Nietzsche
analisa que a morte de Deus, a boa nova, pode de acordo com o tipo de vida que
a interpreta dar lugar a diferentes, a opostas formas de comportamento. O
niilismo será interpretado de forma negativa ou de forma positiva de acordo com
a realidade (intérprete fraco — intérprete forte) daquele que avalia esse
evento. Assim, a morte de Deus encerra as mais altas promessas e os mais
temíveis riscos.
A negação de Deus é acompanhada pela preocupação de
permitir a expansão da vontade criadora do homem. Se Deus existisse, existiria
uma ordem de valores absolutos que seriam dados objetivos que a vontade humana
encontraria já estabelecidos. O homem, que Nietzsche concebe como criador de
valores veria a sua criatividade atrofiada e negada por Deus. Ora, saber estar
à altura desse enorme acontecimento, desse ato tremendo que é a morte da fé no
Absoluto, exige que o homem se torne diferente do que tem sido até agora. Esta
transfiguração do homem, que cria novos valores e se supera a si mesmo tornando-se
vontade que afirma plenamente esta vida, tem como símbolo o super-homem.
Nietzsche
espera que a “morte de Deus” seja o começo de uma nova etapa da história.
Chegou o momento de o homem ser o senhor de si mesmo. Há que fazer da “morte de
Deus” um grandioso renascimento e uma contínua vitória sobre nós mesmos. Há que
corresponder à grandeza desse ato. O homem, que assume a responsabilidade do ato
que fez desaparecer o juiz absoluto do Bem e do Mal, vive o calafrio da
liberdade, da inocência: esta vida não está sujeita a juízos morais absolutos,
ela está para além do Bem e do Mal.
De fato, é justamente esse niilismo que Nietzsche chama de niilismo incompleto que domina a todos hoje, repleto de
obscuras ameaças e perigos. Nietzsche diz ainda: “Ao valor do
que permanece eternamente igual a si mesmo [...] contrapõe-se o valor do que é
mais breve e fugaz, o sedutor brilho dourado no ventre da serpente vida”.
Esses “valores breves e fugazes” parecidos
com o “sedutor brilho dourado
no ventre da serpente vida” são aqueles ligados à “vontade de potência”, e, portanto
constituem os antigos valores
transvalorados segundo a doutrina nietzscheniana; mas em nada
diferem dos disfarces niilistas dos
antigos valores substituídos por novas máscaras multicoloridas, os quais, bem
mais do que com o “fugaz brilho dourado no ventre da serpente vida”, se
apresentam como “as sereias que encantam”, e que, vangloriando-se
de ser portadores de salvação ou pelo menos de segurança, representam o perigo
de arrastar de forma irreversível para o abismo do nada.
As causas profundas dos males do
homem de hoje são justamente esses disfarces niilistas dos valores supremos que
caíram (como tais) no esquecimento. A meu ver, tais males e os vários disfarces
niilistas dos valores perdidos a eles vinculados podem ser resumidos nos dez
itens apresentados a seguir:
1) o cientificismo e o
redimensionamento da razão do homem em sentido tecnológico;
2) o ideologismo absolutizado e o
esquecimento do ideal do verdadeiro;
3) o praxismo, com sua exaltação da
ação pela ação e o esquecimento do ideal da contemplação;
4) a proclamação do bem-estar
material como sucedâneo da felicidade;
5) a difusão da violência;
6) a perda do sentido da forma;
7) a redução do Eros à dimensão do
físico e o esquecimento da “escala de amor” platônica (e do verdadeiro amor);
8) a redução do homem a uma única
dimensão e o individualismo levado ao extremo;
9) a perda do sentido do cosmos e
da finalidade de todas as coisas;
10)
o materialismo em todas as suas formas e o esquecimento do ser, a ele
vinculado.
Obviamente, cada um tem a liberdade
de continuar a lista. Mas, ao fazê-lo é preciso que se faça uma profunda reflexão
nas armadilhas do niilismo incompleto que, segundo Nietzsche, representa um
grande perigo.
Pesquisa de Imagem: Google
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