Introdução:
Colocação
Pronominal é a parte da gramática que trata do uso correto, segundo as normas
para o Português, dos pronomes oblíquos átonos na frase. Embora na língua
falada a colocação dos pronomes não seja rigorosamente seguida, espera-se que
na escrita, certas regras sejam observadas.
Desta forma, a norma padrão, prescreve, para
os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, o(s), a(s), lhe(s), nos, vos), três
posições possíveis em relação ao verbo: próclise
(antes do verbo), mesóclise (entre o
verbo) e ênclise (após o verbo).
Para entender essa relação, vale lembrar que a frase, em português, pode ser
construída na ordem direta [sujeito+verbo+complemento (OD/OI) + adjunto
adverbial] ou na ordem indireta, em que a posição de alguns desses elementos é
alterada.
A
prática do falar:
Como
o nosso objetivo, nesta análise, não é aprofundar o tema, mas fazer uma breve
menção do assunto, selecionamos um trecho de uma música caipira de raiz,
gravada por Inezita Barroso, para ilustrar o uso da palavra falada na sua
variante mais distante da norma padrão:
Com a marvada
pinga é que eu me atrapaio
Eu entro na venda
e já dou meu taio
Pego no copo e
dali num saio
Ali memo eu bebo,
ali memo eu caio
Só pra carregá é
que dó trabaio, oi lai
(...)
O marido me disse, ele me falô
Largue de bebê,
peço por favô
Prosa de home,
nunca dei valô
Bebo com sór
quente pra esfriá o calô
E
bebo de noite pra fazê suador, oi lai (...)
Existem
regras para a colocação do pronome antes do verbo. Na frase, deve haver a
presença dos chamados fatores de próclise – palavras que exercem atração, que
“puxam” o pronome para antes do verbo -, esses atrativos podem ser, entre
outros, uma palavra negativa, um advérbio, um pronome relativo etc.
Voltando
à “Moda da Pinga”, é o que acontece com os pronomes destacados: não há nenhum
fator de próclise, nada que atraia o pronome para antes do verbo. Portanto,
trata-se de uma variante não padrão em que a “musicalidade” do português do
Brasil levou o compositor a colocar os pronomes como próclise (LOBO, 1992).
Conclusão:
Em
nossa análise, abordamos apenas o aspecto do uso proclítico no português do
Brasil, pois percebemos que há uma preferência por esse uso em território
nacional, independente da prescrição normativa encontrada nas gramáticas
brasileiras de língua portuguesa. Segundo
Valadares e Silva (2015), as pesquisas sobre os fatores condicionantes da
composição morfossintática da língua, indica que houve a adoção no português do
Brasil da próclise, mesmo que esse uso não seja o prescrito pela norma padrão.
Referências
Bibliográficas:
LOBO,
T. A colocação dos clíticos: duas
sincronias em confronto. Lisboa: Universidade de Lisboa. Dissertação de
Mestrado, 1992.
VALADARES,
Flávio Biasutti; SILVA, Clara Regina Gonçalves da. Português do Brasil: uma
abordagem do uso proclítico em textos jornalísticos brasileiros. Revista Vozes dos Vales. UFVJM, MG,
Brasil. N.07. Ano IV. 05/2015.
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