Mesmo
sabendo que é impossível, vou tentando te escrever. Não sei quantas vezes
comecei e nem poderia dizer quantas vezes parei essa escrita. O que escrevo são
somente frases vazias, que não conseguem expressar a desilusão de um ser
solitário como eu. Sou apenas um montão de solidão desde que você se foi. Eu
quis e quero te escrever, porém, não posso, não sei, não consigo dizer nada.
Agora
começo de novo a te escrever. Nas mãos tenho um lápis e um bloco de papel, no
peito tenho um sentimento de impotência por não poder formular nenhuma frase que
possa dizer o que sinto por ti. Eu quis outra vez marcar a folha que se
encontrava em branco e mais uma vez me faltaram às palavras, mais uma vez
fiquei mudo, se calaram meus lábios, emudeceram minhas mãos, apesar de ter
tanto o que te dizer. A falta de você me faz perder os sentidos, me faz ficar
paralisado.
Em meio a esta agonia que toma conta de minha
alma, vejo brotar duas lágrimas em meus olhos, sem dar-me conta, as lágrimas
caem e se prendem ao papel em branco, em que tento escrever-te algumas linhas.
De
onde surgiram estas lágrimas? Do coração sangrento, da alma dilacerada? Não posso
dizê-lo. O fato é que estavam ali, perfeitas em suas formas brilhantes, eram
duas pérolas, dois diamantes que cintilavam no papel em branco. Logo, percebi
que meu coração ou minha alma, talvez tenham feito o que eu não pude fazer,
escreveram essas palavras que eu não consegui escrever. Como poderia eu,
expressar de melhor modo essa dor que mora dentro de mim?
Quem
poderia saber mais da dor venho trazendo comigo?... Deixei estas lágrimas no
papel, não as toquei. O papel em que eu queria te escrever já não estava mais
em branco, já não estava incompleto, já não precisava de minhas palavras, pois
trazia um pedaço de mim, de meu coração, de minha alma.
Deixo-te
esta folha com duas lágrimas junto com a rosa da cor que você tanto gosta. Deixo
a folha e a rosa juntos para que te acompanhem, para que não fiques só, para
que, diferente de mim, possa ficar em paz.
Desprendo-me da folha com as lágrimas e da
rosa, para ficar só, pois você já não está aqui. Aqui deixo minha carta, minha
rosa, meus beijos e meu adeus. Sigo sem nada, levo apenas os espinhos da rosa…
que mal podem me fazer mais alguns espinhos? Tenho tantos cravados em meu peito
que já não sinto dor. Me sinto como um punhado de folhas secas que o vento frio
do outono espalha pelos campos desertos e empoeirados.
Eu fui
o feliz namorado, o ser escolhido, o poeta que tanto te quis... E que por um
tempo, você tanto quis. Hoje sou apenas uma sombra que nem vida tem. Eu sou
aquele que acreditava no amor, quando você estava do meu lado. Hoje sou aquele que
nega que exista o amor... Porque você não esta aqui.
Voltarei
como sempre volto, trazendo um papel em branco, deixando duas lágrimas amargas
para que digam o que não podem dizer minhas palavras, para que te mostrem meus
sentimentos. Deixarei outra vez uma rosa, da cor que você tanto gostava. Deixo meus
beijos e meu adeus, com a promessa de eternamente voltar com um papel em
branco... Duas lágrimas... Uma flor, um novo beijo e meu adeus.
(Tradução
do poema “Carta 5” de Neogéminis, postado em http://cartasquenofueronenviadas.blogspot.com.br/2012/06/carta-5)