“A afirmação do desvanecimento e da aniquilação, o elemento decisivo
numa filosofia dionisíaca, o dizer sim à oposição e à guerra, ao devir, com a
radical renúncia ao próprio conceito de 'ser' — eis o que em todas as
circunstâncias devo reconhecer como a minha maior afinidade com o que até agora
foi pensado.” (Nietzsche, Ecce Homo.)
A adesão firme de Nietzsche à
visão dionisíaca da realidade determinará profundamente o seu pensamento e a
sua crítica à cultura ocidental desde Sócrates até a época em que viveu. A sua
fórmula será, então: “Preferir a vida a
todo e qualquer outro valor, ser a sua máxima afirmação, santificá-la como
totalidade em que bem e mal, dor e gozo, crueldade e alegria estão
necessariamente enlaçados.”
A concepção dionisíaca da vida
sacraliza os instintos fundamentais, afirma festivamente a unidade do homem com
a natureza, colocando-se assim nos antípodas da moral cristã que, segundo
Nietzsche, é profundamente antinatural. O representante supremo da
religiosidade pagã — Diónisos — é a forma suprema de divinização da vida. “É aqui que eu colocaria o ideal dionisíaco
dos Gregos: a afirmação religiosa da vida no seu todo, de que não se nega nada,
de que nada se corta (notar que o acto sexual acompanha-se aí de profundidade,
de mistério, de respeito).” (Nietzsche,
A Vontade de Poder.)
A filosofia de Nietzsche pretende
ser um sim sem reservas à vida, uma forma de aquiescência superior e exuberante
que abraça e celebra a vida na sua totalidade, mesmo nos seus aspectos
chocantes, problemáticos e enigmáticos.
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