terça-feira, 30 de junho de 2020

COLOCAÇÃO PRONOMINAL NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: PRESCRIÇÃO E USO


Introdução:
            Colocação Pronominal é a parte da gramática que trata do uso correto, segundo as normas para o Português, dos pronomes oblíquos átonos na frase. Embora na língua falada a colocação dos pronomes não seja rigorosamente seguida, espera-se que na escrita, certas regras sejam observadas.
             Desta forma, a norma padrão, prescreve, para os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, o(s), a(s), lhe(s), nos, vos), três posições possíveis em relação ao verbo: próclise (antes do verbo), mesóclise (entre o verbo) e ênclise (após o verbo). Para entender essa relação, vale lembrar que a frase, em português, pode ser construída na ordem direta [sujeito+verbo+complemento (OD/OI) + adjunto adverbial] ou na ordem indireta, em que a posição de alguns desses elementos é alterada.

A prática do falar:
            Como o nosso objetivo, nesta análise, não é aprofundar o tema, mas fazer uma breve menção do assunto, selecionamos um trecho de uma música caipira de raiz, gravada por Inezita Barroso, para ilustrar o uso da palavra falada na sua variante mais distante da norma padrão:

Com a marvada pinga é que eu me atrapaio
Eu entro na venda e já dou meu taio
Pego no copo e dali num saio
Ali memo eu bebo, ali memo eu caio
Só pra carregá é que dó trabaio, oi lai
(...)
O marido me disse, ele me falô
Largue de bebê, peço por favô
Prosa de home, nunca dei valô
Bebo com sór quente pra esfriá o calô
E bebo de noite pra fazê suador, oi lai (...)

            Existem regras para a colocação do pronome antes do verbo. Na frase, deve haver a presença dos chamados fatores de próclise – palavras que exercem atração, que “puxam” o pronome para antes do verbo -, esses atrativos podem ser, entre outros, uma palavra negativa, um advérbio, um pronome relativo etc.
            Voltando à “Moda da Pinga”, é o que acontece com os pronomes destacados: não há nenhum fator de próclise, nada que atraia o pronome para antes do verbo. Portanto, trata-se de uma variante não padrão em que a “musicalidade” do português do Brasil levou o compositor a colocar os pronomes como próclise (LOBO, 1992).

Conclusão:
            Em nossa análise, abordamos apenas o aspecto do uso proclítico no português do Brasil, pois percebemos que há uma preferência por esse uso em território nacional, independente da prescrição normativa encontrada nas gramáticas brasileiras de língua portuguesa.  Segundo Valadares e Silva (2015), as pesquisas sobre os fatores condicionantes da composição morfossintática da língua, indica que houve a adoção no português do Brasil da próclise, mesmo que esse uso não seja o prescrito pela norma padrão.

Referências Bibliográficas:
LOBO, T. A colocação dos clíticos: duas sincronias em confronto. Lisboa: Universidade de Lisboa. Dissertação de Mestrado, 1992.

VALADARES, Flávio Biasutti; SILVA, Clara Regina Gonçalves da. Português do Brasil: uma abordagem do uso proclítico em textos jornalísticos brasileiros. Revista Vozes dos Vales. UFVJM, MG, Brasil. N.07. Ano IV. 05/2015.

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