quinta-feira, 16 de agosto de 2012

...Sobre Calor e Loucura.


Ele sempre teve problemas com os contrários... Bruce, não conseguia entender muito bem o porquê de existir opostos, o branco e o negro, o bom e o mal, o doce e o salgado, o claro e o escuro, alegre e triste, frio e calor, amor e ódio... Tudo isso fazia sua cabeça rodar e rodar... E como que preso em uma melodia telefônica interminável vinha àquela ânsia de tirar aquilo da cabeça.
Bruce fazia sempre o contrário do que lhe diziam. Tinha sempre uma resposta negativa sobre todos os questionamentos da vida... Talvez assim pensasse que pudesse ser um espírito livre, vivendo sempre as margens das normas que a sociedade tentava lhe impor... Sentia mesmo que era diferente, que não pertencia aquele lugar, que não conhecia aquele mundo... De fato, o seu mundo, era só seu... O seu mundo era extraordinário, onipotente, delirante, apaixonante... Mas era só seu aquele mundo.
Bruce vivia em um palácio de gelo, enquanto lá fora, longe de sua esfera, a realidade alcançava quarenta graus, em um calor causticante, sufocante, capaz de derreter qualquer traço de compaixão e misericórdia que talvez ainda restasse aos pobres e insensatos seres do calor, que vagavam sem uma esperança, como almas penadas no calor abrasador do seol.
Protegido por um grosso cassaco de lã, com um gorro a cobrir sua cabeça e orelhas, luvas nas mãos, solitário e pensativo, Bruce vagava pelas ruas desertas, nas horas de maior calor. Sempre ao seu lado havia uma linda senhora vestida de branco, com um andar gracioso, mas que só fazia parte de sua imaginação... Ou pelo menos aquela doce criatura não quisera sair da proteção do palácio de gelo para se perder em um mundo que se esqueceu de tudo que se passou... A linda mulher de branco trazia sempre consigo um raio de sol e queria ser recebida no palácio de gelo. Bruce sabia, no entanto, que não poderia convidá-la a entrar, pois se isso acontecesse com certeza seu mundo seria destruído, toda sua proteção e refrigério cessariam de vez.
As explicações, longas explicações, já não convenciam mais aquela linda mulher que vestia branco e portava sempre um raio de sol... Restava a Bruce uma alternativa, somente uma alternativa,...  Ele então correu com todas as suas forças, correu como quem quer alcançar um rápido antílope, correu como quem é livre, como quem busca a paz...
Ao cair à noite um casal de idosos, que passeavam pelo parque, encontraram Bruce, caído junto a uma fonte quase seca, desidratado, abandonado, moribundo. Com uma fagulha de voz, de uma boca semicerrada e ressequida, ainda puderam ouvir um sussurro que dizia: “Não deixe que me apliquem a Injeção...”

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