Ele sempre teve
problemas com os contrários... Bruce, não conseguia entender muito bem o porquê
de existir opostos, o branco e o negro, o bom e o mal, o doce e o salgado, o
claro e o escuro, alegre e triste, frio e calor, amor e ódio... Tudo isso fazia
sua cabeça rodar e rodar... E como que preso em uma melodia telefônica
interminável vinha àquela ânsia de tirar aquilo da cabeça.
Bruce fazia sempre o
contrário do que lhe diziam. Tinha sempre uma resposta negativa sobre todos os
questionamentos da vida... Talvez assim pensasse que pudesse ser um espírito
livre, vivendo sempre as margens das normas que a sociedade tentava lhe
impor... Sentia mesmo que era diferente, que não pertencia aquele lugar, que
não conhecia aquele mundo... De fato, o seu mundo, era só seu... O seu mundo
era extraordinário, onipotente, delirante, apaixonante... Mas era só seu aquele
mundo.
Bruce vivia em um palácio
de gelo, enquanto lá fora, longe de sua esfera, a realidade alcançava quarenta
graus, em um calor causticante, sufocante, capaz de derreter qualquer traço de
compaixão e misericórdia que talvez ainda restasse aos pobres e insensatos
seres do calor, que vagavam sem uma esperança, como almas penadas no calor
abrasador do seol.
Protegido por um grosso
cassaco de lã, com um gorro a cobrir sua cabeça e orelhas, luvas nas mãos,
solitário e pensativo, Bruce vagava pelas ruas desertas, nas horas de maior
calor. Sempre ao seu lado havia uma linda senhora vestida de branco, com um
andar gracioso, mas que só fazia parte de sua imaginação... Ou pelo menos
aquela doce criatura não quisera sair da proteção do palácio de gelo para se
perder em um mundo que se esqueceu de tudo que se passou... A linda mulher de
branco trazia sempre consigo um raio de sol e queria ser recebida no palácio de
gelo. Bruce sabia, no entanto, que não poderia convidá-la a entrar, pois se
isso acontecesse com certeza seu mundo seria destruído, toda sua proteção e
refrigério cessariam de vez.
As explicações, longas
explicações, já não convenciam mais aquela linda mulher que vestia branco e
portava sempre um raio de sol... Restava a Bruce uma alternativa, somente uma
alternativa,... Ele então correu com
todas as suas forças, correu como quem quer alcançar um rápido antílope, correu
como quem é livre, como quem busca a paz...
Ao cair à noite um
casal de idosos, que passeavam pelo parque, encontraram Bruce, caído junto a
uma fonte quase seca, desidratado, abandonado, moribundo. Com uma fagulha de
voz, de uma boca semicerrada e ressequida, ainda puderam ouvir um sussurro que
dizia: “Não deixe que me apliquem a Injeção...”
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