“Para o forte, o conhecimento, o dizer sim à
realidade é uma necessidade tal como para o fraco, sob a inspiração da
fraqueza, também é uma necessidade a cobardia e a fuga perante a realidade” — o
‘ideal’...
Nietzsche
não aceita a idéia de verdade absoluta. Tudo é perspectiva, tudo é uma
interpretação pessoal do complexo texto do mundo. Então, não há verdadeiramente
fatos e a verdade que se pretende absoluta ou objetiva é uma mentira.
Interpretação
pessoal, como assim? Para Nietzsche, o intérprete atribui significado a algo, a
partir da perspectiva, da vivência, e até, porque não, das necessidades
pessoais. Então o mundo é cheio de mundos, ou seja, cada pessoa, cada
individuo, à base das suas próprias interpretações vai criando o seu mundo
particular e pessoal. É claro que alguns procuram moldar os mundos particulares
de acordo com a sua perspectiva, e no caso dos que possuem poder de
convencimento, conseguem com que outros indivíduos não tenham suas interpretações
pessoais do mundo, mas sigam o que lhes é determinado.
Seguindo
esse raciocínio, Nietzsche diz que o platonismo e o cristianismo, são exemplos
de interpretações da vida e do mundo, são formas de avaliação das perspectivas
e tanto o Platonismo como o cristianismo, são agentes determinantes de
interpretações particulares que sobrepõem às interpretações individuais.
Todas as
interpretações, toda a perspectiva pessoal, gira em torno de um sentido fundamental
imanente em tudo que existe, a Vontade de
Poder. Nietzsche, nos fala sobre como essa “vontade de poder” faz com que
se criam recursos como – o juízo de valor – que dá sentido e um valor à vida e
se torna a pulsão que move as vontades humanas. Todas as formas culturais
criadas pelo homem são expressões da sua “vontade de poder”.
Quando Nietzsche fala sobre a vontade de poder, não fala de uma vontade específica, não necessariamente esta vontade tem de se manifestar de uma
só forma, por não ser unívoca, esta vontade pode assumir diversas formas.
Assim, Nietzsche fala de vontade de poder fraca ou negativa (que se vira contra
a própria vida) e de vontade de poder forte ou afirmativa (que diz sim à vida).
O homem
é, para Nietzsche, o ser que avalia, que produz valores. Enquanto manifestação
da vontade de poder, os valores são sintomas ou de uma vontade débil ou de uma
vontade forte, em suma, de certo tipo de vitalidade. O perspectivismo, ao
transformar todos os nossos valores, ideias ou doutrinas em simples
interpretações, em perspectivas, em relações, saudáveis ou doentias, com a
vida, abre o caminho ao método genealógico.
A análise
genealógica consiste em remontar à origem dos nossos valores ou ideias, em
desocultar a sua raiz profunda, em revelar a sua gênese partindo do suposto de
que as produções culturais do homem são o sintoma ou a tradução de determinados
instintos, de uma vontade que nega ou afirma a vida. Em suma, são
interpretações que manifestam o tipo de vitalidade do intérprete, a sua relação
com a vida, os seus desejos ou instintos mais profundos.
Entendendo
os valores e as ideias não como realidades objetivas — como algo existente em
si — o método genealógico traçará a gênese dos produtos culturais do Ocidente
(a moral, a filosofia, a religião, etc.) considerando-os como interpretações
que manifestam uma vontade débil, incapaz de enfrentar a vida na sua
desconcertante complexidade e odiando o mundo e a vida por causa dessa
impotência, dessa debilidade.
Nietzsche
não é capaz de aceitar as determinações que são impostas pelo platonismo e pelo
cristianismo, por considerá-los como interpretações particulares que sufocam a
visão pessoal de mundo que cada individuo pode desenvolver. Ao pregar a verdade
absoluta, o cristianismo, difunde uma mentira e tenta dar lugar a vontade de
poder, vontade essa que conduz os seres humanos a odiarem a vida e o mundo, mantendo
apenas a uma perspectiva de recompensa no futuro, tendo que por outro lado não
usufruir essa vida atual, mas odiá-la e desprezá-la.
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