Pescadores ao longo da costa do Sri Lanka, em 1995. Foto:
Steve McCurry
No Brasil, a partir da primeira
República, os governantes tinham como meta estabelecer uma nova ideologia
trabalhista, que tinha como alvo atingir a “mente” ou o “espírito” dos
brasileiros. A pretensão foi de que se assimilasse a idéia de que o trabalho
era um bem, era uma virtude, este se tornaria a força que impulsionaria a nação
rumo ao “novo”, rumo a “civilização”, rumo aos costumes civilizados das nações
européias, que sempre foi o ideal da sociedade brasileira.
A idealização do trabalho em
si, em minha opinião, não constitui um problema. Contudo, as interpretações
sociais que foram sendo feitas ao longo dos anos, estas sim, se tornaram problemáticas,
ao passo que apresentava como pessoa de bem, apenas aqueles que estivessem
inseridos no mercado de trabalho e mesmo que a pessoa tivesse um trabalho
informal, ainda recairia sobre ele o estigma de contra lei.
No mundo capitalista e globalizado a ideologia
trabalhista se tornou bem difundida e não é difícil nos depararmos com esse
conceito atualmente. Pessoas de todas as classes sociais passaram a encarar o
trabalho não mais como meio de conseguir o sustento, mas como um símbolo de
status e sucesso. É tanto assim, que quando um trabalhador desempregado pratica,
por exemplo, um furto pra conseguir alimento pra si e para sua família, ele é
prontamente classificado como “vagabundo”. Porém, quando funcionários federais,
funcionários de elite, que tem um alto salário, cometem os chamados “crimes do
colarinho branco”, recebem outro tipo de tratamento e por vezes são até
admirados por serem tão espertos. É a ideologia do trabalho, imprimindo
legalidade aos inseridos nos moldes capitalistas e ao mesmo tempo produzindo
estigmas aos trabalhadores informais.
Mulheres no local de trabalho na Índia. Foto: Steve McCurry Photowork 5
Se a Ideologia trabalhista
instaurada na primeira República, constituía um desafio para os homens, o que
dizer das mulheres, que só pelo fato de serem mulheres já sofriam
discriminação? Se esta mulher fosse Negra, sem marido e pobre, então sua
situação era desesperadora.
Mas a verdade é que
muitas mulheres do início do século XX, foram a luta, foram às ruas – espaço reservado
aos homens e as mulheres que não eram virtuosas – e venceram o desafio das
ruas. Além de conseguirem seu sustento, honestamente, algumas prosperaram
financeiramente.
A foto acima destaca
mulheres na Índia que também vão à luta. Essas mulheres não têm medo do
trabalho e mesmo que não sejam inseridas nos moldes do trabalho capitalista que
imprime status, elas conseguem seu sustento e dos que dela dependem.
Esses homens e mulheres,
trabalhadores informais, com certeza se enquadram na idéia de “amor fati” que
Nietzsche discute. Para ele, o “amor aos fatos” era uma formula do amor pela
vida como ela é. Envolve viver. Viver sem transformar os adjetivos, os
estigmas, criados por uma classe burguesa, em deuses ou coisas parecidas. Para
Nietzsche a vida não podia ser transformada em apenas uma questão de
sobrevivência, pois agir assim seria caminhar de quatro junto a alguma ética,
buscando um cardápio moral que deveria despencar de alguma mesa burguesa com
suas idéias de superioridade.
Entendo que muitos dos trabalhadores informais,
homens e mulheres pobres, não só sobrevivem, mas vivem, ocupam espaço, reivindicam
seus direitos e perturbaram o mundo idealizado. Esses trabalhadores, não transformam
suas vidas em algum tipo de fardo, para depois terem que ampliarem as regras
para suportá-lo ou então ficarem sonhando com um mundo sem fardo. Eles vão para
o campo de batalha, para a rua, e vivem para contar a história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por um momento estivemos juntos, ligados pelas ideias. Foi muito bom! Nos encontramos em breve! Tchau!