Nesta postagem trago a nota de abertura do jornal. Notem o grau de desconcentração que foi colocado logo na abertura deste periódico, que já indicava o seu teor para os próximos números. A escrita é reproduzida na integra, utilizarei as mesmas palavras que foram escritas.
O Picapau
Sua Fundação
Em vista de haver morrido, aliás sem as pragmaticas do estylo, o periódico “A Cidade de Jathay” que com tanta galhardia vinha mantendo bem alto o nome desta terra onde não canta o sabiá, mas folacha a sanphona, abençoada companheira a quem o sertanejo, sentimental por índole, conta as suas queixas e lhe chora no ouvido os lamentos de su’ alma eternamente magoada, um grupo de enthusiastas verdadeiros e sinceros das letras pátrias, reconhecendo as necessidades de uma folha de letra de fôrma, resolveu virar pelo avesso cada um o seu respectivo bolso não furado e fundar uma espécie de sociedade anonyma para o que foi marcada para o dia tal de Oitembro do anno de mil novecentos e coisa uma reunião no sala nobre do olho da rua e lá compareceram o Toti, o Osorio Calado, o Cutia, o Siuca, o Raul do Moysés, o Véinho, o Maestro Anestori... e quando o salão estava cheio que a gente não via ninguém, o Toti com sua pose melenta, subiu na mesa e, tomando a presidência, declarou aberta a sessão, convidando depois para seu secretário o Siuca, que tomou o logar competente, em baixo da mesa; em seguida foi dada a palavra ao Osorio Calado que, na qualidade official da meléca, entrou mudo e saiu cabisbundo e meditabaixo na mudez elocuente de seu discurso escronio, explicando que o fim daquelle povão todo ali (não é mesmo?) era a afundação de um jornal cujo fim seria divertir, todos os domingos depois da missa, a moçada guapa, desconsolando muitas vezes os namoriscados deante de alguma bicada de cum força; logo em seguida, isto é, depois que o Osorio Calado acabou a sua discurseira e (não precisa dizer) depois de vivamente applaudido, por proposta do presidente Toti, foi procedida a inleição para apuração da começão directora que ficou assim constituída: - director: Siuca; secretario: Raul do Moysés; thesoureiro: Osorio Calado; ficando os mais a chupar o dedo e procurar a cama que é logar quente pra chorar; concluídos os trabalhos da apuração (não se trata aqui de apuros por enquanto mente) foi posto a votos qual deveria ser o nome do pimpolho, nome que o presidente indicara fosse o de “Pica Pau” por ser o nome da mãe, que foi acceito unanimemente; não havendo mais nada importante a tratar, o presidente falou aos povos (porque não haviam povas) e mandou evacuar as massas, depois de agradecer com uma espécie de descompostura de sogra a todos que compareceram com o seu (delles) corpo de presença.
E para terminar, gente, os afundadores do “Pica-Pau” mandam dizer que não se responsabilisam pelas criticas assignadas e mais que alguma carga de paus muito pesada elles não agüentam.
(Trecho Extraído do Periódico "O Picapau", 15 junho de 1922)
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