quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Almoço no Alto de um Aranha-Céu





Lunch Atop a Skyscraper
Por Charles C. Ebbets, Nova Iorque (1932)









A cidade do Globo Cativo (...) é a capital do Ego, onde ciência, arte, poesia e as mais variadas formas de loucura competem em condições ideais com o fim de inventar, destruir e restaurar o mundo de extraordinária realidade.
(...) Manhattan é o produto de uma teoria não-formulada, o manhattanismo, cujo programa (é) existir num mundo totalmente fabricado pelo homem, viver no interior da fantasia (...).
A cidade inteira se transforma em fábrica de experiência manufaturada, onde o real e o natural cessam de existir.
(...) A disciplina bidimensional da Rede cria a liberdade nunca sonhada para a anarquia tridimensional (...) a cidade pode ser concomitantemente ordenada e fluida, metrópole do rígido caos.
(...) ilha mítica onde a criação e o experimento de um estilo de vida metropolitano e sua conseqüente arquitetura podiam ser buscados como experiência coletiva (...). Ilha Galapagos das novas tecnologias, outro capítulo da sobrevivência do mais apto, agora uma batalha entre espécies mecânicas (...).

(Rem Koolhaas, Delirious New York)


A fotografia de Charles C. Ebbets (1932) e a descrição de Rem Koolhaas ilustram com extrema exatidão um dos lugares mais estranhos e extraordinários do mundo: NEW YORK. A inusitada fotografia retrata 11 homens almoçando a 69 andares acima do chão em Manhattan. Esta fotografia se tornou ícone da era da Grande Depressão americana, mostrando trabalhadores da construção do Rockefeller Center.

Podemos usar esta fotografia para refletirmos no dinamismo da economia moderna e da cultura que se cria por essa economia e que, segundo Marsall Berman (1982), “aniquila tudo aquilo que cria - ambientes físicos, instituições sociais, idéias metafísicas, visões artísticas, valores morais ­- a fim de criar mais, de continuar infindavelmente criando o mundo de outra forma”. Esta ânsia de criar é uma característica inerente na sociedade moderna ou pós-moderna, como a classificam alguns, fazendo com que o valorizado seja o novo, o recente, o atual. Neste verdadeiro culto ao que é novo se esconde uma das armas mais eficaz e mais cruel do capitalismo: O Consumismo.

Tenho que trocar meu celular que só tem três meses de uso, porque ele já se tornou ultrapassado pelos modelos ultra-modernos. Todo ano tenho que trocar de carro, simplesmente porque o design não corresponde mais a era da tecnologia avançada.  Então, nos confrontamos com a seguinte questão: O que é essencial, significativo, real em meio a esse criacionismo sem limites, no qual estamos inseridos, no qual vivemos e nos movimentamos?

Nova Iorque pode ser retratada como exemplo de até onde vai o consumismo no capitalismo moderno, até porque boa parte do que é reproduzido no mundo tem inicio nesta fascinante cidade. O fato é que boa parte da construção e do desenvolvimento de Nova Iorque ao longo do século passado deve ser vista, não como o atendimento das necessidades econômicas e políticas imediatas, mas como ação e comunicação simbólicas. Devem ser vistas como a expressão máxima do capitalismo moderno, do que o homem moderno inserido neste mundo consumista pode realizar e como a modernidade pode ser imaginada e vivida.

Algumas das estruturas que foram planejadas como expressões simbólicas da modernidade em Nova Iorque são: o Central Park, a ponte do Brooklyn, a estátua da Liberdade, Coney Island, diversos arranha-céus de Manhattan, o Rockefeller Center e outras mais. Áreas da cidade, como o porto, Wall Street, a Broadway, o Bowery, a parte baixa do East Side, Greenwich Village, o Harlem, Times Square, Madison Avenue, ganharam força e peso simbólicos com o passar do tempo.

O impacto cumulativo de tudo isso é que o nova-iorquino vê-se em meio a uma floresta de símbolos baudelaireana. A presença e a profusão de tais formas gigantescas fazem de Nova Iorque um local rico e estranho para viver. Mas também a tornam um lugar perigoso, pois seus símbolos e simbolismos estão em infatigável conflito uns com os outros, em busca de sol e de luz, trabalhando para eliminar-se mutuamente, desmanchando a si próprios e aos outros no ar. Nova Iorque é, pois, uma floresta onde os machados e as motoniveladoras estão em constante funcionamento e os grandes edifícios em demolição permanente; onde bucólicos evadidos enfrentam exércitos fantasma e Love’s Labour’s Lost interage com Macbeth; onde novos significados estão sempre brotando e caindo das árvores construídas. (Marshall Berman, 1982)




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