Esta resenha tem como base o livro de José
Carlos Reis, História & Teoria, alçado nos sub-capitulos com os temas:
Modernidade e história-conhecimento, pags. 36 a 42; A pós-modernidade, pags. 42
a 53; e Pós-modernidade e história-conhecimento, pags. 53 a 62, da 1ª seção.
Este livro foi publicado pela editora FGV do Rio de Janeiro, com edições em
2003, 2005, 2006 e finalmente a Reimpressão em 2007, que é a edição que estamos
utilizando.
Neste
texto resenhado, José Carlos Reis, faz uma abordagem sobre os caminhos da
historiografia no século XVIII, onde predominava a filosofia e a Razão
histórica. Anda também no século XIX, onde a história quer se emancipar para
Ciência histórica. Passando por último para o século XX, onde pode se destacar
duas fases distintas da História: na primeira parte, uma História-ciência, que
vigora na primeira metade do século, e, na segunda parte, a Anti-ciência na
História, ou a Anti-história na ciência, que se passa no final do século.
A
obra de José Carlos Reis, História & Teoria, esta dividida em 21 capítulos,
sob três seções. Na primeira seção, Reis, faz o que podemos chamar de histórico
de a História da história, que se trata de uma analise sobre o desenvolvimento
historiográfico no mundo ocidental. Na segunda seção o foco está na grande
queda da História, passando de uma História global a uma micro-história, ou
como Reis a chama, a “história em migalhas”. E na terceira seção a analise se
concentra no estudo da Lógica e sua problemática e em tentar estabelecer como o
conhecimento histórico tem sido discutido nos últimos anos.
Nos três capítulos, que baseamos esta
resenha, José Carlos Reis, remonta ao século XIX, onde a história-conhecimento
deixa de lado seu viés filosófico e torna-se “cientifica”. Esta mudança é
resultado de pensadores radicais, que tinham consigo que as filosofias
racionalistas e metafísicas, não revelaram nada da história, e consequentemente
não servia como bem para a humanidade.
Com o estabelecimento da
História-ciência deixou-se de discutir o sentido histórico e a história
universal. No método cientifico, conforme mostra Reis, não se busca
conhecimento de principio geral, mas sim o conhecimento das diferenças. Há um
verdadeiro culto do “fato realmente acontecido”. A consciência histórica é
finita, limitada. Como se trata de uma busca da realidade a História-ciência se
organiza temporalmente sem se referir ao intemporal. As filosofias Hegelina e
Iluminista são prontamente recusadas.
A
relação entre filosofia e história se inverte. Neste momento é a filosofia que
se revela histórica. O historiador passa a ter uma nova atitude, positiva e
critica. Abandona-se a ontologia e adota-se um proceder epistemológico.
Passa-se a observar os fatos através de uma atitude realista. Acreditou-se que
o conhecimento histórico tinha se estruturado em bases positivas ao encontrar
um método seguro, objetivo, confiável, empírico.
A
seguir, José Carlos Reis, mostra como a história-ciência sofre uma poderosa
derrota quando ocorre a 2ª guerra mundial. A história-cientifica que assumiu
ares de salvadora da humanidade, agora é descartada como não servindo para o
bem. Depois de 1945, com a Europa derrotada, com os dois novos vitoriosos a
leste e oeste, que eram inimigos em uma “quentíssima Guerra Fria”, a
historiografia européia tinha de se reconstruir para apoiar a Europa em sua
reconstrução. A escola dos Annales era a historiografia adequada à
“reconstrução da Europa”. Reis resume a importância da escola dos Annales por
citar que ela foi tão revolucionária quanto à burguesia depois da Revolução
Francesa, ou seja, inovava para se antecipar a mudança, mudava para não
desaparecer, para permanecer.
Por
fim, Reis, passa a analisar o momento atual em que a história se encontra.
Segundo ele, desde 1989, com o fim da Guerra Fria, a história mundial mudou a
sua direção. A história da história se articula à história vivida. Hoje,
predomina a chamada “história cultural” e as abordagens micro do social, que
defendem teses como: “o sistema não existe”, “não há confrontos estruturais”,
“o que os homens são é tal como se representam”, “o que o mundo social é
depende das representações que os indivíduos e grupos fazem dele”, “os
indivíduos se apropriam de linguagens dominantes para se integrarem à ordem”
etc. A direção é: que cada um se adapte, que cada um se integre, que cada um
negocie e crie estratégias para vencer, que crie novas identidades, que, se
vencedoras, irão revigorar a ordem. Viva o presente e lute para fortalecer-se
nele. Olhando ainda mais para os nossos dias, alguns historiadores têm
formulado a existência de um pensamento pós-moderno, onde haveria uma ruptura
com o projeto moderno. Esse pensamento pós-moderno substituiria a Razão e a
metafísica. A história não salva e ninguém se nutre de sonhos utópicos. É real
a existência desse pós-modernismo? Quais são suas reais bases? O que o futuro
pode nos apontar? São reflexões feitas por José Carlos Reis e abordadas nestes
capítulos que procuramos aqui resenhar.
Vale
dizer nesta resenha, que a analise feita por José Carlos Reis, demonstra de
forma interessante o desenvolvimento e a queda da historiografia e
consequentemente sua luta para não desaparecer, para se adaptar aos novos
tempos. Ao citar filósofos de nome como: Weber, Nietzsche, Hegel, Foucault,
Dilthey, Marx, P. Burke e outros; ele tenta mostrar como sua analise esta bem
embasada e representa o pensamento filosófico em vigor.
Por
ter uma “vocação filosófica”, como ele mesmo refere a si, José Carlos Reis,
defende em demasia o retorno da história-conhecimento, que foi utilizada
amplamente no século XVIII, e que tem como meta a compreensão do mundo por meio
do estudo da Razão, utilizando a filosofia como base das reflexões. Mas como
diz Tzvetan Todorov: “A aquisição dos
conhecimentos só faz aproximar da verdade quando se trata do conhecimento
daquilo que se ama e em nenhum outro caso” (L’enracinement, p. 319). Ou seja,
não se pode ter uma compreensão plena de algo se não estivermos vivendo esse
algo, pois, sem a emoção, sem o sentimento da vivenciação, da experiência
pessoal, tudo se degeneraria em escolástica, e assim traria satisfação apenas
às instituições burocráticas, que adoram os dados quantitativos. Uma história
feita em bases filosóficas, poderia se tornar rapidamente uma história
empírica, o que foi amplamente criticado por Reis, quando utilizada pela
história-ciência.
Ao
tecer duras criticas aos métodos científicos em que a história-ciência se
alicerçou, Reis, deixou de analisar como esses métodos foram úteis em se criar uma
“estrutura lógica”, fundamentada, para se fazer história. É claro que, os
pensamentos de radicalistas históricos, que introduziram o pensamento
cientifico e suprimiram a filosofia da história, cometeram um erro de falta de
equilíbrio. Porém, Reis, cai em um erro similar ao defender a introdução da
filosofia na história e a total supressão dos métodos científicos. É preciso
ter um equilíbrio, utilizar o melhor dos dois mundos seria o mais sensato, é
preciso evitar o radicalismo histórico.
Eu
considero a idéia do texto resenhado muito boa para a utilização nas
faculdades, entre os iniciantes em graduação de história. Não é segredo que a
história passou por várias mudanças e que atualmente a uma indefinição quanto
ao momento em que se vive e quanto a que caminho seguir. Porém, a forma como
Reis apresenta esse momento dá uma visão realista de três séculos de conflitos
historiográficos. Os iniciantes de graduação em história poderão assim ter
visão apurada do desenrolar histórico.
O
professor José Carlos Reis é um dos historiadores mais conhecidos no Brasil.
Autor de algumas das melhores obras de teoria e historiografia (História &
Teoria; A Escola dos Annales: a inovação em História; Identidades do Brasil I e
II; Tempo; História e Evasão entre outros). Fez o curso de história na
Fafich/UFMG (1978/81). Sua pós-graduação foi em departamentos de filosofia. Fez
mestrado na UFMG, sob a orientação de Ivan Domingues, com a dissertação “Marx e
a História”. Fez doutorado no instituto superior de Filosofia, da Universidade
Católica de Louvain (Bélgica), sob a orientação de André Berten, com a tese “O
tempo e o lugar epistemológico dos Annales”.
Silvon
Alves Guimarães
“Acadêmico
do curso de História da Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí”.
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