quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

TRABALHO – Mais que uma Ideologia, Mais que uma questão de Sobrevivência

Pescadores ao longo da costa do Sri Lanka, em 1995. Foto: Steve McCurry

No Brasil, a partir da primeira República, os governantes tinham como meta estabelecer uma nova ideologia trabalhista, que tinha como alvo atingir a “mente” ou o “espírito” dos brasileiros. A pretensão foi de que se assimilasse a idéia de que o trabalho era um bem, era uma virtude, este se tornaria a força que impulsionaria a nação rumo ao “novo”, rumo a “civilização”, rumo aos costumes civilizados das nações européias, que sempre foi o ideal da sociedade brasileira.
A idealização do trabalho em si, em minha opinião, não constitui um problema. Contudo, as interpretações sociais que foram sendo feitas ao longo dos anos, estas sim, se tornaram problemáticas, ao passo que apresentava como pessoa de bem, apenas aqueles que estivessem inseridos no mercado de trabalho e mesmo que a pessoa tivesse um trabalho informal, ainda recairia sobre ele o estigma de contra lei.
No mundo capitalista e globalizado a ideologia trabalhista se tornou bem difundida e não é difícil nos depararmos com esse conceito atualmente. Pessoas de todas as classes sociais passaram a encarar o trabalho não mais como meio de conseguir o sustento, mas como um símbolo de status e sucesso. É tanto assim, que quando um trabalhador desempregado pratica, por exemplo, um furto pra conseguir alimento pra si e para sua família, ele é prontamente classificado como “vagabundo”. Porém, quando funcionários federais, funcionários de elite, que tem um alto salário, cometem os chamados “crimes do colarinho branco”, recebem outro tipo de tratamento e por vezes são até admirados por serem tão espertos. É a ideologia do trabalho, imprimindo legalidade aos inseridos nos moldes capitalistas e ao mesmo tempo produzindo estigmas aos trabalhadores informais.

Mulheres no local de trabalho na Índia. Foto: Steve McCurry Photowork 5

Se a Ideologia trabalhista instaurada na primeira República, constituía um desafio para os homens, o que dizer das mulheres, que só pelo fato de serem mulheres já sofriam discriminação? Se esta mulher fosse Negra, sem marido e pobre, então sua situação era desesperadora.
Mas a verdade é que muitas mulheres do início do século XX, foram a luta, foram às ruas – espaço reservado aos homens e as mulheres que não eram virtuosas – e venceram o desafio das ruas. Além de conseguirem seu sustento, honestamente, algumas prosperaram financeiramente.
A foto acima destaca mulheres na Índia que também vão à luta. Essas mulheres não têm medo do trabalho e mesmo que não sejam inseridas nos moldes do trabalho capitalista que imprime status, elas conseguem seu sustento e dos que dela dependem.
Esses homens e mulheres, trabalhadores informais, com certeza se enquadram na idéia de “amor fati” que Nietzsche discute. Para ele, o “amor aos fatos” era uma formula do amor pela vida como ela é. Envolve viver. Viver sem transformar os adjetivos, os estigmas, criados por uma classe burguesa, em deuses ou coisas parecidas. Para Nietzsche a vida não podia ser transformada em apenas uma questão de sobrevivência, pois agir assim seria caminhar de quatro junto a alguma ética, buscando um cardápio moral que deveria despencar de alguma mesa burguesa com suas idéias de superioridade.
Entendo que muitos dos trabalhadores informais, homens e mulheres pobres, não só sobrevivem, mas vivem, ocupam espaço, reivindicam seus direitos e perturbaram o mundo idealizado. Esses trabalhadores, não transformam suas vidas em algum tipo de fardo, para depois terem que ampliarem as regras para suportá-lo ou então ficarem sonhando com um mundo sem fardo. Eles vão para o campo de batalha, para a rua, e vivem para contar a história.



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