Neste blog deixo registrado o que penso, o que sinto e o que não gostaria de sentir. As vezes posso parecer complicado, então olhe mais de perto e você verá que sou igual a você. Se você se aceita, me aceite também.
domingo, 14 de junho de 2015
A Educação Cientifica e a Formação para a Cidadania
A Educação a partir do
século XX tem como objetivo a formação do cidadão. Espera-se que este cidadão
esteja preparado para enfrentar os desafios do mundo moderno. Com os avanços
científicos e tecnológicos alcançados, na atualidade, a educação cientifica se
converteu numa exigência urgente, num fator do desenvolvimento das pessoas e
dos povos. Uma alfabetização cientifica “surge dos anseios da sociedade por uma
participação mais eficiente e atuante nos debates de ordem sócio científico e
tecnológico do espaço em que convivem e se relacionam” (LUZ: 2013 p. 1).
A
educação cientifica tem sido ressaltada e pensada nos encontros de educadores,
nos trabalhos de investigação, em publicações e congressos. A investigação em
didática das ciências destaca que ocorre reiteradamente um elevado insucesso
escolar, caracterizado pela falta de interesse e em alguns casos até mesmo de
repulsa, que as matérias científicas têm gerado. Alfabetização cientifica é
segundo Bybee, citado por CACHAPUZ et al (2005), “a expressão de um amplo
movimento educativo que se reconhece e mobiliza atrás do símbolo da ‘alfabetização cientifica’”, justamente
por este motivo, o movimento da educação cientifica pode gerar “o perigo de uma
ambigüidade que permite a cada pessoa atribuir-lhes significados distintos”,
dificultando que haja “um consenso sobre como e onde direcionar a sua aplicação
(CACHAPUZ et al, 2005:19).
Os
educadores apontam a necessidade de uma formação cientifica que permita aos
cidadãos participarem na tomada de decisões, em assuntos que se relacionam com
a ciência e tecnologia. Este argumento, o acesso a democracia, é o mais
amplamente utilizado por quem reclama a alfabetização científica e quer vê-la
implantada como um componente básico da educação para a cidadania.
A educação cientifica tem sido
apontada como grande contribuinte para a formação de um cidadão ativo, porém,
Cachapuz et al (2005) menciona que “uma tese” que tem sido confirmada por
professores e planejadores dos currículos “é que a educação cientifica tem
estado orientada para preparar os estudantes como se todos pretendessem chegar
a ser especialistas em biologia, Física ou Química” (CACHAPUZ et al: 2005, pag.
29). Essa orientação tem gerado um mal estar entre os alunos, que na sua
maioria, não decidiram que caminho educacional pretende seguir. Tal orientação,
contida nos currículos, deve ser modificada, pois a educação cientifica se apresenta
como parte de uma educação geral para todos os futuros cidadãos.
Enseñar, infelizmente, aún es, en
muchos de los casos, simplemente adiestrar a los alumnos para que se tornen
hábiles reproductores de los saberes ya reconocidos y tenidos como verdades
irrefutables. Los manuales de enseñanza, en su mayoría, organizan
anacrónicamente los contenidos, contribuyendo a construir en los estudiantes
visiones deformadas del hacer científico y de sus relaciones con La tecnología.
(GOMES: 2011, p. 74)
A
melhoria da educação cientifica tem como requisito fundamental, modificar a
imagem da natureza da ciência que transmitimos. Para tanto é necessário
modificar a epistemologia dos professores. Uma investigação sobre como se podem
transmitir os conhecimentos científicos de uma maneira que gere um cidadão mais
consciente de si e do seu papel junto à sociedade, pode contribuir para que
haja uma superação das visões deformadas da ciência e da tecnologia, ajudando
na renovação da educação cientifica.
Referências:
CACHAPUZ, Antonio. et
al. A renovação necessária do ensino das
ciências. São Paulo: Cortez, 2005.
CACHAPUZ, Antonio. et
al. A renovação necessária do ensino das ciências. São Paulo: Cortez, 2005. Resenha de GOMES, José Leandro de
Albuquerque Macedo Costa. Revista de
Filosofía y Ciencias, Prometeica. Año II, n. 5, sptiembre-deciembre, 2011.
LUZ, Cláudia Sampaio
Guimarães; PIRES, Luciene Lima de Assis. Algumas implicações da educação
ambiental com a ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA). I Seminário de Pós-graduação em educação
para Ciências e Matemática, Jataí – GO, 2013. www.jatai.ifg.edu.br/semlic/seer/index.php/anais/article/.../294/104 acesso em: 28 ago. 2014.
A Alienação do Homem em Função do Trabalho
O homem: um ser alienado em função do
trabalho. Esta frase pode muito bem resumir o que Marx (2004) pensava do homem
em sua relação com o trabalho. A crítica de Marx (2004) é dirigida a uma
economia e a uma sociedade que transformam o homem numa mercadoria das mais
deploráveis e sem valor. Esta sociedade tem dividido os seus membros em
senhores e servos, ou melhor, entre possuidores de propriedadese trabalhadores
sem propriedades. Sociedade que explora o indivíduo, que enriquece cada vez
mais com o trabalho que explora, enquanto o trabalhador se torna mais miserável
à medida que produz mais riquezas. Marx (2004) comenta:
A
propriedade privada tornou-nos tão estúpidos e parciais que um objeto só é
nosso quando o temos, quando existe para nós como capital ou quando por nós é
diretamente possuído, comido, bebido, transportado no corpo, habitado, etc., ou
melhor, quando é utilizado. [...] Portanto, todos
os sentidos físicos e intelectuais foram substituídos pela simples
alienação de todos os sentidos, pelo
sentido do ter. (MARX, 2004, p. 142).
O
homem se aliena, sobretudo graças ao trabalho que assume, renunciando a sua
condição de ser genérico. Mas o que é o homem para Marx? O homem é um ser
natural, porque traz em sua essência a própria natureza. Desta forma, o homem é
naturalmente livre, o que o torna diferente dos animais. Pois possui a
capacidade de utilizar a natureza a seu favor e em favor da satisfação de suas
necessidades mais imediatas, de forma que ela é condição de possibilidade da
existência humana. De acordo com o professor Sobral (2005),
“o homem faz da atividade de produzir a sua vida, da atividade vital, um objeto
da vontade e da consciência [...] uma vida que [...] não pode ser reduzida à
manutenção da capacidade de trabalho, à subsistência.” (SOBRAL, 2005, p.102).
Desta
forma, definir o homem, para Marx, é falar de sua natureza enquanto “consciência genérica”, na qual ele
“ratifica sua vida social real e
reproduz no pensamento apenas a sua existência real”; sendo assim “o ser
genérico se confirma na consciência genérica e existe para si, na sua
universalidade, como ser pensante” (MARX, 2004, p. 141). Assim Marx (2004)
define o que acredita por natureza humana sem, contudo, abandonar a defesa de
uma liberdade do homem, demostrando sua crença numa natureza humana fixa,
previsível, mas que pode se auto-realizar por meio do trabalho e do processo
produtivo, que diferencia o homem de todos os animais. Dessa forma, não podemos
pensar o homem de forma isolada do processo produtivo, ou das relações com
outros homens, que terão como consequência atitudes alienantes, à medida que o
homem confere a um estranho o seu trabalho e/ou a sua vida genérica.
O
trabalho atinge seu objetivo, ao passo que, é fator de estranhamento que gera
uma oposição entre o trabalhador e o produto de seu trabalho, assim o sujeito
se aliena a seu trabalho na medida em que se realiza unicamente por ele, tendo
já abandonado a sua própria realidade como sujeito histórico. Dessa forma, o
trabalhador é tanto mais desvalorizado quanto mais mercadorias e bens produz. Neste
mundo, ocorre que há uma valorização extrema do mundo das coisas em prejuízo
para o mundo dos homens.
A
alienação é, em resumo, a objetivação do homem frente ao produto de seu
trabalho, que age nele como uma natureza que lhe é exterior e que ganha um poder
autônomo tornando-se capaz de lhe dominar. Mas é claro que toda objetivação e
alienação do homem não se dão sem a natureza, sem o mundo que lhe é exterior e
que lhe dá a capacidade de produzir os bens que produz. Assim a solução para o
problema da alienação do homem e do trabalho “só pode ser colocada em termos
políticos, numa época em que a sociedade considerada como uma superação real da
sociedade criticada ainda não nasceu.” (MÉSZÁROS, 1981, p. 115) Ou seja, a
solução, como nos aponta Marx (2004) ao longo de suas pesquisas referentes à
temática da economia política, é puramente política, mas a realização de tais
estudos é fundamental na medida em que só por meio de tais estudos se poderiam
conquistar a luta política contra o sistema capitalista, que explora o ser
humano como uma mera mercadoria, assim como ao seu trabalho.
Referências:
MARX, K. Manuscritos econômicos e filosóficos –
terceiro manuscrito.Trad. de Alex Marins. São Paulo: Martin Claret,2004.
(Coleção obra prima de cada autor)
MÉSZAROS, I. Marx:
A Teoria da alienação. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
SOBRAL, F. A
Concepção circular de homem em Marx:Um Estudo a partir dos
Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844. São Paulo: Nojosa Edições, 2005.
O mundo do trabalho e a coisificação do trabalhador
O
mundo do trabalho não é em momento algum harmonioso, mas em algumas situações
chega-se a limites inaceitáveis. Como exemplo, podemos citar a exploração da
mão de obra em regime de escravidão. Este tipo de exploração é mais comum do
que se imagina e por diversas vezes somos informados de trabalhadores que são
vítimas de pessoas ou grupos inescrupulosos. Recentemente, no dia 28 de agosto
de 2014, a notícia que me chamou atenção foi veiculada pela televisão e na
internet. O artigo da internet tinha o título: “Com suor de escravos, produtos
da Sadia e Perdigão rendem multa”, a notícia falava sobre a utilização de mão
de obra escrava na produção de alimentos na empresa BRF, dona das marcas Sadia,
Perdigão e Batavo.
O grupo BRF fora condenado a
pagar indenização por dano moral coletivo no valor de 1 milhão de reais por
manter trabalhadores em condições análogas às de escravos. O fato ocorreu em
uma fazenda no município paranaense de Iporã. A decisão foi proferida pelo
Tribunal Regional do Trabalho da 9ª região (TRT-9). Contudo, o caso já se
arrastava na justiça desde o começo de 2012, quando o Ministério Público do
Trabalho de Umuarama (PR) constatou graves irregularidades trabalhistas nas
atividades de reflorestamento realizadas na fazenda arrendada pela BRF. As
irregularidades apontadas iam desde jornadas excessivas e condições precárias
dos alojamentos até a contaminação da água fornecida aos trabalhadores.
Além do pagamento da
indenização, a empresa também foi sentenciada a cumprir diversas obrigações
quanto à higiene, saúde, segurança e medicina do trabalho, em relação a todos
os trabalhadores que, de forma direta ou indireta, prestem-lhe serviços na
atividade de reflorestamento.
No caso da BRF não é a
primeira vez que o grupo recebe multas por descumprir a legislação trabalhista.
Em 29 de junho de 2012, a unidade de Capinzal (SC), foi multada em 5,8 milhões
de reais por não conceder pausas para trabalhadores das câmaras frigorificas.
Mesmo depois de repetidas multas, o grupo BRF não concedeu as pausas aos
funcionários o que levou o Ministério Público do Trabalho a aplicar a multa no
valor acima citado, bem como outros ajustes que tiveram que ser efetuados nas
unidades envolvidas.
Em notícia veicula pelo site Mídia News, em 07 de
novembro de 2012, comentava a multa lavrada à BRF em quatro unidades no Estado
de Mato Grosso. A multa de R$ 6 milhões foi aplicada por danos morais e
coletivos, pela não concessão de pausas ergonômicas e de pausas regulares para
descanso térmico aos trabalhadores das filiais da empresa em Mirassol D’Oeste,
Várzea Grande, Lucas do Rio Verde e Nova Mutum. A indenização é a somatória de
três ações civis públicas que estavam em andamento na justiça trabalhista. A
empresa descumpriu a três liminares concedidas no Estado do Mato Grosso e a
quantia de R$ 6 milhões tinha também um caráter compensatório.
Marx (2004) já falava sobre a alienação que o trabalho
produziria. Quanto mais o trabalhador produz menos ele tem para consumir;
quanto mais valor ele cria menos valor ele tem. Os bens produzidos são
apropriados pelos ricos e restam ao trabalhador a privação e a miséria. O
trabalhador passa por uma reificação ou coisificação, sendo transformado, de um
ser humano com sentimentos a um objeto que completa a engrenagem de serviço.
A ação do mundo capitalista tem sido muito eficaz,
conseguindo gerar uma naturalização sobre as ações destas empresas. Assim, não
é incomum ouvirmos comentários favoráveis a tais grupos que, mesmo
desconsiderando as leis trabalhistas, ainda são vistos por alguns como os
benfeitores, aqueles que livram a sociedade de um mal maior, tirando de
circulação os sujeitos que de outra forma, poderiam estar no mundo do crime.
A desfiguração do trabalhador é tanta, que mesmo sob
forte exploração, na maioria dos casos o trabalhador não reage para se libertar
do jugo que lhes sobrecae, necessitando da intervenção de terceiros, para
punirem os exploradores. O trabalho não pertence mais a si mais a outrem e
perde sua espontaneidade. Às vezes ocorre até mesmo uma reação negativa do
trabalhador em relação ao terceiro que tenta quebrar o jugo que esses tem que
carregar, pois estes não conseguem visualizar uma perspectiva melhor e nem
estão conscientes de seus direitos como trabalhadores.
Referências:
Com suor de escravos, produtos da Sadia e Perdigão rendem multa.Internet.Disponívelemhttp://www.notibras.com/site/com-suor-de-escravos-produtos-da-sadia-e-perdigao-rendem-multa/acesso em: 28 ago. 2014.
MARX,
K. Manuscritos econômicos e filosóficos
– terceiro manuscrito.Trad. de Alex Marins. São Paulo: Martin Claret,2004.
(Coleção obra prima de cada autor)
PEREIRA, Katiana. Danos morais e
coletivos. Mídia News. http://midianews.com.br/imprime.php?cid=139789&sid=24acesso em: 28 ago.
2014.
A Educação sem Voz: a ausência do professor no debate público
A
docência ocupa um papel fundamental dentro da sociedade, sendo com certeza uma
das mais antigas ocupações do homem. O papel do docente tem importância
destacada, porque o processo de escolarização esta diretamente ligada a um
relacionamento que se cria entre professores e seus alunos. Portanto, todo
exercício dos objetivos educacionais passam pela relação professor/aluno,
estando dependente de como será o exercício desta função. No
mundo inteiro a educação é vista como principal instrumento para se alcançar as
melhorias pretendidas em uma sociedade. No entanto, temos visto, no Brasil, um
discurso de hipocrisia, que ao passo que fala bem dos educadores, os deixa de
fora das discussões sobre como melhorar o ensino no país. Elisângela Fernandes,
em reportagem para a revista Nova Escola, abordou essa questão com o tema: “A
ausência do professor no debate público sobre a Educação”. Nesta reportagem, é
destacado o fato de haver um distanciamento dos professores no debate público,
bem como, uma invisibilidade para a imprensa.
A reportagem tenta buscar os
porquês desta ausência ao citar o educador português António nóvoa, que
escreveu em um artigo Os Professores na
Virada do Milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas, que os
professores são olhados com desconfiança, são acusados de serem medíocres e de
terem uma formação deficiente. Além do mais, parece haver um cerceamento de
muitas redes, que tentam inibir a fala dos professores, muitas vezes, os
ameaçando de usarem de represálias, se eles ousarem comentar sobre a
instituição.
A reportagem aponta a
análise de mídia, de 2004, realizada pela agência de Notícias dos Direitos da
Infância (Andi), que avaliou 5.362 reportagens e verificou que, em 61% dos
casos, os jornalistas preferiram ouvir fontes oficiais ligadas ao Ministério da
Educação (MEC) e às secretarias estaduais e municipais, em vez dos professores.
A conclusão atingida é que existe um silenciamento dos professores, por uma questão
de reconhecimento social, ou seja, para muitos jornalistas, quem não faz parte
das esferas de poder, não tem legitimidade para se pronunciar sobre
determinados assuntos.
Entre outras pesquisas,
Elisângela Fernandes, apontou a persistência da imagem negativa do professor,
bem como o discurso de substituição deste profissional por um mais bem formado.
Elisângela Fernandes aponta também a ausência no debate do Projeto Político
Pedagógico. Os debates em que os professores estão ausentes têm como tema
central a questão do financiamento ou as formas de gestão dos recursos
destinados ao setor. Então, fica nítida a ausência de um debate crítico e
político envolvendo os agentes do campo sobre os destinos da educação superior.
Quando questionados sobre o
porquê de os professores estarem sendo deixados de fora das entrevistas, alguns
jornalistas justificam-se dizendo que é muito difícil entrevistar esses
profissionais e ter acesso ao que acontece nas escolas e nas salas de aulas. O
problema, em muitos casos, é reflexo do medo que os educadores têm de sofrer
represálias caso falem com a imprensa sem a autorização prévia da rede de
ensino para a qual trabalham. Até 2009, no estado de São Paulo, e 2010, na
capital paulista, um dispositivo do estatuto dos servidores cerceava o direito
de expressão dos funcionários públicos, incluindo professores. No entanto,
mesmo com a revogação da “chamada lei da mordaça” muitos docentes, ainda hoje,
não se sentem confortáveis para falar publicamente.
Na avaliação de Laura Tresca, oficial do Programa de
Liberdade de Expressão da ONG Artigo 19, o professor ainda se sente fragilizado
e inseguro. Há um processo velado e às vezes até de autocensura, pois mesmo nos
lugares em que a lei fora modificada, a cultura do silêncio permanece.
Para Veiga (2001) o exercício profissional é complexo e
vários aspectos são importantes nesse processo de profissionalização, entre
eles a “valorização profissional, incluindo estatuto, planos de carreira,
jornada de trabalho e experiência docente para o exercício profissional”
(VEIGA, 2001, p.81). Poderíamos acrescentar a essa lista a questão da formação.
Paim (2007) diz que a construção, o fazer-se dos
professores dá-se num processo relacional, ou seja, constrói-se na interação
com os outros, isto é, com os outros professores universitários, os colegas de
trabalho, os alunos, a comunidade escolar, ou ainda, outros situados em
diferentes pontos da produção de saberes, na troca de experiências. No diálogo
constante é que ocorre o crescimento profissional do professor. Este processo,
portanto, dá-se de “maneira social e nunca individual; e, em sendo social não
pode ser homogêneo” (PAIM, 2007, p. 166).
A
formação e o exercício da docência possuem significações, ressignificações e
lacunas no processo de construção dos saberes do professor. O diálogo entre os educadores
e com os agentes criadores das políticas educacionais deve ser constante para
que se pense uma transposição do saber universitário para a escola secular. A
distância entre a universidade e a escola secular tem se tornado cada vez mais
abismal. A distância entre os educadores e os criadores de currículos têm se
tornado também alongada. Dar voz aos docentes pode contribuir para formar
professores que estejam focados nas realidades individuais de cada instituição
escolar. Dar atenção a construção e ao exercício da docência pode levar passo a
passo a uma reconstrução dos saberes, da formação e do fazer-se professor.
Referências:
FERNANDES,
Elisângela. A ausência do professor no debate público sobre a Educação. Revista Nova Escola.Carreira. Publicada
em 11/08/2014. http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/ausencia-professor-debate-publico-educacao-740540.
acesso em: 22 ago. 2014.
PAIM, Elison Antonio. Do Formar ao Fazer-se Professor. IN: MONTEIRO, Ana Maria;
GASPARELLO, Arlette Medeiros; MAGALHÃES, Marcelo de Souza (orgs). Ensino de História – Sujeitos, Saberes e
Práticas. Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2007.
VEIGA, Ilma Passos
Alencastro. (Org.). Caminhos da profissionalização do magistério. 2ª. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.
Educação de Jovens e Adultos: confrontando com obstáculos
A educação dos adultos que não tiveram
oportunidade de completarem os estudos ou mesmo daqueles que não se
alfabetizaram ou de jovens que estão fora do período normal de estudo, tem sido
o causador de incansáveis debates entre educadores e lideranças ligadas ao
ensino. Um projeto criado com a finalidade de atender a essa parcela da
população foi a EJA, Ensino de Jovens e Adultos, que pretendia levar aos que
não tiveram a oportunidade de estudo, uma chance de atualizarem-se sem gastarem
o mesmo tempo do ensino regular. Contudo, tem-se observado uma grande evasão e
um abandono administrativo por parte do governo a esse programa. O que tem
contribuído para gerar essa problemática?
Em
entrevista a revista GESTÃO ESCOLAR, o pesquisador sobre educação professor
Sérgio Haddad analisa o cenário atual da EJA no Brasil, explica por que houve
uma queda acentuada nas matrículas nessa modalidade - que caiu de 4,9 milhões em
2001 para 3,9 milhões em 2012, segundo o Censo Escolar - e comenta os desafios
que os educadores precisam superar com a crescente presença de jovens nas
turmas da EJA.
O professor Haddad, assumiu em 1974, a
direção do chamado curso supletivo de 1º e 2º graus, no Colégio Santa Cruz, em São
Paulo. Em 1989, Haddad deixou o cargo, porém não se afastou da Educação de
Jovens e Adultos (EJA). Atualmente, Haddad, ocupa o cargo de assessor da organização não governamental Ação Educativa,
diretor-presidente da Fundação Fundo Brasil de Direitos Humanos e membro do Conselho
Internacional de Educação de Adultos (Icae), ambos em São Paulo, e do Conselho
de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), em Brasília.
Questionado sobre
a redução da matrícula na EJA nos últimos anos, o professor Haddad, disse que
isso é difícil de entender, pois hoje, é quando mais se direciona
financiamentos a esse setor da educação e em contra partida, há no Brasil, mais
de 65 milhões de pessoas com 15 anos ou mais sem instrução ou que não
concluíram o Ensino Fundamental. A demanda, portanto, deveria ser enorme, mas
isso não aconteceu. Haddad reconhece que tem ocorrido, de fato, uma desistência
por parte do governo, em relação a esse projeto.
As evidências da
desistência, do projeto EJA, por parte dos sistemas de ensino, podem ser
vistas, segundo Haddad, nas barreiras que se criam e dificultam que a EJA dê
certo. Como exemplo ele cita que as redes fixam um número mínimo de alunos para
formar as turmas no período noturno, que faltam coordenadores pedagógicos
especializados na modalidade, que as bibliotecas ficam fechadas e não há
iluminação na quadra de esporte à noite, entre outros problemas. Além desses
problemas há a falta de divulgação sobre o projeto e os locais onde estão
disponíveis.
O
desinteresse em atender a jovens e adultos, além do prazo escolar considerado
normal, se dá pela lógica do custo-benefício, comentou Haddad. Segundo ele,
fica evidente que a EJA não aos interesses econômicos, prevalecendo, portanto, as
óticas da racionalidade e da produtividade em prejuízo da do direito à
Educação. A EJA sempre será mais cara e terá turmas menores, pois os estudantes
têm dificuldades específicas e isso exige um ensino de natureza diferente.
Em relação aos avanços que ocorreram
nos últimos anos, Haddad respondeu que algumas políticas do governo federal
foram mais efetivas para a EJA do que o próprio financiamento do Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), como o Programa Dinheiro Direto na
Escola (PDDE) e outros que garantem livros didáticos, merenda e transporte para
os alunos da EJA. Muitos vão à escola direto do trabalho e ter condições de
mobilidade e alimentação ajuda muito. Mas apenas isso é insuficiente.
Neste cenário, Haddad, analisou que o diretor de escola tem
um papel muito importante em contribuição para a ampliação da EJA com qualidade.
Em primeiro lugar, ele e sua equipe, devem evitar fazer da EJA uma mera
adaptação do ensino regular, mas devem pensar nela em sua especificidade. Assim
o gestor tem que estar disposto a ouvir o aluno que chega à escola à noite e
conhecer os desejos, as necessidades e as demandas dele em relação à
aprendizagem. Fazendo isso, a equipe gestora, saberá como construir um projeto
político-pedagógico, que contemple esse aluno não só no currículo, mas também
no espaço e na flexibilidade dos horários.
O trabalho é grande e envolve todos os atores da
educação, comentou Haddad, porém este é o caminho: a construção coletiva. Quando
isso ocorre, há um enorme prazer em trabalhar em grupo. Além do mais, diz
Haddad, a lógica de que o educador é treinado para ensinar e transmitir o
conhecimento tem de mudar. Citando Paulo Freire, Haddad pondera o ensino como
um processo de mão dupla e coletivo. Na EJA, a colaboração é mais exacerbada
porque se lida com pessoas que possuem uma considerável experiência de vida.
Quando a bagagem e a diversidade cultural dos alunos, que são riquíssimas, dominam
o ambiente escolar, todos se engajam e o prazer pelo conhecimento supera
qualquer outro, finalizou Sérgio Haddad.
Nos anos
finais de minha graduação, em licenciatura em História, tive a oportunidade de
cumprir com o estágio obrigatório, em uma escola que funcionava com o projeto
da EJA. Durante o estágio eu tinha a oportunidade de observar que há uma
subestimação da EJA como instrumento capaz de realizar mais do uma
alfabetização. E apesar de todo o potencial que este programa especial de
ensino possui, ele é tratado como uma redução dos conteúdos, uma simplificação
educacional, em comparação com o ensino regular, para dar capacitação aos que
ficaram de fora do ensino regular, de modo a se fazer uma compensação dos anos
fora da sala de aula.
De acordo com
Apple (1989) e Bittencourt (2011), há um currículo oculto nas escolas que serve
para reforçar as regras que cercam a natureza e os usos do conflito. Os alunos
aprendem não apenas o conteúdo explícito no currículo, mas também normas,
valores, formas de convivência, que não estão ditos claramente. Nas turmas da
EJA há um currículo oculto construindo um tipo específico de aluno. É preciso
que se dê atenção a este currículo oculto, como ressaltou Sérgio Haddad, e a
partir dele construir um novo currículo que seja mais eficiente em ajudar na
qualificação dos alunos.
Referências:
APPLE, Michael W. Currículo e poder. In: Educação e Realidade. Porto Alegre, v.14, nº 2, jul/dez, 1989,
p. 46-57.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino
de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2011.
HADDAD, Sérgio. Os
governos desistiram dos jovens e adultos. Revista Gestão Escolar. Iniciativas.
Publicada em 11/08/2014. http://gestaoescolar.abril.com.br/politicas-publicas/sergio-haddad-governos-desistiram-jovens-adultos-762851.shtml acesso em: 16 ago.
2014.
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