A
docência ocupa um papel fundamental dentro da sociedade, sendo com certeza uma
das mais antigas ocupações do homem. O papel do docente tem importância
destacada, porque o processo de escolarização esta diretamente ligada a um
relacionamento que se cria entre professores e seus alunos. Portanto, todo
exercício dos objetivos educacionais passam pela relação professor/aluno,
estando dependente de como será o exercício desta função. No
mundo inteiro a educação é vista como principal instrumento para se alcançar as
melhorias pretendidas em uma sociedade. No entanto, temos visto, no Brasil, um
discurso de hipocrisia, que ao passo que fala bem dos educadores, os deixa de
fora das discussões sobre como melhorar o ensino no país. Elisângela Fernandes,
em reportagem para a revista Nova Escola, abordou essa questão com o tema: “A
ausência do professor no debate público sobre a Educação”. Nesta reportagem, é
destacado o fato de haver um distanciamento dos professores no debate público,
bem como, uma invisibilidade para a imprensa.
A reportagem tenta buscar os
porquês desta ausência ao citar o educador português António nóvoa, que
escreveu em um artigo Os Professores na
Virada do Milênio: do excesso dos discursos à pobreza das práticas, que os
professores são olhados com desconfiança, são acusados de serem medíocres e de
terem uma formação deficiente. Além do mais, parece haver um cerceamento de
muitas redes, que tentam inibir a fala dos professores, muitas vezes, os
ameaçando de usarem de represálias, se eles ousarem comentar sobre a
instituição.
A reportagem aponta a
análise de mídia, de 2004, realizada pela agência de Notícias dos Direitos da
Infância (Andi), que avaliou 5.362 reportagens e verificou que, em 61% dos
casos, os jornalistas preferiram ouvir fontes oficiais ligadas ao Ministério da
Educação (MEC) e às secretarias estaduais e municipais, em vez dos professores.
A conclusão atingida é que existe um silenciamento dos professores, por uma questão
de reconhecimento social, ou seja, para muitos jornalistas, quem não faz parte
das esferas de poder, não tem legitimidade para se pronunciar sobre
determinados assuntos.
Entre outras pesquisas,
Elisângela Fernandes, apontou a persistência da imagem negativa do professor,
bem como o discurso de substituição deste profissional por um mais bem formado.
Elisângela Fernandes aponta também a ausência no debate do Projeto Político
Pedagógico. Os debates em que os professores estão ausentes têm como tema
central a questão do financiamento ou as formas de gestão dos recursos
destinados ao setor. Então, fica nítida a ausência de um debate crítico e
político envolvendo os agentes do campo sobre os destinos da educação superior.
Quando questionados sobre o
porquê de os professores estarem sendo deixados de fora das entrevistas, alguns
jornalistas justificam-se dizendo que é muito difícil entrevistar esses
profissionais e ter acesso ao que acontece nas escolas e nas salas de aulas. O
problema, em muitos casos, é reflexo do medo que os educadores têm de sofrer
represálias caso falem com a imprensa sem a autorização prévia da rede de
ensino para a qual trabalham. Até 2009, no estado de São Paulo, e 2010, na
capital paulista, um dispositivo do estatuto dos servidores cerceava o direito
de expressão dos funcionários públicos, incluindo professores. No entanto,
mesmo com a revogação da “chamada lei da mordaça” muitos docentes, ainda hoje,
não se sentem confortáveis para falar publicamente.
Na avaliação de Laura Tresca, oficial do Programa de
Liberdade de Expressão da ONG Artigo 19, o professor ainda se sente fragilizado
e inseguro. Há um processo velado e às vezes até de autocensura, pois mesmo nos
lugares em que a lei fora modificada, a cultura do silêncio permanece.
Para Veiga (2001) o exercício profissional é complexo e
vários aspectos são importantes nesse processo de profissionalização, entre
eles a “valorização profissional, incluindo estatuto, planos de carreira,
jornada de trabalho e experiência docente para o exercício profissional”
(VEIGA, 2001, p.81). Poderíamos acrescentar a essa lista a questão da formação.
Paim (2007) diz que a construção, o fazer-se dos
professores dá-se num processo relacional, ou seja, constrói-se na interação
com os outros, isto é, com os outros professores universitários, os colegas de
trabalho, os alunos, a comunidade escolar, ou ainda, outros situados em
diferentes pontos da produção de saberes, na troca de experiências. No diálogo
constante é que ocorre o crescimento profissional do professor. Este processo,
portanto, dá-se de “maneira social e nunca individual; e, em sendo social não
pode ser homogêneo” (PAIM, 2007, p. 166).
A
formação e o exercício da docência possuem significações, ressignificações e
lacunas no processo de construção dos saberes do professor. O diálogo entre os educadores
e com os agentes criadores das políticas educacionais deve ser constante para
que se pense uma transposição do saber universitário para a escola secular. A
distância entre a universidade e a escola secular tem se tornado cada vez mais
abismal. A distância entre os educadores e os criadores de currículos têm se
tornado também alongada. Dar voz aos docentes pode contribuir para formar
professores que estejam focados nas realidades individuais de cada instituição
escolar. Dar atenção a construção e ao exercício da docência pode levar passo a
passo a uma reconstrução dos saberes, da formação e do fazer-se professor.
Referências:
FERNANDES,
Elisângela. A ausência do professor no debate público sobre a Educação. Revista Nova Escola.Carreira. Publicada
em 11/08/2014. http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/ausencia-professor-debate-publico-educacao-740540.
acesso em: 22 ago. 2014.
PAIM, Elison Antonio. Do Formar ao Fazer-se Professor. IN: MONTEIRO, Ana Maria;
GASPARELLO, Arlette Medeiros; MAGALHÃES, Marcelo de Souza (orgs). Ensino de História – Sujeitos, Saberes e
Práticas. Rio de Janeiro: Mauad Editora, 2007.
VEIGA, Ilma Passos
Alencastro. (Org.). Caminhos da profissionalização do magistério. 2ª. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.
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