Depois de falar contra o “Niilismo passivo” do “último
homem” e do “homem superior”, Nietzsche faz a defesa do “Niilismo ativo”. Por
esta expressão deve entender-se a consciência de que os antigos valores que serviram
de fundamento à vida humana não caíram por si, mas por obra de uma vontade que
já não conseguia suportar a calúnia e o desprezo acerca desta vida e deste
mundo.
O “Niilismo ativo” não consiste em dizer não pura e
simplesmente, mas em negar aquilo que negava a vida, propondo novos valores em
harmonia com a realidade, uma nova atitude perante a vida. Aquele que se alegra
com a “morte de Deus”, que a saúda como uma Boa Nova, não o faz por
ressentimento, para se vingar dos que intoxicaram a humanidade. Esmagado sob o
peso de valores e de instituições que revelaram o seu fundamento ilusório, o
homem da vontade de poder afirmativa sente abrir-se e expandir-se o horizonte
da sua ação. Os valores supremos perdem a sua validade, o seu caráter intocável
e puro, e mostra a baixeza, a “imoralidade” que está na sua origem.
“O Niilismo é então a consciência
de um enorme desperdício de forças, a tortura do 'em vão', a vergonha de si
mesmo, como se tivéssemos mentido a nós mesmo demasiado tempo”. (Nietzsche,
A Vontade de Poder, vol. i, § 12)
A “hora do grande desprezo” por si mesmo é uma hora
estimulante, porque, envergonhado com a sua mediocridade o homem sente que é
imperativo ultrapassar-se a si mesmo. O homem que tem vergonha de se assemelhar
ao homem do dualismo moralista é aquele que nega o que foi em favor do que
será. Descobre que a destruição e o declínio são condições de passagem a uma
vontade de poder construtiva. No seio do grande desprezo abriga-se a grande
veneração.
A morte de Deus clarifica o que se pretendia
ocultar - que o Ideal é uma mentira - e entrega o homem a si mesmo e à
realidade que durante tanto tempo foi negada. Todo o reino dos valores
supra-sensíveis, na perspectiva da vontade de poder criadora, desaparece e, com
ele, as normas e os fins que orientaram até agora a existência humana. A ideia
de outro mundo, superior ao do devir, lugar onde imperam eternamente o Bem, a
Verdade e a Justiça, é uma ilusória projeção dos nossos desejos mais
inconfessáveis. O mundo além da morte, da mudança, da dor e do engano é um
simples nada, um ideal vazio, uma mentira confeccionada pela inversão das
características do mundo real, que consideramos indigno de ser vivido por si
mesmo. A mesquinha origem dos valores supremos não deve conduzir-nos ao pessimismo,
ao niilismo passivo, que consiste em julgar que o mundo perdeu o seu sentido,
se desvalorizou radicalmente. Ao olhar desencantado que vê o sentido da
realidade desvanecer-se deve sobrepor-se uma atitude que compreende a negação
daquilo que nega a vida - Deus, a Verdade, o Ideal - como condição da afirmação
desta.
Nietzsche faz uma constante critica as “verdades”
da metafísica tradicional, não por estas serem falsas ou ilusórias, mas por
serem erros nocivos, que não estão a serviço da vida ascendente.
A vontade de poder afirmativa deve, para evitar que
a culpabilidade e a desvalorização do mundo, da Terra, subsistam mesmo depois
de desaparecido o Deus que as justificava, constituir como seu imperativo o
advento do super-homem. O super-homem é aquilo que o homem pode e deve ser. O
Super-Homem é aquele que recusa Deus, não acredita no além, mas simplesmente na
terra. As esperanças supra terrestres são a forma de sobrevivência de seres
fracos e rancorosos.
Pesquisa de imagens:
http://rizosite.files.wordpress.com/2012/08/morte-de-deus.jpg?w=529
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