Metodologia e fundamentação teórica
O estágio supervisionado
é entendido como um momento de prática docente e, ao mesmo tempo, de
aprendizagem. Nesse contexto, nos cursos de licenciatura, os estágios são
vinculados ao componente curricular Prática de Ensino, cujo objetivo é o
preparo do licenciando para o exercício do magistério em determinada área de
ensino ou disciplina (PICONEZ, 1991).
Diante do papel
pretendido, o estágio deve ter como foco desenvolver no acadêmico a capacidade
crítica de compreender sua prática de ensino enquanto mecanismo de
transformação social, uma vez que a escola se apresenta como formadora de
cidadãos. Nesse sentido, as atividades realizadas ao longo desse período devem
priorizar o desenvolvimento de metodologias de ensino, iniciando a construção
de sua própria didática.
O espaço do estágio,
segundo Piconez (1991, p. 22), é o lugar para se “articular a integração
teoria-prática entre os conteúdos da parte diversificada e do núcleo comum do
curso de formação de professores e o conhecimento da sala de aula da escola
pública”.
Dentro deste contexto,
torna-se claro a importância do estágio supervisionado nos cursos de
licenciatura, considerando que este tem como finalidade colocar os acadêmicos
em contato com a prática docente, desenvolvendo atividades relacionadas a essa
prática, como: elaboração de plano de aula, busca de metodologias alternativas
no ensino, desenvolvimento das atividades em sala de aula e avaliação.
Nos cursos de Letras
Língua Portuguesa, os estágios e atividades complementares fazem parte da
necessidade histórica de articulação entre a teoria e a prática, e entre a
pesquisa básica e a aplicada, formando assim um profissional contextualizado.
Portanto, dentro da
escola, a Língua Portuguesa é compreendida como uma disciplina de grande
importância na formação de indivíduos críticos frente a um mundo globalizado e
em constante transformação. Isso permite que o professor de Português busque
diferentes metodologias e técnicas de ensino que contribuam para a construção do
senso crítico nos alunos.
O graduando, durante o
estágio, deve ter em mente a importância desta disciplina diante da sociedade.
Neste sentido, ao observar a rotina escolar e participar nas aulas, deve-se
levar em consideração as possibilidades e dificuldades dos estudantes, assim
como contextualizar o conteúdo com a realidade dos alunos, para que as aulas de
Português se tornem mais interessantes e significativas.
Observação prática
Durante
o estágio supervisionado, foi possível constatar diversos aspectos da postura
profissional de um educador, entre eles destacamos a relação professor/aluno, o
uso da matriz curricular, a metodologia de ensino e a relação com os colegas de
trabalho.
Relação
professor/aluno – ao acompanhar as aulas da professora supervisora, pude
constatar que há um bom relacionamento entre ela e os alunos, apesar de serem
pré-adolescentes, sempre propensos a algazarras, barulhos e distrações – a
professora tem que chamar a atenção repetidas vezes –, é possível notar o
respeito e admiração existente. A leveza que a professora proporciona em suas
aulas mantêm os alunos motivados no processo de aprendizagem e este ambiente é
muito importante, especialmente por se tratar de turmas dos anos finais do
ensino fundamental.
Uso
da matriz curricular – nas observações sobre o uso do Currículo Referência de
Educação do Estado de Goiás, constatamos o comprometimento da professora em
atender os conteúdos de ensino-aprendizagem a serem ministrados no 3º e 4º
bimestre do ano letivo. As diretrizes do Currículo preveem que o objetivo do
ensino da Língua Portuguesa na Educação Básica, seja proporcionar aos alunos
experiências que ampliem suas ações de linguagem, contribuindo para o
desenvolvimento do letramento, entendido como uma condição que permite ler e
escrever em diversos gêneros discursivos presentes na sociedade. A professora
usa como método organizacional, para atender o Currículo Referência, o uso do
planejamento quinzenal, contendo expectativas de aprendizagem, eixo temático, conteúdo
e avaliação, desta forma ela atende ao Currículo e consegue administrar os
conteúdos que serão propostos aos alunos.
Metodologia
de ensino – por se tratar de uma escola de tempo integral se torna mais fácil
para a professora manter uma dinâmica nas suas aulas, visto ser de dedicação
exclusiva, não tem a necessidade de trabalhar em outra escola para complementar
a sua renda. Assim, a professora consegue diversificar as aulas, alternando
entre aulas expositivas, resolução de Quiz de português, seminários, análises
literárias, análises de filmes, uso de Datashow, visita a exposições culturais,
produção de textos, etc.
O
dinamismo imposto às aulas mantêm o entusiasmo dos alunos, que sentem as aulas
mais prazerosas. Ao saírem da rotina de aulas, com as atividades pedagógicas
lúdicas, é possível notar nos olhos dos educandos o quanto se sentem felizes
pela descoberta do novo aprendizado. Dessa forma, como menciona Karnal (2012):
O olhar dos alunos eles
dizem, com absoluta naturalidade, sobre o andamento de tudo. Aprenda a ler seus
olhos, os olhos dos seus alunos são espelho de branca de neve: dizem tudo o que
você perguntar. Não estamos entendendo, não tenho interesse, estou adorando,
você fala alto demais, não estou ouvindo (KARNAL, 2012, p.22).
As
avaliações são feitas utilizando diversos critérios, tais como: atividades
avaliativas no caderno, apresentação de seminários, pesquisas teóricas,
atividades em grupo, participação do aluno durante as aulas, disciplina entre
outros. A professora assume, desta forma, o ensino como um processo de
mediação, em que o professor media a relação ativa do aluno com a matéria,
considerando os conhecimentos, a experiência e os significados que o aluno trás
para a sala de aula (LIBÂNEO, 1998, p.29).
Relação
com os colegas de trabalho – observamos que a professora mantém uma ótima
relação de convivência com seus colegas, compartilhando opiniões e ideias,
planejando aulas interdisciplinares e auxiliando em outras disciplinas. Como
exemplo podemos tomar as gincanas educativas, em que houve a participação da
professora de Português juntamente com a de Matemática e de Educação Física.
Em
suma, diante de todas as observações que foram feitas em sala e no planejamento
das aulas, junto a professora supervisora, nós concluímos que ela, apesar de
todas as dificuldades apresentadas, como falta de recursos para incrementar as
aulas, tem atuado como uma educadora que busca mediar o processo de
aprendizagem do aluno. Procura respeitar os alunos e seus saberes, não os
considerando como meros recipientes para depósito de conhecimento – como se
isso fosse possível – mas, estimula-os a participarem do processo de
(re)construção do conhecimento.
Análise dos materiais de suporte
O
Centro de Ensino em Período Integral (CEPI) Colégio Estadual Emília Ferreira de
Carvalho, situa-se no Bairro Jardim Rio Claro, em Jataí-Go. O mesmo possui
prédio próprio. A escola é mantida pelo Poder Público Estadual e Parcerias,
administrada pela Secretaria Estadual de Educação. São oferecidos cursos de Ensino
Fundamental de 6º ao 9º ano em período integral a partir do ano de 2018.
A
escola começou a funcionar no dia 19 de março de 1970, e recebeu esse nome em
homenagem a educadora EMÍLIA FERREIRA DE
CARVALHO, professora que desenvolveu um trabalho relevante para a
Comunidade Jataiense.
Hoje
a Escola possui uma área construída de 4500 m², distribuídas entre 10 salas de
aulas com capacidade de 35 alunos, sala de professores, secretaria, sanitários
femininos e masculinos, cozinha e duas salas pequenas para armazenamento de
materiais. A quadra de esportes e a biblioteca estão em processo de adequação e
reforma.
A
análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola pressupõe um espaço em
que a ação pedagógica é entendida como uma prática de vida, de todos e com
todos, na perspectiva de formar cidadãos que integrem e contribuam para sua
comunidade. Percebe-se que a educação, o ato e a prática de aprender e ensinar,
é considerado como sendo de responsabilidade de todos. O papel da família nesta
empreitada é bem definido. A Escola adota como principal finalidade o pleno
desenvolvimento das pessoas ligadas à comunidade.
Os
materiais de suporte para as aulas existem, são bem utilizados e têm sortido um
efeito positivo, possibilitando aulas dinâmicas e diferenciadas. Porém, ainda
há carência de recursos tecnológicos, fazendo com que os professores tenham que
estabelecer uma espécie de rodizio para o uso dos aparelhos tecnológicos,
justamente por serem poucos.
A
professora supervisora do estágio, por várias vezes, teve que recorrer ao velho
e bom quadro negro como alternativa para suas aulas. Mas, até nestes momentos
foi possível observar a boa disposição e adaptação para que as aulas se
tornassem instrutivas.
Considerações finais
Toda
experiência, tornada possível pelo estágio, contribuiu para, em partes,
desmitificar o mundo docente. A observação/participação apresenta uma realidade
diferente do mundo idealizado nas aulas da faculdade. Esse tempo em que estive
na escola do estágio pude contemplar alguns dos obstáculos que se apresentam na
jornada docente.
O
estágio se mostrou essencial para compreender os possíveis conflitos que surgem
na vida profissional docente. Todas essas contribuições podem fazer a diferença
entre ser um educador motivado ou frustrado, influenciando diretamente a vida
dos alunos para o bem ou mal. Portanto, é possível dizer que o estágio
supervisionado nos mostra a realidade social da educação e “partir desta
relação, começar a preparar o seu amanhã como profissional da educação, fazendo
realmente a diferença onde quer que se encontre” (SCALABRIN; MOLINARI, 2013,
p.3).
Essa
experiência nos permitiu testar na prática os nossos conhecimentos adquiridos
no decorrer do curso de Letras Língua Portuguesa, refletindo sobre como e em que
devemos melhorar nossa atuação profissional. O estágio foi uma porta para
procurar apreender um pouco da realidade do sistema educacional e seus
desafios.
Apesar de todo aprendizado, essa experiência
não ensina a ninguém a ser professor, mas oferece componentes eloquentes que
enfatizam outros saberes e perguntas que podem ser o impulso na elaboração da
identidade profissional. A construção da identidade profissional não se dará
apenas com esse momento de estágio, mas sim, no exercício da profissão e por
meio de uma formação contínua. Comentando sobre as contribuições do estágio
para a formação profissional do educador, Pimenta (2004) diz:
Através do exercício da
profissão o graduando terá oportunidade de trabalhar os conteúdos e as atividades
do estágio no campo de seu conhecimento específico, que é a Pedagogia-ciência
da educação – e a Didática – que estuda o ensino e a aprendizagem –, percebem
que os problemas e possibilidades de seu cotidiano serão debatidos, estudados e
analisados à luz de uma fundamentação teórica e, assim, fica aberta a
possibilidade de se sentirem coautores desse trabalho (PIMENTA, 2004, p.127).
As
reflexões da autora, nos ajudam a perceber que na construção da identidade
profissional, as experiências adquiridas no estágio proporcionarão ao futuro
professor, adaptar-se às situações que serão vivenciadas durante sua carreira
profissional. Lembrando-se sempre que ensinar não é transferir conhecimentos,
mas criar oportunidades de aprendizado.
Referências
KARNAL,
Leandro. Conversas com um jovem
professor. São Paulo: Contexto, 2012.
LIBÂNEO,
José Carlos. Adeus professor, adeus
professora? novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo:
Cortez, 1998.
PICONEZ,
Stela C. Bertholo. A prática de ensino e o estágio supervisionado: a
aproximação da realidade escolar e prática da reflexão. In: ______. A prática de ensino e o estágio
supervisionado. Campinas: Papirus, 1991.
PIMENTA,
Selma Garrido. Estágio: diferentes concepções. In: PIMENTA, Selma garrido;
LUCENA, Maria Socorro. Estágio e
docência. São Paulo: Cortez, 2004.
SCALABRIN,
Izabel Cristina; MOLINARI, Adriana Maria Corder. A importância da Prática do Estágio Supervisionado nas Licenciaturas.
Revista Científica, Centro Universitário de Araras, UNAR. Araras, ISSN
1982-4920, vol.7, n 1, 2013.
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