, rapidamente é acusado de um crime qualquer e se vê fechado na cadeia. Também nesta situação, Fanfarrão se faz de vitima, um justo sendo caluniado, mas diante seu acusador, mostra ter compaixão estando disposto a esquecer toda“calúnia” feita contra ele e perdoa o acusado desde que este se comprometa a não mais lhe insultar. Não é por nada que o autor destas cartas fizesse questão do anonimato, pois corria perigo sua vida.
Fanfarrão faz papel de juiz, o povo aflui a sua casa em busca de obtenção de vantagens. Fanfarrão, se faz de deus, concedendo a vontade de todos sem se importar se estes têm ao seu lado a justiça ou não. Assim a criminosos é concedido o perdão, aos malfeitores a razão, aos que cometem os mais diversos atos desonestos, é lhes concedido a virtude. Javé, o Deus soberano, tem de seguir regras para o bom andamento do universo, mas Peralta, não conhece restrições.

Este texto terá continuação. No total são 13 cartas. À medida que eu for completando a leitura irei postando os resumos. Abraços!

Cartas Chilenas - 1ª Carta

Carta 1ª

Critilo descreve a entrada de Fanfarrão, Minésio, no Chile, aparentando uma piedade da qual não é possuidor. Ele pede que Doroteu abandone o que estiver fazendo e dê atenção ao que ele irá lhe contar. Diante a conhecer as façanhas do D. Quixote às avessas, qualquer atividade que Doroteu esteja a realizar, são comparadas com sonhos desconectos da realidade, daqueles que se tem durante os sonos profundos.

Ah! tu, Catão severo, tu que estranhas
O rir-se um cônsul moço, que fizeras
Se em Chile agora entrasses e visses
Ser o rei dos peraltas quem governa?
Já lá vai, Doroteu, aquela idade
Em que os próprios mancebos, que subiam
À honra do governo, aos outros davam
Exemplos de modéstia, até nos trajes.
(Versos 93 a 100)

Minésio, o governador dos peraltas, está rodeado de lacaios que estão a lhe aplaudir os atos e estes mesmos se empenham em engrossar a corrupção se comportando como verdadeiros senhores soberanos que a nada temem e a ninguém respeitam. Dentre estes se destacam Robério e Matúsio.

O comportamento de Fanfarrão é tão absolutista, que Gonzaga diz que os céus têm outra configuração, não se vê mais o Sol e a Lua, no lugar sobe um cometa que cobre toda a terra com sua cauda. Pobre Chile! Melhor seria se tivesse sido acometido pelas pragas do Egito. Depois que toma posse, Minésio, trata a todos com um desprezo que os faz sentirem saudades do governante anterior.

Este texto terá continuação. No total são 13 cartas. À medida que eu for completando a leitura irei postando os resumos. Abraços!

sábado, 14 de abril de 2012

Cartas Chilenas - Introdução

As Cartas Chilenas é um texto satírico da literatura brasileira. Trata da corrupção de Luís da Cunha Meneses, governador da capitania de Minas Gerais entre 1783 e 1788. Nestas Cartas, “chilenas” querem dizer “mineiras”. Chile é Minas Gerais; Santiago, Vila Rica. Os personagens também despistam a inspiração: O governador ficou ilustrado por Fanfarrão Minésio; o autor se autodenomina Critilo; o destinatário das cartas chama-se Doroteu.

Escrito sobre anonimato, para se evitar represálias, sendo atribuída de consenso a Gonzaga, por volta de 1845. O autor expõe os costumes da cidade de Vila Rica de modo caricato e impiedoso, não perdoando, sobretudo os atos grosseiros e desmandos da aristocracia. Cada carta segue um enunciado onde se estabelece a temática da carta: a entrada de Fanfarrão no Chile; a fingida piedade deste a fim de conseguir negócios; suas violências e injustiças; o casamento do futuro rei D. João 60 e Carlota Joaquina; as desordens e brejeirices de Fanfarrão.

A influência dos iluministas franceses é bem evidente. Gonzaga teria se inspirado no estilo satírico de Voltaire e nas Cartas Persas (1721), do barão de Montesquieu (1689-1755), para intitular seu poema. A obra de Montesquieu se pauta na comparação entre culturas e costumes diferentes e usa a ironia como forma de denúncia. Nesta obra que se tornou um dos manuais do iluminismo, um persa visita a França e tenta entender os hábitos e as instituições do país.

A Inconfidência Mineira lutava, entre outras coisas, contra a cobrança abusiva sobre a exploração do ouro. Tomás Antônio Gonzaga teve participação ativa neste movimento, fazendo suas denúncias através dos seus escritos. Além de Cartas Chilenas, Gonzaga escreveu também as liras “Marília de Dirceu” que se enquadra no mesmo estilo e completam a alta produção do poeta.

Este texto terá continuação. No total são 13 cartas. À medida que eu for completando a leitura irei postando os resumos. Abraços!

domingo, 8 de abril de 2012

As Navalhas Afiadas que Produzem Subjetividades Carentes - Uma História real em Jataí - Goiás.

As sirenes gritavam pelas ruas, anunciando que alguma tragédia havia acontecido. Dobrando esquinas, cortando ruas, aguçando a curiosidade de pacatos moradores que descansavam tranquilamente em suas casas naquela manhã de quarta-feira, 04 de abril de 2012, a pregoeira da calamidade pára em frente a um humilde barraco, em uma esquina simples no setor Hermosa, na cidade de Jataí – GO.
             O morador, um senhor de sessenta e poucos anos, Ederaldo Damazio de Oliveira, morava sozinho naquele barraco alugado, por cerca de quatro a cinco anos. Não tinha ninguém por ele. Não tinha ninguém que sentisse a sua falta. Não tinha amigos. Não tinha parentes na cidade. Não tinha seguro de saúde. Não tinha amparo. Não tinha seguro de vida. E nesse não ter, passou a não ter esperança, não ter vontade, não ter perspectiva.
            O único familiar, que ele dizia ter, era uma filha que há anos havia se mudado para os Estados Unidos. Não mantinha contato com ela já fazia anos. Era do interior do estado de São Paulo, mas por muitos anos morou em Aparecida do Taboado, no Estado de Mato Grosso do Sul. Quando chegou a Jataí, não tinha documentos por falta de certidão de nascimento o que lhe impedia de aposentar-se. Através de conhecidos conseguiu retirar uma segunda via de sua certidão de nascimento, por meio da internet, e assim conseguiu se aposentar e ter pelo menos os meios de sobrevivência.
            Durante anos exerceu a profissão de sapateiro, e tinha com ele várias formas utilizadas na profissão. Aliás, é preciso ressaltar que para ele estas formas eram verdadeiros troféus, de anos dourados, em que os profissionais artesãos eram valorizados. Nos dias atuais, com a produção industrial de sapatos, esses profissionais autônomos perderam espaço, não conseguindo serviços nem pra se manter. Amargurado, talvez por não ter a sua valorização, talvez por ser de uma outra época, ou quem sabe por não ter conseguido se atualizar, o Sr. Ederaldo agia sempre como um repelente de amizades. Sempre dificultava os relacionamentos por não aceitar a ajuda de outros. Quando pessoas tentavam praticar uma boa ação para com ele, como carpir o quintal, ou dar uma faxina na casa, a reação era sempre negativa. Não aceitava que o tempo lhe cobrara tamanho tributo ao ponto de não conseguir cuidar de si mesmo.
            Sua saúde já não estava boa. Sofria de hipertensão, diabetes e alguns outros sintomas que não haviam sido diagnosticados. Então, esta era a situação que enfrentava esse pobre senhor: Saúde precária, moradia simples, solitário, sem nenhum parente por ele, sem nenhum amigo.
            Quando a ambulância parou abruptamente em frente ao barraco do senhor Ederaldo Damazio, os vizinhos já puderam prever que algo terrível havia acontecido. Naquela manhã, um senhor, conhecido seu, fora lhe levar um convite para participar de uma cerimônia religiosa na noite do dia seguinte. Ao chamar no portão e não ser atendido sentiu um forte cheiro de carne em decomposição. Temendo o pior subiu em um pé de caju para espiar a situação no barraco, percebeu que o barraco estava aberto e assim conseguiu visualizá-lo caído no chão já em estado avançado de decomposição. O Sr. Ederaldo jazia morto em seu barraco há alguns dias e até aquele momento ninguém sentira sua falta.
            O que vale a vida? Como se chega a certas situações em que ficamos isolados em meio às pessoas? A vida nas cidades aglomerou as pessoas, mas ao mesmo tempo as separou, pois cada um tem sua preocupação, tem seus afazeres, esta plenamente envolvido na sua sobrevivência e não há espaço para o próximo, para o outro que somente irá me atrasar.
            A banalização do cotidiano, o viver só para si, o viver medíocre da vida à prestação e ao salário, são frutos do desconforto do mundo capitalista. “Todas as máquinas de navalhas afiadas penetrando carnes anestesiadas, marcando-as com seus signos, produzindo subjetividades carentes, vazias, domésticas, domadas, animalescas” (ALBUQUERQUE, 2007). Todo o nosso cotidiano domesticado pelo espírito capitalista impiedoso tem o cheiro repugnante da morte, não de uma morte gloriosa dos deuses, dos santos, dos heróis ou dos mártires, mas uma morte cotidiana, sem razão de ser, banalizada pela correria em que nos encontramos, a morte burocrática e aquela em que se recebe um certificado de se estar morto, apesar de isso já não importar mais.
            Nietzsche (1991), alerta que o homem moderno vive um conflito com a morte, tentando negá-la por um lado, não cessando, no entanto de falar dela, retirando toda solenidade que cerca a morte, mas fazendo dela um acontecimento sempre inesperado e traumático. Kafka (2000), conta histórias em que a morte não é mais uma festa, mas também em que não está mais retirada da vida. Para ele, a morte não é o fim da vida, o fim da vida deve ser alcançado nela mesma sob pena de já se estar morto, mesmo vivendo. Uma vida, sem amigos, sem parentes, sem carinho, isolado em uma cela de afastamento, não deveria ser a vida de ninguém, todos deveriam ter alguém que se preocupasse com ele, e ninguém deveria viver nessa subjetividade carente.
Por: Silvon Alves Guimarães

sábado, 7 de abril de 2012

Madrugada


Ainda é madrugada e se levanta,
Não consegue mais dormir, aliás,
Não chegou a dormir.
O seu pensamento vai a uma
Só direção, tenta chegar onde
Está o seu coração.

Quem dera se o seu amado estivesse ali!
Toda sua angústia, todo o seu vagar seriam
Então, transformados em uma explosão de
Sentimentos que não seriam contidos pelos
Pudores debilitantes.


Com o coração apertado,
Que não cabe dentro do peito,
Sai caminhando até o riacho.
Pára!
Sente o frio que vem lhe acalentar o corpo,
Pensa em mim!

Não tem medo do lobo ameaçador da solidão,
Mas em meio ao silêncio, só pensa em ouvir
Bem alto a nossa música,
E me ver acenando da janela.

Seus passos a conduzem pelas nuvens
Que circulam por entre seus desejos e
Perguntas ao riacho, que lhe responde em
Um murmúrio indecifrável.

Gostaria que eu estivesse ali e
Pudesse aquecer os seus pés.
Enquanto pensa sente um frio arrepiante
E vai se sentar junto à lareira.

Distante
Trago nas mãos o perfume das flores
E um poema que fala de amor.
Escuto nossa música e gosto de pensar
Que cantas pra mim. Gosto de imaginar
Que estejas em meus braços na
Madrugada fria em que os raios de luz
Vem nos saudar.

Não temo o lobo ameaçador da solidão,
Mas mesmo assim deixo escapar uma
Lágrima solitária na madrugada
Silenciosa e fria.

Sou poeta triste,
Minha poesia perdeu a graça.
Fico sozinho na madrugada,
Te sentido em mim.
Ouvindo o som das águas puras do riacho
Que me responde com um murmúrio
Que só eu entendo, pois só ele me entende.

Pensando,
Sinto um frio arrepiante
E vou me aquecer debaixo do adredon
Que tem o seu cheiro e o seu sorriso.

Por: Silvon Alves Guimarães
http://silvonguimaraes.blogspot.com/


IRA! e Pitty - Eu Quero Sempre Mais!

O SIGNO LINGUÍSTICO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E DE SIGNIFICAÇÃO DA IMAGEM DO POEMA – UMA ANÁLISE DA POESIA DE GUIMARÃES FILHO - Parte 4

 4 DA LUZ À ESCURIDÃO E DE NOVO À LUZ – OS CAMINHOS DO POEMA EM “A ROSA ABSOLUTA” DO POETA GUIMARÃES FILHO Um poema começa [...]           ...