segunda-feira, 6 de julho de 2020

OBSERVAÇÃO E ANÁLISE SOCIOLÓGICA REFLEXIVA DAS RELAÇÕES ENTRE A SOCIEDADE E O MEIO AMBIENTE.

Introdução:

Este trabalho tem como finalidade apresentar o desenrolar de um projeto de
derrubada de cerca de 200 árvores (pinheiros) da área do Campus Avançado de Jataí –
Universidade Federal de Goiás (CAJ-UFG) – e refletir sobre o impacto ambiental e
emocional gerados na sociedade jataiense, que protestou de modo veemente contra o corte
das árvores.

O protesto:

Os pinheiros foram plantados em área doada para a construção da Universidade
Federal de Goiás, na década de 1980. A universidade ocupa uma grande quadra na área
nobre da cidade, abrangendo as Ruas Marechal Rondon, Léo Lince, Tiradentes e
Riachuelo. Muitos consideravam as árvores como motivo de orgulho e beleza para a
paisagem urbana.
A manifestação teve início na manhã de sexta-feira, 5 de março de 2010, logo após
o corte das primeiras árvores. Segundo ambientalistas que participaram do protesto, a
UFG teria informado que seriam feitos os trabalhos de poda com corte apenas das árvores
que apresentassem um estado precário e que estivessem em risco de cair.
Ambientalistas locais saíram em protesto pelas ruas da cidade, alertando a
população para o risco do impacto ambiental que a derrubada dos pinheiros poderia gerar
para a cidade. A população ficou ciente do protesto por meio de um carro de som e
também através de entrevistas na rádio local.
A população alertada se dirigiu para o local. Houve aglomeramento de populares
em volta das árvores impedindo a continuidade do trabalho de corte. O protesto era contra
a derrubada das árvores que proviam uma beleza cênica para a cidade e também contra a
comercialização da madeira – visto se tratar de um patrimônio público -, que segundo
alguns, seriam vendidas por cerca de R$ 5 mil reais, cada uma das 200 árvores, que
mediam em torno de 30 a 40 metros de altura.
A manifestação reuniu a imprensa, a polícia, políticos locais, populares e outros.
Agentes da polícia federal, deslocaram-se da capital, Goiânia, até a cidade de Jataí, para
garantirem o cumprimento da ordem judicial de corte, que fora emitida por juízes de
Brasília e Goiânia. A polícia militar também foi acionada para dar proteção aos
trabalhadores. O vereador, Gênio Eurípedes, na ocasião presidente da Câmara Municipal
de Jataí, participou dos protestos contra a derrubada das árvores e até tentou obstruir o
corte dos pinheiros se confrontando com uma moto serra.
Uma das árvores cortadas caiu sobre o alambrado que cerca a universidade,
atingindo um parquinho infantil, que fica na pista de lazer em volta da área que abrange
a Rua Tiradentes. Este incidente fez com que os nervos se aflorassem ainda mais, gerando
uma nova onda de protestos. Por fim, houve a paralisação do corte das árvores, em virtude
do protesto e da Ação Popular que constituiu o Processo nº 5213-88.2011.4.01.3507 junto
ao Poder Judiciário-Justiça Federal, Subseção Judiciária de Jataí – GO.

Solução para as árvores já derrubadas:

Com a paralisação do corte dos pinheiros, parou também a manutenção das
árvores que já estavam no chão, bem como o conserto do alambrado e a desobstrução do
parquinho infantil.
No começo do mês de abril do ano de 2010, cerca de um mês após a derrubada de
alguns pinheiros, aproveitando a visita do Reitor da UFG, alunos da associação estudantil,
solicitaram que fosse providenciado reparo no alambrado, impedindo que a área da
universidade fosse adentrada por indivíduos com más intenções.
Em 5 de julho de 2011, a exatos um ano e três meses depois do corte das árvores,
as mesmas ainda se encontravam no local. O vereador, Gênio Eurípedes, fez solicitação
ao reitor da UFG e à administração municipal, segundo comunicado da Assessoria de
Imprensa da Câmara Municipal de Jataí, para que fosse dada uma finalidade aos pinheiros
derrubados no ano anterior, na área da Unidade Riachuelo do CAJ – UFG, pois segundo
o vereador: “São verdadeiros cadáveres insepultos, deixando o local com um triste
aspecto, parecendo terra sem dono. Uma tapera, uma feiura governamental no coração da
cidade”, disse ele. “Com a queimada brusca que os pinheiros receberam, o lugar parece
também uma carvoaria a céu aberto. Um contraste, pois, com a excelência educativa ali
destinada”, asseverou o parlamentar. “Se de fato a UFG tem algo melhor para aquela área,
sugerido fica mais uma vez que o projeto seja discutido também com a comunidade
jataiense, num diálogo aberto e franco. Duvida-se que ambientalistas e afins vão atropelar
a ideia douta e motriz do Campus de Jataí”, concluiu Gênio Eurípedes.

Retomada dos cortes:

O corte dos pinheiros gerou muita polêmica em Jataí. A maioria da população se
mostrou contraria a derrubada das árvores, afirmando que estas árvores fazem parte da
identidade da universidade e da própria cidade, além de proporcionarem sombra e
embelezamento do local. Por outro lado, muitos já se declararam favoráveis ao corte,
justificando que os pinheiros representam risco à comunidade por conta da idade e da
altura dos mesmos. Foi criado inclusive um abaixo assinado pelos moradores residentes
no entorno do Campus Riachuelo, direcionado ao diretor da UFG, solicitando
providências quanto a estas árvores, já que as consideram frágeis e temem que elas
possam cair e provocar acidentes. No abaixo assinado, os moradores citaram a queda de
um pinheiro, ocorrida no dia 18/11/2015, em que uma casa foi atingiu sofrendo danos
materiais. O assunto tem sido debatido também nas redes sociais. A UFG, até o momento,
declarou-se favorável a retirada dos pinheiros.
Por fim, depois de sete anos de polêmica, a UFG Regional Jataí, informou que no
dia 18/03/2017, seriam reiniciados os cortes e retirada dos pinheiros localizados no
Campus Riachuelo. O motivo da ação, segundo a universidade, foi por conta dos riscos
que estas árvores representavam para toda a comunidade.
Ainda, de acordo com a UFG, os pinheiros seriam substituídos por árvores nativas
da região, as quais ajudariam a divulgar a diversidade florestal do cerrado. Os pinheiros
foram plantados por volta dos anos 1980, no início das atividades da UFG em Jataí e por
ocasião da retirada, os mesmos já estavam com quase 40 anos e mediam entre 30 a 40
metros de altura, o que segundo, o professor Alessandro Martins, diretor regional da UFG
Jataí, na ocasião, poderiam causar grandes prejuízos para os moradores. O diretor
informou ainda sobre a existência de um “Projeto de Adequação e Revitalização da
arborização da Unidade Riachuelo”, em que, serão plantadas três espécies nativas no
lugar de cada árvore derrubada. O projeto prevê, também, a construção do Parque da
Ciência no local.

Após os cortes:

Os pinheiros, enfim, foram cortados e retirados do local. Porém, dois meses depois
ainda não tinham sido plantadas as árvores nativas, que faziam parte do projeto de
arborização elaborado pela equipe da UFG. Políticos locais se mobilizaram e cobraram
uma ação por parte da universidade. Por fim, ocorreu o plantio de árvores de espécies
nativas. Mas, referente ao Parque da Ciência, houve um declínio do projeto e no local
encontra-se apenas uma grande tenda que fora removida de outra localidade.

Conclusão:

Norbert Elias, um importante sociólogo Judeu-alemão, conhecido como o
sociólogo do processo civilizador, concebe a sociedade como um tecido que liga os
indivíduos numa teia de interdependência em permanente mudança e movimento. A cada
ação numa direção, afirma Elias, todo o tecido se reorganiza. Mas, ao contrário do que
pode parecer à primeira vista, a ideia desse tecido não se assemelha ao conceito de
estrutura social, pois se trata de um processo sócio histórico constituído por seres que
atuam de forma consciente, por meio de representações abstratas e simbólicas.
A derrubada dos pinheiros que movimentou uma parte da comunidade, entre
ambientalistas e populares, gerou polêmica, muitas discussões, mas por fim foi superada
estrategicamente pela construção de uma simbologia que apontava para o progresso, para
o avanço tecnológico, em contra partida ao atraso, gerado pelo intruso, no caso os
pinheiros, oriundos de outras regiões das américas.
Como se constatou, no desenrolar da polêmica do corte das árvores da
universidade, imagens e barreiras são removidas por métodos de convencimento em que
se utilizam a ciência como aquela que possui a chancela para autenticar ou destituir um
projeto comunitário.

Referências Bibliográficas:
Câmara Municipal de Jataí. Assessoria de Imprensa. Julho de 2011.
COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São
Paulo: Moderna, 2005.
Jataí News. Pinheiros da UFG. Março de 2017.
Universidade Federal de Goiás. Parecer Técnico. Escola de Agronomia e Engenharia de
Alimentos. 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por um momento estivemos juntos, ligados pelas ideias. Foi muito bom! Nos encontramos em breve! Tchau!

O SIGNO LINGUÍSTICO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E DE SIGNIFICAÇÃO DA IMAGEM DO POEMA – UMA ANÁLISE DA POESIA DE GUIMARÃES FILHO - Parte 4

 4 DA LUZ À ESCURIDÃO E DE NOVO À LUZ – OS CAMINHOS DO POEMA EM “A ROSA ABSOLUTA” DO POETA GUIMARÃES FILHO Um poema começa [...]           ...