Uma contradição fica exposta sempre que refletimos
sobre os absurdos que ocorrem na sociedade brasileira e que ficam impunes.
“Brasileiro é acomodado, não quer saber de nada”, dizemos. Mas quando alguém se
levanta para protestar o que mais se ouve na mídia brasileira é que são
“baderneiros, vândalos”.
Afinal, existe protesto limpinho, higienizado?
Quando vemos pela TV imagens de manifestações de rua em Atenas, na Turquia ou
mesmo na França, Portugal e Espanha os comentários são de “protestos
violentos”. E olha que o pau canta direto, com feridos e detidos.
No entanto, palestinos e árabes em geral são
tratados pela mídia como radicais e fundamentalistas. Fazem parte do “eixo do
mal”, expressão difundida pelos órgãos de inteligência do governo Bush. Da
mesma forma são tratados os sem-terra, os sem-teto e também e os indígenas
brasileiros (povos originários), quando vão à luta por suas terras, usurpadas
por grileiros e latifundiários do agronegócio.
Assim foi com a juventude que se reuniu em São
Paulo, no Rio e outras cidades do país, dia 6 de junho, para protestar contra
os aumentos das passagens de ônibus urbanos. As principais emissoras de TV
transmitiram imagens até de helicópteros, sempre destacando o “vandalismo”
praticado pelos manifestantes, quando quebravam algumas vitrines e arremessavam
lixeiras nas ruas. Já à polícia era tratada como órgão que se fazia presente
para impor a ordem e restaurar a tranqüilidade.
Paz e tranqüilidade são sinônimos para aceitação do
roubo de terras públicas por latifundiários, na base da jagunçada. Paz e
tranqüilidade são sinônimos de resignação com
os aumentos absurdos impostos por
meia dúzia de empresários de ônibus, que fazem o que querem e provocam o caos
no trânsito das grandes cidades.
A manifestação de rua é o grito dos que não são
ouvidos pelos governantes e pela mídia, que trabalham para que tudo continue
como está. Por isso, entre a paz do cemitério e a guerra nas ruas prefiro
enaltecer os protestos. As mudanças acontecem pela inquietação dos que se
levantam e dizem NÃO.
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