É difícil acreditar
que em pleno século XX possamos ver cenas como essa ocorrer, e acreditem, cenas
como essa são mais comuns do que si pensa. Sempre me pergunto como pode as
nações ricas se vangloriar de sua riqueza, ostentar seus luxos, enquanto
crianças no seu próprio país, ou em outros países, ditos do terceiro mundo não
têm alimento para continuarem mantendo a sua vida?
O bebê da foto acima se
chamava Kong Nyong, nasceu no Sudão e não conheceu outra coisa neste mundo a
não ser o sofrimento, o abandono, a angústia e a morte. A pulseira branca em
seu pulso era a sua identificação quanto ao estado letal em que se encontrava. As
pulseiras identificadas com a letra T indicavam que a criança sofria de
subnutrição grave. As que tinham a letra S indicavam a necessidade de suplementos
alimentares. Kong tinha a marca T3, sofria de desnutrição grave.
Essa história foi
resgatada pelo “diário espanhol El Mundo”, no ano de 2011, 18 anos depois do
acontecido. O jornal espanhol foi até Ayod, no Sudão, que foi o cenário desta
foto. Ali entraram em contato com os pais de Kong e com a enfermeira que
coordenava os trabalhos do programa das Nações Unidas para o combate a fome no
Sudão.
O pai de Kong contou
que ele veio há morrer quatorze anos mais tarde de “febres”. A enfermeira,
Florence Mourin, relatou que Kong foi o terceiro a chegar ao centro das Nações
Unidas, para receber tratamento e conseguiu assim sobreviver ao estado de desnutrição profunda.
O autor da
fotografia, Kevin Carter, ganhou em 1994, com esta foto o prêmio Pulitzer.
Kevin foi muito criticado pelo fato de não ter interferido e salvo a criança. Ele
foi chamado de abutre, em alusão ao animal que esperava pacientemente pela
refeição. Kevin achou que não deveria interferir, mas sua decisão, e a imagem
de Kong perseguido pelo abutre, passaram também a perseguí-lo e a atormentá-lo.
Deve o fotojornalista
apenas mostrar a realidade crua através da sua lente ou deve interferir nesta
realidade? Carter foi arrastado para a depressão, por força do seu trabalho,
que envolvia sempre fotografar situações da vida em extrema miséria e pobreza. Entregou-se
às drogas e acabou por se suicidar. Tinha apenas 33 anos. A fome no Sudão matou
600 mil pessoas em 1993. A guerra civil e a seca provocaram no país centenas de
refugiados naquela década. O país continua a ser um dos focos de crise humanitária
mais grave do planeta.
"Deve o fotojornalista apenas mostrar a realidade crua através da sua lente ou deve interferir nesta realidade?"
ResponderExcluirEu como jornalista, não interfiro na realidade. Penso que faço mais ao mostrar a realidade para uma multidão, do que por exemplo, 'matar a fome' de apenas 1 pessoa por um único instante.
O que faço com frequência é o meu trabalho, como profissional, e como pessoa, participo de campanhas e de trabalhos voluntários.
Não é preciso ir tão longe para encontrar 'desgraça'...
Beijo!
http://www.sinaisdemimtl.blogspot.com.br/
Interferir ou não?.... Essa é uma decisão muito difícil para quem a toma, seja ela qual for. Particularmente eu respeito a decisão de cada um, pois sei quanta carga emocional esta envolvida nessas questões. Eu desejei mostrar com esse post, que não é preciso, nem é justo, fazer uma recriminação sobre uma decisão que alguém tome, pois a própria pessoa já terá sua carga de pressão (condenação ou absolvição)por suas ações. Obrigado por sua visita, "gentil Thaís"...
ResponderExcluirBeijos!