O homem: um ser alienado em função do
trabalho. Esta frase pode muito bem resumir o que Marx (2004) pensava do homem
em sua relação com o trabalho. A crítica de Marx (2004) é dirigida a uma
economia e a uma sociedade que transformam o homem numa mercadoria das mais
deploráveis e sem valor. Esta sociedade tem dividido os seus membros em
senhores e servos, ou melhor, entre possuidores de propriedadese trabalhadores
sem propriedades. Sociedade que explora o indivíduo, que enriquece cada vez
mais com o trabalho que explora, enquanto o trabalhador se torna mais miserável
à medida que produz mais riquezas. Marx (2004) comenta:
A
propriedade privada tornou-nos tão estúpidos e parciais que um objeto só é
nosso quando o temos, quando existe para nós como capital ou quando por nós é
diretamente possuído, comido, bebido, transportado no corpo, habitado, etc., ou
melhor, quando é utilizado. [...] Portanto, todos
os sentidos físicos e intelectuais foram substituídos pela simples
alienação de todos os sentidos, pelo
sentido do ter. (MARX, 2004, p. 142).
O
homem se aliena, sobretudo graças ao trabalho que assume, renunciando a sua
condição de ser genérico. Mas o que é o homem para Marx? O homem é um ser
natural, porque traz em sua essência a própria natureza. Desta forma, o homem é
naturalmente livre, o que o torna diferente dos animais. Pois possui a
capacidade de utilizar a natureza a seu favor e em favor da satisfação de suas
necessidades mais imediatas, de forma que ela é condição de possibilidade da
existência humana. De acordo com o professor Sobral (2005),
“o homem faz da atividade de produzir a sua vida, da atividade vital, um objeto
da vontade e da consciência [...] uma vida que [...] não pode ser reduzida à
manutenção da capacidade de trabalho, à subsistência.” (SOBRAL, 2005, p.102).
Desta
forma, definir o homem, para Marx, é falar de sua natureza enquanto “consciência genérica”, na qual ele
“ratifica sua vida social real e
reproduz no pensamento apenas a sua existência real”; sendo assim “o ser
genérico se confirma na consciência genérica e existe para si, na sua
universalidade, como ser pensante” (MARX, 2004, p. 141). Assim Marx (2004)
define o que acredita por natureza humana sem, contudo, abandonar a defesa de
uma liberdade do homem, demostrando sua crença numa natureza humana fixa,
previsível, mas que pode se auto-realizar por meio do trabalho e do processo
produtivo, que diferencia o homem de todos os animais. Dessa forma, não podemos
pensar o homem de forma isolada do processo produtivo, ou das relações com
outros homens, que terão como consequência atitudes alienantes, à medida que o
homem confere a um estranho o seu trabalho e/ou a sua vida genérica.
O
trabalho atinge seu objetivo, ao passo que, é fator de estranhamento que gera
uma oposição entre o trabalhador e o produto de seu trabalho, assim o sujeito
se aliena a seu trabalho na medida em que se realiza unicamente por ele, tendo
já abandonado a sua própria realidade como sujeito histórico. Dessa forma, o
trabalhador é tanto mais desvalorizado quanto mais mercadorias e bens produz. Neste
mundo, ocorre que há uma valorização extrema do mundo das coisas em prejuízo
para o mundo dos homens.
A
alienação é, em resumo, a objetivação do homem frente ao produto de seu
trabalho, que age nele como uma natureza que lhe é exterior e que ganha um poder
autônomo tornando-se capaz de lhe dominar. Mas é claro que toda objetivação e
alienação do homem não se dão sem a natureza, sem o mundo que lhe é exterior e
que lhe dá a capacidade de produzir os bens que produz. Assim a solução para o
problema da alienação do homem e do trabalho “só pode ser colocada em termos
políticos, numa época em que a sociedade considerada como uma superação real da
sociedade criticada ainda não nasceu.” (MÉSZÁROS, 1981, p. 115) Ou seja, a
solução, como nos aponta Marx (2004) ao longo de suas pesquisas referentes à
temática da economia política, é puramente política, mas a realização de tais
estudos é fundamental na medida em que só por meio de tais estudos se poderiam
conquistar a luta política contra o sistema capitalista, que explora o ser
humano como uma mera mercadoria, assim como ao seu trabalho.
Referências:
MARX, K. Manuscritos econômicos e filosóficos –
terceiro manuscrito.Trad. de Alex Marins. São Paulo: Martin Claret,2004.
(Coleção obra prima de cada autor)
MÉSZAROS, I. Marx:
A Teoria da alienação. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
SOBRAL, F. A
Concepção circular de homem em Marx:Um Estudo a partir dos
Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844. São Paulo: Nojosa Edições, 2005.
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