Durante anos se desenvolveu
a ideia de que o estágio é uma disciplina que está em oposição à teoria. O pensamento
que se tem sobre a formação de uma profissão é de que ela seja aprendida na
prática e na prática a teoria é outra.
Pimenta e Lucena (2004)
dizem que essas afirmações demonstram que os cursos de licenciaturas não
fundamentam teoricamente a atuação do professor nem toma a prática como referência
para a fundamentação teórica. Segundo as autoras houve um sucateamento da
licenciatura por esta ser ligada a reprodução de conhecimento, enquanto que ao
mesmo tempo, o bacharelado estaria ligado à pesquisa. Com esta visão as
disciplinas do currículo de licenciatura ficaram isoladas entre si, e mais,
sendo apenas reprodutoras de conhecimento, essas disciplinas não estabeleceriam
relações com a realidade, ficando quase sempre desvinculadas do campo de
atuação dos futuros profissionais, ou seja, quando o recém-professor chega à
escola onde irá atuar ele se encontra totalmente despreparado.
Alguns questionamentos têm
deixados muitos inquietos porque revelam a fragilidade da formação das
disciplinas de licenciatura: se este aprendizado não tem relação com a
realidade, para que serve tudo que é ensinado na universidade? A dúvida aumenta
quando se percebe a distância do conhecimento universitário com a escola
secular e a grande dificuldade de se fazer uma transposição do saber acadêmico
para as escolas onde os professores irão atuar.
Quando se entra na
universidade, ouvimos o conselho: “Esqueça tudo que você aprendeu na escola
secular, pois na universidade o ensino, ou a realidade é outra”. Chegamos então
à beira de uma decepção total quando voltamos à escola, agora como
profissionais e recebemos a funesta sugestão: “Esqueça tudo que você aprendeu
na Universidade (teoria), pois aqui, na escola, a realidade (prática) é outra”.
Pimenta e Lucena (2004) usam
argumentação para mostrarem que o estágio precisa ser teórico/prático. Elas
evocam a ideia da práxis, que tornaria o estagio uma disciplina que esteja
envolvida no processo investigativo, de pesquisa e que envolva a reflexão. As autoras
criticam o uso da prática como imitação de modelo. O exercício de qualquer
profissão é prático, ou seja, aprende-se observando e imitando, mas, para que
este método tenha eficiência é preciso ter um refinado senso crítico para se
fazer uma análise do modo de ser do outro, o observado, e em seguida aplicar o
aprendido na minha vida.
Pimenta e Lucena (2004)
consideram que essa forma de aprender seja limitada. Nem sempre o estagiário possui
elementos para essa ponderação crítica e passa apenas a copiar um modelo,
deixando de considerar as transformações históricas e sociais.
A prática como imitação
ainda é recorrente. Hoje ainda pressupõe-se que a escola e os professores são imitáveis.
Porém, essa perspectiva não valoriza a formação intelectual do professor, pois,
reduz a sua atividade docente a um fazer bem sucedido, gerando assim um
conformismo que conserva hábitos, ideias, valores, comportamentos pessoais e
sociais legitimados pela cultura dominante.
Como solução, as autoras propõem a utilização do
estágio como pesquisa ou ação pedagógica. Propõem que haja um relacionamento da
teoria com a prática para que o estágio deixe de ser reduzido à observação dos
professores em sala de aula. A prática pode assim ser utilizada como
instrumentalização técnica, desde que reflexiva, para ajudar ao professor a
desenvolver habilidades específicas, produzindo a ação pedagógica.
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